Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 25

O último objetivo da lista

_ Sempre dizer ás pessoas importantes para mim o quanto eu as amo. Completo. Passar mais tempo com o meu avô. Completo. Aprender a abrir-me mais com as minhas amigas e ter um dia específico na semana só pra passar um tempo com elas...

_ Completíssimo. - sorriu Rachel. Ambas estávamos deitadas na cama dela. Era um dia particularmente especial. Eu havia recebido um email da Universidade de Liverpool avisando que a minha carta em resposta ao relatório do colégio já havia sido enviada e chegaria em 1 dia útil. E, bem, era aquele o dia útil. Eu havia sonhado a noite toda que havia sido aprovada. Era como se fossem avisos. A felicidade e realização já tomavam conta do meu corpo antes da hora. Mas uma grande parte de mim sabia que eu conseguiria. Eu havia lutado tanto por aquilo, eu tinha de conseguir. E, já que estava tão perto, era a hora de conseguir os objetivos da lista. Ela tinha de estar completa.

_ Fazer aulas de dança. Completo. Aprender a falar o Francês fluentemente. Hm...Mais ou menos completo.

_ Mais ou menos nada! Seu próprio professor disse que, se você fosse à França, se daria muito bem com o que você sabe. Pode completar um grande e verde completo aí. - Rachel disse, apontando para a escrita abaixo do meu dedo indicador.

_ Certo...Completo. Aperfeiçoar-me no teatro a ponto de ser chamada para os principais papéis.

_ Completo, né dona 'Julieta'? - ela sorriu.

_ Completíssimo. Continuar escrevendo para que, um dia, eu tenha a coragem de tirar os meus textos do armário e lê-los todos para perceber como eu me sentia e o quanto eu amadureci desde então. Bom, eu não parei de escrever. E já li a maioria. Acho que conta, não é?

_ É, acho que sim.

_Tentar enfrentar os meus medos. Bem, eu tentei.

_ E conseguiu, J. Você enfrentou tantos medos. Você se tornou tão mais forte.

_ Certo. Forte...!- dei um sorriso meio forçado - Fazer o máximo para que as pessoas á minha volta sejam felizes. E que isso as faça se lembrarem de mim como alguém que lhes deu algo bom. Bem... Você é feliz,Rachel?

_ Jenni, a sua amizade foi uma das melhores coisas que já me aconteceram. Nunca amei uma amiga assim, como irmã. Eu só tenho a te agradecer.

_ Não. Eu é que só tenho a te agradecer.

_ Você promete vir todos os feriados possíveis? Vou sentir tanto a sua falta.

_ Vou dar o meu máximo para isso. Eu prometo. - eu disse, colocando a minha mão por cima das suas.

_ Obrigada. - ela sorriu - Continue.

_ Dar o melhor de mim eu tudo o que faço. Ah, essa eu posso colocar completo com toda a certeza. - sorri.

_ Faltam só essas duas.

_ Apaixonar-me novamente e sinceramente. Hm. Esse eu posso colocar um grande e vermelho 'xis'. - eu disse, pegando a caneta vermelha.

_ Não. - Rachel segurou minha mão. - Você apaixonou-se novamente e sinceramente...Pela mesma pessoa.

_ Envolvia ser uma pessoa diferente.

_ Você se apaixonou por Eric.

_ Nunca foi a mesma coisa.

_ Mas se apaixonou.

_ Sem nunca ter esquecido Connor.

_ Você conseguiu o objetivo sim.

_ Vamos colocar um 'meio correto' então. - eu disse, traçando apenas a metade do sinal de correto com a caneta verde. Então eu li último objetivo, fechando o caderno logo depois. - Terminamos.

_ Terminamos nada! E aquele outro?

_ Não era bem um objetivo.

_ Era sim! Deixa ver! Ela tentou puxar o caderno de minhas mãos, que continuaram firmes.

_ Ah,Jenni. Qual é? Agora você esconde as coisas de mim?

