Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 37

Esse é o segundo e último capítulo a ser postado hoje. Compensou pelo tempo no qual estive sumida, né? :P

Espero que gostem e, por favor, comentem! Não leiam como fantasmas. Sempre gosto de ler o que vocês tem a dizer.

Um beijo!

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_ Você vai sentir minha falta?

_ É claro que eu vou sentir sua falta, Susie. - eu disse, abraçando aquela garota que fora minha primeira e única amiga de verdade naqueles meses em que eu estive na universidade.

Não fora muito difícil convencer ao reitor Ronnie que a minha decisão era a melhor a ser tomada. Eu não podia criar uma criança em um alojamento da faculdade e nem se ele quisesse proporcionar-me as condições para tal, nenhum instituto educacional aprovaria. Também não fora muito difícil ir embora. A única pessoa que deveria saber o real motivo da minha saída era Susie, e ela já sabia. Ninguém mais precisava saber. Passariam dois ou três meses se perguntando por que é que eu sumi, mas logo se esqueceriam até mesmo do meu nome. Era a parte boa de não ter muita capacidade para criar laços com as pessoas. Drake, o irmão de Susie, também veio despedir-se de mim. Foi ele quem dirigiu até a estação de metrô. Ele sorriu e foi educado, desejando-me toda a sorte do mundo e pedindo que eu não guardasse ressentimentos. Melhor daquela forma. Eu não gostava nem de me lembrar daquele momento ruim que havíamos passado juntos. Mas, de alguma forma, ele estava certo. Eu sonhara demais, desejara certas coisas sem sequer pensar nas consequências. Não podia simplesmente esperar que elas não viessem.

Cheguei em Londres sem ser esperada por ninguém na estação. Resolvi aproveitar aquele tempo para ficar um pouco sozinha, para pensar nas coisas e decidir o que faria dali para frente. Peguei o primeiro táxi vazio e fui direto para a casa onde em morava com meu avô. O que posso dizer? Dos momentos mais tristes que eu já vivi em minha vida, a minha volta para casa certamente poderia ser inclusa na lista. Era estranho destrancar aquela porta que antes estivera sempre aberta. Era estranho entrar em casa e não poder chamar ao meu avô, perambulando pelos seus cômodos favoritos da casa até encontrá-lo. Era estranho não sentir aquela doce aroma do café vindo da cozinha. Era estranho aquele silêncio, que antes era sempre cortado pelo som da televisão ou do passar das folhas do jornal. Era estranho não ter a sua presença, não sentir seu cheiro, não ouvir sua voz. Era estranho ver aquela rua, tão movimentada e barulhenta mas, ainda assim, sentir uma solidão imensurável.

_ Vovô? - eu sussurrei, com uma esperança infantil de que ele respondesse. - Mas o silêncio, a falta continuavam.

Corri para o quarto dele e me deitei na cama, sentindo o seu cheiro, vendo aquelas revistas, fotos, símbolos de tudo o que ele gostava e em que acreditava. O seu armário de roupas estava intacto. O blusa de moletom azul, a que ela mais usava, estava pendurada em uma cadeira de balanço. O seu cheiro nela era tão forte que parecia até que ele estava ali. Eu a vesti por cima das minhas roupas, abraçando-a forte, pensando em como eu poderia ser capaz de me livrar de tudo aquilo que restava do meu avô. Eu não conseguiria. Jamais. E então, como uma última tentativa de tê-lo por perto, liguei do meu celular para o telefone de casa, ouvindo-o chamar dezenas e dezenas de vezes - e era incrível que a compania telefônica ainda não houvesse cortado a linha - só para ouvir a gravação que viria no final.

-"Alô? Você ligou para a casa de Jennifer e Oliver Summers. Deixe o seu recado após o bip que retornaremos assim que pudermos. Obrigado. Diga obrigado, Jenni. (Obrigada!Beijos.)"

_ Oi vô. É a Jenni. Eu só queria falar que...Que eu...Sinto sua falta. - sussurrei, antes de desligar e ligar novamente, só para ouvir a voz dele.

