Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 7 (PARTE 2)

_ Meu Deus! Me desculpa! Eu tropecei, e... - eu disse, totalmente alarmada, enquanto me levantava e tentava não parecer tão desajeitada quanto eu me sentia. Ele apenas permaneceu deitado no chão me olhando com aqueles olhos penetrantes que tanto me tiravam o ar. Então ele começou a rir. Rir muito. E, com um enorme sorriso no rosto, estendeu-me a mão como se estivesse a pedir que eu o ajudasse a se levantar. E eu ajudei. - Desculpa mesmo. - Sussurrei. Sentia o meu sangue subir até minha face, que sempre corava quando eu me sentia constragida.

_ Tudo bem. Ao menos eu amorteci a queda. - ele riu. - Sou Connor.

_ Eu sei. - eu pensei - Jennifer. - respondi, tocando as suas mãos e torcendo para que as minhas não estivessem geladas.

_ Muito prazer. Você é de alguma turma do terceiro ano?

_ Não. Eu sou do primeiro. - eu disse, enquanto mordia o meu lábio inferior e olhava para os meus pés. A timidez tomava conta de mim, era inevitável, eu não sabia como conversar com garotos. E ele não era qualquer garoto.

_ Ah... Acho que eu nunca vi você pelo colégio.

_ Eu sei. - respondi, fazendo com que ele franzisse as sobrancelhas.

_ Você tá com alguém aqui?

_ EstAVA com umas amigas que já estão indo embora! - disse Grace enquanto puxava Rachel para longe. Connor não conseguiu deixar de sorrir mais uma vez.

_Você quer...hm...fazer alguma coisa? Dançar e tal?

_ Eu não sou muito boa com danças.

_ Que nada. É muito fácil. Quem tem de fazer tudo é quem guia. Você só tem que confiar em mim e se deixar levar. Eu faço tudo.

_ Não é tão simples assim.

_ O quê? Confiar em mim ou dançar? - ele deu um sorriso encantador. E eu não sabia onde enfiar a cara.

_ Dançar.

_ Uma coisa envolve a outra. Confie em mim que, em segundos, você estará dançando. - ele disse, oferecendo-me sua mão. Eu a segurei, trêmula, e ele me puxou até o meio da pista de dança, onde casais dançavam lentamente.

Tocava uma batida leve e romântica. Ele colocou as minhas mãos em seus ombros, agarrou a minha cintura e me puxou para perto. Depois de alguns minutos, ele tocou sua testa na minha. Estávamos tão próximos que eu podia ouvir a batida do seu coração. E era a melodia mais doce. Quis permanecer ali, em silêncio, só para continuar escutando. O seu cheiro tomava conta de mim lentamente, como uma droga, e os seus olhos me tiravam qualquer foco. Eu me abracei a ele, tentando entrar em sintonia e acompanhar todos os seu movimentos. Muito habilidoso, ele segurava forte a minha cintura e me guiava exatamente para onde desejava. E fazia isso muito bem. A nossa proximidade tirava de mim qualquer capacidade de ser racional.

Eu fui tomada por sensações que, até então, me eram estranhas, e a vontade de apreciá-las se misturava com a vontade de descobrir as outras centenas que eu ainda não havia sentido. Quanto mais Connor se aproximava de mim, mais eu queria abraçá-lo forte e mergulhar de cabeça naquele sentimento. Minha respiração estava acelerada, e acelerava ainda mais somente com a ideia de ele perceber os efeitos que causava em mim. Ele não poderia nunca saber o quanto significava.

_ Você está indo bem. Viu como é fácil? - ele sorriu.

_ É. Você conduz muito bem.

_ É porque você confiou em mim.

_ É, acho que sim. - forcei um sorriso. O seu uso frequente da palavra 'confiar' me deixava nervosa. Ora, nem parecia que se tratava de mim. Ele não fazia ideia do quanto a garota na sua frente evitava se aproximar das pessoas para não ter de confiar nelas. Eu estaria mesmo aprendendo a confiar? Eu duvidava muito mesmo.

_Você é tão bonita. - ele segurou o meu rosto em suas mãos. Como é que eu nunca te encontrei antes, hein?

_ É um colégio grande. - sussurrei, evitando olhar em seus olhos.

_ Você já tinha me visto?

_ Uma vez ou outra. - menti. - Acho que o seu armário é perto do meu.

_Nossa! - ele riu. - Acho que preciso de óculos.

Connor e eu pouco conversamos. Eu não queria estragar o nosso momento com conversas triviais e respostas minusciosamente calculadas. Não queria quebrar o encanto. A química gritava em nossos corpos e afastava qualquer pretexto para se separar. Queríamos apenas rodar pelo salão a noite toda. Era incrível. Eu me sentia como se pudesse voar.

Passado algum tempo o DJ alterou o ritmo musical para algo mais agitado e Connor me puxou pelas mãos para fora da pista de dança.

_ Você quer beber alguma coisa?

_ Pode ser.

_ Champagne?

_ Hm, é que eu não bebo. - fitei o chão sentindo-me ridícula.

_ Claro não. Você só tem uns quinze anos. Desculpa. - ele sorriu meio sem graça - Eu vou pegar um refrigerante pra gente. Eu estou dirigindo, então não combina muito, né?

_ Refrigerante tá bom.