_ É que...É meio pessoal.

_ E desde quando temos segredos?

_ Desde nunca, mas...

_ Mas...?

_ Não quero que você leia. Vai me achar uma ridícula.

_ Nunca vou achar você ridícula.

_ Não força a barra, Rachel.

_ Tá bom. Se não quer mostrar,não mostra. Pronto. - ela disse, cruzando os braços.

_ Lê logo, sua chantagista. - eu disse, colocando o caderno no colo da minha emburrada amiga. Ela sorriu, passando as páginas rapidamente, como uma criança de seis anos que acaba de ganhar um brinquedo novo. Ao achar o que procurava, ela pôs-se a ler em voz alta.

_ Objetivo doze: No caso de sucesso no objetivo anterior, que ele possa ser o meu primeiro. E que guardemos isso dentro de nós, com carinho, e para sempre.

_ Feliz?

_ Que bonitinho, amiga. - ela sorriu.

_ Bonitinho nada. Ridículo. Ingênuo.

_ O amor nunca é ridículo.

_ Na maioria das vezes é sim. - eu sorri.

_ Melhor deixar esse para cumprir depois, né?

_ Você acha que eu vou deixar a lista com um grande e vermelho X? A lista será completa ou eu não me chamo Jennifer Summers. - brinquei.

_ Você está falando sério?

_ Não. Quero dizer... Não sei. - eu disse, deitando-me de costas na cama. Rachel deitou-se ao meu lado.

_ Você não precisa fazer só porque é um objetivo da lista.

_ Eu sei.

_ Você faria...Com ele?

_ Acho que sim. Eu o amo. Mas não sei se é recíproco por parte dele. Ah, é claro que ele não me ama. Ele gosta de estar comigo. É diferente.

_ Não faça se você acha que vai se arrepender.

_ Eu gostaria que fosse com ele. Eu me sinto segura e gosto dele suficientemente para isso. E tem outra coisa também.

_ O quê?

_ Eu vou embora.

_ E...?

_ Eu queria ficar marcada no coração dele. Queria uma coisa que nos unisse, que fizesse com que nos lembrássemos um do outro para sempre.

_ Não sei se isso é certo.

_ Eu não me importo.

_ Você não precisa fazer isso para que ele se lembre de você. Você pode...Sei lá...Dar uma foto sua pra ele. Não precisa ser tão radical.

_ Tem que ser algo maior. Que nos una de verdade. Para que ele saiba o quanto é importante.

_ Você pode simplesmente falar para ele o quanto ele é importante.

_ Eu já me decidi, Rachel. Afinal, qual o teu medo?

_ Que você saia magoada.

_ Não me importo. Ao menos ele saberá o que eu sinto. E eu vou estar longe. É mais fácil de esquecer com a distância.

_ Você quem sabe, J. A decisão é sua.

_ É minha e está tomada. - sorri - Quero que seja com ele.

_ Bem, nesse caso, acho que vou te dar umas dicas. - ela brincou.

_ Tenho até medo da suas dicas.

_ Medo por que? Eu não sou a Grace. - ela sorriu.

_ Você ouviu?

_ O quê?

_ Acho que alguém tocou a campainha.

_ Você está esperando alguém?

_ A Grace. Ela disse ter algo muitíssimo importante a nos contar.

_ O que será que é?

_ Não faço nem ideia.

_ O que você não faz nem ideia? - perguntou aquela menina loira que entrava pela porta com um sorriso no rosto.

_ Oi Grace. - sorri.

_ E então? O que é? - Rachel foi perguntando, andando em sua direção.

_ Fiquem calmas. Eu nem cheguei. Não vão perguntar se estou bem, primeiro? - ela sorriu.

_ Não enrola. Fala logo!

_ Bem, vocês ficarão um pouquinho bravas comigo.

_ Por que ficaríamos.

_ Fiz uma coisinha escondida de vocês.

_ Que coisa? Fala logo, Grace.