Não me importa se você acha que esse tipo de coisa não é normal. Acho que cada um que já teve a péssima experiência de perder alguém que amava muito sabe exatamente do que eu estou falando. Não me lembro quantas vezes eu liguei de novo e de novo para ouvir a mensagem antes que eu caísse num sono profundo e pesado. Só percebi que havia adormecido quando ouvi o som da campainha e vi que já era dia.

_ Tem meses que não mora ninguém aqui. Por que estão tocando a campainha? - resmunguei, descendo as escadas ainda sonolenta. E, assim que percebi quem era, sequer consegui pensar como foi que ela adivinhara que eu havia voltado. - Rachel?

_ Jenni! - ela gritou, abraçando-me forte.

_ Como você sabia que eu tinha voltado?

_ Eu acordei pensando muito em você. Sabe quando você tem um pressentimento ruim em relação a outra pessoa? Daí eu te liguei e você não atendeu. Liguei na universidade e, depois de muito trabalho, consegui que transferissem a ligação para o telefone do seu alojamento. Falei com a Susie, sua colega de quarto, que disse que você havia voltado para Londres. Eu nem acreditei. Achei até que ela estivesse brincado. Perguntei mil vezes o motivo de você ter voltado mas tudo o que ela dizia era 'quando ela chegar aí ela te explica'. Acho que ela não gosta muito de mim. Mas talvez fosse algo tão sério que ela sequer soubesse como contar. Ah, Jenni! Você não faz ideia das teorias horríveis sobre o que houve que eu fiquei pensando enquanto vinha pra cá.

_ Quem trouxe você?

_ O Ethan. Quer que eu fale pra ele ir embora e voltar mais tarde?

_ Sim. Faça isso.

_ Tá bom. - ela me olhou um pouco assustada e acenou para o carro parado na esquina - Agora me conta. Quero saber tudo.

_ É melhor você se sentar.

_ Ai, Jenni! Desse jeito você vai me deixar de cabelos brancos antes da hora. - ela resmungou, sentando-se no sofá. - É sério assim?

_ Pois é, Rachel. Meio que...é.

_ Conta logo.

_ Eu tô grávida.

_ Muito engraçado - ela sorriu de maneira irônica - Agora me conta e sem gracinha. Você tá doente? É sério?

_ Rachel, eu estou grávida. Eu nunca brincaria com isso. Ainda mais com você.

_ Uau. - ela sussurrou, fitando o chão - Isso não é bom. Não é nada bom.

_ Bem, não é péssimo também. Podia ser pior.

_ De quem é? É algum cara da faculdade?

_ De quem você acha que é, Rachel? - perguntei irritada pela forma como ela falara. - É do único cara com quem eu já transei. O Connor. Você sabe disso.

_ Você tem certeza?

_ Você tá me ofendendo.

_Mas... Eu não acredito que vocês não usaram camisinha. Jenni, eu deixei tudo preparado pra vocês naquele quarto. O pacote estava na escrivaninha ao lado da cama. Tudo o que você tinha que fazer era esticar o braço e pegar.

_ Eu sei. Desculpa. - murmurei, sem olhá-la nos olhos.

_ Qual o problema de vocês?

_ Eu não sei. Era minha primeira vez. Eu estava nervosa. Nem estava pensando direito. Eu não me lembrei.

_ E ele? Como ele pode ter esquecido? Como aquele idiota pode fazer isso com você? Ela sabe muito bem como essas coisas funcionam. Sabe muito bem que você poderia ficar grávida.

_ Não o culpe, Rachel. Talvez ele não tenha pensado também.

_ E você ainda tem dúvida disso? Com certeza ele não pensou. Não tinha nada na cabeça. Um completo idiota. - ela levantou do sofá e continuou com o discurso, andando nervosamente pela sala.

_ Rachel! - eu gritei.

_ O que é?

_ Isso não tá ajudando. - sussurrei - Aconteceu. Eu errei e sinto muito por isso. Mas ficar se lamentado não vai mudar nada. Ninguém pode voltar atrás.

_ E o que você vai fazer?

_ Eu não sei. Na hora eu só pensava em voltar pra cá. Não queria enfrentar tudo naquela cidade onde eu era praticamente uma estranha. Agora que eu estou aqui, bem, talvez seja hora de eu começar a procurar um emprego. E me preparar, né? Posso comprar alguns livros daqueles que ensinam como ser mãe. Não deve ser impossível.