_ Falando em dirigir...Como você vai pra casa? Quero dizer...Com quem você vai?

_ Com as minhas amigas.

_ Aquelas que foram embora há umas duas horas atrás? - ele levantou a sobrancelha. Corri os olhos pelo salão a fim de encontrar Rachel, Leah ou Grace, e me dei conta do quão vazio estava a quadra. Poucas pessoas dançavam pela pista, meio sonolentas, e os garçons já começavam a retirar os forros das mesas. O diretor da escola cochilava em uma cadeira. E, pelo vidro, consegui ver dois os três carros em um estacionamento antes lotado.

_ Meu Deus! Que horas são? Meu avô deve estar super preocupado.

_ Três e meia.

_ Eu vou de táxi mesmo.

_Eu levo você.

_ Não precisa.

_ Claro que precisa.

_ Não precisa. É sério. - Tentei disfarçar meu embaraço. Ele queria andar de carro comigo?Só nós dois? Eu nem o conhecia direito.

_Eu insisto. Não vou deixar você pagar táxi se eu tô de carro. Além do mais é uma forma de agradecimento. Por esta noite incrível. Eu nem queria vir a este baile. Vim mesmo porque meus amigos insistiram. Mas não imaginei que me divertiria tanto.

_ Ainda bem que eu sou desastrada e tropeço nas pessoas.

_ Ainda bem. - ele riu e segurou minha mão. - Anda, não aceito um 'não' como resposta.

_ Acho que não tenho saída.

_ Não mesmo.

Caminhamos em silêncio até o carro. Era um conversível de um prateado muito bonito, estilo retrô, do tipo que eu sabia que jamais teria. Ele abriu a porta do passageiro para que eu entrasse e pulou por cima da porta do do motorista, caindo sentado no banco. Isso me fez sorrir. Ele estava tentando se exibir...pra mim?

_ Carro legal. - eu disse.

_ Obrigado. É do meu irmão. Ele gosta dessas coisas meio exageradas. Não faz muito o meu tipo, mas, lá em casa, ele é o único que empresta o carro. Então pra mim tá legal.

_ Entendi. Deve ser legal ter um irmão com quem partilhar as coisas.

_ Nem sempre. A gente briga na maior parte do tempo. Como posso dizer? Somos extremos opostos. - ele riu - Você é filha única?

_ Sou sim.

_ Você comentou algo sobre deixar o seu avô preocupado por chegar tarde. Mora só com os seus avós?

_ Só com o meu avô.

_ Pais separados?

_ Não exatamente. Podemos mudar de assunto?

_ Claro. Não sabia que era um assunto delicado. Você quer ouvir alguma coisa?

_Pode ser. - eu disse. Então ele ligou o som, colocou um CD e apertou o play. Aquela voz que eu conhecia tão bem ecoou pela rua e não pude evitar de sorrir.

_ Beautiful Day. Do U2. Não acredito que você gosta.

_ É uma das minhas favoritas. Você gosta?

_ Muito. - tentei não demonstrar minha empolgação na voz. Era, também uma das minhas favoritas. Eu gostava de ouvir sempre que me lembrava dos meus pais. Fazia com que eu me sentisse bem. Me trazia uma incrível sensação de tranquilidade e, mais do que isso, esperança.

_ Me toque. Me leve para aquele outro lugar. Me ensine. Eu sei que não sou um caso perdido. - ele cantarolava. E tinha uma linda voz, de forma que comecei a me perguntar quantos atributos mais ele tinha para me impressionar.

_Cante comigo. - ele pediu, tocando o meu joelho com as mãos.

_ Não. Obrigada.

_Ah, qual é. Aposto que você canta melhor do que eu.

_ Eu não apostaria se fosse você. Sério, vou estragar a música.

_ Canta comigo, vai. Aposto um jantar que você tem uma voz linda. - ele levantou a sobrancelha de uma forma engraçada, me fazendo rir.

_ Não me obrigue.

_Você fica linda rindo. Tá vendo? É muito melhor que a sua cara de séria. Você deveria sorrir mais. - ele disse e, mais uma vez, me senti ruborizar - Você também fica linda envergonhada.

_Minha rua é aquela. - apontei aliviada. Estava tão embaraçada com os seus comentários e brincadeiras que me senti mal por não conseguir ser tão descontraída quanto ele. Ele parou em frente à minha casa e ficou a me olhar em silêncio. Eu não fazia ideia do que dizer, ou como agir. Eu deveria beijá-lo? Ele me beijaria? E se eu gostasse ainda mais dele? Quão longe seria a faculdade para onde ele iria? Nos encontraríamos novamente? Eu estava com muito medo para procurar saber as respostas para tais perguntas. Qualquer uma delas poderia me envolver de forma que eu acabaria me machucando no final. Então escolhi não procurá-las.

_Obrigada pela carona. - sussurrei, abrindo a porta do carro. Senti a mão dele segurando a minha e, num impulso, ele se aproximou e me beijou a bochecha. O simples roçar de seus lábios na minha pele fez com que os pêlos da minha nuca se arrepiassem e meu coração, mais uma vez, entrasse em descompasso. Saí, então, do carro e caminhei até a porta sem olhar para trás.

_A gente se vê! - ele gritou uma última vez antes que eu fechasse a porta de casa.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 03/01/2015
Reeditado em 06/01/2015
Código do texto: T5088873
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