Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 30

Era por volta de duas horas da manhã quando Drake anunciou ao microfone que tocaria a última música. Susie não parecia preocupada de forma alguma, sequer demonstrava perceber que o seu irmão olhava rigorosamente em nossa direção. Porém, em um momento da música, ela puxou o meu braço em direção a uma porta.

_ Onde a gente tá indo?

_ Pro vestiário masculino.

_ Huh? O que você quer fazer lá?

_ Boba! - ela riu - É o 'camarim' da banda quando tem show deles. Meu irmão vai nos encontrar lá. Vem rápido que a música já tá acabando.

Corremos até a porta, que por sorte estava encostada e, antes mesmo de a fecharmos, todas as luzes se apagaram e gritos começaram do salão.

_ Fica quieta, tá bom? - ela cochichou, segurando em minha mão. Confesso, porém, que eu estava mesmo começando a ficar assustada.

_ Cadê o seu irmão?

_ Shii! Silêncio. Cochiche, tá bom?

_ Tá, mas cadê ele? - cochichei, sentindo uma mão gelada tocar a minha mão livre. Gritei assustada, recuando, e senti uma mão masculina tapar com força a minha boca. Quem poderia ser? Os veteranos teriam nos pegado? O que eles fariam ao descobrir calouras fugindo do trote deles?

_ Certamente eu não quero saber. - pensei, mordendo com força aquela mão que me amordaçava.

_ Ai, porra! Para com isso. - cochichou uma voz familiar.

_ É que ela tá meio assustada, mano. - disse Susie.

_ É, mas se ela ficar gritando vai botar tudo a perder.

_ Desculpa. - abaixei a cabeça.

_ Deixa pra lá, vai. Venham aqui vocês duas. Fiquem quietas, tá bom? E, se virem algo estranho, não fiquem olhando demais.

_ Tá.

Caminhamos por um corredor todo escuro, enquanto ouvíamos o som de pessoas correndo e um cantar de alguns garotos.

_ O que é que eles vão fazer com os calouros, mano? - Susie perguntou.

_ Nada demais. Só embebedá-los e fazer umas 'brincadeirinhas saudáveis'. - ele riu.

_ Não é brincadeira quando não é divertido pros dois lados.

Andamos pela grama verde do campus até entrar em um lugar já conhecido. Era onde ficavam os alojamentos. Eu não fazia ideia do por quê ele nos estava levando pra lá. Será que nos recomendaria ficar trancadas no quarto até o outro dia? Entretanto, viramos em uma parte da qual eu não me lembrava de ter conhecido na excursão da faculdade. Até porque não fazia sentido algum fazer uma excursão pelos alojamentos. Mas aquele era diferente. Na verdade haviam quatro prédios de três andares que eram diferentes dos outros, maiores e mais bonitos. E haviam uns nomes diferentes grafados á porta. Drake bateu na porta e, logo depois, ouvimos uma voz estranha por detrás dela.

_ Senha?

_ Vinte garrafas de vodka.

_ O quê? Ai, como vocês são idiotas! - Susie disse, enquanto gargalhava.

_ Que nada. É uma senha ótima. - Drake deu de ombros. E a porta abriu.

Havia uma espécie de recepção, com uma cozinha pequena, um bar, um sofá grande, uma televisão, mesas de jogos e vários cartazes de times colados á parede. Havia muita comida e bebida sobre o bar e todas as mesas, além de veteranos por todos os lados. Uma música alta tocava, e enquanto alguns dançavam, outros bebiam, namoravam, jogavam poker ou assistiam televisão.

_ Por que é que o seu alojamento é bem mais legal que o nosso, hein? - Susie cruzou os braços, olhando para o irmão.

_ Isso aqui não é um alojamento qualquer. - ele a abraçou por trás - é uma irmandade. E, acredite, a melhor daqui.

_ Ai, que legal! Eu quero entrar aqui. Como é que se faz,hein?

_ Você vai ter de passar por umas provas. Mas, de qualquer forma...

_ Você não pode facilitar as coisas pra mim? Hein maninho? - ela sorriu, segurando-lhe pelas bochechas.

_ Eu poderia. Mas aqui só permitem homens. Você terá que tentar entrar numa das irmandades das garotas.

_ Ah, mas eu queria ficar aqui. - ele fez bico.

_ Quem é ela e o que faz aqui? - perguntou um garoto alto e forte, com um ar de superioridade, que apontava para mim.

_ É minha amiga. Por quê? - Susie disse, olhando fundo nos olhos dele.

