Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 19

'Uma nova Jennifer'.

Pronto. Primeira parte feita. Agora vinha a mais difícil.

1) Lembrar-me sempre, sempre e sempre de dizer às pessoas que eu amo o quão amadas e especiais elas são. - Mais que ninguém eu sabia que precisava disso antes que acabasse me arrependendo depois.

2) Passar mais tempo com o meu avô.

3) Aprender a me abrir mais com as minhas amigas e ter um dia específico na semana só pra passar um tempo com elas.

'Que tal aprender alguma coisa que você sempre quis?' - a voz de Adam ecoava ainda na minha cabeça. Alguma coisa que eu sempre quis... DANÇAR! Eu sempre quis aprender a dançar.

_ Eu serei uma dançarina exímia quando entrar pra faculdade! - eu sorri, fechando o meu caderno. - Mais tarde eu termino isso. Agora...

...

_ Boa tarde. Eu quero entrar pra escola de dança. - eu disse, resfolegante e cansada do quanto tive de andar para chegar àquele lugar. Eu me lembrava daquela escola tão mais perto. Anos atrás minha mãe havia me matriculado para aulas de balé. Já na inocência dos meus seis anos eu odiava ser obrigada a fazer aquilo. Fui obrigada a frequentar as aulas por um seis meses, quando minha mãe chegou à conclusão que seria impossível fazer com que eu gostasse de dança.

_ Ah, se ela me visse agora... Estaria orgulhosa. - suspirei.

_ Oi?

_ Sim?

_ Você disse algo? - perguntou a secretária. Ela era alta e esbelta. Trajava um vestido preto com grandes saltos altos e havia preso em um coque o seus numerosos cachos ruivos que fugiam da prisão e se espalhavam pelo rosto. Sua pele era muito branca, o que dava um efeito bonito juntando com suas poucas sardas e olhos azuis.

_ Hm...não. Só pensei alto. - sorri sem graça.

_ Então...você quer dançar, huh? - ela disse, olhando-me de cima a baixo.

_ É. Eu quero e vou.

_ Certo, certo. Nome por favor.

_ Jennifer Summers.

_ Você é ex-aluna, não é?

_ Sim, eu frequentava quando era mais nova.

_ Bom pra você. Ex-alunos tem desconto de 40%.

_ Legal. - era 'melhor do que a encomenda'. Não ficaria tão caro assim para mim.

_ Você deseja fazer alguma dança específica ou vai aproveitar todas as aulas?

_ Quero fazer o maior número de aulas possível.

_ E qual horário fica melhor pra você?

_ Á tarde, porque eu estudo de manhã e tenho teatro á noite duas vezes por semana.

_ Tá. - ela disse, correndo os dedos por uma lista.

_ Pra começar você pode escolher no máximo quatro opções de dança. Caso escolha as quatro, terá de vir de segunda à quinta e sábado à noite, uma hora para praticar cada tipo. Você pode começar com uma aula só em cada um dos dias e depois aumentar a quantidade a fim de que o aprendizado seja mais rápido. Como você preferir, naturalmente. Aqui estão as opções. - ela disse, virando para mim uma lista colorida com vários tipos de dança e as suas respectivas descrições.

Havia uma infinidade de tipos de dança, cada um mais atrativo do que o outro. Mas eu só poderia escolher quatro,os quatro que mais me interessassem. O primeiro tipo de dança em que bati os olhos foi o Tango.

“TANGO

O tango é um tipo musical e uma dança a par. Tem forma musical binária e compasso de dois por quatro. A coreografia é complexa e as habilidades dos bailarinos são celebradas pelos aficionados. Segundo Discépolo, ’o tango é um pensamento triste que se pode dançar’”

Um pensamento triste que se pode dançar,huh? Isso era, no mínimo, interessante. E por mais que eu negasse, tinha absolutamente tudo a ver comigo, com a forma que eu me sentia.

“O Tango mescla o drama, a paixão, a sexualidade, a agressividade, é sempre e totalmente triste.

