[Original] Ela me faz - Capítulo 6

Capítulo 6 – O herói

Na sexta-feira eu acordei com gritos vindo da cozinha. Logo identifiquei como sendo de Iasmin e Lucas. Escovei meus dentes e desci para tomar café.

- Qual é o motivo da discussão? – Perguntei, coçando os olhos. Sentei-me na mesa e coloquei café numa xicara. Lucas estranhamente emudeceu.

- Eu disse pro Lucas que o levaria em alguns lugares para tentar uma entrevista, porém hoje ele me fala que vai com a Olívia conhecer São Paulo! – Iasmin respondeu, sentida. Eu o fitei por um tempo, meneei a cabeça e passei manteiga no meu pão. – Poxa, eu até vou entrar mais tarde no serviço.

- Ah, entendi. – Murmurei, num tom calmo.

- Eu falo pra ela que não vou mais, pronto! Não precisa ficar de cara, Iasmin!

- Eu fico sim. Quem aquela palhaça de cabelo colorido pensa que é? – Ele riu, abraçando-a carinhosamente. – Vou me arrumar.

- Tudo bem.

Lucas sentou-se ao meu lado e me fitou, provavelmente esperando que eu dissesse alguma coisa.

- Bom dia, Lucas. – Falei, irônica. Ele sorriu. – Tudo bem?

- Bah, tudo bem. – E mexeu no cabelo, enquanto diminuía a distância entre a gente. – E tu, Rafaela?

- Dormi bem. – Lucas segurou meu rosto e me deu um selinho. – Sua namorada vai chegar e não gostará disso.

- Ela não é a minha namorada.

- Pretende ser.

- Tá vendo o futuro? – Ele me olhou, antes de me dar outro beijo, agora no pescoço. – Porque se tiveres, me diga se vou ganhar na mega-sena?

- Ridículo. – Eu o empurrei de brincadeira e me saciei um pouco com seu olhar sensual sob mim.

- Será que se a gente fugir pro quarto a Iasmin vai notar?

Eu ia responder, mas nesse momento Olívia abruptamente entrou na cozinha. Não sei o que acontece nessa casa, mas tá cada vez mais claro que virou bagunça, qualquer um entra.

- Licença, vi a porta aberta, fui logo entrando. – Ela disse, exibindo seu lindo sorriso de comercial de creme dental. Lucas ficou de pé e a cumprimentou com toda a sua irritante simpatia. – Bom dia!

- É, eu acho que bom. – Respondi, me levantando da mesa e saindo da cozinha. Ainda a ouvi perguntar “ela é mal-humorada de manhã?”. – Nossa adorável Olívia se encontra na cozinha, Iasmin.

- Como é?

- Vá lá e veja com seus próprios olhos!

Eu subi as escadas, mas antes disso ouvi Iasmin murmurar um “Olívia, que adorável a sua visita ”. Uma sensação queimante fazia o meu estomago enjoar. A presença de Olívia me incomodava. Lucas ter virado amigo dela me incomodava. Eu estar incomodada me incomodava também.

Não foi surpresa para mim quando Iasmin, após o compromisso com Lucas voltar irritada pois voltou sozinha, já que o seu adorável amigo foi ver Olívia. Ela esbravejava tanto que eu sem querer, ri um pouco. O que a irritou ainda mais. E aquilo me fez suspeitar coisas que eu não gostaria de suspeitar.

“E se ela estiver afim dele?”

Já pela noite, nós fomos ao curso juntas. Novamente, Lucas preferiu a companhia de Olívia. A sensação queimante do ciúmes me invadiu, mas tratei de afasta-la, pois não posso sair do meu foco. Eu carregava comigo as fotos comprometedoras de Conrado. Não mostrei a Iasmin porque a conhecia o suficiente para saber que o seu sermão seria totalmente desnecessário.

Encontramos Lucas na entrada. Ele conversava todo animado com Gabriel. Tentei imaginar como se iniciou essa amizade, mas homem tem essas facilidades. Meu desejo maior era ver Conrado perder todo seu reinado de garoto mais bonito do Amália.

Passei pelos garotos e os cumprimentei com um breve sorriso. Me despistei de Iasmin dizendo que ia procurar a Nina, quando na verdade já sabia que ela estava na sala estudando a matéria. Subi as escadas rumo ao último andar. Minhas mãos tremiam tanto que pensei que ia desmaiar. Parei no meio do corredor pouco iluminado e deserto. Tirei as fotos da bolsa e sem pensar muito as joguei pro ar, como se fossem aviõezinhos de papel. Aos poucos as pessoas do pátio começavam a perceber as fotos caindo como pingo de chuva. Só não sabiam quem tinha feito chover.

Desci alguns minutos depois e vi toda as pessoas do pátio perplexa, outras rindo, gargalhando, algumas horrorizadas. Eu já sentia a adrenalina correndo nas veias e isso só aumentou quando vi Conrado olhando as fotos e também as pessoas, procurando o culpado. Um pouco longe Lucas e Iasmin viam as fotos, mas não exibiriam nenhuma expressão. Silenciosa, segui para a minha sala como se nada tivesse acontecido.

