ABC de Expressões Populares

(Algumas “análises assistemáticas” que envolvem animais)

a) Abraço de Tamanduá: sinônimo de traição ou de deslealdade. O tamanduá deita-se de barriga para cima e abre os braços. Quando o inimigo aproxima-se, é surpreendido por um abraço tão forte que o esmaga. ( A força dos braços do tamanduá é incrível).

b) Canto do Cisne: são os últimos “feitos” de alguém. Nos tempos idos dizia-se que, ao morrer, o cisne emitia um lindo canto. Baseado nessa estória o compositor clássico russo Piotr Ilitch Tchaikovsky compôs uma ópera.

c) Estômago de avestruz: aquele ser que come qualquer coisa. O avestruz tem o estômago dotado de poderoso suco gástrico, capaz de dissolver de tudo, até metais! Por isso estas aves comem de tudo; por exemplo: prego, parafuso e etc.; diz-se também de pessoas que engolem críticas, mesmo as não merecidas, que assim o fazem por terem estômago de avestruz.

d) Lágrimas de crocodilo: é uma expressão muito usada para referir-se a choro fingido. É que o crocodilo quando ingere um alimento faz forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Por isso ele “chora”; enquanto devora a vítima.

e) Dorme com as galinhas: diz-se de quem vai muito cedo para a cama. É hábito comum nas zonas rurais, por levantarem-se muito cedo, as pessoas deitarem-se logo após o pôr do sol, no mesmo horário em que as galinhas procuram os poleiros para dormir.

f) Tratado como um cachorro: diz-se das pessoas que são maltratadas. É notório entre o povo que o cachorro (vira-lata) não tem vida fácil, embora entre os citadinos, existe conceito diametralmente oposto para os cães conhecidos como “cachorrinhos de madame”.

g) Trabalha como um burro: expressão muito usada quando alguém trabalha demasiado, além de suas forças.

h) Bebe como um gambá: nos engenhos de cana e nas destilarias de cachaça, é sempre necessário proteger os tanques de destilados dos gambás, que ficam excitados e sedentos quando sentem o perfume da cachaça em elaboração. E, sempre que conseguem êxito, bebem até ficarem desmaiados; em coma alcoólica.

i) Trata a todos como um cavalo: algumas pessoas estúpidas e rudes frequentemente estão sujeitas a esse epíteto. Algumas podem até ter boa escolaridade, mas com certeza, por não se manterem dentro dos parâmetros cultos, tornam-se verdadeiros animais.

j) Mais justo que boca de bode: os bodes, como é sabido, têm a garganta muito estreita, se comparada a outros animais do mesmo tamanho. Por isso mesmo, têm necessidade de comer o tempo todo, pois só consegue engolir aos poucos. O epíteto de alguém muito justo aplica-se, coerentemente com o provérbio em questão.

k) Mais certo que pau de gambeteiro: gambeteiro é a pessoa cheia de gingas, malícias, manhas e indecências. Portanto, se um gambeteiro diz que um pau está certo; com certeza ele não o é!

l) Parece uma marmota: marmota é um animalzinho (espécie de rato, que não existe no hemisfério sul) muito feio. Esse provérbio é aplicado às pessoas mal-ajambradas, desengonçadas e deselegantes. Mormente quando estão muito mal vestidas, ou combinando roupas de muito mau gosto.

m) O lambari é pescado; o jogo é jogado: essa máxima, usada em linguagem futebolística, refere-se ao fato de o lambari ser um dos peixes mais difíceis de serem pescados. A expressão combina esse ditado com as dificuldades em um jogo de futebol: só se pode dizer que pescou o lambari quando, efetivamente, ele já estiver em suas mãos; assim como só se pode dizer que o jogo está ganho, quando o árbitro der a partida como encerrada.

n) Amigo da Onça: a expressão, calcada na criação imortal do desenhista de humor Péricles, que o apresentou por muitos anos nas páginas da revista “O Cruzeiro”. O “amigo da onça” é uma pessoa que não guarda segredos, mesmo que venha a causar problemas com as pessoas com quem tem relacionamento. É desprezível e vil. Porém ele acha que está certo nas suas convicções. Não é confiável, de jeito nenhum.

