Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 41

Um mês se passou a minha gravidez tornava-se cada vez mais aparente. A barriga já crescera a ponto de causar incômodos quando eu me sentava ou até mesmo para dormir. Como eu sempre fora magra, ainda era possível disfarçar com vestidos e regatas largas para evitar que as pessoas da rua me olhassem com pena - a pobre garotinha sem família agora estava grávida de um cara com o qual nem era casada.

Mas, por mais que eu pudesse evitar que as pessoas descobrissem, eu não poderia esconder de mim mesma aquela criança que crescia dentro de mim e bagunçava toda a minha vida. Os sonhos com ela tornavam-se cada vez mais escassos, mas eu sentia a sua presença o tempo todo, como se ela estivesse ao meu lado ao me fitar com aqueles penetrantes olhos negros. Os sintomas físicos, como os enjôos, náuseas e dores nos seios, já quase não existiam mais, apesar dos meus seios terem chegado quase ao dobro do tamanho com o qual eu estava acostumada. Porém, mesmo com os sintomas físicos diminuindo, a instabilidade emocional que tomava conta de mim quase me fazia perder a cabeça. Eu me sentia como uma pessoa com dupla personalidade. Sentia vontade de chorar por motivos bobos. Sentia alegrias exacerbadas por uns momentos, e tristezas inexplicáveis em outros. Me sentia tão fora de mim como se eu nem fosse mais eu. Entretanto, quando eu sentia aqueles sutis movimentos dentro de mim, e me lembrava do sorriso daquela menininha dos meus sonhos, eu tinha certeza de que tudo aquilo valeria a pena. Não é muito fácil de fazer entender a quem nunca passou por esse tipo de coisa. Mas é uma experiência incrível.

Depois de muitas tentativas, Connor conseguiu um emprego em um cargo administrativo em uma grande empresa. Era a parte boa da influência que ele adquirira por ser filho de quem era. Ele ganhava mais ou menos a mesma quantidade que ganhava quando trabalhou com seu pai. Mas o seu pai não mais o ajudava com as contas ou com a faculdade, o que fazia com que tudo ficasse muito mais complicado. Daí ele teve de trancar a faculdade, mesmo com os meus inúmeros protestos contra isso.

_ Eu não quero que você faça isso. Não quero ferrar com o seu futuro.

_ É só por um tempo, querida. Não é culpa sua meu pai ter cortado até o que ele me dava para pagar a anuidade.

_ É totalmente culpa minha.

_ Não. É conseqüência da escolha que eu fiz.

_ Eu sou o centro dessa escolha.

_ Não quero que você se sinta culpada. É só até as coisas se ajeitarem. Quando tomamos grandes decisões, algumas mudanças devem ser feitas para que tudo se encaixe. Quando eu voltar para a universidade, você vai voltar também. Com sua determinação, vai acabar sendo uma das maiores jornalistas de Londres.

_ Isso não é justo! Você não vai trancar a faculdade!

_ Eu já me decidi, querida.

Me doía o coração ter de ver as mudanças ruins que eu fazia na vida de Connor. Ele tinha uma boa vida, um bom emprego, e era o orgulho de sua família. Eu estava arruinando tudo. E ele agia como se estivesse tudo ótimo. Era impossível desvendar o que ele sentia. Eu sabia bem que ele escondia a dor só para me proteger. Mas não havia ninguém que entendia mais sobre dor do que eu.

Entretanto eu sabia que ele estava certo. Naquele momento nós tínhamos que nos centrar em criar uma base sólida para o nascimento da criança que estava por vir. E, para criar aquela base sólida, dinheiro era muito importante e qualquer gasto muito exorbitante que não dissesse respeito a isso devia ser cortado. Mas e nosso futuro? Bom, naquele momento, o nosso futuro era aquela família que passaria a existir dali a cinco meses.

