Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 35

Olá leitores ^^

Queria pedir desculpas para a demora quanto a esse capítulo. Eu estava em semana de provas e absolutamente sem tempo pra nada. Mas estou postando esse hoje e vou postar mais um esse fim de semana pra compensar. É isso. Espero que gostem :)

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Eu tinha certeza sobre não estar grávida. Entretanto, a mais remota possibilidade, aquela pontinha de dúvida, já era o suficiente para me deixar muito assustada. Eu não poderia estar. Estava certa de nem sequer ter sentido outros sintomas estranhos além daqueles dois rápidos enjoos e da tontura, provavelmente causados por motivos que nada tinham a ver com a noite em que estive com Connor. Era culpa do nervosismo, das noites mal dormidas, era a alimentação fraca e gordurosa, composta por pizza e salgadinhos. Eu não tinha sensibilidade por cheiros. Certamente não estava sentindo desejos, sequer tinha tempo para pensar em comida. E minha menstruação sempre fora desregulada. Acontecera dezenas de vezes dela atrasar dois, três, até quatro meses. Tratando-se de mim era perfeitamente normal. Ainda mais considerando as emoções extremas que eu sentira logo que me mudara para Liverpool. Um emocional agitado também tinha influência na menstruação, eu me lembrara de já ter ouvido um professor dizer.

Mas...E se eu estivesse grávida? Eu já estava tão sem ter para onde ir, não tinha a menor perspectiva de futuro, não tinha família e meu dinheiro era contado. Eu sequer podia comprar um sapato bonito em uma loja, como então compraria berços, mamadeiras, fraldas e brinquedos? E como eu faria com a faculdade? Eu tinha certeza que não permitiam bebês nos alojamentos, caso contrário, eu já teria visto garotas passeando lá fora com alguns. E ele não teria pai? Ou o Connor o assumiria? Mas como ele poderia assumir se não me amava? Eu iria passar anos da minha vida ao lado de alguém que não me amava? Ou então ele colocaria apenas o seu sobrenome no bebê e seria aquele tipo de pai que apenas paga pensão e visita o filho em datas comemorativas? E se ele não assumisse? E se dissesse para eu me virar? Eu não sabia o que esperar dele. Claro que eu já sonhara em ter um filho meu, uma família de verdade, mas ficar grávida naquele momento, sob aquelas condições, definitivamente seria uma tragédia para mim. Significaria esquecer para sempre a todos os sonhos que ainda me restavam.

_ Sabia que você estaria aqui. - disse Susie, após abrir a porta bruscamente, acordando-me dos pensamentos sombrios. - Fiquei sabendo que você passou mal. Você tá melhor?

_ Sim.

_ O que aconteceu?

_ Nada. Eu estou ótima.

_ Vai ficar estranha comigo agora?

_ Claro que não. Por que eu ficaria? Não tenho motivos. - eu disse de uma forma irônica, ainda deitada na cama, mas com o corpo virado do lado contrário à direção na qual ela me encarava.

_ Jenni, desculpa. Sei que você está me odiando e com razão. Mas eu nunca fui falsa com você e nunca achei que a sua história fosse irrelevante. Eu contei sim para o Drake, mas não foi por maldade e muito menos para magoar você. Ele é meu irmão, nós meio que não temos segredos um com o outro. Tá certo que os segredos eram seus e eu não tinha nada a ver com isso. Mas ele parecia estar gostando de você. Quando vi vocês juntos no quarto dele aquele dia eu fiquei radiante de felicidade. Duas pessoas que eu amo juntas. E vocês dois tem um coração tão bom, que achei que, se ficassem juntos, talvez meu irmão pudesse amenizar sua dor. E então você voltaria a ser aquela Jennifer sorridente e sonhadora que eu conheci quando entrei na faculdade. Achei que se ele soubesse sua história, poderia fazer você lidar com tudo e superar. Queria que ele a fizesse sentir-se protegida e lhe mostrasse que nem todas as pessoas do mundo são horríveis. Ele me contou o que aconteceu e eu me sinto um monstro por isso. Me desculpa. Não queria que fosse assim. Você é minha amiga e eu fiz tentando te deixar feliz.

_ Tudo bem, Susie. Eu sei.

_ Então por que você agiu daquele jeito?