_ Amiga ou colega de quarto? Você nem a conhece. E, Drake, o combinado foi você tirar só a sua irmã de lá. Ninguém mais. Qual é, cara? Agora vai ficar desrespeitando as regras da irmandade?

_ É minha amiga sim. E fui eu quem pedi pra ele deixar ela vir, tá bom? Larga de ser grosso Rick! Você vivia lá em casa desde que meu irmão fazia ensino médio. Me conhece, conhece meus pais, conhece minhas amigas. Agora vem querer dar de 'o bonzão' e não deixar eu trazer uma amiga? Eu a trouxe sim e ela não vai sair daqui.

_ Impulsiva como sempre, né neném? - o garoto aproximou-se bastante de Susie, segurando-a pelo queixo,quase beijando-a. - Certo, eu deixo. Mas só porque é você quem está pedindo. Mas vai ter de pagar depois. Ah, e também porque ela é bonitinha. - ele olhou pra mim com um sorrisinho no canto da boca, o qual eu não retribui, apenas olhando nervosamente para Susie. - Bem...Aproveitem a festinha, garotas.

_ Nojento. - Susie sussurrou, cuspindo no chão. Isso fez com que eu risse, aliviando aos poucos a tensão que percorria o meu corpo.

_ Obrigada. Fiquei morrendo de medo deles me colocarem pra fora.

_ Não precisa ter medo deles. Eu sou irmã do Drake e ele é um dos caras mais respeitados daqui. E, de qualquer forma, conheço quase todos esses amigos babões dele. Sei direitinho como lidar com eles. - ela piscou - Você estar comigo é como estar com Deus, Jennifer.

_ Claro, claro. - eu ri. - E então? O que a gente faz agora?

_ Curte a festa ué. - ela sorriu, pegando duas taças com uma bebida zul e subindo por uma escadaria.

_ Espera. Onde a gente vai?

_ Estou seguindo meu irmão. Quero ver se o quarto dele é muito maior que o nosso. Champagne? - ele estendeu uma das taças em minha direção.

_ Não, obrigada. Eu não bebo.

_ É sua primeira festa, amiga. Você tem que provar coisas novas. Toma. E pode confiar em mim, é muito bom. É meu drink favorito.

_ Er...tá bom. Eu vou provar. - eu disse, dando o meu primeiro gole naquele drink com um leve gosto de laranja. E era mesmo uma delícia. Eu me sentia tão diferente ali, conhecendo novas pessoas e coisas, estando numa irmandade da faculdade dos meus sonhos, onde eu passaria meus próximos cinco anos. Pensar nisso só me fazia sorrir. Era como se tudo o que eu era estivesse passando por uma fase de 'transição'. Eu mesma me sentia diferente.

Susie empurrou bruscamente uma das portas que estava aberta. Dava para escutar varias vozes de dentro do quarto. Ela sorriu para mim, puxando-me para entrar.

_ Sua louca. Vai que é o quarto de outra pessoa!

_ Eu não tô nem aí. - ela sorriu, formando duas charmosas covinhas em seu rosto meigo. Susie entrou saltitante, deitando toda esticada na cama, apoiando o queixo nas mãos e olhando em direção a sacada, onde três garotos olhavam para para fora. - O que é que vocês estão olhando aí?

_ É a sua irmãzinha, Drake? - perguntou um dos garotos.

_ Não lembra de mim, Sean?

_ Er...lembro, é que...você tá tão grande.

_ É. As pessoas crescem. - ela sorriu, subindo em cima da cama e, logo depois, correndo em direção á sacada. - Quero ver também.

_ Tira esse pé sujo da minha cama, sua badeca! - repreendeu Drake.

_ Cada dia você fica mais parecido com o papai.

_ Ah, cale a boca!

_ Vem fazer. - ela riu, com as mãos na cintura. - Ei, Jennifer. Vem pra cá.

_ O que vocês estão olhando?

_ O trote dos calouros. - Drake respondeu.

Andei até a sacada, postando-me ao lado de Susie. Estava meio escuro, dificultando um pouco a visão, mas parecia que estavam jogando ovos e balões de tinta em algumas meninas, que gritavam e tentavam fugir. Algumas riam histericamente, parecendo mais que elas estavam bem longe de seu estado normal.

_ Eu já 'peguei' ele. - Jéssica cochichou.

_ Ela quem?

_ O Sean. Aquele que perguntou pro meu irmão se era eu mesma. Por isso ele ficou todo nervosinho. - ela riu. Susie tinha esse comportamento todo o tempo. Era elétrica, divertida e absolutamente louca e inconsequente. Mas era impossível não adorar estar perto dela. Ela era um amor. Era carinhosa, adorava a família, o que era bem evidente em sua relação com o irmão, e era como se os momentos com ela quase pudessem preencher o vazio de estar longe das pessoas a quem eu amava. Ela e eu éramos extremos opostos mas, desde o primeiro momento em que nos vimos, não conseguimos mais nos desgrudar.

