Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 8 (PARTE 2)

_ Connnor...Oi.

_ E aí? O que faz aqui?

_Último dia de aula, entrega de resultados, despedida dos colegas. Essas coisas. - sorri,colocando as mãos na cintura antes que eu começasse a tremer. Eu tinha que me acostumar logo com a sua presença para parar de agir como idiota em sua frente. Quanto tempo demoraria para que eu me acostumasse? - E você?

_ Meus amigos e eu viemos pegar nosso certificado de conclusão do Colegial. Precisamos dele para o ingresso da faculdade, e tal.

_ Legal. Vocês já pegaram?

_ Sim. Eu estava esperando para ver se encontrava você por aí.

_ Me encontrar? - tentei não parecer surpresa.

_ Sim. Nós vamos pra Broadstairs (cidadezinha que fica há mais ou menos duas horas de Londres, e se situa em torno de várias praias, a mais famosa é Viking Bay) passar o dia na praia. Estava procurando você para convidá-la. E, bem, se as suas amigas também quiserem vir serão muito bem vindas.

_ Eu não posso. Viajarei hoje com minha família e ainda nem fiz as malas. - disse Grace, e todas a olhamos com estranheza. Ela estava fazendo as malas há semanas. Não parava de falar nisso. De forma que comecei a me perguntar se esse comportamento estranho tinha algo a ver com o comentário infame que Leah fizera mais cedo.

_ Ah Grace, vamos. - sorri para ela.

_ Sério, ainda falta arrumar mais um monte de coisas. Vão vocês. Eu ligo pra vocês mais tarde.

_Que milagre! Logo você que é tão adiantada. - riu Leah - Eu topo ir...Se a minha irmã for também.

_Então... - eu disse, lançando á Rachel meu melhor olhar de súplica. Era bem verdade que eu não tinha lá muito ânimo para me aventurar naquele dia, já que o cansaço me consumia pela noite mal dormida. Mas...e se fosse a minha última chance? Eu não poderia passar o resto da vida me lamamentando a pensar como poderia ter sido. Mas eu não queria ir sozinha, eu queria que Rachel estivesse ao meu lado. Isso fez com que eu me sentisse mal. Soava um pouco egoísta obrigá-la a ir sabendo que Brandon também estaria presente e que isso a faria sofrer. E não era uma característica minha fazer isso com as pessoas.

_ Eu vou. - ela disse, sorrindo timidamente.

_Não precisa ir se não for se sentir á vontade. É sério. - eu lhe disse em voz baixa. - Eu nem quero ir tanto assim.

_ Eu quero ir. É minha última chance também. - ela sussurrou tão baixo que quase não entendi o que dizia. Era como se ela tivesse ouvido os meus últimos pensamentos.

_ Legal. Já que todas vão, teremos que passar na casa de Brandon para pegar o seu carro.

_ E na minha casa para eu pegar minhas coisas. E...pedir permissão. - eu disse,mordendo os lábios e morrendo de vergonha.

_Nós também precisamos pegar nossas coisas. Nós não pretendíamos fazer algo assim depois da aula. Não trouxemos nada. - disse Leah.

_Sem problemas. Nós podemos passar na casa de todas. - ele sorriu.

_ Ei cara! Passa para o banco de trás para as meninas entrarem! - ele gritou para Brandon, que obedeceu sorrindo maliciosamente.

Rachel e eu nos sentamos na frente, de forma que eu fiquei no meio, espremida ao lado dela e de Connor. Leah se sentou no banco de trás, totalmente realizada por estar ao lado de Brandon. Os dois outros garotos, Ben e Ethan, afastaram-se gentilmente para que ela entrasse, e nos cumprimentaram, apresentando-se.

Ben passava os seus últimos dias em Londres aproveitando-os ao máximo com os amigos, já que logo iria para Leeds, onde cursaria Direito na universidade local. Apesar de não estar muito animado para tal se sentia orgulhoso de si mesmo, afinal, fora a universidade onde os seus pais se formaram e isso os deixava muito felizes. Era isso, somente isso que importava para ele. Ele gostava de agradar aos pais, gostava de Rugby (futebol americano) e gostava de sua namorada, com a qual ele estava há três anos. Ele pretendia terminar a faculdade, arranjar um emprego e casar-se com ela. Isso foi o pouco que conheci dele.