_ Eu estava magoada. Mas eu te entendo. Me desculpa por ter agido daquela forma.

_ Eu é quem peço desculpas. Não vou mais abrir a boca pra ninguém. Nunca mais. Prometo.

_ Que bom. - tentei sorrir.

_ Você tá melhor?

_ Sim. Por que?

_ Tá com uma cara estranha. Parece que vai...vomitar.

_ A vontade já passou há muito tempo. Relaxa. Eu tô bem.

_ Então o que foi? Tá na cara que você não tá bem. Eu já te conheço o suficiente para saber disso. - ela disse. Eu sabia que não dava pra esconder nada dela. Ela acabaria descobrindo, de qualquer forma.

_ A enfermeira me deu...Uma coisa.

_ O quê?

_ Isso. - eu lhe estendi o teste de gravidez, já retirado da caixa, com o saquinho que o envolvia todo amassado em razão de minha ansiedade.

_ É o que eu acho que é?

_ É.

_ Por que?

_ Por que eu senti enjoo na aula. E ela começou a fazer umas perguntas. Eu falei da tontura de mais cedo também. Mas não tem nada a ver.

_ Ué. Você também falou que nunca dorme e come qualquer coisa na hora que dá?

_ Susie!

_ Você sabe que o motivo é esse. Você não tá grávida!

_ Eu disse. Mas ela me deu isso mesmo assim. Disse que é só pra ter certeza.

_ Mas...Tem alguma chance?

_ Uma mínima. Bem mínima.

_ Eu achava que você era virgem. - ela sorriu.

_ Susie!

_ Tá bom. Desculpa.

_ Você não pode me julgar. Sabe disso.

_ Não estou te julgando, J. Nunca faria isso. Foi com ele, não foi? Com o Connor?

_ Foi.

_ E como foi?

_ Foi legal... - eu tentei não sorrir - Mas isso não vem ao caso.

_ Vocês deveriam ter usado camisinha, J.

_ É meio tarde pra pensar nisso agora, você não acha?

_ E o que você vai fazer?

_ Eu não estou grávida, Susie.

_ Então faça o teste.

_ Eu tô com medo.

_ Mas você tem tanta certeza...

_ Mesmo assim. Prefiro o benefício da dúvida do que ter de lidar com a verdade.

_ Uma hora você vai ter de fazer. Ao menos você se livra logo da expectativa. Afinal, se você estiver grávida, o bebê não vai deixar de crescer só porque você se recusa a fazer o teste de gravidez.

_ Tá bom, tá bom. Eu faço. - levantei-me, andando emburrada até o banheiro. Susie, naturalmente, me seguiu.

_ Você quer que eu fique aqui? - ela acariciou meus cabelos.

_ Quero. Fica. Eu tô morrendo de medo.

Abri o pacote e, enquanto fazia o que mandava o manual, fechei os olhos e tentei mentalizar um resultado negativo aparecendo no indicador. Mas a única coisa que vinha à minha mente eram lembranças. Lembranças que inicialmente pareciam ser aleatórias mas que depois começaram a fazer todo o sentido do mundo.

Primeiramente eu me lembrei do dia em que Rachel e eu estávamos conferindo a todos os objetivos da minha lista para verificar quais estavam completos e quais ainda faltavam. Tal lembrança me despertou uma enorme nostalgia. Meu coração se apertou quando me lembrei qual era o único objetivo que faltava. Rachel queria vê-lo a qualquer custo e eu estava envergonhada e com medo da reação dela.

"_ Terminamos nada! E aquele outro?

_ Não era bem um objetivo.

_ Era sim! Deixa ver! Ela tentou puxar o caderno de minhas mãos, que continuaram firmes.

_ Ah,Jenni. Qual é? Agora você esconde as coisas de mim?

_ É que...é meio pessoal.

_ E desde quando temos segredos?

_ Desde nunca, mas...

_ Mas...?

_ Não quero que você leia. Vai me achar uma ridícula.

_ Nunca vou achar você ridícula.

_ Não força a barra, Rachel.

_ Tá bom. Se não quer mostrar,não mostra. Pronto. - ela disse, cruzando os braços.

_ Lê logo, sua chantagista. - eu disse, colocando o caderno no colo da minha emburrada amiga. Ela sorriu, passando as páginas rapidamente, como uma criança de seis anos que acaba de ganhar um brinquedo novo. Ao achar o que procurava, ela pôs-se a ler em voz alta.

