Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 16

Antes de começar o capítulo de hoje quero agradecer a vocês, leitores, por cada comentário e palavra de incentivo. Vocês são muito queridos, fico sorrindo o dia todo a cada recado novo que leio. São minha fonte de inspiração. Obrigada pelo apoio. De verdade. Guardo no coração cada palavra carinhosa. Um beijo!

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Era cerca de sete horas da manhã e o galo ainda cantava quando acordei. A claridade da manhã batia forte em meu rosto e todos os outros garotos estavam em suas respectivas camas. O que significava que todos haviam visto, todos sabiam que eu havia dormido com o Eric. Eu não queria nem pensar nas coisas que eles poderiam ter pensado ao ver nós dois daquela forma. Levantei-me com cuidado para não acordar ninguém e beijei de leve a face de Eric.

_ Desculpa. - eu sussurrei. E então corri até o quarto das garotas e deitei-me sobre a cama.

Ele quase dissera que me amava. Ele diria, caso eu não o houvesse impedido. Eu me sentia mal por aquilo tudo, além de extremamente confusa. O que é que eu estava fazendo? Eu não era daquele jeito, não mesmo. O problema é que todas as vezes que ele me olhava com aqueles olhos doces, eu inconscientemente prometia a mim mesma que mataria qualquer um que o magoasse. Todas as vezes que ele tentava proteger-me, que fazia o máximo para que eu sentisse por ele aquilo que ele sabia que eu sentia por Connor, eu não conseguia me enxergar como a pessoa que seria a primeira decepção da vida dele. Por que eu sabia exatamente como era sentir-se daquela forma. Mas o que fazer então? Eu estava no meio de um labirinto onde, quanto mais eu andava, mais perdida eu ficava.

Mas o que é que ele sabia sobre o amor? Eu fora a primeira garota que ele beijara, a primeira garota por quem ele se apaixonara. Todo mundo se apaixona pelo seu 'primeiro beijo'. É comum. Talvez Eric apenas não soubesse lidar com isso. Talvez ele conseguisse superar. E ele passaria por sua segunda, terceira, quarta paixão... Até que achasse alguém a quem realmente pudesse amar. Alguém que o amasse também. E, assim, ele descobriria o que era o amor. E eu lhe desejaria toda a felicidade do mundo. Talvez ele não me amasse. Talvez ele apenas achasse que me amava. Mas quem é que ia dizer isso a ele? Eu?

Eu havia cochilado por apenas alguns minutos quando senti que havia alguém a me observar bem de perto. Era Caitlin, a irmã de seis ano de Eric.

_ Acorda, bela adormecida. Todos já acordaram e estão na mesa tomando o café.

_ Tá. - eu disse, colocando o travesseiro sobre a minha cabeça.

_ Noite longa, hein? - ela riu, correndo para fora do quarto. Foi então que eu comecei a pensar sobre o que eu enfrentaria no momento em que atravessasse aquela porta.

Eu vesti uma roupa confortável e fui andando até a cozinha na ponta dos pés, olhando sorrateiramente para a porta do quarto onde Eric possivelmente estaria, na esperança de não ter de passar por aquilo sozinha. Mas a porta estava fechada. Então eu respirei fundo e atravessei a última porta. As pessoas comiam e conversavam em voz baixa. As crianças já estavam terminando, loucas para que pudessem ir brincar logo. Elas eram tão inocentes e, ao mesmo tempo, tão mais adultas do que os próprios adultos. Haviam apenas duas cadeiras vagas. Uma ao lado da outra. De repente senti uma mão tocando a minha e puxando-me para aqueles lugares. Era o Eric.

_ Bom dia. - eu disse em voz alta, cumprimentando a todos daquela mesa.

_ Bom dia. - responderam sem sequer tirar os olhos do prato.

_ O vovô disse que vai me ensinar a soltar pipa depois do café da manhã! Você quer brincar com a gente? Diz que sim! Diz que sim! - pedia Cate, abraçando-me forte pela cintura.

_ Claro. - eu sorri meio sem graça. Ao menos eu ficaria longe de todos aqueles olhares que me recriminavam. Como se eu fosse a garota de péssima influência que estivesse acabando com a inocência do filho,neto, sobrinho deles. Eu nunca havia me sentido tão deslocada como eu sentia-me naquele momento.

_ Brigada Jenni! - ela riu, correndo até a porta segurando pelos braços uma boneca bem surrada.

