Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 42

Eu não entendia a razão dele ter agido daquela forma. Ele pareceu ter ficado tão feliz ao ver e ouvir nossa filha naquele hospital. Eu vira o jeito que ele sorriu. O olhar orgulhoso como ele olhou pra minha barriga. Ambos estávamos radiantes em um minuto e, em outro, ele estava todo esquisito. O pior era que nem me surpreendera tanto assim, apenas me frustara. Afinal de contas, era só o Connor sendo o Connor. Eu não podia culpá-lo, fora exatamente daquela forma, sério e misterioso, que eu me apaixonara por ele. E eu nem fazia ideia das razões dele. Talvez ele estivesse com medo. A realidade era cada vez mais concreta e aquele dia reforçara isso ainda mais. Ele seria pai dali a alguns meses. Talvez estivesse com dúvidas. E se, de repente, ele descobrisse que não estava preparado afinal de contas? Quero dizer, era uma possibilidade. Eu não podia me apoiar tanto nele. E se ele fosse embora? Eu me sentia tão protegida e completa que quebrava meu coração ter de pensar nessa possibilidade.

Aproveitei o dia todo para descansar e dar uma arrumada na casa. Eu ainda não tivera coragem de tomar o antigo quarto do meu avô como meu, mas sabia que teria de fazer isso logo, já que o meu quarto passaria a ser o da minha filha. Deitada na minha cama e a acariciar minha barriga eu fiquei a imaginar como seria quando ela nascesse. Eu fazia milhares de planos. Imaginava o quarto todo decorado com coisas de bebê, as roupinhas, o berço. Imaginava como seria bom sentir a sua pele macia na minha, acariciá-la, sentir aquele cheirinho doce que só os bebês tem. E, por mais que tentasse evitar, eu imaginava a vida que eu teria com Connor. Acordar ao lado dele todos os dias, café da manhã juntos, tê-lo sempre por perto compartilhando a cada momento da minha vida. Só que ainda assim era estranho. Connor tinha aquele jeito todo sensual e misterioso de tal forma que eu não conseguia imaginá-lo como um 'marido'. Não conseguia pensar que eu me acostumaria com a sua presença, com seu corpo, seu cheiro. Que eu conseguiria vê-lo em minha frente sem sentir o coração disparado, o frio na espinha, aquele desejo devastador. De forma alguma. Não imaginava vê-lo andando de samba canção pela casa, ou assistindo futebol com os amigos na sala. Não imaginava vê-lo a envelhecer ao meu lado. Eu nunca me acostumaria com ele.

Á noite eu fui tomada por uma fome imbatível. Uma vontade imensa de abrir a geladeira e comer tudo o que havia lá dentro. Era estranho. Ás vezes eu me sentia enjoada só de olhar para comida. Já outras eu comia exageradamente. Comi algumas frutas, fiz um enorme sanduíche, esquentei o que havia restado do almoço, e comi doces, que era o que mais matava as minhas vontades. Só assim aquela fome passou. Era péssimo. Eu me sentia muito mal depois. Não parava de pensar no quanto estava engordando e ficando cada vez menos bonita, menos feminina. Não parava de pensar em Connor deixando de sentir atração por mim, ainda que ele dissesse sempre que eu ficava ainda mais bonita carregando uma filha dele.

Juntamente com o arrependimento vinha um cansaço enorme. Mesmo tendo descansado durante o dia, eu me sentia como se o tivesse passado trabalhando duro. Meu corpo todo doía, eu me sentia irritada, e ainda teria que levantar cedo para trabalhar no dia seguinte. Era difícil passar por aquilo tudo na maior parte do tempo sozinha. Era certo que aqueles sintomas eram muito mais emocionais do que físicos, o meu médico já havia me explicado que seria assim. Eu me sentia muito sozinha e carente, não fazia ideia de como aquelas mães solteiras conseguiam passar por toda uma gravidez sozinhas. Aquelas mulheres eram como heroínas, isso sim. Ao menos algumas tinham o apoio da família. E eu que nem tinha família?

