Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 7

O baile de formatura do último ano seria no salão do próprio colégio. Não era muito longe, de forma que poderíamos até ir a pé caso quiséssemos. Mas tenho certeza que Grace sequer cogitaria a hipótese. Haviam dezenas e dezenas de garotas descendo de seus carros e caminhando felizes até a entrada. Seria o último dia de suas vidas na escola e, a partir daí, entrariam naquele novo mundo totalmente desconhecido. O mundo onde elas seguiriam os seus sonhos. Ao menos era assim que deveria ser.

Alguns namorados esperavam na porta pelas suas namoradas, e era linda a forma como os seus olhos brilhavam de admiração e o enorme sorriso que eles esboçavam ao vê-las. Era uma pena que fosse uma questão de tempo apenas até que todos aqueles namoros chegassem ao fim. O encanto acabaria assim que fossem para a universidade. A maioria deles iriam para instituições diferentes e os seus encontros se espaçariam em meses, em anos, até que nada mais houvesse. O destino da maioria deles era acabar se separando, e eles sabiam disso. Mas não importava. Nessa noite, nessa última noite, eles viveriam como se fosse um sonho.

O salão onde toda a estrutura do baile fora montada era a quadra onde todo o colégio sempre se reunia para as reuniões e avisos importantes e em todas as sextas feiras em que tínhamos as aula de alongamento, e em que Connor quase sempre se sentava ao meu lado, me inebriando com o seu cheiro e sua presença, porém jamais percebendo a minha.

_ Ficou a melhor decoração de todos os tempos! - comentou com o namorado uma garota do terceiro ano que passava ao meu lado.

_ Não é verdade. É porque agora você a vê com outros olhos. Olhos que você não tinha nos anos anteriores. - ele disse.

_ Como assim?

_ Olhos de paixão. - ele sorriu. - Quando você está apaixonado tudo fica muito melhor. Tudo tem mais gosto e agrada mais aos olhos.

_E quem disse que eu estou apaixonada? - ela riu, fazendo charme.

_ Eu aprendi a decifrar você. - ele sussurrou. E eles se beijaram apaixonadamente. E eu desejei aprender a ver as coisas assim. Com 'olhos de paixão'.

Mas não era para menos que a garota havia se maravilhado com a decoração. Tudo estava incrível. Eu não vira as decorações dos anos anteriores, mas só sei que para os meus olhos, de paixão ou não, de frieza ou não, aquele salão parecia um sonho. Sequer parecia aquela quadra sem graça onde estávamos acostumados a frequentar. Um enorme carpete branco cobria o chão,dezenas de mesas com forros prateados se espalhavam por cima do mesmo, além das mesas maiores elegantemente decoradas com os aperitivos. Haviam colocado grandes vasos de flores e balões pretos e brancos espalhados por todos os lados, combinando harmoniosamente com o resto da decoração. Uma banda do último ano tocava animadamente prometendo milhares de músicas a noite toda, e todos aqueles que seguiam para a universidade sorriam e conversavam animados com grandes taças de poche em mãos.

Eu pude ouvir algumas das conversas. Alguns contavam que não viam a hora de se mudar para os estados de seus sonhos, outros contavam que trabalhariam com os pais, descreviam todas as expectativas, planos de vida traçados minuciosamente mesmo sabendo que, no fim das contas, as coisas poderiam em muito fugir do planejado. Algumas garotas contavam para as outras sobre os lugares onde planejavam ir com os namorados logo após o baile e outras diziam os nomes dos garotos com os quais gostariam de ter a coragem de convidar para dançar. Era óbvio e clichê o nome mais repetido: Brandon. Claro. E, alheio a todos os olhares desejosos, alheio às indiretas ditas claramente e a todos os pensamentos daquelas garotas, lá estava ele. Em um canto do salão, com um terno o mais engajado possível e cabelos com gel pentados para trás. Ele estava com os amigos. Indiferente, como sempre. Às vezes eu me perguntava qual seria o motivo. Será que ele era tão esnobe assim? Haviam lindas garotas por todo aquele salão, todas por perto esperando por um sinal, um único sinal, que nunca chegava.

_ Bom, eu combinei de me encontrar com um cara lá fora. Depois a gente se vê, meninas. - disse Leah,afastando-se.

_ E eu vou cumprimentar o Brandon. Agorinha me junto novamente a vocês. - disse Grace,sorrindo em direção ao garoto objeto de seu desejo e andando sensualmente até ele.

_ Entendeu o que eu queria dizer? - sussurrou Rachel, tristonha.

_ Relaxa amiga. Nós duas vamos nos divertir muito. - eu sorri para ela, pegando em suas mãos e puxando-a. - Vem. Vamos dar uma olhada pelo salão.