_ Ele já sabe?

_ Ele quem?

_ Você sabe quem. - ela me fuzilou com o olhar.

_ Não. E você não vai contar pra ele. Prometa que não vai contar.

_ Jennifer, eu sou sua melhor amiga. Eu jamais prometeria uma coisa que eu sei que te prejudicaria.

_ Você não tem nada a ver com isso.

_ Se tem a ver com a sua felicidade, eu tenho tudo a ver com isso. Você não vai ficar sozinha nessa. Ele é o pai. Ele precisa saber.

_ Não conte a ele, por favor. Eu não vou aguentar ser rejeitada de novo.

_ Ele nunca te rejeitou, J. É tudo coisa da sua mente. Ele apenas não é o que você quer e precisa que ele seja. E disso você não pode culpá-lo.

_ O que você acha que eu preciso que ele seja?

_ Alguém capaz de tapar o buraco que você tem aqui - ela apontou para o meu peito - Mas ninguém além de você pode tapar esse buraco.

_ Isso não é verdade. Eu não acho que exija tanto assim dele. E eu sei que ele não quer estar perto. Não quero obrigá-lo a nada.

_ Jennifer, eu amo você. Não me odeie por isso. Mas eu não vou deixar que você acabe com sua vida. - ela disse, me olhando nos olhos, antes de pegar o telefone e começar a discar. - Alô. Oi Connor. Tudo bem? Sim, é a Rachel.

_ Por favor, não... - implorei, segurando em seu braço.

_ Adivinhe quem voltou a Londres? A Jennifer, você acredita? - ela riu - Pois é. Estamos aqui na casa dela. Você poderia vir aqui? Acho que ela quer falar com você. Sério? Que ótimo. Certo, estamos esperando. Outro. Tchau.

_ Por quê? - choraminguei.

_ Eu não vou contar. Você é quem vai. Acho que vocês precisam conversar e muito.

_ Eu não consigo contar isso.

_ Bem, você tem que ser forte agora. E viu só como ele topou rápido vir aqui? Você não acha que seria diferente se ele não gostasse de você?

Todo aquele tempo longe do Connor fez com que eu me acostumasse de tal forma com a sua ausência que eu já evitava pensar como poderia ser nosso reencontro. Mas, definitivamente, em nenhuma das minhas hipóteses seria daquele jeito. Meu coração estava tão agitado que dava a impressão que poderia pular para fora em qualquer instante. Eu estava magoada e com raiva de Rachel, mesmo sabendo que ela fizera aquilo pensando ser bom para mim. Mas, ao mesmo tempo, eu queria que ela ficasse ao meu lado e me protegesse de qualquer coisa que pudesse dar errado naquele dia. Eu não podia evitar. Eu a amava. E sabia que ela estaria sempre ao meu lado.

_ Isso vai dar merda. Tenho certeza que vai.

_ Jenni, primeiro escuta o que ele tem a dizer. Até parece que ele é uma pessoa horrível que vai olhar em seus olhos e mandar você se virar sozinha.

_ E se for assim? - estremeci.

_ Confie em mim. Não vai ser. Ele é o Connor...lembra? Você não se apaixonaria por ele se ele fosse esse tipo de pessoa.

_ É que já faz um tempo. Muita coisa mudou. Eu não vou conseguir fazer isso.

_ Sua barriga vai crescer. As pessoas que te conhecem vão comentar. Uma hora ele vai começar a se perguntar se o bebê é dele. E daí você não vai poder mais esconder.

_ Eu posso fazer isso sozinha. Posso ser mãe e pai ao mesmo tempo. Não preciso usar o bebê pra forçá-lo a ficar comigo.

_ Vocês não precisam ficar juntos se não quiserem, Jenni. Mas ele tem que assumir as responsabilidades dele. A questão do dinheiro, de comprar as coisas pro bebê. E de te ajudar a cuidar dele. Você só tem dezoito anos. Não é justo.

