Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 9

Uma semana se passou e eu me sentia bem como nunca me sentira antes. Por estar de férias, eu não trabalharia na loja e não haveriam mais os ensaios do teatro até que começasse o ano letivo. Isso fazia com que eu tivesse mais tempo para o meu avô, para as minhas amigas e, principalmente, para mim. Era uma da manhã de segunda feira quando fui acordada pelo toque estridente

do meu celular. Era um número estranho e, por pouco, não atendi, pensando ser engano ou mesmo trote. Afinal, que tipo de pessoa liga para os outros depois de meia noite? Atendi, sonolenta, antes do último toque, e demorei alguns minutos para perceber quem poderia ser.

_ Connor?

_ Sim, sou eu. - ele riu.

_ Como tem meu celular?

_ Eu pedi à Rachel. Ela tem saído esses dias com o Ethan e acaba que tenho a visto mais do que a você.

_ Ah,claro. Por isso é que ela anda tão ocupada. - pensei.

_ Você achou ruim eu ter ligado?

_ Não, claro que não. É só que...aconteceu alguma coisa?

_ Por que?

_ São uma da manhã.

_ Ah...desculpa por isso. É que não consigo dormir. Eu preciso falar com você.

_ Tem certeza que não aconteceu nada?

_ Sim. Está tudo bem. Olha,você pode vir até a calçada em frente à sua casa um pouco?

_ Por que eu iria até...Você está aqui? - eu perguntei, correndo até a janela. O carro dele estava lá, e Connor acenou ao ver que eu o observava. Eu apenas sorri.

_ Fique aí. Não faça barulho. Eu estou descendo.

Após colocar uma camiseta e uma calça jeans para não ter de descer de pijama, subi ao parapeito da janela, apoiando-me nos galhos da árvore em frente à mesma a fim de descer até onde se encontrava o Connor. Já era tarde e meu avô não poderia me ver saindo. E ele sempre ficava com as chaves da porta quando ia dormir. O meu quarto ficava no segundo andar.

Connor assustou-se ao ver que eu me aventurava daquela forma. Ele correu até próximo à janela e gritou para que eu parasse com aquilo.

_ Psiiu!Eu disse para não fazer barulho.

_ Saia daí agora, garota maluca!

_ Fica quieto. - eu disse, descendo habilmente entre os galhos da árvores, exatamente como eu fazia nas árvores de onde eu outrora morava quando era pequena. Pelo visto eu não havia perdido a prática nem um pouco. Connor andou afobado até o final do tronco daquela enorme árvore e me pegou no colo antes que eu chegasse ao chão. O seu coração estava disparado.

_ Maluca! Você que se matar? - ele disse,ainda tendo o meu corpo em seus braços.

_ Não se preocupe. Sou campeã mundial em escalar árvores. - eu disse, gargalhando.

_ Eu tomo um susto enorme e você ri?

_ E que sua preocupação não tem fundamentos. - eu sorri,enquanto ele me colocava no chão. Ele franziu a testa, e a sua expressão era encantadora.

_ Não fique bravo. Era o único jeito de descer. Meu avô não deixaria eu vir aqui a esta hora.

_ Tudo bem. - ele disse. Uma onda de vento frio passou por nós, sorrateiramente,fazendo com que eu estremecesse.

_ Você quer ir pro carro? Eu deixei meu casaco lá. Então poderemos conversar.

_ Tá.

Nós caminhamos até o carro, e ele olhou-me meio receoso. Pegou o casaco e colocou-o por cima dos meus ombros, me puxando para ficar dentro de seu abraço.

_ Connor, você está me preocupando. Aconteceu alguma coisa?

_ Não é nada demais, Jenni. É que eu não poderia ir sem ao menos te avisar antes.

_ Ir aonde? Como assim? Me avisar?

_ Eu irei viajar. Será por pouco mais de três meses, voltarei apenas quando começar o semestre letivo na universidade. Não foi uma escolha minha, foi dos meus pais. Eles querem que eu conheça um pouco de outros países e outras maneiras de viver. Eles viveram essa experiência quando tinham a minha idade e, segundo eles, amadureceram como nunca. Meus pais sempre falaram nisso, de eu fazer essa viagem antes de começar a faculdade, mas eu sempre desconversava. Desta vez eles me jogaram na parede. Eu não tenho escolha,sabe? Eles querem muito isso pra mim, e eu não quero decepcioná-los.