Cada vez que eu sentia que era demais pra mim, que eu não conseguiria aguentar, eu buscava a imagem da minha filha na memória. Agora eu já podia pensar na imagem real dela, daquele serzinho tão frágil que eu vira através da tela. Agora eu era o porto segura dela. A proteção dela. Tinha de ser forte por duas pessoas de uma vez. E tinha de ser mais forte ainda porque só estava começando. Eu sabia que os sintomas ficariam muito piores a cada mês que o nascimento dela se aproximasse.

Subi as escadas que davam para o meu quarto e olhei uma última vez no meu celular á procura de ligações perdidas do Connor. Não havia uma sequer. Então eu me deitei na cama e tentei pensar que, se dormisse, eu não sentiria tanto aquelas sensações desagradaveis.

Eu devo ter dormido algumas horas, mas quando o toque do meu celular acordou-me, a sensação que tive foi a de que mal havia fechado os olhos. Meu corpo doía e eu estava exausta.

_ Não podem ser oito horas da manhã. Eu me deitei cedo. Como o tempo pode ter passado tão rápido? - resmunguei esfregando os olhos. Porém nem o dia havia amanhecido. O céu ainda estava escuro, as ruas silenciosas, o frio cortante. - Até o sol tá com preguiça de nascer.

Apertei uma tecla qualquer do meu celular para desativar o despertador mas ele não parou de tocar. Foi então que percebi que aquela não era a música do despertador. Era o toque que eu havia colocado para quando Connor ligasse.

_ Alô? - atendi meio sonolenta.

_ Oi Jenni. Desculpa ter te acordado.

_ Quantas horas? - bocejei.

_ Seis horas.

_ O quê? Você tá doido? Por que tá me acordando essa hora? Aconteceu alguma coisa?

_ É que eu não queria que você chegasse atrasada pro trabalho.

_ Atrasada? Eu só entro ás 8h.

_ Vista-se e venha até a calçada.

_ O quê? Você tá aqui?

_ Tô, amor.

_ Por quê? Você vai me levar pra trabalhar hoje? Mas está tão cedo.

_ Eu quero te levar em um lugar antes.

_ Pra tomar café da manhã?

_ Hm...É. Pra tomar café da manhã. Vista-se e desça, tá bom?

_ Tá.

_ Tchau.

Estranhei bastante essa "surpresa" dele tão cedo. Claro que eu ficava feliz em vê-lo, e cada vez que ele aparecia em minha casa por livre e espontânea vontade era como um prêmio pra mim. Mas o que o levaria a querer me ver com tamanha urgência que não poderia esperar eu chegar do trabalho? Era tão estranho. Mas, de qualquer forma, apressei-me em colocar o uniforme da loja e fazer um rápido rabo-de-cavalo em meus cabelos. Lavei o rosto algumas vezes na tentativa de evitar aquela cara de cansaço, mas de nada adiantava. Fiz uma maquiagem leve e corri pelas escadas para encontrar Connor. Ele estava sentado no banco do carro ouvindo uma música estilo Rock & Blues. Sua cabeça estava encostada e ele também parecia estar morrendo de sono.

_ Oi amor. - eu sorri, abaixando-me para beijá-lo.

_ Oi pequena. Está pronta?

_ Para o trabalho ou para o café da manhã? - eu ri.

_ Ah...o café da manhã. Toma. - ele me ofereceu um pacote.

_ O que é?

_ Seu café da manhã. Cookies e um achocolatado. Não é dessa coisa que você gosta? - ele deu um sorriso debochado.

_ É, mas...Se você ia comprar porque veio tão cedo?

_ Não estava com saudades de mim?

_ Eu não sinto saudade de ninguém ás 6 da manhã.

_ Entra aí. Vou te levar num lugar. - ele disse, ignorando minha ironia.

Entrei rápido no banco de passageiro, até porque estava muito frio e o meu casaco não suportava tudo isso. Ele me olhou de uma forma que percebi certo receio por parte dele. Mas receio de que? O que é que estava passando pela cabeça dele? Até tentei perguntar algumas vezes para onde estávamos indo, mas ele apenas me olhava com seus olhos enigmáticos e dizia para eu ter calma que logo descobria.

_ Coma um pouco. - ele disse.