Fora Eric quem serviu-me aquele dia, enquanto eu permanecia sentada á mesa em silêncio. Eu estava tão sem graça que sequer conseguia olhar no rosto daquelas pessoas. E eu nem tinha feito nada de errado. O silêncio agonizante reinava naquela cozinha. Ouvia-se apenas o som dos talheres quando tocavam o prato, da mastigação das pessoas, e das suas respirações. Eric estava tão constrangido quanto eu. Onde é que eu estava com a cabeça no dia anterior? Deveria ter ido para a minha cama naquele exato momento em que eu decidi ir, ao invés de ceder ao pedido de Eric. Afinal, no fundo eu sabia que acabaríamos adormecendo. E então, por esse deslize, nós tivemos que passar por aquilo.

_ Situação estranha... - ele sussurrou.

_ É.

_ Vamos comer logo e sair daqui?

_ Por favor.

Comemos rapidamente sob aqueles olhares que nos repreendiam. Então nos levantamos e fomos encontrar Cate assim como havíamos prometido. Ela e o avô estavam sentados em uma pedra e riam muito.

_ Você veio! - ela gritou. - E trouxe meu irmão.

_ Oi meninos. Sentem-se aqui conosco. - pediu o avô de Eric.

_ Ah, não vô. Fala pra todo mundo parar de tratar a Jenni assim. Que droga! Primeira vez que ela viaja comigo e eles ficam desse jeito?

_ Desculpe por eles, Jenni. Nós todos gostamos muito de conhecer você. Mas sabe como são as mulheres... Ciumentas até não ter mais jeito. E você é a primeira garota que o Eric apresentou.

_ Tudo bem. Eu só não queria que eles me odiassem.

_ Eles não odeiam você. Não se preocupe.

_ Vô, não aconteceu nada. A gente só estava conversando e acabou adormecendo. - disse Eric, fazendo-me sentir vontade de sair dali. - E que culpa tem a Jenni disso? Ela tem a minha idade. Não é como se ela estivesse me corrompendo.

_ Eu imaginei. Não se preocupe, logo eles esquecem.

Eles não iriam esquecer. De certa forma, eu até entendia. Se eu fosse mãe, não ia ficar muito feliz de pegar um filho meu dormindo com a namorada na minha própria casa. Mas foi só assim que eu fui percebendo os sinais. A família de Eric tinha um ciúme enorme dele. Não me surpreendia, então, que eu fora a primeira garota a quem ele houvesse beijado. Ao menos aquele era o último dia ali, na fazenda, e no fim do dia voltamos para casa. O silêncio reinou naquele carro, e os pais de Eric despediram-se secamente ao me deixar em casa.

_ Eu vou ajudá-la a desfazer as malas. Mais tarde eu volto pra casa. - disse Eric, na tentativa de desvencilhar-se de todo aquele ciúmes deles e ter a oportunidade de conversar comigo sobre aquilo.

_ Não vai nada. Você tem de desfazer as suas malas e arrumar os materiais pra aula de amanhã. Depois vocês se vêem. - disse a mãe dele tanto autoritária quanto zangada.

_ Mas mãe... - ele murmurou, buscando os meus olhos, talvez esperando que eu fizesse algo. O que é que eu poderia fazer?

_ Tudo bem. A gente se vê depois. - eu disse desanimada. E então virei as costas e fui embora.

Meu avô me abraçou forte quando cheguei. Eu havia sentido falta dele. Tudo bem que não conversávamos muito e que eu não conseguia me abrir com ele, mas era como se ele me conhecesse tanto que soubesse sempre exatamente o que eu sentia. Talvez eu não conseguisse me aproximar mais porque eu sabia que ele não demoraria a me deixar. E eu tinha medo, muito medo de me separar daqueles que eu amava.

_ Como foi a viagem?

_ Ah, foi boa. - eu disse, tentando parecer animada. - Mas acho que os pais do Eric não gostam muito de mim.

_ Deve ser impressão Jenni. É impossível não gostar de você. - ele disse, carinhoso.

_ Não sei não. Estou meio cansada, vô. Já está de noite e tenho aula amanhã. Acho que já vou dormir, tá bom?

Não vi Eric naquele dia depois da aula. Logo ele que prometera me buscar todos os dias a partir daquele. Não o vi também no outro dia, nem no outro, nem pelo resto daquela semana. E o pior é que eu sentia falta dele. O que teria acontecido? Os pais dele o teriam proibido de vez de me namorar? Ou será que era ele quem teria chegado a conclusão que nós dois juntos jamais poderia dar certo?

Sábado chegou e eu ainda tinha dúvidas se o veria. Até pensei em passar em sua casa, mas achei melhor não fazer isso. Ele apareceria. Ele tinha que aparecer, nem que fosse para que nos resolvêssemos de vez. Bem, eu estava certa quanto a isso. Não tardou para que eu ouvisse o bater de porta no andar de baixo, e a sua voz cumprimentando o meu avô. Ele havia vindo.

_ Eric! - eu sorri, parada à porta do corredor.