_ Objetivo doze: No caso de sucesso no objetivo anterior, que ele possa ser o meu primeiro. E que guardemos isso dentro de nós, com carinho, e para sempre.

_ Feliz?

_ Que bonitinho, amiga. - ela sorriu.

_ Bonitinho nada. Ridículo. Ingênuo.

_ O amor nunca é ridículo.

_ Na maioria das vezes é sim. - eu sorri.

_ Melhor deixar esse para cumprir depois, né?

_ Você acha que eu vou deixar a lista com um grande e vermelho X? A lista será completa ou eu não me chamo Jennifer Summers. - brinquei.

_ Você está falando sério?

_ Não. Quero dizer... Não sei. - eu disse, deitando-me de costas na cama. Rachel deitou-se ao meu lado.

_ Você não precisa fazer só porque é um objetivo da lista.

_ Eu sei.

_ Você faria...Com ele?

_ Acho que sim. Eu o amo. Mas não sei se ele me ama. Ah, é claro que ele não me ama. Ele gosta de estar comigo. É diferente.

_ Não faça se você acha que vai se arrepender.

_ Eu bem queria que fosse com ele. Eu gosto dele suficientemente para isso. E tem outra coisa também.

_ O quê?

_ Eu vou embora.

_ E...?

_ Eu queria ficar marcada no coração dele. Queria uma coisa que nos unisse, que fizesse com que nos lembrássemos um do outro pra sempre.

_ Não sei se isso é certo.

_ Eu não me importo.

_ Você não precisa fazer isso para que ele se lembre de você. Você pode...sei lá...dar uma foto sua pra ele. Não precisa ser tão radical.

_ Tem que ser algo maior. Que nos una de verdade. Para que ele saiba o quanto é importante."

Era tudo o que eu queria. Algo que unisse a mim e ao Connor para sempre. Que nos marcasse, nem que tudo que sobrasse fosse uma lembrança boa em nossas mentes.

Eu só não sabia que custaria tanto. Que doiria tanto ter de ir embora no outro dia, olhar nos olhos dele e dizer adeus. Saber que ele seguiria sua vida, se apaixonaria por uma garota qualquer e construiria uma história com ela enquanto eu passaria todos os cinco anos de faculdade me lamentando de nunca ter descoberto como seria se eu tivesse optado por ficar aquele dia. Se eu realmente desistisse de ir embora, do meu sonho, tudo por ele. Isso me fazia me perguntar se eu seria mais feliz se eu tivesse ficado. Esse pensamento fez com que eu me lembrasse de outra conversa com Rachel. Aquele que eu tivera com ela alguns minutos antes de me mudar. Que eu prometera ser capaz de abdicar de tudo somente pelo Connor.

"_ Você está indo pra faculdade dos seus sonhos e parece muito mais que vai a um funeral. Não faça isso, amiga. Aprenda a apreciar as coisas que você tem.

_ Eu sei, eu sei. É só que...Eu o amo tanto, tanto. Só a ideia de ter de me separar dele já faz um buraco enorme aqui dentro de mim.

_ Mas você pode vir vê-lo de vez em quando. Você pode vir ver todos nós.

_ Eu sei. Mas não posso exigir que ele espere por mim.

_ Não. Você não pode. É uma escolha dele.

_ O problema é esse. Eu daria qualquer coisa para ter controle sobre isso. Daria meu próprio futuro. - eu sussurrei, sentindo lágrimas nascerem em meus olhos.

_ Cuidado com o que você deseja, Jennifer. Você sabe que isto, a faculdade, o seu futuro...é uma das coisas mais importantes da sua vida. Não desista disso.

_ Não vou. Eu prometo. - tentei sorrir um pouco, limpando as lágrimas na manga da minha blusa de frio. - Vai passar, sabe? Esse medo...vai passar. "

Abri os olhos meio sobressaltada quando a imagem da garotinha dos meus sonhos materializou-se em minha mente. Meu coração disparou, era como se ela realmente estivesse lá. Parada na minha frente. Fitando-me com aqueles grandes olhos negros. Como que dizendo: não se esqueça, eu continuo aqui observando você.