_ Quando eu era mais nova, fiz algumas propagandas para uns comerciais de shampoo, roupas e outras coisas de criança. Não sei se vocês sabiam, não saio falando disso por aí. Minha mãe quem quis me colocar nisso,arrumou uns contatos, um patrocinador, eu fiz isso até os meus oito anos. Mas tem muito tempo. Desde essa época eu dizia que seria atriz quando crescesse. Um dos patrocinadores de uma marca de roupa para a qual fiz algumas propagandas ficou muito amigo da minha mãe. Mas a empresa acabou falindo e ele tentou outras parcerias. Bem, acontece que hoje em dia ele mora nos Estados Unidos e é produtor de filmes.

_ Você fazia propagandas? Que legal, você nunca falou. Deve ser uma gracinha. Você já é linda, amiga, deve ter sido uma criança muito fofa. - eu sorri.

_ Mas qual é a notícia? - perguntou Rachel, inquieta, tentanto adivinhar, testando mentamente todas as possibilidades.

_ Ele, juntamente com outros produtores estão lançando um filme. Como a produtora não é muito conhecida, estão tentando colocar novos atores no mercado. Como ele tinha uns contatos antigos aqui, voou até aqui para fazer uns testes.

_ E daí?

_ Daí que ele ligou para minha mãe um tempo depois que chegou e disse que eu tinha sido uma criança muito bonita, que ele levava jeito em frente ás câmaras e perguntou se poderia me ver e fazer uns testes.

_ E ela não deixou, né? - Rachel cruzou os braços.

_ Tá brincando? É o sonho dela me fazer atriz. Era algo que ela queria pra si mesma, mas como não pôde, ela meio que apostou todas as fichas em mim.

_ E você fez os testes escondida de nós?

_ Sim. Mas é porque tinha tanto tempo que eu não 'atuava', achei que não ia dar em nada. Se eu contasse,vocês ficariam torcendo por mim e eu acabaria decepcionando-as.

_ Mas você passou no teste, não passou? - perguntei.

_ Sim. - ela sorriu - Passei por uma seleção, fiz alguns testes, e daqui a algumas semanas estou indo para os Estados Unidos para começar as filmagens.

_ Como assim? Você está de brincadeira,né? Você vai embora? Vai deixar a gente?

_ Eu prometo voltar para vê-las depois do filme, meninas. Mas sabem? Eu pretendo morar lá, pretendo continuar com isso. Sei que vou me sentir feliz e realizada fazendo o que quero.

_ Mas você não vai nem fazer faculdade?

_ Eu não sei. Talvez mais para frente.

_ Não acredito que você escondeu isso da gente! - choramingou Rachel.

_ Será que vocês não podem ficar felizes por mim? Eu estou tão feliz, vim super animada contar-lhes a novidade. Eu não acredito que consegui. Eu vou estar em um filme, gente.

_ Parabéns amiga. - sorri, abraçando-a.

_ Rachel, não fica assim. Prometo não esquecer vocês. Sei que foi tudo assim, derrepente, mas...Entenda, é o que quero pra mim. Você está feliz com o Ethan, a Jennifer está com o cara dos sonhos dela, entrando na faculdade que ela sempre quis... E a minha felicidade? Não conta? E os meus sonhos?

_ Você não está feliz aqui?

_ Não, Rachel. Não estou. A Jennifer também vai embora. Por que é só comigo que você implica?

_ Você vai pra muito mais longe. Não pode ser atriz aqui em Londres?

_ Meninas, vocês não vão brigar,né? Rachel, ela vai embora daqui a algumas semanas. Eu vou embora antes disso. Vamos aproveitar os nossos últimos dias juntas como irmãs que nós somos, poxa.

_ É. Você tá certa. Desculpa Grace. É só que foi um baque muito grande. E eu vou sentir muito a sua falta. Vou sentir muito a sua falta também, Jenni. Vocês vão embora e me sentirei absolutamente sozinha.