_ Oi amor. Eu pensei em passar aqui pra gente dar uma volta naquela praça aqui perto. Pode ser?

_ Tá bom. - eu respondi, percebendo o que estava implícito naquele pedido. Ele queria conversar.

Não dissemos nada no caminho. Andávamos apenas. Mãos dadas, olhando para o chão. Claro que a situação era estranha. Principalmente pelo nervosismo dele.

_ Eu vim escondido. - ele disse finalmente. - Os meus pais estão uma droga. Nunca os vi assim. Me tratam como se eu tivesse cinco anos.

_ Eles me odeiam agora, né?

_ É, Jenni. Eles te odeiam.

_ Uau, que sincero. - eu ri.

_ Ah, desculpa amor. É que eu estou de saco cheio. Não dá nem pra olhar pra cara deles.

_ Eu não entendo. A gente não fez nada demais. Eles acham o quê? Que eu estava te corrompendo? Nós temos a mesma idade. E, Eric, eu nunca fiz... Você sabe... Nada assim. - Eu disse a fim de tentar me defender.

_ Eles são muito ciumentos. Sabem o quanto eu gosto de você e têm medo que você me magoe. Eles não acreditam que a gente se goste de verdade.

_ É...

_ Tudo o que eu queria. Ter que fugir de casa pra ver minha namorada. - ironizou Eric - Mas não preocupa não. Eu vou ter uma conversinha com eles. Eles não podem me proibir de nada.

_ Eric... Escuta, eu não quero que você fique brigando e enfrentando os seus pais por causa de mim. Eles estão fazendo o que acham que é o melhor pra você. E, acredite, família é a coisa mais importante que existe. Eu ouviria mais os meus pais se eles ainda estivessem comigo. Não seria melhor eu conversar com eles? Eu posso fazer isso, sério. Não me importo se eles brigarem nem nada.

_ Claro que não. Você não tem que conversar nada. A gente tá certo, não eles.

_ Tá. Eu só acho que você tá exagerando por uma coisa muito simples.

_ Jenni, eu te amo! - ele disse, segurando o meu braço com força. Então eu vou odiar qualquer coisa que queira me colocar longe de você.

_ Ah, então você vai odiar seus pais? Pára com isso Eric. Não quero que seja assim.

_ Claro! Você prefere que a gente termine por causa disso do que tentar lutar contra! - Eric gritou, com uma raiva que eu nunca havia visto nele. Era como se, naquele exato momento, uma pessoa diferente houvesse tomado conta dele. Não parecia o Eric. Não aquele Eric sempre tão doce.

_ Não é verdade. Eu não disse isso.

_ Não? Então por que é que você nunca diz? Por que é que você sempre foge? É tão simples, Jenni. Três palavras. Três simples palavras. E você nunca diz.

_ Dá pra parar?

_ Pára você! Você nunca deixa que as pessoas se aproximem. Não faz ideia do que eu passei essa semana por você. Olha, ficar fingindo que não consegue se aproximar não vai impedir que as pessoas vão embora. Todo mundo vai embora. Então aproveite enquanto quem você gosta tá aqui.

_ Eu deixei que você se aproximasse. Só que eu não posso mandar no que eu sinto.

_ Pra ele você já disse, né? Aposto que você diria mil vezes se ele pedisse. Aquele idiota do Connor. Pior que ele não faz droga nenhuma por você. E eu fico aqui, igual um otário tentando fazer com que você ao menos olhe pra mim.

_ Eu nunca disse. Eu nunca disse pra ninguém, tá legal? Você é meu primeiro namorado, Eric. Eu não sei bem como agir em certas situações. Mas sei que você tá forçando a barra.

_ Não se faça de vítima. Você não é a única pessoa infeliz. Eu não posso ser feliz se você não gostar de mim. Se você não estiver comigo. Então, por favor, Jenni. Diga. Três palavras, oito letras. Você não vai perder a língua se disser. - ele gritou, segurando forte o meu braço.

_ Eu te... - eu comecei a dizer. E então foi como se eu tivesse visto Connor na minha frente. A única pessoa pra quem eu diria. Eu poderia dizer facilmente. Mas ele estava tão longe. Será que eu estava ficando louca? Eu fechei forte os olhos para que a imagem sumisse da minha cabeça e, então, soltei-me dos braços de Eric. - Pare com isso. Você tá sendo infantil.

_ Claro que estou. E você é a senhora maturidade, né?

_ Se você me acha tão imatura, então por que ainda estamos juntos? Não vou pedir desculpas por não ser o que você espera. E, se você vai ficar gritando comigo assim, eu vou embora. - eu disse. Como não vi nenhuma reação por parte dele, saí rapidamente de perto.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 22/01/2015
Reeditado em 22/01/2015
Código do texto: T5110934
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