Ainda que eu tivesse trancado a faculdade, eu sabia que não poderia ficar parada. Uma hora o dinheiro iria acabar, e eu precisava daquilo, precisava pagar todas as contas que chegavam pelo correio a cada mês. Eu precisava ter o suficiente quando chegasse o momento de comprar fraldas e berços e ainda ter dinheiro sobrando para aqueles passeios de fim de semana que eu sempre me via fazendo quando pensava em como seria quando tivesse minha própria família. Connor não conseguiria sustentar a tudo aquilo sozinho. Por isso eu fui a uma loja do bairro onde todos me conheciam, já que meu avô sempre me levava para comprar roupas. Ao saberem da situação, eles me contrataram para trabalhar como atendente e eu ganhava adicionais sempre que fazia horas extras. Era um trabalho meio cansativo, que tomava todos os meus dias, inclusive alguns fins de semana. Mas ajudava bastante. Connor e eu até havíamos aberto uma conta no banco onde depositávamos todo mês certas quantias para as despesas de quando o meu parto ficasse mais próximo.

Quando completaram-se exatos quatro meses e duas semanas de gravidez, eu não me continha de curiosidade para descobrir o sexo da criança. Todas as minhas intuições, além dos sonhos, indicavam que era uma garota, mas eu não poderia ter certeza de nada. Connor havia marcado uma ultrassonografia para o dia seguinte e, para confundir ainda mais a minha cabeça, naquela noite eu sonhei com a garotinha.

Era um cenário encantador. Tão bonito que eu não fazia ideia de como a minha mente conseguia criar todas aquelas coisas. Era um enorme campo de margaridas. O céu estava claro e com um azul quase sem nuvens. Tanto eu quanto a garotinha usávamos vestidos brancos e longos, e a brisa suave que soprava o céu fazia-me sentir tão leve como se eu pudesse voar. Eu estava muito feliz. Qualquer coisa me era motivo para sorrir. Aquele lugar era lindo e eu estava com minha filha. Não havia mais aquele silêncio sombrio dos sonhos que eu geralmente sonhava. Os sons da natureza eram como musica. E minha menininha cantarolava com sua voz doce, enquanto passava as mãozinhas por aquele abundância de flores. Eu nada dizia. Não me importava com as dúvidas que tinha e com nenhum tipo de medo. Eu só sentia amor. E queria ficar ali para sempre, onde tudo é apenas bonito. Sem nenhum 'mas'.

O vento soprou um pouco mais forte e os cabelos da menina se agitaram em sua face, o que a fez fechar os olhos e rir. Eu os ajeitei atrás de suas orelhas e sorri para ela.

_ Eu não vejo a hora de ter você comigo. - eu disse.

_ Mas eu sempre estou com você, mamãe. - ela me olhou séria. Eu sentia meu coração disparar a cada vez que ela me chamava de mamãe.

_ Eu sei, mas eu não posso te ver, não posso te tocar.

_ Mas você pode me sentir. E eu te sinto também. E eu te escuto. Você fala comigo o tempo todo. Canta pra mim dormir. Eu sempre durmo quando você canta, sabia? Sua música de ninar é minha favorita no mundo todo. - ela disse, e eu sorri.

_ É, você está certa.

_ Mamãe?

_ Sim, querida?

_ Você já vai acordar.

_ Eu não quero acordar. Eu quero ficar aqui com você, quero ficar pra sempre.

_ Mas as pessoas precisam de você. Principalmente o papai.

_ Não precisam, meu amor. Minha presença só complica ainda mais as vidas deles.

_ Não é verdade. Você transformou a vida de todos eles. Você deixou essa marca e não pode simplesmente sumir.

_ Não quero acordar. Não quero voltar àquele emprego chato, a todas aquelas obrigações. Eu me sinto tão cansada.

_ Vai passar. E eu vou estar lá com você. Eu te amo, mamãe.

_ Eu também a amo. Mais do que a minha própria vida.

_ Não diga isso, mamãe. Sua vida também é importante.

_ É a verdade. - eu disse, sentindo as imagens se tornarem cada vez menos nítidas. Era sempre assim quando eu estava perto de acordar. - Eu já estou acordando, não é?

_ Sim.

_ Hoje eu vou ver pela primeira vez, sabia? Pelo ultrassom. - sorri.

_ É eu sei.

_ Então até logo.