Por muito tempo, o tango foi uma dança proibida, pelo fato de os casais se apresentarem com os rostos bem colados e em passos sensuais. No tango europeu, que segue o estilo idealizado na França, o cavalheiro apenas conduz a dama pelo salão, seguindo a marcação da música, quase que marchando com muitos movimentos de cabeça para os lados. Já o argentino compreende alguns rodopios e malabarismos com as pernas, chamados de corte. “

Era uma dança misteriosa ,bonita, sem dúvidas, eu já havia visto alguns vídeos de dançarinos e, sinceramente, duvidava que um dia poderia dançar daquela forma. Mas o que me custava tentar?

_ Eu já escolhi o primeiro. Será Tango.

_ Certo, querida. Não se demore com os outros por gentileza. Está quase na hora de fecharmos.

_ Tudo bem. - eu disse, procurando outros textos e informações que fossem do meu interesse.

“SALSA

A música hoje chamada salsa é uma mescla de ritmos afro-caribenhos, tais como o son montuno, o mambo e a rumba cubanos, com a bomba e a plena porto-riquenhas.

Salsa, em castelhano, significa "tempero" e a adoção do nome quis transmitir a ideia de uma música com "sabor". O movimento que originou este novo estilo de música latino-americana começou em Nova Iorque, quando um grupo de jovens músicos começou a mesclar sons e ritmos visando a criar uma sonoridade que tivesse um ‘sabor’ latino-americano.

A ideia era criar uma verdadeira miscelânea de sons e ritmos variados, quentes e exóticos para se criar então esse tal “tempero”… Foi também nesta altura que essa dança foi batizada com o nome Salsa – uma palavra escolhida precisamente para denominar todos os ritmos latinos e afro-caribenhos, porque eram tantos e pareciam pertencer todos ao mesmo grupo.

Há quem diga que aprender Salsa não é fácil e que é preciso crescer no meio desta dança ou então ‘senti-la’ verdadeiramente, mas não há nada como experimentar… E é aí que está grande parte do divertimento! “

Não pude evitar de sorrir ao ler a descrição de Salsa. Tempero...! Exatamente o que eu precisava para a minha vida. Talvez assim eu o conseguisse. Ritmos caribenhos. Parecia-me tão interessante e exótico. Algo que eu jamais tentara antes.

“STREET DANCE

O street dance surgiu nos Estados Unidos, no final da década de 60, primeiramente com o intuito de levar a paz entre as gangues dos guetos norte-americanos, depois como forma de diversão. Somente nos anos 80, o hip hop apareceu com força no cenário brasileiro, tendo São Paulo como berço. De lá pra cá, a dança vem ganhando cada vez adeptos e mídia e ultrapassando barreiras.

É uma dança prazerosa, de muita energia e ginga peculiar com inúmeros benefícios.O street dance estimula a memória e ajuda no desenvolvimento do equilíbrio, da força, da agilidade, da flexibilidade e da resistência. Além disso, aprimora a respiração e a coordenação motora. A dança também é um excelente meio de socialização. Não há limites para prática desta atividade, apenas adequação de acordo com nível de aprendizado e faixa etária, a partir de oito anos.

Existe a valorização da criação individual, desde que, é claro, que a pessoa invente seu jeito sem sair fora do balanço, como, aliás, exige em qualquer outra dança. Se você leva jeito, não custa tentar. “

Eu lembro que quando era pequena e morava com os meus pais havia havia um grupo de amigos que vivia ensaiando numa quadra perto de casa. Desde pequena eu adoro hip hop, e achava incrível e super divertido vê-los dançar. Ás vezes eu ficava tentando imitá-los quando chegava em casa, e minha mãe dizia que quando eu estivesse maior ela me matricularia numa turma de Street Dance. Que saudades daquela época. Talvez eu conseguisse dançar tão bem quanto eles. Ao menos eu me divertiria. Ah, e é claro, melhoraria minha coordenação motora (como eu precisava disso!)

“DANÇA DE SALÃO

Dança de salão refere-se a diversos tipos de danças executadas por um casal de dançarinos. As danças de salão são praticadas socialmente, como forma de entretenimento, integração social e competitivamente como Desporto.