Coloquei a mão no meu peito, sentindo as batidas aceleradas do meu coração. Susie perguntou se já havia aparecido o resultado, mas o indicador ainda estava em branco.

_ Demora um tempinho. - ela disse.

_ É... - tudo o que eu pensava era que deveria ir dormir imediatamente para ver novamente a garota. Algo me dizia que ela tinha as respostas que eu precisava. Eu sempre senti isso desde a primeira vez em que a vi. Era como se ela soubesse tudo sobre mim, sobre meu passado, presente e futuro. Era como se fizesse parte de mim, como se fosse eu mesma.

Fechei os olhos novamente e os flashbacks voltaram. Mas não eram mais diálogos inteiros. Eram apenas frases. Duas únicas frases. "Eu queria ficar marcada no coração dele. Queria uma coisa que nos unisse, que fizesse com que nos lembrássemos um do outro pra sempre", " Cuidado com o que você deseja, Jennifer. Você sabe que isto, a faculdade, o seu futuro...é uma das coisas mais importantes da sua vida. Não desista disso". Eram palavras da Rachel. Mas eu já as havia ouvido depois. E não havia sido dito por ela.

"_ Cuidado com o que você deseja, Jenni. Pode acabar se realizando. - ela sussurrou.

_ Como assim? O que eu fiz de errado? - perguntei, apavorada. Mas a garotinha apenas riu, sem sequer se preocupar com o medo que eu sentia.

_ Você sabe. Você desejou tanto, tanto.

_ O quê? O quê eu desejei?

_ Juntos para sempre. - ela sussurrou antes de levantar-se e sair correndo, desaparecendo entre as árvores."

_ Ah...não! - soltei um grito.

_ O que foi? O que foi? Apareceu o resultado?

_ Ela só estava me avisando, Susie. Ela sabia o tempo inteiro o que aconteceria. A culpa foi toda minha. Eu desejei tão ardentemente ter algo que unisse a mim e ao Connor para sempre, que consegui. É isso que um filho significa. A união de duas pessoas para sempre. Ainda que a gente nunca fique junto, ainda que nunca mais nos vejamos, essa criança sempre vai ser o maior símbolo da nossa união. . "Juntos para sempre". Ela me avisou um monte de vezes. A Rachel já havia me avisado e não prestei atenção. Então minha mente a criou para me lembrar. Como eu pude ser tão burra? A culpa é toda minha. Eu pedi por isso.

_ Você tá ficando doida, menina? Não está falando nada com nada. E aliás você nem olhou o resultado ainda. Fique calma.

_ Susie! Eu não preciso nem olhar. Eu já fui avisada um monte de vezes. - eu disse, estendendo-lhe o teste sem sequer olhar o resultado.

Ela o pegou devagar, ainda meio relutante, e a expressão em seu rosto só provou que eu estava certa. Havia dado positivo.

_ Oh...merda! - ela disse.

_ É.

_ E agora?

_ Eu não sei! Eu não posso ter esse filho. Você sabe disso. O dinheiro que eu tenho mal dá pra terminar a faculdade. - eu disse, passando os dedos nervosamente pelos meus cabelos - Eu não tenho ninguém. Não é como se eu pudesse ir pra casa, levar uma bronca dos meus pais e depois ter todo o apoio deles para tudo o que fosse mudar na minha vida. Eu tô totalmente sozinha nessa.

_ Você tem ao Connor. Que, a propósito, é o pai desse bebê. Você não pode assumir a culpa sozinha.

_ Eu tenho ao Connor? Tenho mesmo? Você tem certeza disso?

_ Não precisa ser irônica.

_ Eu estou ferrada. Ah, por favor, eu quero acordar e descobrir que estou no meio de um pesadelo horrível.

_ Para com isso. Ficar fazendo drama não vai resolver, J.

_ E o que você quer que eu faça?

_ Liga pra ele - ela estendeu-me o meu celular - Liga e pergunta para ele o que é que vocês vão fazer. Ele não pode jogar tudo em cima de você mesmo que queira. E se ele se recusar, você pode entrar com uma ação contra ele, e...

_ Susie, eu nem sei como fazer isso. Não sei entrar com ação contra alguém, não sei fazer esse tipo de ameaça. E eu nem quero.

_ Você não tem escolha, Jenni. Você tem que ligar pra ele. - ela estendeu-me o celular mais uma vez.