_ Não é o tipo de sonho que eu tinha pra mim, sabe? Ter o cara pelo qual eu sou apaixonada fazendo parte da minha vida de forma tão ausente. Aparecendo em minha casa só pra cumprir suas responsabilidades como pai. Sentir meu coração bater mais forte cada vez que ele aparecer , mas não poder me aproximar.

_ Jenni, uma vez na vida, deixa as coisas acontecerem. E lembra do seguinte... - ela começou a dizer, sendo interrompida pelo som da campainha.

_ Ai, meu Deus! - gemi.

_ Fica calma. Não se esqueça. Ainda é o Connor.

_ O problema é esse. - mordi os lábios. A campainha tocou novamente e ainda estávamos sentadas no sofá.

_ Jenni?

_ O quê?

_ A casa é sua, lembra? Você quem tem de abrir a porta.

_ Ah é.

_ Então vai.

_ Vem comigo. - puxei-a pela mão e caminhamos até a porta.

_ Pronta? - ela segurou a maçaneta.

_ Não. - eu disse baixinho.

_ Então você tem meio segundo para estar. - ela apertou a minha mão, abrindo a porta de vez.

E, depois de tanto tempo, lá estava ele. O garoto que me fascinara desde o primeiro olhar e que me mantinha ainda fascinada mesmo tendo passado tanto tempo. Acho que vocês já estão cansados de me ver descrevendo os efeitos que surgem cada vez que o vejo. Então direi apenas que eu senti as mesmas coisas. Exatamente igual. Sem mudar sequer a intensidade. Minhas pernas bambearam e eu não sabia se era por causa da gravidez ou da presença dele. E tinha quase certeza que se tratava da segunda opção. Minha mão apertava a de Rachel cada vez mais forte. Talvez ela pensasse que fosse mais fácil contar quando eu o tivesse em minha frente. Bem, não era. A partir do momento em que o vi, tive toda a certeza do mundo de que eu não conseguiria contar. Para ser sincera, eu duvidava até da minha capacidade de cumprimentá-lo sem parecer uma pessoa anormal. Isso era irritantemente constrangedor.

_ Jennifer! - ele abriu um de seus sorrisos sedutores. Era impossível não sorrir de volta quando ele sorria daquele jeito. Mas, se eu pudesse me ver no espelho, com certeza veria que a minha face transmitia muito mais medo do que prazer em revê-lo.

_ Oi...

_ Tudo bem, Connor? Olha, eu adoraria ficar mas prometi ao Ethan que a gente sairia hoje. Então até mais tarde pra vocês. - Rachel disse, soltando a minha mão. E sequer adiantou meu olhar de súplica. Ela não ficaria perto enquanto eu contava a ele. Por motivos óbvios, é claro, aquilo era entre eu e ele e não fazia sentido algum que ela ficasse ali. Mas fazia o medo aumentar e aquilo parecer cada vez pior.

_ Tá bom. Se cuida. - ele sorriu, beijando-lhe a testa.

Rachel saiu pela porta, mas não antes de me fuzilar com o olhar como que dizendo 'não ouse não contar'. Se bem que ele não precisava saber exatamente naquele momento. Já que ela tinha ido embora e ele estava ali só para mim, eu não precisava estragar tudo logo de cara. Na verdade qualquer momento parecia o pior possível.

Quando ele virou-se novamente para mim, o pânico tomou conta do meu corpo. Era o nosso reencontro e, embora acontecera alguns anos antes do que eu esperava, estava sendo estranho e constrangedor. Eu não sabia o que dizer ou como agir para ganhar algumas horas a mais com Connor antes de estragar tudo. E o pior era que aquele 'estragar tudo' poderia significar estragar mesmo. Para sempre.

_Então...

_Sente-se. - eu pedi, apontando para o sofá - Você quer alguma coisa? Uma água, um refrigerante, algo pra comer?

_E já deu tempo de fazer compras desde que você chegou?

_ É...não. - sorri envergonhada - Desculpa. Ainda não tive tempo sequer de pensar nisso.

_ Você pretende ficar por muito tempo?

_ Sim. Bastante tempo. - mordi os labios, com a certeza de que ele perguntaria o motivo.

_Certo. Eu preciso entregar uns papeis perto da praia. Eu já estava a caminho quando a Rachel ligou. Você pode ir comigo. A gente almoça e eu te levo pra comprar o que você precisa. O que acha?

