[Original] Ela me faz - Capítulo 20

Capítulo 20 – O último alô é na verdade um adeus

Eu demorei a me adaptar a viver na casa de Gabriel por vários motivos. O principal deles é porque lá era silencioso demais. Apenas três homens em casa. A adaptação só aconteceu uma semana depois e mesmo assim era estranho acordar e não ouvir gritos de Iasmin, de não ver o mau humor matinal de Rafaela.

O pai de Gabriel me arrumou um emprego numa loja de roupas de esportes, o que me ajudou a não pensar tanto em Rafaela. Meu irmão me ligou assim que soube do meu término e disse que entendia a minha dor e respeitava. Além, claro de me relembrar que meu quarto na nossa antiga casa sempre estaria vago para mim. E pela primeira vez eu cogitei a ideia de voltar ao Rio Grande do Sul. Depois falei com Isabel, que, como prometido deu “um jeitinho” de fazer Pamela voltar pra casa. Alguns dos personagens da minha vida em Porto Alegre estavam voltando, talvez seja a minha hora de voltar também.

A ligação mais inesperada, porém, bem vinda, foi a de Demétri. Ele me fez rir da minha situação. Segundo ele, rir de um sofrimento faz bem.

“Quem diria que a Pamela se tornaria uma cobrinha, hein?”

- E cínica. Cara, estava na cara dela que ela mentia. Só Rafaela que não quis acreditar.

“Se tu pensar como uma guria – por mais difícil que seja – veras que ela não poderia pensar diferente.”

- É.

“Lucas, uma curiosidade. O que tu pretendes fazer agora?”

- Honestamente? Estou querendo voltar pro Sul.

“E assim acaba o seu relacionamento com a guria?”

- Bah, Demétri.

Ele deu uma risada sossegada. Como sempre.

“Não é porque as coisas parecem que chegaram ao fim, que realmente chegaram ao fim. É claro que o que a Pamela fez ferrou com muitas chances com Rafaela, mas...”

- Ela me mandou ir embora.

“Ué, Bruna me expulsa de casa até hoje e nem por isso eu vou.

- Bruna não é Rafaela.

“Não estou comparando, estou dando um exemplo.”

- Tu já se sentiu cansado de tentar e nunca conseguir algo?

“Já sim.”

- É o que eu estou sentindo. De verdade. Foi o que eu senti quando Pamela fez o que fez. Foi o que senti quando Rafaela me mandou embora. Sinceramente, pra mim chega.

“Tu ama mesmo essa guria?”

- Amo, Dê. Pior que eu amo.

“Então por experiência própria, acredite em minhas palavras... Ela não vai sair da sua vida assim tão facilmente.”

No momento que eu ia responde-lo, Gabriel entrou no quarto com seu notebook branco em mãos. Ele parecia agitado, olhava a tela com os olhos arregalados.

- Demétri, já te ligo.

Finalizei a ligação e joguei o aparelho na cama.

- Cara, olha isso. – Gabriel apoiou o notebook sob a mesa que num passado não tão distante, deveria pertencer a um computador. – O Amália tem um grupo no facebook, né. Se liga nessas fotos da gostosa da Raquel...

Ele se afastou para eu poder ver as fotos. Coloquei a mão sob a boca, pasmo. Foram postadas 5 fotos de Raquel completamente nua (apesar de eu acha-la uma vadia, devo admitir que é bem gostosa) e outras 4 dela na cama com nada mais, nada menos que Conrado.

- Eu já tinha ouvido boatos que o ex da Rafa teve um rolo com ela, mas não acreditei... – Gabriel murmurou, passando as fotos de Raquel mais uma vez. – Parece que já divulgaram pro marido dela. Isso vai dar um problema...

- Gabriel.

- O que?

- Iasmin ou Rafaela estão online?

Ele abriu o bate-papo do facebook e procurou pelas gurias. Nada. Isso é obra de uma das duas.

- Você acha que elas fizeram isso?

- Uma das duas.

- Por que?

- Meio óbvio, não?

Gabriel fez uma expressão pensativa e então compreendeu minhas palavras.

- Ah, mas você acha que Rafaela daria esse vacilo?

- Bah, ela não. Ficaria muito na cara. – Peguei meu celular da cama e disquei os números de Iasmin. – Não ficaremos na dúvida. - Ela atendeu de primeira. – Ias.

“Eu estava sentindo que você me ligaria!!”

- Tu viu as fotos de Raquel no grupo do Amália?

"Obra minha.”

- Eu desconfiei. Ias, tu sabes do perigo que tá correndo ao fazer isso, não?