_ Mamãe?

_ O quê?

_ Só mais uma coisa...Meu nome é Hailie.

E então toda a beleza do sonho desapareceu para dar espaço á monotonia do meu quarto. Não, eu não saíra dele. Preferia a minha cama pequena de solteira do que as lembranças tristes do quarto do meu avô. Connor já havia brigado tantas vezes comigo por causa disso. Dizia que eu guardava um túmulo dentro de casa. Até tentou me ajudar a livrar-me das coisas do meu avô e levar as minhas coisas para o quarto dele. Foi horrível, doloroso demais. Eu acabei doando as roupas dele para uma instituição de caridade e redecorei todo o quarto ao meu gosto. Mas nada mudou. Eu podia sentir aquela forte presença sempre que entrava no quarto.

A cortina estava fechada mas a luz do sol iluminava o quarto ainda assim, por pequenas frestas. O dia estava muito frio, a neblina cobria quase toda a paisagem da minha janela. Mas eu sentia um calor reconfortante dentro do meu coração. Eu sentia aquilo só de lembrar da voz doce, do rosto e das mãos pequeninas da minha filha. Eu não via a hora de vê-la pela primeira vez. Mal podia acreditar que aconteceria dali a pouco.

Me agasalhei como pude. Eu me sentia inchada e era muito desconfortável a forma como os meus sapatos e roupas me apertavam. Aquela criança estava cada vez maior, e isso causava certos incômodos quando eu ia me sentar, me levantar, e até mesmo para dormir. Em alguns momentos eu me punha a pensar que seria bom se Connor fosse morar comigo. Facilitaria as coisas. Mas não era uma boa idéia. Era 50% de chance de não dar certo.

Eu já conhecia o médico no qual Connor me levou. Já o havíamos consultado algumas vezes desde que voltei para acompanhar de perto a gravidez. Connor podia ser estranho e meio fechado, mas tinha um carinho e cuidado imensos para comigo. Era como se eu fosse a coisa mais preciosa que ele tinha. E, de certa forma, era. Eu era a única pessoa que realmente precisava dele. E eu sabia que ele reconhecia isso. E mais: ele adorava.

O médico era um homem que já havia passado dos seus quarenta anos. Os cabelos eram grisalhos e ele tinha um olhar que transmitia calma e serenidade. Justamente por isso que eu decidira que seria ele quem faria o meu parto. Calma e serenidade seria tudo o que eu precisava.

Ele sorriu para mim e mandou que a enfermeira me ajudasse a deitar numa maca branca. Connor andou até mim com o seu decidido "pode deixar que eu faço", com o qual eu ainda não me acostumara. Segurou a minha cintura e, com cuidado, me ajudou a subir. Eu ri com o seu exagero. Minha barriga nem estava tão grande. Eu poderia facilmente subir ali sozinha.

Havia uma tela do tamanho de uma televisão comum, com vários fios ligados a ela. O médico sorriu e explicou que era ali que eu veria o meu bebê quando ele aplicasse o ultrassom em minha barriga. Meus olhos brilharam de ansiedade. Primeiro a enfermeira colocou um gel gelado em minha barriga, fazendo-me estremecer, até que me acostumasse. Depois ela ligou um aparelho que parecia uma espécie de chuveiro, todo branco e com uma superfície de metal.

_ Respire fundo e tente relaxar, ok? - ela disse.

_ Isso vai doer?

_ Não,querida. Não vai doer nadinha.

Mais arrepios tomaram conta de mim quando o metal gelado tocou minha pele. A enfermeira espalhou o gel pela minha barriga com a superfície do aparelho e eu olhei ansiosa para a tela. Primeiramente ela estava preta. Depois começaram a surgir uma imagens brancas pouco nítidas e um som que parecia a gravação de um tambor que era tocado absolutamente sem compasso e numa rapidez impressionante.

_ São as batidas do coração do bebê? - Connor perguntou espantado.

_ Não, querido. São as batidas do coração dela. - e enfermeira apontou para mim. - Tenta relaxar, querida. Respire fundo.

_ E por que não escuto as do bebê? - ele insistiu.