Devo confessar que me diverti pra caramba. Eu jamais havia me sentido daquela forma, tão alegre, tão viva. Na verdade, eu me sentia diferente desde o dia em que eu dormira com Connor. Aquele momento tão simples, tão natural seria mesmo capaz de mudar uma pessoa? Acabei bebendo mais alguns daqueles drinks azuis. Não me lembro quantos. O suficiente para eu me arrepender no dia seguinte. Susie e eu dançamos a noite toda. Rimos e brincamos bastante, nos enturmamos com os amigos do irmão dela, jogamos poker com os outros estudantes, nos divertimos como eu jamais havia me divertido antes. Drake não deixou que fôssemos embora. Disse que estar em qualquer lugar fora das irmandades era perigoso pra qualquer calouro. Então ele dormiu no sofá do seu quarto, cedendo a cama para sua irmã e eu.

As cortinas que disfarçavam o sol da sacada durante o dia dormiram abertas, de forma que, mal terminou de amanhecer,a luz forte do sol acordou-me. Abri os olhos devagar e estranhei ver um garoto sem camiseta dormindo em um sofá ao meu lado, enquanto outro, seu colega de quarto, dormia na outra cama. Demorou um pouco para que eu me situasse, lembrando-me de poucas horas atrás.

_ Ai minha cabeça! - reclamei, sentindo um dos primeiros efeitos da festa.

_ Chama-se ressaca! - resmungou uma voz sonolenta ao meu lado - Agora volte a dormir.

_ Vamos pro nosso quarto. Eu quero dormir no escuro e quero tirar esse vestido apertado.

_ Não. Vamos ficar aqui. Agorinha irá começar a nossa...Ah meu Deus! A aula! Nós estamos atrasadas e muito ferradas. - Susie gritou, levantando-se num pulo.

_ Cala a boca. - resmungou Drake, jogando um de seus travesseiros na irmã. - Eu quero dormir.

_ Ah, é assim, é? - ela pegou o travesseiro, pulando em cima de Drake, e fingindo enforcá-lo.

_ Deita aqui e dorme, mana. - ele jogou o braço por cima dela.

_ Dormir com você? Jamais! Você ronca de noite, sabia? - ela riu. - Vamos! Acorda! Tem aula agora.

_ Eu não ligo. Falo que estava doente. - ele virou para o outro lado.

_ Ressaca não é doença. E,se fosse, não teria uma alma viva na aula de hoje. Bom, eu vou indo estão. Vocês é que vão se ferrar depois. Vem, Jennifer!

Durante toda a manhã nós tínhamos aula em matérias que eram comuns a todos os cursos. Eram matérias básicas como filosofia ou gramática. Como ainda não havíamos definido os nossos cursos, as aulas não eram muitas, sobrando muito tempo à tarde para ficar conversando pelo campus, acessar os computadores, ir a festas organizadas pelas irmandades ou jogar alguns jogos de azar, os preferidos entre os alunos.

Susie tomara conhecimento de uma irmandade só para garotas. Chamava-se JFG, e ficava no melhor dormitório do campus. Era a que organizava as melhores festas, que tinha a maior popularidade, a mais desejada e a mais difícil de entrar de toda a universidade. E Susie decidiu que entraria nem que fosse a última coisa que fizesse. Isso significava destacar-se em todas as festas e passar dia após dia bajulando os integrantes do grupo. As minhas pretensões na universidade eram outras. Enquanto Susie passava todo o dia fora ou em festas, eu ficava no dormitório estudando todas as opções de curso para decidir a qualquer custo o que eu realmente queria fazer. E isso levava tempo. E muita paciência. Eram tantas opções, benefícios e semelhanças comigo que fazer uma escolha era a coisa mais difícil do mundo para mim. Como eu poderia escolher entre tantos cursos legais um que me agradasse por completo, me fizesse feliz, me desse um bom retorno e facilidade de empregos no final? Parecia impossível.