_ Três meses?

_ É. - ele disse, olhando para baixo.

_ Logo agora... - sussurrei, muito mais para mim mesma. - Eu achei que você nem se desse bem assim com os seus pais, a ponto de precisar impressioná-los.

_ Bem, ainda são os mais. E é uma boa oportunidade, pequena. Sei que é difícil de entender. Mas eles são muito convincentes quando precisam. Eu não tive como dizer não.

_E quando você vai?

_Amanhã pela manhã. As passagens já foram compradas. Primeira parada: Itália. - ele disse, sorrindo um pouco.

_ E você ia embora sem me falar nada? Simplesmente...ia? Tudo bem que você não tinha a obrigação de me contar, mas não te custava nada. Aposto que até a Rachel sabia. - eu disse, com raiva.

_ Não sabia. Eu não deixaria que o Ethan contasse. Olha, desculpa.

_ Por que não me contou antes? No fundo você sabia que acabaria indo - eu perguntei, sentindo as lágrimas nascerem em meu olhos. Mas eu só conseguia pensar que não queria que ele me visse chorar. Tornaria muito óbvio o encantamento que eu sentia por ele. Ele não poderia saber nunca.

_ Eu...bem... - ele gaguejou. E não pude evitar de me sentir magoada. Ele sabia que - muito provavelmente - viajaria e, ainda assim, nutrira as minhas expectativas.

_Tudo bem,você não tem que se explicar. - eu disse, seca.Eu havia virado o meu rosto para o outro lado, evitando olhar-lhe nos olhos e, assim, ele me visse chorar. - Afinal, nós somos apenas amigos. Quero mais é que você curta muito as suas férias. Boa sorte. - continuei, abrindo a porta do carro.

_ Jennifer! - me segurou pelo ombro. Eu limpei as lágrimas em sua blusa de frio que vestia e olhei para ele.

_ É mesmo. Estou com a sua blusa. - eu disse, tirando-a.

_ Não, não é isso. Pára com isso. Me deixa falar.

_ Eu já disse. Você não tem que se explicar nem nada, Connor. Além do mais essa sua viagem seria a viagem dos sonhos de qualquer um. Uma viagem que o meu avô nunca, jamais poderia me dar pois não temos esse dinheiro. Você tem mais é que ficar feliz por isso.

_ Dá pra me deixar falar?

_ Á vontade.- cruzei os braços.

_ Eu pensei eu viajar sem te falar nada porque se eu falasse você poderia se sentir presa a mim. Como se fosse obrigada a me esperar todo esse tempo e tal. Eu gostei demais de conhecer você, gostei mais ainda de ficar contigo. Mas eu não acho que tenho direito de prendê-la a mim. Você é tão novinha. E três meses é um bom tempo. Você pode querer conhecer outras pessoas e não quero que se sinta mal por isso. Eu quero que você saiba que não precisa me esperar se não quiser.Seria errado te obrigar a isso. Ei, por que tá rindo?

_ Você acha que eu sou assim? Que eu saio atirando para todos os lados, e que seria um tortura ter que te esperar por só três meses pois, assim, eu não poderia ficar com outros caras? Isso é só uma desculpa. Algo para você se sentir bem consigo mesmo.

_ Eu só quero que você saiba que não precisa esperar se não quiser. Afinal você mal me conhece também...Talvez eu decepcione você. Eu não quero fazer isso.

_ Certo. Então por que resolveu contar logo agora? Faltando apenas algumas horas para você ir embora? Você poderia ter contado, por exemplo, naquele dia na praia. Não acha?

_ Bem... - ele disse, sem graça - Eu não consegui dormir à noite. Fiquei nessa agonia de contar ou não, e penso que seria péssimo ir embora e deixar você aqui com raiva de mim. Sem entender os meus motivos. A verdade é que você é encantadora, Jennifer. Não quero, de forma alguma, magoar você. Foi realmente incrível conhecer você, e tudo que se passou entre a gente esses dias. Me desculpe por ter de acabar tudo agora e ir embora. Quem sabe algum dia a gente se encontre novamente, e tal.

_ Eu esperaria por você se você quisesse.

_ Eu não quero que você espere. Quero que você saiba que é livre.

_ Claro.Para você ser também. Eu entendo totalmente. Só não precisava se dar ao trabalho. Você é livre para conhecer muitas francesas,americanas,brasileiras,asiáticas...