Já Ethan tinha um sonho diferente: ele queria ser famoso com a sua banda. Ele permanceceria em Londres e trancaria a faculdade até ter certeza do que realmente queria. Aos seu ver, certeza ele já tinha, o que faltava era a coragem para convencer os pais a aceitar tal escolha. Ele havia acabado de completar dezoito anos, e era vocalista de uma banda desde que tinha quinze. 'The Dream of Anyone' tinha quatro membros: Charlie como guitarrista, Peter como bateirista, Joe como baixista e ele (Ethan) como o vocalista. Eles eram conhecidos em seus meios comuns, clubes, bares, colégio e praia, mas ansiavam por mais, muito mais. Quanto mais ele crescia, crescia com ele o sonho de carregar o mundo nas costas. Os seus olhos brilhavam quando ele tinha um microfone nas mãos e seu coração se enchia de orgulho e admiração por todos aqueles outros membros que estiveram com ele por tanto tempo.

Eu tive medo de que a viagem fosse monótona e Connor e eu acabássemos por nos desencantar um do outro. Isto é, supondo que ele sentia o mesmo por mim. Uma pontinha encanto, uma pontinha de...curiosidade, talvez? Mas todo aquele medo fora em vão. A viagem de duas horas passou muito rapidamente, e nos divertimos muito brincando, cantando, e conversando sobre os nossos sonhos, ideologias, desejos.

Ethan tinha um jeito extremamente brincalhão, não havia como ficar sem sorrir se ele estivesse por perto. Todas as suas piadas e histórias tornavam o ar leve, o tempo rápido e a tensão quase não existia. Já eram quase três horas da tarde quando chegamos a Viking Bay, e o sol iluminava a praia recheada por casais, grupos de amigos e crianças que curtiam o dia numa alegria contagiante. E, naquele momento, não consegui pensar em nenhum outro lugar onde eu quisesse estar. Era tudo o que eu queria, tudo o que eu secretamente desejava. De certa forma, com um simples sorriso Connor conseguia aquecer toda aquela frieza com a qual eu lidava com as coisas.

Os garotos haviam trazido várias toalhas, bolas e redes - para jogar o tanto adorado vôlei de praia deles- e algumas caixas de isopor com cervejas e refrigerantes. A água, surpreendentemente, não estava tão gelada como era geralemente na maioria das praias inglesas. Era um morno agradável que trazia uma ótima sensação de relaxamento.

Leah não obtivera muito sucesso em suas incansáveis tentativas de conversar por muito tempo com o Brandon. Muito pelo contrário. Ele tinha um gênio frio e irônico que afastava a qualquer um que quisesse se aproximar. Talvez se houvesse sido por ele que eu tivesse me entantado, nós dois teríamos nos dado muito bem juntos. Ou talvez não. Não é como dizem? 'Os opostos se atraem!' Toda aquela enegia e vontade de viver que Connor demonstrava ter, todo aquele charme e calor que emanava de cada palavra e gesto seu faziam com que eu quisesse me aproximar como um imã. Já Leah, em razão da falta de sucesso nas suas investidas com Brandon, acabou por passar o seu tempo tomando sol e ouvindo música deitada na areia.

Ethan, Connor, Rachel e eu estávamos sentados na areia bem próximos ao mar, bebendo refrigerante e conversando muito, enquanto Leah tomava sol e Brandon e Ben haviam saído juntos para encontrar uns amigos.

_ Você quer entrar um pouco no mar? - perguntou Ethan á Rachel - A água tá uma delícia, é um absurdo ficarmos sentados aqui com toda essa beleza na nossa frente.

_Tá bom. - sorriu ela - Vamos apostar uma corrida. Quem chegar por último paga pro outro um sorvete que aquele homem ali está vendendo. - ela sorriu,apontando para um carrinho de picolés. A descontração com a qual Ethan encarava os momentos fazia com que ela se soltasse mais, despertando todo aquele encanto que eu adorava nela. Vê-la alegre me fazia alegre também.

Eles riram enquanto corriam em direção ás águas, deixando a mim e Connor sozinhos. E, então, toda aquela minha desinibição foi embora, e eu não sabia sequer se ainda estava num estado apto o suficiente para ter uma conversa decente com ele.

_ E você quer? Não se preocupe, não te obrigarei a pagar. - ele sorriu.

_ Hm? Do que você tá falando? - perguntei, olhando-o com uma expressão tão assustada que fez com que ele risse de uma forma muito gostosa.