Os aperitivos servidos nas mesas maiores estavam maravilhosos.Depois de comermos um pouco e de muito procurar, finalmente encontramos uma mesa menor vazia para nos sentarmos. Já sentadas e longe de todo o tumulto pudemos perceber que haviam várias garotas do primeiro ano, como nós, sentadas à nossa volta e rodopiando com outros garotos pelo salão. Porém, por não termos muita intimidade com as mesmas, Rachel preferiu que continuássemos apenas nós duas.

_ É incrível estudar durante um ano no mesmo colégio e só conhecer três pessoas. - eu sussurei, surpresa com o fato - Eu queria ser mais sociável.

_ Mas você é. Você não é tímida nem nada. Você não se relaciona com os outros porque não quer. Aliás, se não fôssemos Grace, Leah e eu insistindo a sermos suas amigas, provavelmente você estaria em casa desejando estar aqui.

_ Desejando estar aqui? Eu duvido muito. - eu ri.

_ O que eu quero dizer - continuou ela - É que você tem de dar uma chance pras pessoas se aproximarem de você, Jenni. Você é tão fechada. Parece que sempre está com cinquenta pés atrás na hora de confiar em alguém. Isso vai acabar deixando você doente. A gente precisa confiar em alguém. É totalmente normal e saudável.

_Mas eu confio...Em você.

_Não totalmente.

_Eu...Desculpa Rachel. É o meu jeito. Eu não sei por que sou assim, mas não sei mudar.

_Tudo bem. - ela sorriu de uma forma meiga - Eu amo você mesmo assim. Mas ainda acho que você deveria tentar, só tentar fazer diferente.Talvez se você fosse um pouquinho mais otimista com as coisas, você atrairia coisas boas. Mas você só pensa de forma negativa.

_ Eu tenho os meus motivos. - eu disse em voz baixa. Ela corou e ficamos alguns minutos em silêncio até que ela sussurrou tão baixo que, por pouco, não escutei.

_ Você já o viu?

_Quem?

_Connor.

_ Hm...não. Eu não o procurei. - menti. Na verdade eu o estava procurando desde o momento em que passamos por aquela porta e não havia nem sinal dele. Será que ele não estava ali? Aliás, por que é que eu estava tão preocupada com aquilo? Não era eu mesma que havia dito que achava bom não poder mais vê-lo?

_ Você viu o Brandon?

_ Sim, eu o vi. Você acha que eu devo ir falar com ele?

_Eu acho que você deve fazer o que tem vontade.Eu não tenho nada a ver com isso.Não posso escolher o que você fará, Rachel.

_ Eu sei. Eu tomarei minha própria decisão. Eu só quero saber o que você acha.

_ Que importa o que eu acho? Importa é o que você acha.

_ Jenni! Por favor me diga.Você acha que eu devo ir ou não?

_ Sinceramente?

_ É.

_ Acho que você não deve ir.

_ Por que?

_Porque ele vai magoar você.

_ Como você sabe?

_ Eu apenas sei. Está escrito na cara dele. Está escrito nos gestos e atitudes dele. Mas, como eu disse, a decisão é sua. Eu apoio qualquer coisa que você decid... - eu comecei a dizer,porém acabei me engasgando.

_ O que foi? Você tá bem? Quer um copo de água?

_ Eu estou bem. - sussurrei, sentindo-me trêmula enquanto o meu coração batia como uma bomba-relógio. Eu o havia visto. Ele havia passado em nossa frente, tão perto que eu quase pude tocá-lo. Ele estava tão bonito,tão diferente. E a forma como eu me senti era tão somente o resultado de todas aquelas expectativas que eu me obriguei, sem sucesso, a não ter. Agora ele estava lá e, embora não significasse nada demais, somente o fato dele ter aparecido já fizera com que eu agisse como uma menininha boba. Ainda bem que seria a última vez que eu o veria. Todo esse drama, essa confusão de sentimentos, finalmente acabaria.

_ O que deu em você, hein? Tá tão estranha. - Rachel me olhou preocupada.

_ Eu tô bem. É sério. - sorri, com o coração ainda aos pulos.

_Você viu ele,né?

_ Quem?

_ Eu não sou boba. Pare de tentar me enganar. Não confia em mim?

_ Certo. Eu o vi. Satisfeita?

_ Sim. - ela sorriu

_ Então assunto encerrado.

_ Assunto encerrado nada. Você deu sua opinião. Agora eu quero dar a minha.

_ Eu não quis dar opinião nenhuma. Você quem pediu.

_ Que seja. Agora eu quero dar a minha. Dá pra me ouvir?

_ E eu tenho escolha?

_ Acho que você deveria ir falar com ele.