_ Não é por isso,Jenni. - ele riu. - E nem vai dar tempo de conhecer todos esses lugares. Eu só estou dizendo que se conhecer outras pessoas e quiser se envolver, não tem de se sentir mal por isso. Não estaria me traindo nem nada. Você entende?

_ Entendo, eu acho. Está tudo bem. - eu disse, limpando uma lágrima que teimava em escapar por mais que eu fizesse força para que não acontecesse.

_ Por que você está chorando?

_ Eu não estou.

_ Não? - ele perguntou, limpando outra lágrima que não consegui segurar.

_Tchau Connor. - eu disse, descendo do carro e caminhando até minha casa. Eu não queria que ele me visse daquela forma. Não queria que ele percebesse que eu era fraca.

_ Eu sou forte, eu sou forte! - eu pensava, enquanto apoiava-me ao tronco da árvore, tentando subir novamente. - Droga! Descer é fácil. Quero ver como é que eu vou subir de volta.

_ Quer ajuda? - ele perguntou, logo atrás de mim.

_ Achei que você já tinha ido.

_ É que você não respondeu a minha pergunta.

_ Pergunta?

_ Do por que de você estar chorando.Eu fui grosso ou alguma coisa assim...Pra não merecer nem sequer um abraço de 'adeus'?

_ Não, você não foi grosso. É só que... - eu suspirei fundo. - Você tem noção de há quanto tempo eu gosto de você? - eu disse, um pouco alto demais.

_Talvez eu tenha. - ele disse, tentando não parecer nervoso.

_ Eu sentirei a sua falta. - me dei por vencida. Ele, então, envolveu-me com os seus braços, beijando-me o alto da cabeça, enquanto eu suspirava encostada em seu peitoral.

_ Você quer sair daqui? - ele perguntou. E respondi afirmativamente com a cabeça.

Ele me abraçou pela cintura e andamos em silêncio até o carro. O ar parecia mais pesado do que o normal, eu não sabia o que dizer, como agir, como me sentir. E eu estava profundamente arrependida de ter me aberto daquela forma ainda que por poucos segundos. Mais ainda, eu me perguntava porque é que ele ainda estava falando comigo.

_ Onde nós estamos? - perguntei, ao vê-lo estacionar em frente a um prédio que eu nunca havia visto.

_ O meu lugar preferido do mundo. - ele sorriu. - O lugar onde eu vou morar depois que voltar da viagem. Não tem muita coisa lá dentro, ainda faltam comprar alguns móveis, mas...Tem uma televisão e um sofá. A gente podia ver algum filme. Passar um tempo juntos. Eu tenho que ir ás oito da manhã, mas prometo deixar você em casa antes mesmo do seu avô acordar. Quero me redimir com você, pequena.

_ Tem um sofá e uma TV? - eu ri. - Tudo bem, você já tem os móveis essenciais.

_ Você poderia vir aqui de novo, quando tudo estivesse pronto.

_ Quem sabe. - eu disse, olhando para o chão.

_ Você quer subir?

_ Pode ser.

O apartamento que ele comprara ficava no décimo primeiro andar. Realmente, haviam muito poucos móveis e a casa ainda estava uma bagunça. E, para completar, ele ainda se esquecera de um detalhe primordial: a televisão ainda não havia sido instalada. Mas nada daquilo importava. O fato concreto para mim era que eu estava ali, com ele. Eu estava com Connor Garrel, o garoto que eu admirava pelos corredores do colégio e que nunca, jamais imaginei estar assim tão perto. De que importava o apartamento ou uma televisão que não ligava? Eu estaria feliz em apenas estar perto dele, em abraçá-lo, beijá-lo, ouvir a sua voz e conhecê-lo mais melhor. Isso tudo porque ele me fazia uma pessoa diferente. Longe dele eu era fria e e pessimista. Quando eu estava com ele eu queria viver, queria sorrir, dançar, mais do que tudo ser feliz. Eu gostava da Jenni que eu me tornava quando ele estava por perto. Era por isso que eu dizia que ele sempre fora a minha droga.

_ Desculpa Jenni. Eu me esqueci! - ele disse, sem graça.

_Tudo bem, eu não me importo.

_ Tem uma lanchonete aqui perto que funciona 24h. A gente pode comer alguma coisa e conversar um pouco.

_ Tudo bem podemos ficar aqui - sorri, me sentando no sofá.