Já faziam três semanas desde que eu me mudara para Liverpool. Eu falara com meu avô e com Rachel no minuto em que chegara á cidade, e depois disso não mais nos falamos. Não é que eu houvesse me esquecido deles. Mas é que tudo era tão novo e diferente, trazendo uma espécie de 'reviravolta' em tudo o que eu conhecia e vivia que levou um tempo para as coisas se acalmarem e eu pegar o ritmo. E, com as coisas voltando a normal, veio a saudade. Ela chegou de mãos dadas com a solidão e com a lembrança de que eu não tinha nenhum familiar e nenhum amigo que eu confiasse o suficiente. O resultado disso era uma vontade enorme de chorar e de voltar pra casa. Mas eu sabia que tinha de me acostumar com o fato de que, naquele momento, a minha casa era aquele quarto, era toda toda a universidade, eram as pessoas que eu conhecia. Eu tinha que me acostumar com isso. E tinha de colocar na minha cabeça de que aquelas pessoas que eu amava sempre estariam lá por mim. Nem que eu tivesse que conquistá-las novamente.

Mas na minha situação, a melhor coisa a ser feita era ligar para o meu avô e para os meus amigos para matar a saudade. Então eu liguei primeiro para ele.

_ Alô?

_ Alô. Vô? Sou eu.

_ [...]você ligou para a casa de Jennifer e Oliver Summers. Deixe o seu recado após o bip que retornaremos assim que pudermos. Obrigado. Diga obrigado, Jenni. (Obrigada!Beijos.)

Uma gravação feita anos atrás, exatamente no dia em que eu me mudara para a casa dele, após todo o abalo da morte de meus pais foi tudo o que ouvi. Era estranho ouvir a minha voz de quando eu era tão novinha. Mas por quê ele não atendera o telefone? Era estranho considerando o fato de que ele raramente saía de casa. Mas ele provavelmente havia ido ao supermercado. Era só eu ligar mais tarde. Não havia motivos para preocupação.

_ Jennifer... - chamou-me Susie, entrando no quarto acompanhada por uma garota de grandes cachos castanhos. - Viemos chamar você para ir conosco ao boliche. Essa aqui é a Sarah. Ela é integrante da...

_ Da JFG, eu sei.

_ Então? Você quer ir?

_ Não posso. Tenho que ligar para o meu avô.

_ Pode ligar. A gente espera.

_ É que agora ele não está em casa.

_ Então vem com a gente. Quando voltamos você liga.

_ É. Até que não é uma ideia ruim. - eu disse. Ao menos dessa forma eu não me preocuparia tanto e não ficaria pensando besteiras demais.

Passamos praticamente toda a tarde no boliche, de forma que já começava a escurecer quando voltamos ao dormitório. Susie correu até o banheiro para tomar um dos seus longos e demorados banhos, enquanto eu peguei o telefone para tentar novamente falar com o meu avô. O telefone chamava incansavelmente sem que ninguém atendesse.

_ Alô? Você ligou para a casa de Jennifer e Oliver Summers. Deixe o seu recado após o bip que retornaremos assim que[...]

_ Droga! - eu disse, batendo o telefone no gancho. Eu podia sentir o meu coração bater mais forte ao mais leve pensamento de que alguma coisa poderia ter acontecido ao meu avô. E a pior parte era que eu estava a quilômetros de distância e não havia nada que eu pudesse fazer a não ser esperar.

Então uma ideia veio em minha mente. O meu avô conhecia a todos os meus amigos. Eu sempre teria a ajuda deles caso algo acontecesse. Talvez Rachel soubesse o que fazer. Ela sempre soube.

_ Alô? - ela atendeu o celular em poucos toques. Eu sabia que ela sempre o tinha por perto nessas horas, porque era quando Ethan ligava.

_ Oi, Rachel. - eu sorri ao ouvir sua voz. - Nossa, que saudade.

_ Oi Jenni. Nem me fala. É muito estranho ficar aqui sem você. Mas e então? Como você está?

_ Eu estou ótima. E você?

_ Estou bem também. Estou adorando a faculdade daqui. Jenni, é tão legal. Eu nunca fui em tantas festas, nunca me diverti tanto, nunca conheci tanta gente nova e tão amigável. Isso sem falar nas aulas. Nossa, a veterinária é definitivamente tudo o que eu mais queria na vida. Agora eu só tenho aulas que eu gosto. Isso sem falar que é maravilhoso encontrar sempre o meu namorado na hora do intervalo. E ele ainda me protegeu dos trotes daqueles loucos dos colegas dele. - ela riu - Mas e você? O que me conta? Está gostando de morar aí?

_ Sim. Estou adorando. Depois quero te contar tudo direito, mas agora quero te perguntar uma uma coisa.

_ Que foi?

_ Você tem visto o meu avô?

_ Ah, eu o vi no supermercado há uns três atrás. Por que? - ela disse,e o meu coração ficou inquieto. Se ela o vira no supermercado há três dias, então não era lá que ele estava.

