Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 28

"Toda despedida é dolorosa por ser um pedaço da vida que deixamos pra trás perdendo a chance de vivê-la. "

Alvaro Granha Loregian

O celular tocou avisando ser cinco horas da manhã. O céu ainda estava escuro mas eu sabia que logo logo os raios de sol despertariam, iluminando todo aquele quarto. Os braços de Connor me envolviam, e era tão quente estar entre eles, que não precisávamos de cobertor algum. Virei-me com cuidado para não acordá-lo, acariciando-lhe o rosto com a ponta dos dedos. Admirei mais uma vez os seus braços, seus ombros bem desenhados, aquele seu cabelo tão escuro contrastando com o branco de sua pele. Eu não fazia ideia do quanto eu sentiria falta daquilo. Abracei-o com um pouco mais de força, sentindo o seu inebriante cheiro tomando conta de mim, concentrando-me em sua imagem e em tudo o que ela despertava em mim para que eu nunca me esquecesse de como era. E eu não tinha dúvidas do fato de que eu jamais me esqueceria.

_ Já são cinco horas? - sua voz sonolenta ecoou por todo o quarto.

_ Sim.

_Vamos nos arrumar então. Acha que Rachel já está acordada?

_ A Rachel?

_ É. Nós temos que passar lá para você pegar as suas roupas que deixou com ela, lembra? Afinal, o seu avô acha que você dormiu lá.

_ Ah é. - murmurei, enfiando a cabeça no travesseiro.

_ Então levante-se, pequena. - ele sentou-se ao meu lado, acariciando as minhas costas.

_ Eu não quero ir embora. Quero ficar aqui, dormir até meio dia e depois passar o dia com você e com as minhas amigas.

_ Imagino que sim. - ele sorriu - Mas você tem que correr atrás do seu sonho.

_ Hm...tá. - murmurei, desanimada. - Vou dar um toque no celular da Rachel enquanto você se arruma.

Sentei-me na cama, sentindo o sono tomar conta de todo o meu corpo. Havíamos ficado comendo pizza e conversando até tarde, logo, eu dormira poucas horas. Eu havia deixado uma peça de roupa na casa de Rachel, pois simplesmente não poderia dizer a vovô que dormiria por lá e aparecer no outro dia com o mesmo vestido do baile. E, de qualquer forma, ela pedira para que eu passasse em sua casa para que nos despedíssemos. Connor arrumou-se rapidamente, preocupado com o horário da viagem. Tive pressa ao enfiar-me no amarrotado vestido do baile, e depois carreguei os sapatos de salto em minhas mãos enquanto descíamos pelo elevador até o estacionamento.

Rachel nos esperava na porta de casa, fitando-me com um sorriso curioso de quem quer mais do que tudo estar por dento dos últimos acontecimentos. Connor sentou em um banco do lado do fora e esperou enquanto entrávamos para que eu trocasse de roupa.

_ Como foi? - ela sorriu.

_ Foi muito melhor do que eu imaginei. Ele foi tão doce comigo. Eu acho que fiz a escolha certa. Se não tivesse acontecido eu passaria anos me lamentando por não saber como teria sido.

_ Bem, e agora? Como vocês ficam?

_ Agora...Bem... A verdade é que todo conto de fadas tem um fim. - dei um sorriso triste, dando o meu vestido para que ela segurasse enquanto eu vestia uma calça jeans.

_ Você não pode pré-determinar nada assim, Jenni. Talvez ele espere por você. Nós nunca sabemos nada sobre o amanhã. E, de qualquer forma, você queria algo que os unisse para sempre. - Rachel acariciou os meus cabelos - ele não vai se esquecer você. Da mesma forma que você não vai esquecê-lo. Eu garanto, o que aconteceu ficará para sempre. Ainda que...

_ Ainda que nós não fiquemos juntos. É, eu sei. Mas as coisas são assim, não é mesmo? Não se pode ter tudo. Eu tenho o meu sonho e tenho que abdicar de algumas coisas por ele.

_ Você está indo pra faculdade dos seus sonhos e parece muito mais que vai a um funeral. Não faça isso, amiga. Aprenda a apreciar as coisas que você tem.

_ Eu sei, eu sei. É só que...Eu gosto tanto dele. Só a ideia de termos de nos separar já faz um buraco enorme aqui dentro de mim.

_ Mas você pode vir vê-lo de vez em quando. Você pode vir ver a todos nós.

_ Eu sei. Mas não posso exigir que ele espere por mim.

_ Não. Você não pode. É uma escolha dele.

_ O problema é esse. Eu daria qualquer coisa para ter controle sobre isso. Daria meu próprio futuro. - eu sussurrei, sentindo lágrimas nascerem em meus olhos.