Internacionalmente, para fins de competição, o termo dança de salão se restringe a certas danças, de acordo com as categorias -- International Standard e International Latin -- definidas pelo Conselho Mundial de Dança (WDC, na sigla em inglês). As danças praticadas nesses estilos são: a valsa lenta (ou valsa inglesa), o tango internacional (diverso do tango argentino), a valsa (também chamada de valsa vienense), o foxtrote e o quickstep (International Standard); o samba (diferente das modalidades de samba brasileiro), o chachachá, a rumba, o paso doble e o jive (International Latin). “

_ Essa eu indico a você. - disse a atendente, ao ver-me passando o dedo pela descrição. - Você acaba aprendendendo vários ritmos de uma vez. E é o que você mais aproveitará. Podemos fazer um pacote no qual você começa na Dança de Salão e depois vai tentando conciliar com os outros estilos. Pode conciliar horários e dias da semana.

_ Então tá bom. É minha escolha. - sorri anciosa. - Quando posso começar?

_ Volte semana que vem. Suas aulas serão nas segundas, terças, quartas, quintas e sábados. Tente não faltar, ok?

_ Pode deixar. - eu sorri animada. Sentia uma força de vontade enorme a crescer dentro de mim. Adam tinha razão. A minha motivação só crescia a ver todas as possibilidades de coisas que eu poderia fazer e aprender até entrar para a faculdade. Assim, quando eu entrasse, talvez eu estivesse muito mais madura, muito mais segura.

Estava satisfeita com a minha coragem daquele dia, mas eu queria mais. Naquele momento eu tive sede por saber, por aprender, por fazer. Era uma sensação tão boa que eu pude inclusive, de certa forma, entender ao Connor. Era uma oportunidade e tanto viajar pelo mundo, aprender outras linguagens, conhecer outras culturas, monumentos históricos, outras pessoas totalmente diferentes daquilo que estávamos acostumados. Talvez se eu também tivesse uma oportunidade como aquela tivesse tomado a mesma atitude que ele. Eu daria qualquer coisa por isso. Sequer precisaria ser pelo mundo inteiro. Porém se eu pudesse ir pra França… Ah! Conhecer o Arco do Triunfo, o Rio Sena, o Museu do Louvre, a igreja Sacré-Coeur, as catedrais de Chartres, Amiens, Notre Dame, o Palácio de Fontainebleau,o Panthéon de Paris e, mais do que tudo, a Torre Eiffel. Isso sem falar em cada um dos espetáculos que ocorrem todo o tempo por lá. Eu conhecia a França como se eu morasse por lá há a anos. Eu sabia de cor o nome de cada monumento, cada rua, museu, biblioteca, restaurante. Para mim era o mais maravilhoso país do mundo e, se havia algum lugar que eu gostaria de conhecer antes de morrer, certamente era lá.

Claro que eu sabia que seria impossível colocar uma viajem para a França como objetivo na lista e cumprí-lo antes de ir para a faculdade. Mas não era impossível que um dia eu conseguisse ir. Porém eu havia de aprender algo antes. Francês. De que adiantaria uma vontade obsessiva de conhecer uma nação, de que adiantaria saber andar por cada rua, saber o nome e localização de cada monumento, se eu não soubesse falar a sua língua? O melhor de tudo era que o meu colégio oferecia vários cursos de línguas como atividade extracurricular e era tudo gratuito. Talvez em pouco menos de um ano e meio, que era o tempo que eu tinha, fosse o suficiente para aprender. Suspirei pensando no quão realizada eu me sentiria se conseguisse.

5) Aprender a falar o Francês fluentemente.

Era sábado, o dia eleito por mim e pelas minhas amigas para ser o dia especial, aquele no qual sempre ficaríamos juntas. Como um juramento. Fazia cerca de quatro dias que eu não escrevia em meu caderno de objetivos, apesar de estar sempre me esforçando para cumprir os que eu já havia criado. Rachel chegaria de carro em minha casa e, logo depois, buscaríamos Grace. Leah não poderia ir. Já havia feito planos com outras amigas. Era sempre assim agora, ela se afastava da gente. Tudo por causa das constantes brigas com a irmã. Era triste que brigas tão bobas acabassem com uma amizade tão bonita.