_ Já vamos chegar lá. Paciência.

_ Paciência... - ele resmungou, fechando a cara.

Senti o metal gelado percorrer outro breve espaço em minha pele, até que ouvi novamente um tamborilar gradual que vinha de dentro de mim. Olhei com ansiedade para a enfermeira e ela sorriu para mim. Eram as batidas do coração da minha menininha. Era a maior prova da existência dela, de que ela estava ali, crescendo dentro de mim. Como se tudo o que ocorrera até ali fosse só um sonho, e escutá-la fizesse com que se tornasse real. Eu ri enquanto dezenas de lágrimas nasciam em meus olhos. As batidas do coraçãozinho dela eram muito mais rápidas do que as do meu. Eu nunca imaginara que algo tão simples, como o bater de um coração, fosse capaz de me deixar naquele estado. Era uma alegria intensa, exagerada, uma vontade de correr até o corredor daquele hospital e gritar que minha filha tinha um coração que funcionava.

_ Você tá ouvindo, Connor? Escuta isso, escuta! Não é lindo? - eu disse empolgada, atropelando as palavras com a rapidez.

_ Eu estou ouvindo. - ele acariciou meus cabelos.

_ Viu o tanto que o coração do nosso bebê é forte? Muito mais do que o meu. Muito mais rápido.

_ Todos vimos. - o médico riu - E agora? Está pronta pra saber o sexo?

_ Ah, mas eu já sei. Eu só quero ver a minha menininha naquela tela.

_ Sabe como?

_ Intuição materna? - brinquei. A alegria irradiava em minha voz.

_ Certo. Então vamos ver... - a enfermeira disse antes de voltar a mover o aparelho pela minha barriga. - Olhe para aquela tela.

Aqueles traços brancos que iam aparecendo eram confusos, irreconhecíveis. Eu me lembrei de como minha mãe me mostrava fotos do primeiro ultrassom que ela fizera quando estava grávida de mim. Lembrava que ela apontava minha mãos, meus pés, minha cabeça, até meu coração. E eu não via nada. Para mim era apenas uma foto de uma tela com um emaranhado branco que mais parecia uma obra de arte pós-moderna do que um bebê. Será que seria daquela forma novamente? Eu não saberia reconhecer minha própria filha?

Mas então a enfermeira apontou uma das mãozinhas e eu a vi. Vi os seus dedos, e como eles se moviam rápido, abrindo e fechando. Ela me mostrou a cabeça e eu consegui ver. O coração foi o mais fácil, pois ele não parava de se mecher. Ela era tão pequena ainda, mas ainda assim pude reconhecê-la, ver alguns traços do bebê que ela viria a ser. Por fim ela apontou para o sexo dela.

_ Isso pode ser meio difícil ver, mas... Parabéns. Vocês terão uma menina.

_ Olha só. - sorriu o médico. - Grande intuição você tem.

_ Eu não disse, eu não disse? - virei-me para Connor - É uma menina.

_ A nossa menina. - os olhos dele brilharam, enquanto ele se aproximou de mim olhando minha barriga como se fosse o troféu mais valioso de um atleta. Ele estendeu as mãos para tocá-la e a médica colocou as dela na frente.

_ Não pode tocar agora, querido. Você vai tirar o gel.

_ Ele pode sim! A barriga é minha e ele pode tocar quando quiser. - eu a fulminei com o olhar. Não entendi muito bem porque fiz aquilo. Olhando de fora parecia extremamente infantil. Mas era a primeira vez que ele fitava minha barriga com tamanho orgulho. Era a primeira vez que ele quis tocá-la. E eu não sabia se haveria uma outra vez. Com Connor eu aprendi a aproveitar cada momento como único.

Ele então tocou a minha barriga e, com cuidado, começou a acariciá-la com um sorriso encantador no rosto. Parecia um garotinho ao tocar pela primeira vez o seu brinquedo novo. Mas não qualquer brinquedo. O brinquedo mais especial do mundo, que ele chegou a desejar por muito, muito tempo. Meu coração disparou-se novamente e eu tenho certeza de que até a nossa filha ficou agitada. Eu senti ela se movendo. Ela sempre se movia mais rápido quando Connor se aproximava de mim. Parecia que ela entendia exatamente como eu me sentia em relação e ele. Talvez ela até entendesse.