_ Tá bom, tá bom! Eu ligo pra ele. Mas fique sabendo que eu estou fazendo isso totalmente a contragosto.

_ Tanto faz. Só liga.

Peguei o celular e fui clicando naqueles números que eu já sabia de cor. Minhas mãos tremiam. Eu não sabia exatamente do quê eu tinha medo. Medo dele ficar bravo comigo (e ele não tinha o direito de ficar), medo dele repudiar a ideia, medo de me tratar mal, medo de me abandonar, medo dele colocar a culpa em mim? Mas creio que o maior medo de todos era o medo dele me tratar com frieza. Esse era o lado ruim do seu mistério. Ás vezes ele parecia frio. Mas o que eu deveria fazer? Susie estava certa, não é como se eu tivesse escolha. Eu tinha de contar a ele. Mas não fazia ideia de como começar.

_ Alô? - atendeu aquela voz macia e sensual da qual eu tanto sentia falta. Meu coração imediatamente disparou e eu senti-me como se fosse incapaz de proferir qualquer palavra. - Alô? Quem está falando?

_ O-oi... - murmurei. - Sou eu. A Jenni.

_ Jenni? Oi... - ele respondeu eu tom surpreso. - Está tudo bem? - sua voz pareceu um pouco preocupada.

_ Está sim. E contigo?

_ Tudo bem.

_ Hmm...Eu... - gaguejei, sem conseguir terminar a frase. Os efeitos que ele tinha sobre mim pioravam cada vez que ficávamos muito tempo sem se falar.

_ Está tudo bem, J.?

_ Tá sim.

_ Você tá gostando da faculdade? Tá...hm...precisando de alguma coisa?

_ Não, não. A faculdade está ótima. Estou me divertindo muito. - menti. Susie deu um tapa em meu ombro, como que dizendo-me para dizer logo o motivo da ligação, mas desvencilhei-me dela, saindo do banheiro e sentando em minha cama. - Pode parecer estranho eu ligar assim do nada, não é?

_ Não, não... - a falsidade em sua voz era evidente - É só que...Eu não esperava. Mas é sempre bom falar contigo. Ainda mais que não pudemos conversar direito aquele dia...hm...no cemitério.

_ É bom falar contigo também. Eu liguei porque eu precisava dizer que...que...eu sinto sua falta. - eu disse finalmente. Não era o que eu deveria dizer, mas não deixava de ser verdade. Ele riu, mas não como um deboche, e sim como você ri quando fica sem graça e não sabe o que dizer.

_ Também sinto sua falta, Jennifer. - foi a última coisa que ele disse, antes que o silêncio de nós dois ocupasse mais tempo na ligação do que o momento em que realmente conversamos. Ele sequer perguntou sobre como estava minha vida naquele momento, sobre como eu me sentia, sobre como eu planejava viver até que o dinheiro do meu avô acabasse e eu não tivesse mais para onde ir. Não era possível que ele nunca pensara sobre isso. Sequer se preocupara.

_ Era isso. Eu preciso desligar agora. - eu disse, finalizando a ligação antes que ele pudesse responder.

Eu não queria que houvesse sido daquela forma. Estranho. Era demais querer que o cara do outro lado da ligação fosse aquele Connor que dançara comigo no baile até a última música? Era demais querer que ele fosse aquele que me olhava como se eu fosse incrível, que suspirava ao me beijar, que me chamava carinhosamente de 'pequena', que batera em um cara por mim e que me tratara de forma tão doce ao fazer amor comigo? Era demais querer que ele fosse o meu Connor, aquele Connor? Creio que era.

Mas o que eu sentia continuava intacto. Todos os efeitos que ele tinha sobre mim. Todas as lembranças que dançavam tão nítidas em minha mente. O problema era esse. Será que nunca ia passar? Deitei-me, então, em minha cama, e enterrei minha cabeça no travesseiro, molhando-o completamente enquanto lamentava tudo isso.

_ Jenni? O que foi? Ele foi grosso com você? Ah, eu vou ligar pra esse idiota,e...

_ Ele foi frio. Foi estranho. Foi como se fôssemos quase desconhecidos.

_ É normal, J. Afinal tem uns três meses que vocês não se falam.

_ Ele não gosta de mim, Susie. Não adianta. O que eu sinto nunca vai ser recíproco.