_ Cuidado com o que você deseja, Jennifer. Você sabe que isto, a faculdade, o seu futuro... É uma das coisas mais importantes da sua vida. E o Connor é só um garoto. Não desista dos seus sonhos.

_ Não vou. Eu prometo. - tentei sorrir um pouco, limpando as lágrimas na manga da minha blusa de frio. - Vai passar, sabe? Esse medo...Vai passar.

_ Tenho certeza que sim. - Rachel sorriu - E, quanto a mim, saiba que não importa o quão longe você esteja...Seremos amigas para sempre. - ela abraçou-me, enquanto tirava um pingente de coração do bolso. - Toma, é seu. Eu dei um igual para a Grace antes dela ir embora. Eu tenho um também, olha. - ele tirou um pingente idêntico de dentro da blusa. Ambos tinham as inscrições: Amigas para sempre. - É pra que você não se esqueça de que nunca estará sozinha. Você sempre terá a mim e sempre terá a Grace. Você sabe disso,não sabe?

_ Claro que sei. - sorri - Vocês são minhas irmãzinhas.

_ Eu vou tanto a falta de vocês. - ela abraçou-me novamente.

_ Não é um adeus, Rachel. É um 'até logo'. - prometi.

_ É, sei disso. Mas ainda assim. Será estranho não ter vocês sempre por perto. Mas ao menos sei que vocês estarão felizes, realizando o que sonham, e tudo mais.

_ Sei que você será feliz também.

_ É. Eu espero que sim. - ela sorriu. - É melhor você ir,Jenni. O seu vôo não sai ás 6:30?

_ Sim. Quantas horas são?

_ Ainda falta uma hora. Mas você ainda tem de pegar em casa para pegar as malas, validar as passagens e tudo o mais,não é?

_ É. E meu avô já deve estar preocupado.

_ Boa sorte,tá? Me ligue assim que chegar.

_ Pode deixar.

Connor levou-me para casa e acabou por oferecer-se para levar a mim e ao meu avô até o aeroporto. Meu avô que, por odiar aceitar favores, normalmente insistiria que fôssemos de taxi, aceitou prontamente a gentileza depois que viu a forma como eu olhava para aquele homem de quem eu tanto gostava. Talvez ele estivesse desconfiado sobre a noite anterior. Poderia ter ficado a pensar sobre a possibilidade de ter acontecido algo após o 'baile'mas, se ele pensou, optou por não dizer.

_ Sabe que eu a tenho como minha filha,não sabe? - eu perguntou segurando o meu rosto.

_ Eu sei.

_ Querida, você é uma menina muito especial que merece tudo de melhor que possa haver. Te desejo toda a sorte do mundo nessa nova etapa da sua vida. E olha...Quero que você saiba que sempre terá a mim,certo? Sempre. Eu sou a sua família e quero o melhor para você.

_ Sei disso,vovô. Obrigada. Eu te amo. - eu disse,abraçando-o.

_ É difícil acreditar. A minha menininha. Indo para a faculdade.

_ Bem, ela cresceu. - sorri- Tem certeza que ficará bem sem mim? Sabe, eu posso ficar mais um tempo,e...

_ Jennifer, eu sou um homem crescido. Sei me cuidar. Eu criei você justamente para isso, para que um dia pudesse escrever sua própria história. Então faça isso,querida. Não deixe que nada tem impeça.

_ Não vou deixar. Prometo. - sorri,segurando suas mãos.

_ Bem,acho melhor eu ir. Acordei meio indisposto hoje por causa daquela gripe. Vou pegar um táxi e ir pra casa. Acho que Connor não se importará de ficar aqui com você até a hora do vôo. - disse meu avô, olhando para Connor, que estava sentado num dos banquinhos de espera do aeroporto.

_ Estou tão preocupada com isso.

_ É só uma gripe,querida. Não se preocupe. - ele beijou-me a testa - Faça uma excelente viagem. Eu ligo para você á noite, certo?

_ Certo. Até logo, vô.

Permaneci parada, observando, enquanto vovô caminhava até um dos táxis que estavam parados na calçada e sumia pela rua. Connor quase cochilava em uma das cadeiras, devido ao pouco que havíamos dormido na noite anterior, mas despertou levantando-se rapidamente ao ver que eu caminhava até ele. Eu não disse uma palavra sequer. Apenas o beijei. O beijei demoradamente, abraçando-o com toda a minha força, como se o simples gesto fizesse com que nunca tivéssemos de nos separar.

_ Nossa. Isso é que é beijo de despedida. - ele sorriu - Espera. Por que você está chorando? Jenni?