_Seria legal - sorri.

Connor me contou que seu pai era um empresário e que, não fazia muito tempo, ele lhe pedira para fazer pequenos serviços para a empresa como forma de ter seu próprio dinheiro. Seu pai sempre o preparara para ser o seu sucessor mas, até que ele aprendesse tudo, ainda havia um longo caminho pela frente.

Ele me contou sobre o quanto seus pais haviam sido exigentes com ele em relação a tudo e durante toda a vida. Mas ele pensava diferente e tinha uma personalidade absolutamente oposta à deles, o que o tornava, por muitas vezes, uma decepção. Mas já fazia um tempo que ele havia parado de se importar.

Eu apenas fiquei a escutar em silêncio. Ele nunca falara de si mesmo para mim, e saber um pouco mais, naquele momento, me deixava um pouco mais calma. Era como se ele se tornasse mais real.

Depois de entregarmos alguns envelopes em uma das empresas associadas à do pai de Connor, paramos em um restaurante próximo á praia para almoçar. Eu ainda não havia contado nada. Nem sobre os meus meses na universidade, sobre as situações pelas quais eu passara e muito menos sobre o motivo de eu ter voltado. Connor parecia perceber a minha hesitação e então não exigia nada disso de mim. Ele me poupava contando mais algumas coisas sobre os anos em que viajou pelo mundo, sobre os primeiros meses na faculdade nova, no emprego novo, sobre seus professores,colegas e amigos.

Ficamos cerca de uma hora conversando e rindo muito. Para quem observava de longe parecia que nos conhecíamos muito bem. Mal sabiam eles que aquele era apenas um lado de Connor. O lado que fazia com que eu me sentisse bem e confortável, como se nunca houvéssemos nos separado uma vez sequer. Mas havia aquele outro. O lado repleto de mistério, o rosto sem expressão que nunca me permitia decifrar o que ele pensava ou sentia. O lado que me deixava tão confusa quanto atraída. E eu era inevitavelmente apaixonada por ambos os lados.

Aquele início de tarde veio com um pouco de sol. Quente o suficiente para que fosse uma boa ideia tirar os casacos e caminhar um pouco pela praia. Eu não podia evitar que as lembranças fluíssem juntamente com as ideias. Fora naquela mesma praia que nos beijamos pela primeira vez. Num dia parecido com aquele. A diferença era que tudo o que se sucedera após aquele beijo gerara um fruto de tudo o que eu sentia por Connor. E, naquele dia, o fruto do nosso amor estava conosco. Em carne e osso. Dentro de mim. E ele não fazia a menor ideia.

_Você quer beber alguma coisa?- ele perguntou assim que avistou ao longe um daqueles carrinhos de bebidas.

_Sim, por favor.

_Fica aqui. Eu já volto.

_Pra onde mais eu iria? - eu ri.

Vislumbrei o mar próximo, admirando sua beleza e surpresa ao perceber que nunca havia ido á praia nos meses que passei em Liverpool. Eu evitara tudo que remetesse ao Connor simplesmente para tirá-lo da minha cabeça. Pensar naquilo, naquela mesma praia, tornava perfeitamente perceptível o quão idiota era qualquer tipo de ação que eu tomava pensando nele. Sim, estão total e absolutamente certos quando dizem que estar apaixonado por alguém te torna cada vez menos racional. Eu já havia perdido a razão há muito tempo. Era impossível apagar as lembranças dele se a maior parte delas estava dentro do meu corpo e da minha mente.

Tirei os sapatos e caminhei pela areia até que a água gelada cobrisse os meus joelhos, deixando encharcada boa parte da minha calça. Aquela sensação me relaxava, dava vontade de ficar por mais tempo. Connor comprou dois refrigerantes e sentou-se à alguns metros de mim, observando-me. Ao perceber que ele me olhava, respirei fundo e voltei para perto dele.

_Aqui está. - ele me passou o refrigerante.

_Obrigada. - eu sorri, sentando-me ao seu lado.

_Você tá toda molhada.

_Ah! Jura? - eu ri, torcendo a barra do meu jeans para tirar um pouco da água.

_Vai ficar gripada.