_O quê? - eu ri de uma forma irônica. - Sem chance.

_Por que não?

_Eu não quero acabar igual aquelas garotas ali. - eu disse, apontando para um grupo de garotas que se aglomeravam à volta de Brandon, conversando todas ao mesmo tempo, enquanto ele fazia uma cara de tédio tal qual estivesse louco para sair dali e se juntar novamente aos seus amigos.

_ Obrigada por me impedir de falar com ele, Jenni. Eu ia me sentir ridícula ali no meio.

_Por nada.

_ Mas, sabe, com o Connor é diferente. É você quem gosta dele. Só você. E o fato de você gostar dele não se deu só porque todas as outras meninas também gostavam. Só você o viu. Aposto que ele adoraria te conhecer.

_ Você não pode ter certeza.

_ Nem você.

_ Eu não quero. Será que dá para conversarmos sobre outra coisa?

_ Falar de outra coisa para desviar qual assunto? - perguntou Grace próxima ao meu ouvido, assustando tanto a mim quanto à Rachel.

_ Grace! Quer nos matar de susto? Não pode chegar assim derrepente.

_ Sim, eu posso. - ela riu. - Posso saber por que as senhoritas estão aí sentadas numa festa maravilhosa dessas?

_ Só está maravilhosa pra você. Nós não conhecemos ninguém. - dise Rachel.

_Você conhecem uma a outra. E conhecem a mim, conhecem a Leah...

_ Certo. Não estamos a fim.

_ Corta essa, Rachel. Vamos dançar.

_ Eu nem sei dançar. - eu disse, tentando me soltar de suas mãos que me puxavam. - É o meu primeiro baile, lembra?

_ Você nasce sabendo dançar - Grace riu - Vamos para a pista e apenas relaxe. E aproveita, porque logo logo começarão a tocar só aquelas músicas lentas de dançar de casal e, até lá, vocês precisam ter arranjado alguém.

_ Agora que não vou mesmo.

_ Tá, que se dane. Não precisam arrumar alguém. Só vamos nos divertir. Como as amigas fazem.

_ Você não vai desistir até nós irmos dançar com você,né? - perguntei.

_ Não, ela não vai. - disse Rachel.

_ A Rachel me conhece perfeitamente. - ela riu - Vamos?

A pista de dança era em um canto um pouco afastado de onde estavam as mesinhas e próximo de onde estava o buffet. Havia luzes coloridas saindo de um globo preto que girava e causava efeitos lindos naquele pedaço de chão preto. As pessoas dançavam animadas. Alguns faziam círculos com os amigos, alguns dançavam com os seus companheiro e outras simplesmente dançavam sozinhas, apenas se deixavam levar. Nós entramos no meio deles, e eu fechei os olhos e tentei 'sentir a música', da forma como Grace havia falado. Era bom que pistas de danças fossem escuras, com excessão daquelas luzes coloridas que pouco iluminavam, pois assim eu poderia dançar livremente sem medo de que alguém ficasse olhando. Isso sem contar o fato de que as pessoas dali estavam tão felizes que não pareciam se preocupar muito com isso. Muito pelo contrário.

Foi então que entre todos aqueles vultos que dançavam perto de mim eu pude reconhecer um deles logo que uma das luzes iluminou seu rosto. Aquela pele tão clara, aqueles olhos e cabelos tão negros e aquele seu olhar, aquele seu andar. E lá vinha o nervosismo novamente. Ele não estava dançando, apenas andava em direção ao buffet e passara pela pista para cumprimentar um amigo.

_ Vá falar com ele, Jenni. É a sua última chance. - Grace disse, um pouco alto demais devido ao nível que o alcool já lhe atingia.

_Cala a boca, sua louca! - eu disse rispidamente, tapando-lhe a boca com as duas mãos. Então ela afastou-se de mim, e disse então mais sutilmente.

_ Aproveita,Jenni. Ele está aqui, quase ao seu lado. É como se fosse uma evidência do destino.Você não percebe?

_ Evidência do destino? Acho que você bebeu um pouco demais. - eu disse.

Então ela me olhou com um sorriso diabólico no rosto. Um sorriso que ela sempre fazia quando tinha em mente um plano para conseguir algo que queria. E, naquele momento, eu estava envolvida até a cabeça em seus planos.

_ É. Talvez eu tenha bebido um pouco demais. - ela sorriu, fingindo tropeçar em mim, de forma que eu caí, jogando todo o meu peso para cima de Connor. Isso o derrubou também. E, naquele momento, como se fosse alguma daquelas cenas de filme, a música mudou para algo mais lento e romântico. E, pela primeira vez, ele me olhou.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 22/12/2014
Código do texto: T5077299
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