o) Cara de fuinha: o fuinha é um animal, cujo rosto retorcido por rugas, gorduras e pelos grisalhos, marcado com uma mancha branca na altura da garganta, enfim, horrendo. Tal animal só é encontrado na Ásia e na Europa. No Brasil também este nome é utilizado para pessoas perdulárias, avarentas. Portanto, “cara de fuinha” é uma expressão que está longe de ser um elogio.

p) Cantar de galo: o galo tem o dom de ser o rei do terreiro. Ele reina com as suas companheiras, as galinhas, e canta a plenos pulmões para mostrar quem manda no terreiro. Seu canto tem ainda o efeito de causar medo a possíveis concorrentes. Portanto a expressão “cantar de galo” significa que quem manda na área é quem canta.

q) À passos de tartaruga: a tartaruga é um dos animais mais lentos no caminhar. Portanto a expressão revela um pito para as pessoas que fazem as coisas de modo muito vagaroso, ou mesmo preguiçoso. Significa também menosprezo para com o acordado e falta de vontade, de propósito!

r) Chupim: o chupim é um pássaro comum no Brasil, muitas vezes confundido com o “pássaro preto”, que é uma ave canora de qualidade. Em alguns lugares é conhecido como “Maria Preta”. As fêmeas do chupim são por demais preguiçosas e não gostam de chocar os ovos; razão pela qual ela põe seus ovos em ninhos alheios, especialmente de tico-ticos. Por essa razão, em alguns lugares do Brasil são chamados, dentre outros nomes, de “engana tico”! É muito divertido ver o filhote do chupim atormentando a mães tico-tico muito menores que o enteado, pedindo mais e mais comida. É uma espécie de parasita dentro do sistema natural das aves.

s) Boca de siri: o siri tem uma boca muito pequena (parecida com “palpo” da aranha). Portanto, fazer boca de siri é o mesmo que calar-se ante um segredo ou notícia reveladora.

t) Jacu: nosso digno representante do peru selvagem aqui aparece para designar pessoa tosca, caipira, que tem vergonha de se apresentar diante de pessoas da sociedade ou das cidades. Estes caipiras, tal como o pássaro, só gostam viver perto da natureza e longe da civilização; no meio do mato.

u) Pé-de-boi: pessoa muito trabalhadora. É um elogio dos maiores dizer-se que uma pessoa é “pé-de-boi”!

v) Tonto feito peru à noite: As aves domesticáveis geralmente não gostam de escuridão. Mas, para o peru esta afirmação é exponencial. Mesmo os perus criados “soltos”, que se tornam quase selvagens, são facilmente dominados se forem caçados durante a noite. É que eles ficam “bestas” (bobos/ tontos) devido à escuridão.

w) Perdido feito cachorro caído do caminhão de mudança: expressão muito usada, especialmente pelos citadinos, a frase de cunho humorístico, relata a cena em que, caindo do caminhão de mudanças e em terras estranhas, o cachorro não sabe o quê fazer nem para que lado ir. Esta situação, aplicada aos seres humanos mostra de forma perfeita, como nós humanos nos sentimos quando um evento inesperado e avassalador acontece em nossas vidas.

x) Um galo sozinho não tece uma manhã: expressão atribuída ao dramaturgo João Cabral de Melo Neto (in Morte e Vida Severina) em que ele afirma que não basta o galo cantar; é necessário que a aurora aconteça e que o sol ilumine: ai então, a manhã acontece!

y) Mais feio que cachorro chupando manga: mais uma cena retratada como provérbio. Efetivamente, os cães gostam do sabor da manga, porém o fato de ser um tanto “gosmenta” parece provocar neles um certo nojo; por isso fazem caretas muito feias. Se levarmos esse quadro para o ser humano, se alguém parece um cachorro chupando manga, trata-se efetivamente de uma pessoa muito feia!

z) Bonito feito garça branca na beira da lagoa: a garça branca, que sobrevoam todos os estados do Brasil e em muitos deles fazem seu “ninhal”, é uma das aves mais bonitas e elegantes. E quando estão descansando à beira de uma lagoa, apoiadas sobre uma ou duas pernas, nos parece uma escultura que, com o reflexo das águas da lagoa, formam um quadro de grande beleza.

Texto inédito - Criado em 07/01/2015

Publicado por Tio Babá em 7/01/2015

Tio Babá
Enviado por Tio Babá em 07/01/2015
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