Fiquei em silêncio até o final da aula, ignorando as tentativas de Lucas e Iasmin de falarem comigo. O medo as vezes dava uma adrenalina maluca.

Na saída, um pouco mais calma, ouvi um grito furioso chamou pelo meu nome. Era Conrado. Travei na hora e demorei para olha-lo. As pessoas já começavam a nos rodear.

- Como você teve coragem de fazer isso? – Ele perguntou com a voz mesclada numa mágoa e fúria.

- O que eu fiz?

Estávamos há uma distância considerável para ele me esbofetear sem pensar muito.

- Sua cínica! Eu sei que você tirou essas fotos!

Não respondi de imediato. E Conrado se irritou tanto que me puxou pela blusa. Se fosse possível um olhar exterminar uma pessoa o dele seria o primeiro. Lucas já se armava para me defender e tornar o momento ainda mais digno de fofoca. Rafaela numa briga com dois rapazes? Um prato cheio para as fofoqueiras do Amália.

- Eu nunca tive tanta vontade de descer a mão em você como eu estou agora!

- Bate então. Você não tem o menor jeito pra cadeia, Conrado. Lá você não vai ter o seu ursinho pra poder dormir contigo!

Ele ergueu a mão para me bater, eu fechei os olhos, ainda covarde demais pra apanhar em frente a um monte de pessoas. Só os abri os olhos de novo quando vi que Iasmin estava me puxando pra longe de Conrado e Lucas, que se enfrentavam como dois bárbaros.

- PAREM! – Iasmin gritou, tentando puxar Lucas. Ainda em choque, eu os observava sem saber o que fazer.

Gabriel se aproximou da briga e acabou se juntando a ela. E como dois contra um sempre foi uma injustiça, um amigo de Conrado partiu em sua defesa.

Essa briga sem dúvidas seria a mais comentada na semana.

(...)

Só fomos embora quando Lucas e Gabriel conseguiram deixar Conrado e seu amigo no chão. Entrei num estado de choque tão grande que só consegui falar quando já estávamos em casa. Segui para o quarto de Lucas e ao abrir a porta vi que Iasmin o ajudava a tirar a blusa. Ele estava sentado de costas para ela. O peso em minha consciência foi tão grande que me apoiei na parede para não cair. Suas costas estavam cheia de hematomas em cores arroxeadas, decorrentes dos chutes que levou na costela. E a culpa era minha.

Iasmin me olhou com um meio sorroso e se afastou para que eu tomasse seu tomar seu lugar. Vi que no chão tinha um balde com água quente e uma toalha dentro. Peguei a toalha e passei em suas costas, ele gemeu de dor.

- Tá ardendo, Iasmin. – Ele disse, num fio de voz.

- Desculpe. – Ao perceber a minha voz, Lucas apenas respirou fundo e paciente. – Eu sinto muito por todas essas marcas.

- Tudo bem. Eu não deixaria ele colocar a mão em ti.

- Sei que não, mas... – Engoli seco e tentei engolir o que parecia o início de uma choradeira. – Você...

O primeiro pingo de lágrima caiu sob suas costas, deslizando com suavidade. Nossos olhares se encontraram e Lucas me abraçou, carinhoso.

- Ei, não precisa chorar. Vi que ficou em choque, até comentei com a Iasmin antes de tu entrar. – Chorei um pouco mais alto quando ele beijou minha testa. – Bah, Rafaela. Não chora não, quase acredito que tu tens um coração.

Ele disse num tom de brincadeira, por isso não me afetei. Entrelaçamos nossos dedos e nos deitamos na cama.

- Pior que tenho. É moldado a ferro. - Respondi, sorrindo trêmula.

- Capaz... Já fico mais tranquilo em saber que pelo menos um coração tu tens.

- Por que?

- É difícil conquistar uma guria que não tem coração.

Meu coração disparou com sua frase. Ele sorriu, sem jeito. Eu segurei seu rosto e o beijei. Seu rosto também sofreu a consequência de me defender, por isso fui cautelosa quando o toquei. Em razão de todos os seus hematomas, nos beijamos com calma. Uma hora ele avançava, mas se arrependia quando as costas ardiam.

- Acho que vou pro meu quarto. – Falei, sem a mínima vontade de me mover do seu abraço.

- Dorme comigo hoje.

- Nada disso.

- Por que?

- Porque você é namorado da Olívia.

Ele revirou os olhos.

- Dorme comigo, Rafaela? – E dessa vez o pedido foi feito com toda uma deliciosa intensidade que me fez tremer por inteira. Eu assenti, me encolhendo em seus braços. Dormi numa tranquilidade que já não dormia há muito tempo. E quase acreditei que as coisas continuariam as mesmas daqui em diante.

Quase...

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 14/05/2014
Reeditado em 26/06/2022
Código do texto: T4805735
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