_Se eu estou bem e saudável até hoje, mesmo depois de tudo o que passei - tomei um grande gole do meu refrigerante - nada mais me atinge.

_Certo, certo. Só veste isso - ele me estendeu o seu casaco.

_Brigada. - eu sorri, completamente sem jeito quanto á sua repentina demosntração de cuidado.

_É lindo,não é? - suspirei, sem tirar os olhos do mar.

_Sim. Lembra que já estivemos aqui uma vez?

_É, lembro. - gaguejei, soltando o coque dos meus cabelos para que ele não me visse corar.

_Eu gosto do seu cabelo assim. - ele aproximou-se com aqueles olhos negros e penetrantes.

_Obrigada.

_Então...Você voltou.

_É. Voltei.

_É que.... - pigarreei - a faculdade estava muito difícil. Eu não estava conseguindo acompanhar. E eu sentia falta dos meus amigos. Senti falta de casa. Tive que voltar.

_E você vai abandonar a faculdade?

_Não - menti - Vão me transferir pra faculdade daqui assim que a papelada estiver pronta.

_Você sabe que notas ruins podem ser melhoradas com um pouco de estudo, não sabe?

_Sim, mas...

_E você é uma das garotas mais inteligentes que conheço. Sempre via você com a cara enfiada nos livros,

_Eu estou falando a verdade.

_Então o principal motivo de você ter voltado foram os seus amigos?

_Sim! - afirmei irritada.

_Você é uma péssima mentirosa. Sabia disso? - ele sussurrou, fazendo-me arrepiar com o toque de seus lábios em meu ouvido. O seu cheiro ficou muito mais intenso quando ele se aproximou. E não mudara nada. Era exatamente do jeito que eu me lembrava.

_Eu...

_Estou brincando. - ele riu - Fico feliz por você ter voltado.

_É...- respirei aliviada.

Foi então que o outro lado de Connor entrou em cena. Os seus olhos penetravam os meus de forma tão hipnotizante que eu sequer conseguia me mover. Seu rosto se aproximou e ficou tão perto que tive medo que ele escutasse as batidas desesperadas do meu coração. Eu quis sentir raiva. Quis machucar-lhe e perguntar quem ele achava que era para ficar tão longe e depois aproximar-se daquela forma, como se nada houvesse acontecido, apenas para me deixar mais confusa e angustiada. Mas eu só conseguia ficar ali, parada, sem tirar os olhos dos dele. Quando ele segurou o meu queixo era como se tudo dentro de mim tentasse me dizer que eu não deveria permitir que aquilo continuasse. Estava errado.

_Connor... - eu o afastei com as mãos.

_Tem outro cara, não tem? Eu deveria ter imaginado. Me desculpe.

_O quê? Não! Não tem cara nenhum. É só que...Eu não posso.

_Tudo bem. Relaxa. Eu vou levar você pra casa.

_Não! Relaxa você, ta? - eu segurei forte seu braço. - Só me escuta. Näo é que eu não queira, é só que...Não seria justo com você.

_Não seria justo comigo? - ele franziu a testa

_É que eu acho que você não vai querer ficar comigo quando souber a verdade.

_Que verdade, Jennifer?

_Que você estava certo. Eu sou uma péssima mentirosa.

_O quê? -ele riu - Eu só estava brincando.

_Os motivos pelos quais eu disse que voltei não eram verdadeiros. Quero dizer, é claro que eu senti falta de todos, mas poderia simplesmente vir vê-los nas férias e feriados. E eu mantive as minhas notas altas na universidade até porque precisava delas para manter a minha bolsa. Existe outro motivo pelo qual eu vim.

_Eu sabia que não era verdade. - ele acariciou-me o rosto.

_O quê? Sabia? E não ficou bravo?

_Eu não me importo, Jenni. Seja lá qual for o seu motivo: você é uma garota esperta. Se achou que a melhor decisäo era voltar pra cá, então realmente era a melhor. Não me importa qual o motivo. Me importa apenas que você está aqui agora. - ele disse, aproximando novamente a sua boca da minha.

_Eu estou grávida! - eu disse finalmente, em voz alta, afastando-me dele.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 12/04/2015
Código do texto: T5204861
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