“Sei, mas não me arrependo. Fica tranquilo, eu passei uma semana tendo aulas com hackers na internet. E graças a burrice do Conrado, consegui hackea-lo com sucesso. Agora eu quero ver a Raquel humilhar a Rafaela como fez nas duas últimas aulas de Inglês.”

- O que ela fez com Rafaela?

“Ridicularizou ela no meio da sala.”

- E como ela está?

“Levando. E você, como está?”

- Levando também.

“Fique bem. Acho que amanhã dou uma passada na casa do Gabriel para te ver!”

- Vou aguardar. Tchau, Ias.

“Tchau, Lucas.”

E pelo restante do dia eu me vi obrigado a me manter conectado ao facebook para ver o que daria essa história. Gabriel acompanhou pelo notebook e eu pelo meu aplicativo do celular. Rendeu tanto que cada foto da Raquel acumulou mais de 2.000 comentários. Quando o marido dela apareceu nos comentários foi a melhor parte. Me pergunto o que Rafaela deve estar pensando nesse momento.

- Você ainda está vendo os comentários? – Gabriel me perguntou, depois de um certo tempo. Balancei a cabeça em um não. – Se liga nesse aqui do Conrado.

- Qual?

- Esse. – Gabriel apontou com o dedo. Conrado Alvarez, era o nome dele.

“Eu espero que a pessoa que fez isso saiba que não vai ficar assim!”

- Ele acha que foi a Rafaela. – Eu murmurei, tenso. – Tenho uma raiva desse guri...

- Pelo o que você me contou ele é meio “tarja preta”, não?

- Sim. Eu tenho um receio do que ele pode fazer com as gurias.

- Se ele ousar fazer algo a gente dá um jeito no rapaz.

- Claro.

Na parte da tarde eu e Gabriel fomos para a loja trabalhar. E naquela correria que era trabalhar num lugar assim, eu conseguia não pensar em Rafaela e na falta que ela me faz.

A noite, quando o expediente de trabalho finalmente acabou, eu e Gabriel decidimos sair para tomar alguma coisa. No caminho, encontrei Olívia.

- Lucas! – Eu me afastei de Gabriel para ir cumprimenta-la.

- E aí, Olívia... – Nos abraçamos. - Tudo bom?

- Eu estou bem, mas soube que você e a Marchiori não.

- Nós terminamos. Uma “amiga” minha de infância que era apaixonada por mim fez uma sacanagem do caramba... Enfim.

- Estão indo pra onde?

- Tomar alguma coisa. Quer ir conosco? - Eu não a chamaria se não sentisse que ela quer ser convidada. E apesar do meu relacionamento com Olívia ter terminado de uma maneira bem esquisita, vai ser bom conversar com ela.

- Eu aceito o convite. Gabriel não vai se importar?

- Bah, claro que não. – Fitei Gabriel. – Tu se importa dela ir?

- Que nada, quanto mais gente, melhor.

Na ida ao bar eu contei a Olívia os detalhes da minha briga com Rafaela. Ela ouviu a tudo e ainda me lançou aqueles olhares cheio de compreensão, coisa que só um amigo consegue fazer, e isso me fez sentir bem.

Gabriel nos levou a um barzinho na zona norte e foi uma noite bem divertida. Ele conhecia o dono do lugar, o que nos rendeu um atendimento preferencial e descontraído (o garçom pediu o telefone da Olívia), além do que, cada um contou seu problema amoroso e rimos muito um da cara do outro. E apesar de toda a merda que o amor pode trazer, que a vida pode ser, tem sempre um amigo que pode salvar a sua noite. No meu caso, dois amigos.

- Um brinde à essa amizade! – Eu ergui meu copo de cerveja. Olívia e Lucas me acompanharam com seus respectivos copos.

- Um brinde! – Eles disseram em coro e tão bêbados quanto eu.

E depois de uma noite tão agitada, chegar em casa e deitar numa cama poderia ter sido a melhor coisa a se fazer se eu não tivesse decidido ligar para Rafaela. É claro que ela só me atendeu depois da sexta tentativa.

- Alô? - Ao que tudo indica, Rafaela excluiu meu número de sua agenda telefônica.

Eu não sabia como começar a falar, por isso fiquei mudo na linha ouvindo a respiração dela. Mas isso não durou muito. Rafaela desligou e essa talvez tenha sido a primeira vez que não sabíamos o que dizer um ao outro.

E existe coisa algo mais triste do que não saber o que dizer a pessoa que se ama?

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n/a ;-)

Meninas, desculpem não ter postado ontem. Não tive como... Minha internet não ajudou.

Próximo capítulo eu ainda não consegui termina-lo.. Em breve eu volto.

Thanks!!

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 28/06/2014
Reeditado em 28/06/2022
Código do texto: T4861449
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