_ Odeio despedidas. - sorri nervosamente. Ele me olhou de uma forma preocupada. Tentou então acalmar-me, acariciando-me os cabelos enquanto me abraçava. - Não me abrace assim. É pra eu parar de chorar? Pronto, olha, eu já parei.

_ O que foi?

_ É só que...Eu não quero ir embora,Connor. Eu quero ficar aqui com você. Eu não quero me despedir, por favor. Vamos voltar á sua casa. Fingimos que nada aconteceu. Depois eu converso com o meu avô, eu dou um jeito. Só...vamos sair daqui.

_ Jenni,eu...Eu não posso fazer isso. - ele olhou-me perplexo, sem saber o que dizer, sem saber o que esperar de mim.

_ Sua idiota! O que você está dizendo? Quer que ele ache que você é louca? - eu disse mentalmente a mim mesma - É...claro que não. Que ideia a minha. - murmurei.

_ Eu não entendo. Você não quer ir pra faculdade? Não é o seu sonho?

_ É sim o meu sonho. Mas ele é meio triste pelas coisas que eu tenho que deixar para trás para realizá-lo.

_ Você não está deixando nada para trás. São só cinco anos. Depois que voltar continuará tendo aos seus amigos e ao seu avô. Nada mudará.

_ Quanto a isso eu tenho certeza. Mas dizer adeus a você é...é muito mais difícil do que eu imaginei que seria.

_ Não precisa ser.

_ Não? Acho que sempre existirá aquela parte de mim que quer ficar,enquanto a outra parte quer obrigar-me a praticamente implorar que você espere por mim. Pois eu não quero que acabe. Eu quero viver isso. Deus, como eu quero viver isso. Você é tão importante pra mim,Connor. Acho que não faz ideia,mas... você é. - eu disse, tentando inutilmente conter as lágrimas quentes de meu rosto. Meses e meses de contenção de emoções intensas demais e de autopreservação jogados fora. Tudo isso porque perto dele eu me tornava uma insana que sequer era capaz de controlar-se.

_ Jenni, só deixe o tempo resolver as coisas. Deixe que ele resolva o que será de nós dois depois que você for embora. Não tente controlar tudo sempre.

_ É só uma mania idiota.

_ Você não acredita que as coisas acontecem exatamente como tem de acontecer? - ele perguntou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha enquanto me olhava nos olhos.

_ Não sei. Ás vezes acontecem coisas trágicas demais sem motivo algum. E você simplesmente não pode se opor pois, como você disse, não se pode ter controle sobre nada. - eu disse, lembrando-me de meus pais.

_ Eu acho que tudo o que acontece tem algum motivo. Acontece simplesmente por que tem de ser assim. Porque não haveria outra maneira de ser. E se você tenta mudar é sempre pior. Então olha, se for realmente para ficarmos juntos, acabará acontecendo. Nesse momento, tudo o que você pode fazer é seguir em frente e se lembrar do quanto esse mês foi especial. Você sempre será especial pra mim, pequena.

_ Promete nunca se esquecer de tudo o que aconteceu?

_ Claro. - ele sorriu.

_ Quanto á outra coisa...digo...Sobre você esperar por mim. Eu não vou exigir isso de você. Independente do que eu queira, não é justo. Eu quero que você faça o que achar certo, tá bom? - eu disse, enquanto ele apenas assentiu com a cabeça, olhando-me meio sem graça. Ele concordava, é claro. Eu não podia exigir nada dele. Era eu que estava indo embora por livre e espontânea vontade. Querer prendê-lo a mim seria egoísmo. E não se deve ser egoísta com aqueles que se ama.

_ Passageiros do vôo 437, por favor compareçam ao portão quatro. - anunciou um dos auto-falantes.

_ É o meu vôo. - eu disse.

_ Bem... - ele segurou-me as mãos - Boa sorte. Espero que a faculdade, tudo, seja exatamente como você sonhou.

_ Diga que o ama. Diga logo que o ama. Já está tudo ferrado mesmo. - minha mente dizia. - Mas as palavras não saíam da minha boca. Por mais que eu tentasse, enquanto estava parada no meio daquele aeroporto, com todas aquelas pessoas apressando-se para pegar o voo, eu simplesmente não conseguia dizer. - Eu adoro você. Sabia disso? - eu disse - Burra! você não poderia arranjar algo pior para dizer, não é mesmo? - pensei.

_ Eu também adoro você. Realmente adoro. Quero que seja muito feliz. - ele sorriu, beijando-me os lábios. - Vou sentir sua falta.

_ Eu também.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 06/03/2015
Código do texto: T5160755
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