_ É que ninguém atende atende na casa dele. Eu estou meio preocupada.

_ Não deve ser nada, J. Ele deve ter saído, ou algo assim. Tenta ligar amanhã pra ele.

_ Se não tiver muito tarde pra você, você poderia dar uma passada lá e ver se está tudo bem?

_ Hm. Bom, o Ethan vai passar aqui mais tarde pra jantar comigo. Eu posso pedir pra ele me levar lá. Mas fique calma, tá bom? Não deve ser nada.

_ Eu vou tentar. Você me avisa?

_ Claro. Aviso sim.

_ Obrigada, Rachel. Beijo.

_ E, Jenni?

_ O quê?

_ Eu te amo.

_ Ah, Rachel. Eu também te amo. Eu amo todos vocês. Não sei mais se eu posso ficar tanto tempo assim longe, e... - eu disse, sentindo as lágrimas, já contidas há tempos pela saudade causada pela voz dela e pela preocupação com o meu avô, caírem lentamente.

_ Você tá chorando?

_ Não.

_ Jeniffer!

_ Que droga, Rachel.

_ Jennifer, você só foi pra faculdade. Não é como se estivesse se mudando para sempre pro outro lado do mundo, ou algo assim. Você vai voltar logo. Cinco anos passam voando e, antes que perceba, vai estar de volta junto com todas as pessoas que você ama. Isso sem falar que temos as férias, lembra?

_ Vocês vão esperar por mim?

_ É claro que nós não vamos esperar por você. Não seja boba.

_ E o Connor?

_ Jenni!

_ Eu sei, eu sei.

_ Você sabe que se eu tivesse controle sobre isso vocês dois já estariam casados e com lindos filhinhos. - ela brincou.

_ Você é uma boba. - sorri.

_ Confie em si mesma, J. Confie no que você quer. Confie no destino. E se ele não for a pessoa certa pra você? Já pensou nisso? Não é justo com você se prender tanto ás coisas.

_ Por que você tá falando isso? Tem alguma coisa que eu não saiba? O Connor...

_ Há dias eu não falo com o Connor, querida. Mas se você sente tanta falta, liga pra ele. O que não vale á pena é ficar aí se lamentando por algo absolutamente sem lógica.

_ É que é tão difícil não estar aí, sabe? Saber que, se acontecer algo com o vovô, eu não estarei perto para ajudar, saber que eu e você não teremos mais aquelas tardes inteiras juntas, que eu não poderei mais desfrutar do abraço do Brandon, das loucuras da Grace, o jeitinho carrancudo de Leah, as palavras sábias do Ethan, o beijo do Connor... Como eu sentirei falta disso.

_ Eu sei, amiga. Você também me faz uma falta enorme. Mas não é como se você não nos tivesse mais. Você sempre nos terá ao seu lado. Porque te amamos. Você não está sozinha aí. Você acha que está, mas nunca esteve. Estamos sempre aqui, pensando em você, querendo o seu bem. E não se preocupe quanto a seu avô. Ele deve estar bem. Prometo passar lá hoje.

_ O que é que eu fiz pra merecer uma amiga como você?

_ Hm. Você deve ter feito muitas coisas erradas na sua vida passada. - ela riu. - Pra ter uma amiga tão chata ao seu lado o tempo todo.

_ Não seja boba. Você é incrível. É minha melhor amiga e eu amo ter você por perto.

_ De qualquer forma, estou feliz por isso.Boa noite, Rachel.

_ Boa noite, Jenni. E te cuida, tá?

_ Eu prometo.

_ Estava falando com a sua namorada ou algo assim? - Susie brincou, enxugando os seus longos cabelos com uma toalha branca.

_ Melhor amiga.

_ Você sempre chora quando fala com ela?

_ Nunca fiquei tanto tempo longe dela para isso. Ou longe dos meus outros amigos, ou do meu avô. Eu não me sinto assim sozinha desde que... - eu disse, cortando a mim mesma logo em seguida.

Susie me observou por alguns instantes sem nada dizer. Andou até o armário, vestiu um de seus pijamos, olhou-se no espelho, passou um dos cremes faciais que sempre passava antes de dormir e penteou os cabelos. E, ainda sem dizer uma única palavra, andou até a minha cama e deitou-se ao meu lado.

_ Desde que o quê? - ela perguntou, olhando nos meus olhos de uma forma séria que eu nunca havia visto antes. E então eu lhe contei do maior trauma da minha vida. O nosso primeiro segredo, a minha primeira confissão. Um ato de confiança grande o suficiente para significar o início de uma amizade.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 14/03/2015
Código do texto: T5169955
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