Segunda-feira - Capítulo 4
Capítulo 4
- É sério isso? Você e seu amigo na casa da Tess pra estudarmos o tema do nosso trabalho? – Perguntou Renata, sem se importar com a rispidez em suas palavras. Ela ouviu Rafael dar um suspiro, chateado. – Com tantos dias na semana vocês escolhem domingo de manhã pra fazermos isso? E como a Tess descobriu seu telefone?
Renata andava apressada em direção à rua da casa de Tess.
“Combinamos esse horário porque era o único que o Ben tinha disponível, Renata. E assim como você tem acesso à internet, a Tess também tem. E porque todo esse mau humor?”
- Por nada, não estou mau humorada, Pellegrino.
“Pellegrino? Sério isso? Você sonhou comigo pra estar tão mau humorada assim?”
Automaticamente Renata se calou, constrangida e surpresa com a pergunta de Rafael. A risada leve do rapaz fez seu estomago girar.
- Claro que não! Nossa! Você não cansa de ser esse idiota convencido?
“Sonhou com o que?”
- Rafael...
“Foi bom?”
- Pare!
“Fala!! Se você não falar eu vou pensar que estávamos fazendo sexo, o que honestamente falando é um grande sonho.”
- Se você se acha tão gostoso assim porque não casa com você mesmo?
“Simples. É porque vou me casar com você!”
- Ha, ha, ha, seu bom humor quase que me contagiou, quase.
“Fala, por favor!”
Ela olhou pra trás, para ver se tinha alguém próximo o bastante para ouvir sua conversa bizarra e respondeu.
- Sonhei que eu estava comprando roupas para alguma coisa muito importante, você aparecia com esse seu sorriso cafajeste e me... Hã... Me agarrava dentro do vestuário e nós transávamos.
“Uau...”
- Rafael...
“Se você quiser eu transformo esse sonho em realidade agora mesmo.”
- VAI PRO INFERNO!
Renata desligou o celular com raiva. Seu rosto estava vermelho e ela sabia que não era somente por raiva de Rafael.
Ao parar em frente à casa de Tess, respirou fundo. O carro de Rafael já estava estacionado lá.
- Paciência, Renata. Isso que dá aceitar as sugestões da sua melhor amiga.
E como já era “da casa”, abriu o portão e entrou. Passou pelo corredor e viu através da janela que Tess e um rapaz negro conversavam animadamente no sofá, entrou na cozinha e viu Rafael sentado à mesa, bebendo água e olhando o celular, distraído.
Quando os olhos dele fixaram-se no castanho dela, seu sorriso derreteu parcialmente o seu mau humor da garota. Ele ficou de pé e notou que Renata vinha em sua direção, mas então ela desviou, indo até Tess, que estava atrás de Rafael.
- Amiga! - Tess a cumprimentou animada e exibindo um sorriso que Renata conhecia bem. – Eu sei que você odeia acordar cedo no domingo, mas foi necessário...
- Sem problemas... – O rapaz com quem Tess estava na sala se aproximou das duas. Renata podia sentir o olhar de um certo rapaz queimando suas costas, mas ignorou.
Ben era um rapaz negro bem alto, forte, sorriso sincero e olhos castanhos serenos. Parecia ser o tipo de pessoa que poderia ser confiado os maiores segredos. "Faz sentido a amizade o canalha do Rafael ter amizade com ele." - Pensou Renata, com certa amargura.
- Rê, esse é o Ben, amigo do Rafael. Ben, essa é a Renata. – Os dois trocaram o famoso “dois beijinhos”.
- Fico feliz por conhecer a famosa Renata!
- Famosa...? – Ela se virou para fuzilar Rafael com o olhar rapidamente, depois voltou a olhar Ben e Tess. – Imagina...
- Bom, vamos ao trabalho? – Murmurou Rafael, temendo que Renata ficasse ainda mais irritada.
Os quatro foram para a sala e por longas horas estudaram a teoria de Psicologia Criminal.
Já era noite quando eles pararam de estudar, pois Ben precisava ir embora. Tess o levou até a porta, deixando Rafael e Renata sozinhos na sala.
Ela lia um livro a respeito do tema, mas sabia que estava sendo atentamente observada.
- O que? – Perguntou Renata, tirando os olhos do livro e fitando Rafael.
- Você fica sexy demais de coque. Tenho que admitir.
- Cala a boca!
- Bom, eu sou seu amigo né? – Ele não deixou o tom de ironia ao perguntar. – Amigos elogiam uns aos outros.
- Eu não vou te elogiar.
- Não precisa, deixa que eu te elogio.
- Você quando quer irritar é pior do que criança, já disseram? - E largou o livro. Renata soltou o coque que prendia os cabelos e os ajeitou com os dedos. – Preciso ir embora.
- Eu te levo!
- Prefiro o ônibus.
- Meu carro não tem aperto!
- Mas tem você.
Eles se olharam por um tempo, até que Rafael bufou, chateado. Renata ajeitou os livros e colocou sob a estante. Quando Tess voltou, um sorriso bobo estampava seu rosto.
- Bom, nós já vamos indo... – Renata murmurou, e depois automaticamente se arrependeu, pois sabia que a amiga entenderia o “nós” errado.
- Nos vemos amanhã na aula?
- Sim, claro. – As duas se abraçaram. – Boa noite, Tess.
- Boa noite, Rê! – Tess trocou dois beijos no rosto com Rafael. – MUITO obrigada mesmo. Você e o Ben foram demais.
- Imagina, o prazer foi meu e acredito que dele também.
Renata e Rafael saíram juntos da casa de Tess. Como sabia que seria impossível ele deixa-la ir sozinha para casa, entrou no carro.
- Achei que preferisse o ônibus.