_ É que eu não tenho comida aqui para te oferecer. Ainda não está tudo pronto - ele fitou o chão. - Vamos, você vai gostar. Eles fazem as melhores batatas fritas de Londres.

_ Não precisamos ir. Só de ficarmos juntos um pouco antes de você ir já me deixa feliz. De verdade. E eu não tô com fome. Tá frio e sua casa é quentinha. - eu disse. Eu queria apenas ficar ali, só nós dois. Sem ter de dividir sua atenção com ninguém.

_ Há quanto tempo? - ele perguntou, de súbito.

_ Quanto tempo o quê?

_ Há quanto tempo você gosta de mim?

_ Connor, eu...Só esquece que eu falei isso, pode ser? Falei sem pensar, não tem nada a ver. - eu disse, sentindo-me corar, minhas bochechas queimarem, uma vontade imensa de ir embora.

_ Você tem uma mania de não responder ás minhas perguntas...

_ E você tem uma menina de fazer perguntas inconvenientes. - retruquei, fazendo-o sorrir.

_ Tudo bem, não precisa dizer.

_ Ótimo.

_ Eu imaginei que você gostasse de mim desde a primeira vez que conversamos naquele baile. Foi por isso, inclusive que quis conhecê-la melhor. Sei que você acha que eu fui egoísta com você por ter te convidado pra praia aquele dia e ter te beijado sem antes contar sobre a viagem, mas eu juro que, até então, pensei que meus pais já haviam desistido de tentar me convencer. Nunca imaginaria que eles, numa cartada final, pagariam passagens, hospedagem, tudo calculado para me deixar sem saída.

_ Eu já disse. Tudo bem.

_ O fato é, imaginei que você gostasse de mim desde o baile. Não imaginei, porém, que fosse desde antes. Nem que fosse tanto. Afinal nunca tínhamos sequer conversado.

_ Eu não disse que era tanto. - eu sussurrei.

_ Não? - ele riu, abaixou a cabeça e me beijou de leve.

_Você é linda, Jennifer Summers. Eu queria ter tido mais tempo para conhecê-la melhor.

_ Estamos aqui agora. É o que importa. - eu sorri. E então, tudo aconteceu rápido demais.

Ele se sentou ao meu lado no sofá e me abraçou forte trazendo o meu corpo para perto do dele. Ele tocava o meu pescoço, minhas costas, minha cintura e, como sempre, a nossas peles queimavam ao contato. Mas de uma forma boa. E, ao menos nesse aspecto, era aparente que ele sentia o mesmo. Connor, de uma forma carinhosa, deitou-se por cima do meu corpo no sofá. Sua boca em meus lábios e em meu pescoço fazia com que eu sentisse choques dentro de mim e minha respiração se acelerasse como nunca. Era tão louco e intenso que eu não conseguia racionar. E, quando você não consegue raciocinar, isso acaba não ajudando muito no quesito evitar que você faça coisas que normalmente não faria. As suas mãos hábeis me tiraram a blusa e abriram o soutien com uma rapidez de quem já fez isso antes que nem mesmo eu tinha. E foram as mesmas que abriram um dos botões da minha calça enquanto a sua boca me beijava com força. Eu não sabia o que fazer. Meus braços não se moviam e minha cabeça girava fazendo com que eu visse tudo um pouco distorcido. E eu estava morrendo de medo quando percebi o que estava acontecendo.

_Connor... - eu consegui dizer finalmente, entre um suspiro. Ele me olhou surpreso, e sorriu docemente, acariciando-me os cabelos e beijando-me a face. Como eu não disse nada, ele continuou a fazer o que estava fazendo.

_ Connor, eu não quero fazer isso! - eu gritei, empurrando-o.

_ Eu fiz algo errado? Te machuquei? - ele perguntou, olhando-me assustado. Eu me sentei no sofá abotoando a minha calça e vestindo novamente a minha blusa. Depois de fazê-lo, eu apenas fiquei calada, abraçada ás minhas pernas, sem coragem para encará-lo. Connor me observava com uma expressão confusa, sentado um pouco distante de mim, e o silêncio permaneceu naquela sala por alguns segundos que pareceram uma eternidade. E, então, surgiu em seu rosto uma expressão de total compreensão.

_ AH! - ele murmurou.

_ Eu quero ir pra casa.

_ Me desculpa,Jenni. Eu não sabia que você era... - ele disse, e eu me mantive em silêncio, apenas olhando para baixo.