_Sorvete. - ele disse, levantando uma das sobrancelhas

_ Ah...sorvete. Não, obrigada.

_Bem, nesse caso comprerei apenas o meu. Se quiser desistir ainda dá tempo.

_ Obrigada. - eu disse,sorrindo forçadamente.

Eu o observei enquanto caminhava até o carrinho de sorvete, e isso fez com que eu ficasse envergonhada de o estar observando daquela forma. Ele usava uma bermuda, apenas uma bermuda, e eu era uma garota que se encantava por cada coisa nova que descobria sobre ele. A forma como os seus escuros cabelos molhados sacudiam quando ele andava, as suas costas largas e bem desenhadas, os seus braços tão bonitos e masculinos que pareciam me chamar para estar em meio a eles, a sua pele, o seu cheiro, as suas grossas sombrancelhas, seu sorriso, seu jeito de olhar, sua boca...Tudo isso me deixava fora de controle. Me embrulhava o estômago e me despertava vontades de fazer e dizer uma porção de coisas que muito provavelmente eu jamais diria e muito menos faria. Era assustador? Era. Mais que era maravilhoso... Ah, se era.

Tudo estava em chamas dentro de mim. Que loucura enorme. Apenas por observá-lo. Eu me deitei na areia macia e fixei os olhos para aquele lindo céu azul, antes de fechá-los firmemente para que pensamentos calmos e sãos dominassem todas aquelas sensações que me eram estranhas. E aquilo realmente estava dando certo...Até Connor voltar.

_Voltei. - ele disse.- Acabou o sorvete do carrinho. Quer passar numa sorveteria aqui perto?-

Eu nada respondi, permancendo na mesma posição de antes e com os olhos ainda fechados. Ele, então, deitou-se ao meu lado e, pelo que pude ver, de canto de olho, começou a fitar o céu, em silêncio. O fato de ele estar em silêncio ao menos me permitia pensar. E aquilo me acalmava. Connor pegou uma das mechas de meu cabelo que caiam pela minha face, e começou a fazer movimentos como que para cacheá-las. Depois que já não havia mais mecha alguma para que ele moldasse, ele começou a acariciar o meu rosto. Minha pele queimava ao contato com seus dedos.

Após alguns minutos tomei coragem para abrir os olhos, e o seu rosto estava tão perto que eu pude ver cada detalhe. E, caramba! Era difícil me acostumar com a beleza dele. Eu esbocei um sorriso para ele, que foi retribuído por um enorme, muito mais bonito e confiante

.

_ Você não estava realmente dormindo...estava? - ele perguntou, divertindo-se.

_ Eu... - eu gaguejei. E, vencida, fiz que não com a cabeça.

_Imaginei que não. - ele riu, voltando a acariciar o meu rosto. Eu sentia todos os pêlos do meu corpo se arrepiarem, um por um, por aquele contato que muito mais parecia uma troca de eletricidade. E aquilo ia aumentando, aumentando à medida que o seu rosto ficava cada vez mais próximo ao meu. Eu fechei os olhos, pronta para sentir a sua boca na minha, porém nada aconteceu. Quando eu os abri devagar ele ainda estava lá, me observando, perto demais. Ele tocou o meu ombro, e pude sentir a suas mãos percorrerem a extensão de meu braço, escorregaram até o meu cotovelo e deste para as minha mãos, meus dedos, até que os dele entrelaçaram-se com os meus.

_ A sua mão tá gelada. Você tá nervosa?

_ Ner...Vosa por quê? - gaguejei. Ele apenas sorriu docemente.

_Peça. Peça o que você quer. - ele sussurrou em meu ouvido. Suas feições, sua forma de falar demonstravam que ele queria também aquilo. Exatamente o mesmo que eu. Será que eu estava viajando? Eu gostava dele há quase um ano, e ele me conhecia há o quê? Três dias?É possível se apaixonar por alguém em três dias? Impossível. Matemáticamente, físicamente, biologicamente e químicamente impossível. Então que ironia da vida era aquela? Por que estávamos os dois tão próximos naquele lugar lindo? Por que aquilo estava acontecendo? E por qual razão...eu deveria pedir?

_ Por que?

_ É preciso que você queira também...como eu. - ele sorriu mais uma vez.

_ Beije-me. - eu sussurrei, fechando os olhos, e esperando novamente por aquilo que eu desejava há tanto tempo.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 06/01/2015
Código do texto: T5092179
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