- Cala a boca.
Rafael entrou em seguida com um largo sorriso no rosto. Colocou a chave na ignição e ligou o carro e deu partida.
- Então... – Renata murmurou, olhando para ele. – Eu estava pensando sobre isso de sermos amigos.
- Pensando o que?
- Se um dia eu chegar em você e falar “eu estou apaixonada por um cara e quero casar com ele” não vai ficar estranho?
- Se um dia você se apaixonar por alguém eu vou querer conhecer esse cara para saber se ele realmente a merece... Mas respondendo a sua pergunta, não. Acho que não.
- Porque acha?
- Eu nunca parei para pensar nisso. Acho que eu me preocupo mais com a necessidade que eu tenho de estar sempre perto de você.
- Ah, claro... – Renata revirou os olhos. – Se você dependesse da sua voz para ganhar dinheiro jamais morreria de fome.
- Eu estou falando a verdade, Renata.
- Eu não vou ao seu casamento. – Declarou, firme. – Eu acho que não tenho estomago pra isso.
Rafael sorriu de lado, sabia que no fundo Renata precisava dele também, só era durona demais para admitir.
- Eu não vou casar, Renata. Eu não amo a Adriana.
- E está noivo dela porque?
- Porque eu sou fraco demais para dar um basta na minha mãe.
As palavras dele deixaram Renata sem saber o que responder. Ela queria retrucar, dizer qualquer coisa que não a deixasse acreditar. Sabia que não poderia, que Rafael já mentira uma vez e poderia facilmente mentir de novo.
O rapaz respirou fundo. Falar de sua família nunca fora uma tarefa fácil, mas continuou.
- Quando eu disse pra você que minha família era de um comercial de margarina era por que para os outros somos a família mais bonita do mundo. Só que a verdade não é bem essa. – Ele apertou as mãos no volante. – Meu pai é advogado, trabalha pra uns tipões meio barra-pesada. Minha mãe é dominadora, ela controla a vida do meu pai e por algum tempo controlou a minha, que foi exatamente quando eu conheci Adriana.
Renata apenas o olhava, guardando cada informação.
- Minha mãe forjou um encontro entre eu e ela, sem eu saber que as duas se conheciam. Eu descobri há 3 meses que elas eram amigas, então eu saí de casa, pois não dava mais para viver com a minha mãe e Adriana viajou a trabalho, o que foi como uma “fuga” quando ela soube que eu iria terminar com ela.
- E como você lida com isso hoje? – Renata perguntou, e apesar das revelações do rapaz, manteve a mesma postura.
- Eu evito o máximo a minha mãe. Ela as vezes me liga, fala que tudo o que fez é pro meu bem, que me criou para estar junto de uma grande mulher etc, etc e etc...
- Ela parece ser mesmo controladora.
- Sim, ela é. Quando eu saí de casa falei a ela que se novamente se metesse na minha vida eu iria embora para outro estado.
Renata riu, mas o coração disparou ao imaginar Rafael indo embora.
- Já tentou ver pelo lado de mãe? Ela não deve fazer essas coisas por mal... Eu acho.
- Teve um tempo que achava que não era, mas minha mãe começou a se meter em todos os meus relacionamentos. A ponto de fazer eu terminar com duas garotas. Tudo tem um limite, até na relação mãe x filho...
Renata assentiu. O carro de Rafael estacionou em frente à casa dela. Novamente a vontade de não deixa-lo ir embora a invadiu.
- Eu tive um único namorado, como você sabe. – Falou. – Minha mãe nunca se intrometeu no meu relacionamento, e eu sabia o porquê.
- Porque?
- Uma vez ela me disse que era um relacionamento certinho demais. Não brigávamos, nunca discutíamos, nunca chorei por causa dele. Eu não tinha motivos, pra ser sincera...
- E isso a incomodou?
- Não. Eu sabia que era a verdade, mas não conseguia sair do conforto que era ter um namoro previsível. Sem sustos ou surpresas. A única surpresa que meu ex-namorado me deu foi quando terminamos. O motivo me surpreendeu. – Rafael gesticulou para que ela continuasse. E surpreendendo a si própria, continuou. – Ele terminou comigo por eu ser virgem.
- Você tá me zoando!
- Eu não conseguia ir pra cama com ele. E isso com o tempo virou um problema. Até que quando terminamos essa foi a justificativa dele.
- Eu não sei se digo sinto muito ou não. – Eles se olharam brevemente. Renata desviou, tímida. – Mas obrigado por me contar isso.
- Nem sei porque contei, acho que é porque você me contou sobre a sua mãe.
- Ou porque você quer confiar em mim.
- Não.
- Eu te beijaria nesse momento, mas vou seguir respeitando a sua decisão. Só amigos.
- Obrigada. – Murmurou, suavemente e deu um beijo no rosto de Rafael. – Boa noite.
- Boa noite. – Ele disse, a voz também suave, mas o coração batia num ritmo acelerado.
Ela desceu do carro, e Rafael a seguiu com o olhar até a hora em que a porta da casa foi aberta e garota entrou.
- Talvez essa seja a peça que a vida ia me pregar. – Falou para ele mesmo, ligando o carro novamente e indo embora. – Tsc, tsc – Balançou a cabeça, mas riu. – Quem diria, Rafael Pellegrino, quem diria...
____________________________________________________________
Próximo capitulo que postarei em breve :-)
- Você disse que respeitaria o que eu te pedi...
- Shhh... Vamos fingir que amigos também se beijam as vezes.
Ele se deitou ao lado dela, e a aninhou em seus braços. Renata soltou um longo suspiro.
“Deus... Porque ele tem que ser assim tão... Tão irresistível?” – Pensou, respirando o cheiro de Rafael.