[Original] Ela me faz - Capítulo 22

Capítulo 22 – É duro ter apenas duas alternativas (ficar ou ir embora) e ambas serem terríveis. *

Rafaela foi internada às pressas, mas segundo o médico eu não tinha com o que me preocupa pois ele me prometeu que daria o melhor pela vida dela. E eu acreditei nele, mesmo sabendo que os médicos, num geral, são ótimos com palavras. Nesse tempo me mantive na sala de espera, incapaz de me mover ou sequer falar, e com isso Iasmin teve que tomar a frente e ligar para a família Marchiori, depois para Isabel e por incrível que pareça, ligou para Olívia também. Minha cunhada disse que já tinha programado sua viagem para São Paulo e chegaria no dia seguinte, pela manhã. O restante estava a caminho. E como eu não queria falar com ninguém, levantei-me silenciosamente e saí por um corredor. No caminho, pedi uma caneta e um papel a uma enfermeira, que gentilmente me cedeu. Entrei numa sala que parecia ser de entrevistas e me sentei na cadeira, e apoiei a folha sob a mesa. Era a minha despedida para Rafaela.

“Rafaela,

Quando tu ler essa carta eu não estarei mais aqui, e sei que tu vai me odiar por não ter coragem de me despedir, mas chega uma hora que as pessoas precisam ficar longe uma das outras pra saber o que elas querem, se sentirão mesmo falta do que viveram e todas aquelas coisas que fazem parte de um relacionamento. Mesmo que o nosso relacionamento nunca tenha sido um conto de fadas. Acho que não combina muito conosco. Nesses 5, quase 6 meses aqui (bah, passou rápido) eu aprendi várias coisas. Uma delas foi a entender as mulheres, e ver o quanto ser amigo de uma pode ser uma experiência válida pra vida. Mulher é um troço louco.

Sei que algo está acabando para algo muito melhor começar para nós dois. Nunca pense que eu desisti, simplesmente dei um tempo. Preciso desse tempo. E guria, apesar de toda a dor que eu to sentindo em ter que te deixar, saiba que quando eu olhar pro céu, lembrarei do seu sorriso quente, do teu olhar e guardarei os nossos momentos juntos. Desde o primeiro ao último beijo.

E um dia, quem sabe, a gente se encontra novamente.

Eu amo tu, Rafaela Marchiori. Eu amo tu de verdade.”

Dobrei a carta e enfiei no bolso, quando voltei pra sala de espera, Iasmin estava andando de um lado pro outro, agoniada. Eu a puxei para um abraço.

- Promete que tu irá se cuidar muito bem, guria. E que irá cuidar de Rafaela também. – Iasmin me olhou, perturbada. – Sim, Ias. Eu vou embora.

- Não Lucas! – Ela enterrou a cabeça em meu peito. – Não faz isso, por favor, eu te peço.

- Chegou a hora, Ias.

- Não, para com isso... – Seu choro saiu bem baixinho. Toquei sua cabeça. – A gente precisa de você aqui.

- Vocês vão ficar bem sem mim. Confio nas duas.

Algum tempo depois o médico entrou na sala anunciando que Rafaela já estava pronta para receber visitas, porém encontrava-se sedada.

- Eu vou entrar. – Falei para o médico, que assentiu com a cabeça. Eu o segui até a sala. Claro que me deu vontade de voltar, de não ter que vê-la, mas eu não podia fazer isso comigo mesmo.

Ao abrir a porta doutor Ramirez me olhou e sorriu.

- É uma garota muito forte. – Ele murmurou, antes de sair e fechar a porta.

Olhar Rafaela deitada sob a cama me fez lembrar o quanto eu não queria deixa-la, e apesar de saber que não tinha culpa, vê-la nesse estado me fez sentir culpado. Eu nunca quis que ela sofresse, mesmo sabendo que ela também sofre com o que sentimos um pelo outro.

Inicialmente foi por não saber confiar em mim, depois por conta das mentiras que nos separaram e sofrerá quando saber que não estou mais aqui. Eu fico mal com ela e já me sinto mal sem ela.

Ousei me aproximar e foi um clichê romântico eu sentir a mesma onda de lembranças que tive quando ela me mandou embora. Uma vez Lennon me disse que num relacionamento quando as coisas chegam ao fim, a gente sempre lembra do início. E eu, bobo, nunca acreditei no que o meu irmão falava.

Entrelacei nossos dedos e coloquei a carta dentro da mão dela, depois a fechei. O rosto dela, apesar de toda a dor sofrida nesses últimos dias tinha uma curiosa tranquilidade.

Inclinei meu corpo para dar um beijo em sua testa e um aperto instantaneamente tomou conta de mim. Eu mesmo piorava o que era pra ser bem simples. Só uma despedida. Rápida. Sem dor. Selei nossos lábios e a olhei pela última vez. Só mais uma vez.

- Eu sei que ainda vou te ver novamente. E espero que quando isso acontecer possamos ficar juntos de verdade.

Saí da sala sem olhar pra trás. No caminho até a sala de espera, encontrei Iasmin e nos abraçamos novamente. Diferente da nossa última despedida, não nos veríamos com tanta frequência. Ela chorou mais e me fez prometer que eu não a esqueceria.

- Eu jamais vou esquecer de ti, Iasmin Farias.

Quando finalmente saí do hospital, vi que do outro lado da entrada a família Marchiori havia chegado, mas nenhum deles me viu. Gabriel estava no estacionamento mexendo em seu celular, ao me ver, deu um suspiro triste.

- Eu sei que isso é meio gay, mas eu vou sentir a sua falta, gaúcho trouxa.

- Eu também vou sentir a sua falta, paulista babaca.

Trocamos um abraço rápido e entramos em seu carro rumo a casa dele. Eu ainda precisava fazer as minhas malas definitivamente. Já no carro, olhei pro hospital mais uma vez e depois desviei, olhando para frente.

Gabriel ligou o rádio do carro e sintonizou numa rádio que eu não conhecia. Uma música de batida leve tocava. A melodia era boa de ouvir, o que logo chamou a minha atenção.

O trecho era mais ou menos assim:

“Uma luz, se apaga no prédio em frente ao meu...

Sempre em frente foi o conselho que ela me deu... Sem me avisar que iria ficar pra trás.” **

E nunca antes uma música teve tanto a ver com o meu relacionamento.

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Esse é o capítulo que oficialmente finaliza a narração do Lucas. Nos próximos dois capítulos que dão o fim a história, essa autora que a vos fala precisará de muita energia, porque depois de três temporadas eu fiquei seriamente apegada aos meus meninos.

* É o trecho de um texto da Martha Medeiros, quem não conhece, aqui vai ele na integra:

Tive um vizinho que gritava com a namorada ao telefone, sem se importar que o prédio inteiro ouvisse: "Não sei o que fazer! Fico mal contigo e fico mal sentigo!

Sempre achei essa situação desoladora, e nem estou falando do português do sujeito. É duro ter apenas duas alternativas (ficar ou ir embora) e ambas serem terríveis.

** Trecho da música dos Engenheiros do Hawaii - O Preço. Quem nunca ouviu, ouça. E quem já conhece, ouça novamente pois vale a pena.

Sem spoiler do próximo capítulo... Não escrevi ainda. Posto agora só na quarta de madrugada u_u

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 01/07/2014
Reeditado em 02/07/2022
Código do texto: T4865125
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