_ Você sempre terá a Leah.

_ Ela é tão afastada de mim que é a mesma coisa de não ter ninguém.

_ Não fale assim.

_ Não vai mudar nada entre nós três, Rachel. - disse Grace - Não importa o quão longe estivermos uma da outra, a nossa amizade sempre será a mesma.

_ Eu sei, eu sei. - Rachel disse, aconchegando-se em seus braços. Observar aquelas duas garotas despertava um carinho enorme dentro de mim. Eram as minhas melhores amigas. Como irmãs de verdade. Foram elas que me ensinaram a confiar novamente naquele momento em que eu já estava decidida a afastar-me de tudo e de todos pelo covarde medo de perder as pessoas que amo. Covarde e egoísta. Eu não podia simplesmente me afastar de quem eu amava só por saber que um dia eles iriam embora. Elas me ensinaram a aproveitar cada momento que tive ao lado de quem gostava, e eu aprendera muito bem. Era por isso que, naquele clima de despedida, eu sentia-me particularmente feliz. Estávamos crescendo, conquistando os nossos sonhos, e ainda assim guardaríamos dentro de nós cada momento em que passamos juntas. Seria para sempre.

_ E você e Connor? Como está o romance com o 'homem misterioso'? - Grace perguntou, em tom de brincadeira.

_ Está tudo tão bom. Cada dia o conheço mais e gosto do que conheço. Estamos saindo quase que todos os dias. Ele me leva e busca das aulas de dança. E, bem, você bem vê que ele direto aparece de surpresa no colégio para me ver. Eu me sinto meio mal, ás vezes, de saber que logo agora que estamos tendo a oportunidade de conhecer melhor um ao outro, eu tenho que ir embora.

_ Talvez quando você voltar vocês possam ter algo, J. Afinal são somente cinco anos. Nem é assim tanto tempo.

_ Eu pensei até em desistir da faculdade, sabem? Em ficar estudando em Londres mesmo. Por ele.

_ Mas a Universidade de Liverpool é o seu sonho,amiga.

_ Sim. É o meu sonho. Não se preocupem, eu não vou desistir.

_ Se ele gostar de você ele vai esperar. - disse Grace.

_ Bem, ela tem outra coisa em mente.

_ O quê?

_ Um certo objetivo de um certo caderno.

_ Mas ela não completou todos?

_ Não. Falta um.

_ E qual é? - perguntou Grace. Ela porém avançou ao caderno antes que eu pudesse responder e viu o último objetivo que não tinha o sinal de 'completo'.

_ É sério? Você tem coragem? - ela perguntou completamente séria.

_ Coragem é uma palavra de significado relativo.

_ Mas você tem certeza que é ele?

_ É ele. Eu sempre tive.

_ E você tem certeza de que quer isso?

_ Sim. Eu quero que aconteça algo que nos marque para sempre. Que ele saiba o quanto ele importa para mim.

_ Pode ter certeza que vai marcar. Mas você tem de estar certa de que não vai se arrepender.

Não quero que você se machuque.

_Na hora eu vou ter certeza. Se eu achar que vou me arrepender eu mudo de planos. Simples.

_ E você já sabe onde e quando?

_ Não. Eu vou ver isso. Sem pressa, gente. Não quero ficar ansiosa nem nada. Depois eu penso nisso.

_ Que gracinha! A nossa menininha está crescendo. - ela riu para Rachel.

_ Suas bobas! - eu sorri.

Olhei para o relógio, deixando escapar um sorriso o qual elas perceberam na hora. Era hora de ver Connor, conforme havíamos combinado. Ele prometera-me que estaria ao meu lado quando eu abrisse a correspondência. Já eram cinco da tarde. O carteiro já havia passado e tudo em mim era nervosismo e ansiedade.

_ Onde você vão se encontrar?

_ Ele vai passar aqui. Deve chegar a qualquer momento.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 19/02/2015
Código do texto: T5142163
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.