_ É. Mas ele ainda tem que assumir a responsabilidade que ele tem sobre o bebê que você vai ter. Ele vai crescer. Vai necessitar de muitas coisas. E o que você vai fazer?

_ Eu não sei. Eu me viro. Eu só sei que assim eu não quero. Eu não o quero se ele não é capaz de me amar de volta. Não quero viver ao lado de alguém não me enxerga. Eu prefiro ficar sozinha.

_ E você vai ter o bebê?

_ Olha, eu só queria que isso fosse um pesadelo horrível. - eu disse, minha voz abafada pelo travesseiro.

Susie acariciou os meus cabelos por alguns minutos sem dizer uma única palavra. Até que eu parasse de chorar. Fitei o seu rosto e ela parecia um pouco pensativa. E, aos poucos, sua feição se tornara novamente confiante, como sempre fora.

_ Já chega. Vamos acabar logo com isso. - ela disse, enquanto discava em um número gravado na agenda de seu celular.

_ O que é que você vai fazer?

_ Resolver tudo,J. Só relaxa, tá bom? Logo vai ficar tudo bem. Me deixe só...Alô? É do consultório do Dr.Humbert Harding? Oi Cindy. Sou eu, Susie Salmon. Estou bem sim. O Dr.Humbert está aqui na cidade? Ele anda muito ocupado? Bem, eu queria marcar uma consulta. Não é pra mim, é pra uma amiga. Jennifer Summers. Isso, com dos 'M'. É, ela já confirmou. Pode marcar. Espere um pouco. Jenni, qual o seu tipo sanguíneo?

_ 'O' negativo...Mas por quê diabos...

_ É 'o' negativo. Isso. Então ela pode ir amanhã ás nove? Certo, estaremos aí. Obrigada Cindy.

_ Por que você tá marcando médico pra mim?

_ É de uma clínica especializada em... Resolver esse tipo de problemas.

_ Você quer dizer aborto? Susie, eu não vou fazer isso.

_ Não dói nada. Certo, só um pouco, mas eles sedam você. E você não vai machucar ninguém. Digo, seu bebê ainda é apenas um feto. Ele é do tamanho de uma ervilha. Ele ainda nem pode ser chamado de 'bebê'. Eu acho melhor você esperar pra ter um quando estiver pronta. Não agora. Senão você vai acabar com sua vida. Confie em mim. É a melhor coisa que você pode fazer.

_ Eu não quero ser uma assassina de bebês!

_ Ele ainda não é um bebê. Pare de fazer drama. E que tipo de vida você pode dar pra ele? Você mal pode cuidar de si mesma. Acha mesmo que está em condições de assumir papel de mãe?

_ Eu sei que os meus pais nunca fariam isso comigo. Nunca me abandonariam. Eu não posso.

_ Você não estaria abandonando ninguém. Só adiando pra mais tarde. J., eu sei que você seria uma mãe maravilhosa. Mas você tem que estar pronta pra isso. Tem que ter condições de dar uma vida de verdade pra uma criança e tem de dar a ela uma figura paterna. Confie em mim, vai ficar tudo bem.

_ Você já fez isso? Já abortou?

_ Já. Uma vez. - ela fitou o chão - Mas o que eu poderia fazer? Eu só tinha dezesseis anos. E o pai do bebê nem olhava na minha cara. Eu não conseguiria sozinha. Eu tinha toda uma vida pela frente. Eu queria conhecer pessoas, fazer uma faculdade, viajar. E eu era uma criança. Como poderia uma criança cuidar de outra?

_ Não sei se isso é certo.

_ Pode não ser certo, mas é o melhor. - ela colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Eu posso pedir pro meu irmão ir com a gente lá. Se for te deixar mais calma.

_ Mantenha seu irmão longe de mim!

_ Tá certo. Vamos só nós duas. Eu prometo não sair do seu lado. E prometo que vai ficar tudo bem. Tudo vai voltar ao normal. Será como se nunca tivesse acontecido.

_ Certo. Eu vou. - sussurrei. Mas eu ainda não sabia de onde tiraria forças para ser capaz de fazer algo do tipo. Mas pareceu o melhor. Eu não tinha muita escolha.

_ Certo. Amanhã então. Ás nove.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 10/04/2015
Código do texto: T5201329
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