6) Aperfeiçoar-me no teatro a ponto de ser chamada para os principais papéis. - seria um salto e tanto no currículo escolar. Talvez rendesse, inclusive, uma meia bolsa para a universidade, ou algo assim. As universidades da Inglaterra gostavam disso. Atividades extra-curriculares, cultura, esporte, conhecimento extra. E se eu queria entrar na melhor eu deveria ser a melhor.

7) Continuar escrevendo para que, um dia, eu tenha a coragem de tirar os meus textos do armário e mergulhar no mundo de recordações e lembranças melancólicas que eles sempre me proporcionaram, porém, como um aprendizado, algo para me fazer perceber o quanto amadureci.

8) Apaixonar-me novamente e sinceramente. - uma paixão que seja recíproca. Que não me faça sofrer. Algo que me seja saudável, que me deixe feliz e não sempre para baixo. - Talvez isso fosse demorar mais do que eu imaginava. Mas um dia eu tinha de esquecer o Connor. Eu tinha que ser forte. Eu merecia alguém que gostasse de mim da mesma forma. Ou, ao menos, que despertasse em mim o mesmo sentimento. Eric havia sido uma prova crucial de que não seria nada fácil.

Eu terminava de fechar o caderno quando ouvi aquela batida tão familiar na minha porta.

_ Entra vô.

_ A Rachel está aqui. Você estava com a porta fechada e então eu não a deixei entrar pois achei que você estivesse trocando de roupa. - ele disse muito sério.

_ Tá bom vô. Pode deixar ela entrar. - eu disse rindo.

_ Oi.

_ Oi Rachel. - eu sorri abraçando-a. - Não precisava ter entrado, era só ter buzinado lá fora. A gente não vai buscar a Grace?

_ É que… Eu queria contar só pra você.

_ Contar o quê? Que cara séria.

_ Peraí. O que você fez com o seu cabelo? - ela arregalou os olhos, puxando de leve uma mecha,

_ Cortei. Mas o que você tem pra me contar?

_ Isso eu vi. Mas Jenni! Seu cabelo era enorme. Agora tá acima do ombro. Pra quê você fez isso?

_ Sei lá, Rachel, enjoei da minha cara de sempre. Não muda de assunto. Diz logo.

_ É que...O Ethan e eu, a gente...

_ Você quer um copo de água com açúcar?

_ Hã? Não. Por que eu iria querer?

_ Bem, você está suando. - eu ri - Conte de uma vez.

_ Eu transei com ele! - ela disse em voz alta, andando rapidamente em direção á minha cama e sentando-se, cruzando as pernas de forma nervosa como se tivesse acabado de cometer um crime.

_ Ah... - eu murmurei.

_ AH? Tudo o que você tem a dizer é AH, Jennifer?

_ O que você quer que eu diga? - perguntei, sem graça.

_ Eu não sei. Talvez algo como 'Ai, que bom amiga! Estou tão feliz por você!' - ela disse, tentando imitar a minha voz.

_ Bem...você está feliz? - perguntei, sentando-me perto dela.

_ Ah, eu não sei… Não sei se eu deveria ficar.

_ Como não sabe? - eu sorri - Rachel, você não fez nada errado. Pare de agir como se tivesse matado alguém.

_ É que...sei lá. Me sinto culpada. Você foi a única pessoa pra quem eu fui capaz de contar.

_ Culpada? Por quê? Foi ruim? Você não o ama?

_ Claro que eu o amo.

_ Você tinha certeza que ele era a pessoa certa? Que tinha de ser com ele?

_ Claro que sim.

_ Ele foi grosso com você? Te obrigou a alguma coisa?

_ Não. Foi algo que nós dois queríamos. E foi tão bom.