_ Ela se mexeu. - ele arregalou os olhos.

_ Ela sempre se mexe quando você me toca. - eu disse baixinho e, juro por Deus, que pela primeira vez na vida, vi Connor ficar envergonhado. Aquele definitivamente era meu dia de sorte.

_ Como ela vai se chamar? Você já pensou em um nome?

_ Na verdade ela quem escolheu.

_ Ah, é mesmo? - ele riu - Quanta determinação. Puxou a mãe, não é mesmo?

_ Que nada.

_ E qual vai ser?

_ Hailie.

Naquele dia eu havia conseguido folga no meu trabalho para fazer o ultrassom. Mesmo sabendo que seria uma coisa rápida e que eu sequer precisaria de folga, mas de apenas umas horas ausente, eu fiquei feliz por isso. Eu me sentia cada vez mais cansada e poderia aproveitar para descansar. Ou ficar com Connor, o que era muito melhor do que qualquer descanso. Não havia sido por acaso que havíamos marcado o ultrassom para quarta feira. Era um dos dias da semana em que ele não trabalhava, já que haviam na empresa outras pessoas com a mesma função que ele. Então é claro que eu estava mais radiante que o normal.

Entretanto, assim que saímos do hospital e entramos no carro, Connor assumiu uma personalidade bem diferente daquela de minutos atrás. Ele estava calado demais, sério demais, misterioso demais. E eu não estava gostando nada daquilo.

_ Então... - tentei puxar assunto - Qual a sensação de ver sua filha pela primeira vez?

_ Bem diferente. - ele disse sem tirar os olhos do volante.

_ Nem me fala. Parece que eu ainda estou sonhando. - eu ri.

_ É.

_ Pra onde você está me levando?

_ Pra casa. Você não precisa almoçar?

_ Sim. Mas e você? O que vai fazer hoje?

_ Resolver umas coisas.

_ Você não tem que trabalhar hoje.

_ Não mesmo. - ele arrumou o espelho retrovisor - Mas tenho que resolver umas coisas.

_ Eu achei que... Nós passaríamos o dia juntos.

_ Desculpa, não vai dar.

_ Mas... Tá. Tudo bem. - suspirei.

_ Chegamos.

_ Por que você tá estranho?

_ Não estou estranho.

_ Tá sim.

_ Não estou estranho, querida. - ele deu um sorriso forçado, beijando minha testa - Se cuida e tente descansar, tá?

_ Tá, tá. - desci do carro emburrada.

_ Qual é a droga do seu problema? - eu gritei logo que entrei em casa, batendo a porta. Claro que ele não ouviu. O seu carro já havia se acelerado e ele estava longe.

Eu não entendia o porque dele ter agido daquele jeito. Ele pareceu ter ficado tão feliz ao ver e ouvir nossa filha naquele hospital. Eu vira o jeito que ele sorriu. O olhar orgulhoso como ele olhou pra minha barriga. Ambos estávamos radiantes em um minuto e, em outro, ele estava todo esquisito. O pior era que nem me surpreendera tanto assim. Apenas me frustara. Afinal de contas, era só o Connor sendo o Connor. Eu não podia culpá-lo, fora exatamente daquela forma, sério e misterioso, que eu me apaixonara por ele. E eu nem fazia ideia das razões dele. Talvez ele estivesse com medo. A realidade era cada vez mais concreta e aquele dia reforçara isso ainda mais. Ele seria pai dali a alguns meses. Talvez estivesse com medo. Talvez estivesse com dúvidas. E se, de repente, ele descobrisse que não estava preparado afinal de contas? Quero dizer, era uma possibilidade. Eu não podia me apoiar tanto nele. E se ele fosse embora? Eu me sentia tão protegida e completa que quebrava meu coração ter de pensar nessa possibilidade.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 19/04/2015
Código do texto: T5213202
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