_ Você tá achando que eu sou um idiota,né? Desculpa, eu não teria tentado se soubesse que... Ah, onde eu estava com a cabeça? Você só tem quinze anos. É que, ás vezes, você parece mais velha. E quando eu beijo você eu meio que perco os sentidos. Ah, pequena, não fica assim comigo,vai? A gente pode ficar aqui só conversando. Eu prometo não encostar um dedo em você.

_ Me leva pra casa? - pedi novamente. Eu estava muito assustada e envergonhada para fingir que estava tudo bem.

_ Certo. - ele se levantou claramente entristecido, pegando as chaves do carro.

Nenhum de nós dois ousou falar uma palavra sequer no caminho. Quando entramos no carro pela primeira vez, após ele ter me convidado para ficar as últimas horas com ele antes que viajasse, eu imaginara que passaríamos momentos românticos rindo, conversando, se beijando... E eu estragara tudo. Me envergonhava por ter deixado que aquilo fosse tão longe. Eu nunca tinha sido desejada, daquela forma, por um homem, e não sabia muito como agir nessa situação. Afinal ele era o segundo menino que eu beijara. E o primeiro fora com, o quê, treze anos? Eu nunca tinha ido tão longe e, naquele momento, me senti como uma garotinha imatura por praticamente ter dado uma birra em sua frente, pedindo que ele me levasse para casa. Ele provavelmente riria de mim depois, contando aos amigos o quanto eu era imatura e medrosa.

_ Chegamos. Você quer ajuda pra subir de volta?

_ Quero. - respondi, secamente. Eu tinha que ser seca com ele, eu tinha que agir como se não me importasse. Ele já soubera coisas demais sobre a forma como eu me sentia. Era tarde, tarde demais para voltar atrás.

_ Eu posso abraçar você...como uma despedida? Afinal ficaremos um bom tempo ser se ver,não é? - ele pediu.

_ Ou talvez seja a última vez. - eu pensei. Ele me abraçou forte e murmurou algo como 'até logo', ou 'a gente se vê',deixando com que eu subisse de volta ao meu quarto e a situação permanecesse estranha.

Apesar de tudo, em momento algum me perguntei como seria se eu tivesse deixado que acontecesse. Eu sabia a resposta: isso não o faria ficar. Ele viajaria da mesma forma, conheceria outras meninas, talvez sequer nos encontrássemos novamente. E eu me arrependeria. Eu não estava pronta e ele não fazia com que eu me sentisse segura o suficiente. E, na teoria, nós nos conhecíamos há um ano, mas na prática era apenas uma semana. Era uma carga emocional muito grande para levar comigo. Ainda mais com ele daquela forma, tão longe...Era uma pena porém, que aquela situação constrangedora houvesse custado a nossa noite. E, talvez, fosse mesmo um adeus. Era melhor eu esquecer tudo, fingir que tudo aquilo que aconteceu desde o dia do baile era mero fruto de minha imaginação, e tentar ficar bem com tudo isso. Ao menos ele estaria longe. E eu era muito boa em matéria de me distrair daquilo que me machuca, assim como eu fazia o tempo todo quando me lembrava dos meus pais.

Após vê-lo ir embora e pensar que talvez aquela fosse a última vez que os meus olhos o veriam, eu tirei as minhas roupas e me deitei na cama reconstituindo a noite por diversas vezes. Eu pensava, principalmente, na forma grotescamente idiota como eu havia agido, contando-lhe a forma como eu me sentia e, pior ainda, praticamente contando há quanto tempo eu gostava dele. Agora ele sabia que era mais do que ele imaginava. Será que em razão daquilo eu me tornaria para ele uma daquelas garotas fanáticas como aquelas que idolatravam tanto ao Brandon? Pois, afinal, eu é que me apaixonara desde a primeira vez que o vira. Eu é que fora tão ingênua quanto as garotas que gostavam do amigo dele. Talvez eu fosse mesmo só uma garota fanática por ele que ficava feliz com qualquer tipo de atenção. Pensar nisso me fez querer vomitar. Eu era patética e já estava passando da hora de aprender a viver sem criar tantas expectativas. E, afinal, eu já estava acostumada a ser ignorada por ele e, partir de agora, ele viajaria para longe. Então seria fácil.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 11/01/2015
Reeditado em 12/02/2015
Código do texto: T5098642
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