_ Então me diga, o que há de tão errado nisso? Foi como tinha de ser. Vocês se amam, se você se sentia pronta e sentia que tinha de ser com ele, que ótimo. Foi algo que vocês vão guardar pra sempre. Não tem nada pra ficar confusa ou se sentir culpada. Não seja boba, Rachel.

_ Eu não sei. E se ele parar de gostar de mim agora? E se ele sair contando pra todo mundo? Imagina como as pessoas vão me olhar . A Grace conta essas coisas pra todo mundo. Você sabe o tanto que falam dela pelas costas. Eu não quero que seja igual comigo.

_ Todo mundo sabe que o Ethan é louco por você. Aliás, vocês dois são loucos um pelo outro. Vocês tem um amor tão lindo e agora você tá complicando tudo. É claro que ele não vai fazer isso, amiga. Vocês dois se amam. Quando as pessoas se amam, elas não denigrem a imagem do ser amado dessa forma. E você parece estar muito mais preocupada com os outros do que com você o e Ethan. O que é que as pessoas tem com a vida de você? Por que é que você se importa tanto?

_ Você não se importa, né? Com o que eles acham...

_ Nem um pouco.

_ É, talvez você tenha razão.

_ Você não fez nada errado,Rachel. E eu estou realmente muito feliz por vocês.

_ Obrigada. - ela sorriu com um brilho alegre nos olhos.

_ Se sente melhor?

_ Obrigada mesmo.

_ Você se preocupa demais. Só...viva. Tá bom? Tenta viver as coisas da melhor forma possível. Sem pensar tanto. Isso que você e o Ethan têm, não deixe que os outros destruam. Assim como você não deveria deixar com que a amizade com a sua irmã acabasse por causa de briguinhas tão bobas.

_ O assunto já é outro, né? - ela disse, fechando a cara.

_ Certo. Já percebi que a minha opinião não conta nisso.

_ Você não entende, J.

_ É. Talvez eu não entenda. Mas é ela quem vai estar do seu lado pelo resto da sua vida. Queria eu ter tido a oportunidade de ter um irmão também. Eu não teria de ter passado sozinha por tudo o que passei.

_ Mas você me tem. Como irmã. Eu estou aqui do seu lado agora.

_ Eu sei, querida. Mas é diferente.

_ Bem, de qualquer forma...Não importa. Eu não vou fazer as pazes com ela. Você vem comigo buscar a Grace ou não?

_ Tá. Estou indo. - eu disse, pegando o pequeno caderno juntamente com uma caneta e colocando-os no bolso do meu moletom.

Entramos no carro e Rachel permanceu em silêncio no volante, ainda zangada pela minha insistência sobre Leah. Ela trazia uma expressão zangada, mas um brilho sem igual nos olhos. Há muito tempo eu não a via assim. E eu sabia exatamente quais eram os motivos.

_ Até a Rachel...! - pensei - e eu, o máximo que havia chegado perto daquilo fora naquele episódio com Connor. Porém não havia sido nada demais e eu nem gostava de lembrar, ainda que fosse um pouco difícil não lembrar.

As minhas amigas não tocavam no assunto comigo porque sabiam que me deixava incomodada. Mas eu sabia que elas, assim como todas as outras meninas da nossa idade, pensavam muito em sexo. Eles conversavam sobre o quão longe já haviam chegado com os namorados, sobre as coisas que liam nas revistas ou mesmo aquela sensação estranha no meio das pernas quando viam alguma cena mais quente em filmes de romance. Dava para perceber que elas olhavam de um jeito diferente para os meninos da escola e algumas até se imaginavam com eles. Contavam sobre as longas e constrangedoras conversas com os seus pais, sobre a camisinha que suas mães haviam colocado em suas gavetas como um segredo delas, um pacto silencioso. Mas eu nunca tivera uma conversa assim com os meus pais, e certamente nunca a teria com o meu avô, já que pare ele, não há o que se falar em sexo se a pessoa não estivesse casada. Eu não tinha uma mãe para sentar comigo e conversar sobre as mudanças que vinham acontecendo no meu corpo, para falar sobre métodos contraceptivos, ou me ensinar que não havia nada de errado nisso. Eu tinha apenas aquelas palestras ridículas que o diretor promovia semestralmente e reunia todos os alunos na quadra para mostrar vídeos ultrapassados sobre puberdade, gravidez na adolescência e métodos contraceptivos. Ele sempre nos lembrava que era exatamente o mesmo vídeo que ele vira no colégio quando tinha nossa idade. E, claro, eu tinha as minhas amigas, mas eu morria de vergonha com a simples ideia de tocar no assunto com elas.

Ainda assim, nos últimos tempos, eu também pensava bastante em sexo. Qualquer cena levemente sensual de filme ou novela era o suficiente para me fazer arrepiar e relembrar por dias. Eu suspirava lendo e relendo partes das histórias dos meus livros onde as personagens faziam amor e me perguntava como seria. Eu via os meninos da minha escola de outra forma e não conseguia evitar. E, claro, eu sempre reconstituía aquela noite, quando eu tinha quinze anos e Connor e eu demos uns amassos no sofá da casa dele. Eu me recordava de cada sensação e me perguntava se sexo era ainda melhor que aquilo. Eu ansiava por viver um daqueles amores devastadores, queria estar apaixonada, como Rachel, para poder descobrir como era.

Então eu me lembrei do meu objetivo anterior, sobre me apaixonar novamente e sinceramente por alguém, peguei o meu caderninho e acrescentei mais um.

9) No caso de sucesso no objetivo anterior, que ele possa ser o meu primeiro. E que guardemos isso dentro de nós, com carinho, e para sempre.

"Dizem que quando você encontra a pessoa certa consegue percebê-lo desde o momento em que o olha pela primeira vez. Foi exatamente assim comigo. Eu não sabia a razão, mas era como se já o conhecesse há décadas. "

Vocês se lembram desta frase? Eu a citei no início da história. Porém, no momento que agora vos cito, eu me sentia extremamente confusa. Quantas 'pessoas certas' alguém seria capaz de encontrar na vida, se é que era possível encontrar mais de uma? Em caso afirmativo, eu esperava que fosse logo. Em caso negativo, bem, eu estava muito, muito encrencada.

_ Que é isso, hein? - perguntou Rachel, interrompendo os milhões de pensamentos que rodeavam-me a mente.

_ Huh? Isso o quê?

_ Esse caderninho aí que você fica escrevendo. Você tá meio velhinha pra diários, Jenni. Não acha não?

_ Não me chama de 'Jenni'.

_ Por quê?

_ Eu não gosto.

_ Desde quando? Todo mundo sempre te chamou de Jenni.

_ Bom, eu não gosto mais. Me chama de Jennifer. Ou apenas J.

_ Tá né. - ela disse, virando os olhos.

_ Não quero mais ser tratado como uma meninha.

_ Mas Jenni é só um apelido carinhoso. Não seja boba.

_ Que seja.

_ Tá bom, sua maluca. Mas você ainda não respondeu minha pergunta. E desde quando você tem essa bipolaridade esquisita?

_ Desde sempre.

_ Ok.

_ Não é um diário. É uma lista com alguns objetivos a completar antes de entrar pra universidade.

_ Tá...e qual é o objetivo disso?

_ Planejar algo a ser feito até que o nosso sonho seja realizado é um passo primordial para a realização do mesmo. - eu sorri, repetindo exatamente como Adam havia dito.

_ Onde você leu isso? - ela riu.

_ Um cara me falou.

_ Ele que deu a ideia do caderno?

_ Foi.

_ Tudo bem, J. É uma idéia legal.

_ Sei que parece meio estranho, mas eu sinto que será bom pra mim. Que de certa forma me ajudará a amadurecer. E, de qualquer forma, me manterá distraída e será divertido.

_ Eu posso ler o que você escreveu? - ela perguntou, pousando os olhos no livro.

_ Não. Você pode olhar pra frente e prestar atenção no trânsito antes que você acabe nos matando. Depois você lê.

_ Tão desesperada... - ela riu.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 30/01/2015
Código do texto: T5119272
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