Abri o saco de papel e o doce cheiro do chocolate quente entrou pelas minhas narinas. Eu adorava beber aquilo, principalmente nos últimos meses, onde comia doces na maior parte do tempo. Mas aquele dia, assim que abri a sacola, senti todo o meu estômago revirar. Coloquei forte a mão na boca e abri desesperada a janela, colocando a cabeça para fora dela esperando que acontecesse o pior.

_ Você tá bem? Quer que eu pare? - ele tocou meu joelho.

_ Não precisa. Eu estou legal.

_ Que foi? Tá com um cheiro ruim? Alguma coisa veio perdida?

_ Não. Tá tudo do jeito que eu gosto. - voltei a encostar-me no banco, já que a ânsia havia passado.

_ Então?

_ Acho que vou ficar sem café hoje. - fechei o saco, colocando-o ao meu lado.

_ Sabia que devia ter trazido algo mais leve pra você. - ele disse baixinho. Eu adorava quando ele era tão cuidadoso comigo.

_ Não é culpa sua. Tem dias que até beber água me deixa enjoada. Mas tá ficando menos frequente. No começo era bem pior.

_ Sinto muito por você ter de passar por isso.

_ Não é sua culpa.

_ Não? - ele riu.

_ Tá, é cinquenta por cento sua culpa. Mas não é de todo ruim. Não é nada que mereça um pedido de desculpas. Eu só tenho a te agradecer por ela. - eu sorri, acariciando minha barriga. Connor sorriu de volta, pegando a minha mão e entrelaçando nossos dedos.

_ Está preparada?

_ Para o que? - olhei para os lados, para as pessoas da rua, as casas, os carros. Era uma rua como qualquer outra. Não era uma paisagem exótica nem nada disso. Havia um empório próximo, mas não fazia sentido passarmos lá se ele já me havia comprado café da manhã. Havia também uma praça muito bonita, muito mais do que aquela perto da minha casa. Me perguntei se seria lá o lugar misterioso. Talvez ele quisesse namorar um pouco. Mas naquele frio? Não seria melhor que ele me levasse pra sua casa?

Ele sorriu, desceu do carro e deu a volta para abrir a porta pra mim. Quanto mais eu o olhava demonstrando curiosidade, mais ele se divertia. Uma mulher nos observava do outro lado da rua e eu estranhei quando ele passou o braço pela minha cintura e me levou até ela.

_ Bom dia senhor Garrel.

_ Bom dia, Beth. Essa é a Jennifer.

_ Olá. Parabéns pelo bebê.

_ Brigada. - eu corei. Será que minha barriga estava tão grande que já dava pra perceber?

_ Aqui está. - ela entregou uma chave nas mãos de Connor - Daqui a vinte minutos eu encontro vocês.

_ Certo, obrigado.

A mulher virou-se de costas e atravessou a rua. Supliquei mais uma vez com o olhar que Connor me explicasse o que estava acontecendo, mas ele sequer me olhou. Seu olhar estava fixo em uma casa.

Era simples, mas bonita. Maior do que a minha, tinha três andares e um estilo meio rústico, com armações de uma madeira bem polida, além de grandes janelas também de madeira. Era toda pintada de um tom voltado para o marrom, um pouco mais claro que o da porta, e tinha uma pequena chaminé de pequenos tijolos. A casa me lembrava aquelas casas de filmes, onde os personagens que procuravam por um lugar para espairecer acabavam hospedando-se temporariamente numa confortável casinha de madeira com um enorme e bonito jardim envolta, onde árvores o afastavam de qualquer civilização.

Porém não havia um enorme jardim da frente, apenas um gramado com alguns arbustos, além de um balanço pendurado em uma árvore. Mas trazia uma sensação de conforto a tal ponto que, se um dia eu precisasse de um lugar para espairecer, definitivamente seria aquele. Uma sensação estranha me veio. Era como se eu já tivesse estado lá. Mas não fazia sentido. Sequer era perto da minha casa.

_ Vamos entrar?

_ Por que nós vamos entrar na casa dela? - franzi a testa. Será que Connor havia tido a mesma ideia que eu tive quando pedi á Rachel que me emprestasse a casa dos pais dela? Mas por que razão, se ele já tinha uma casa só dele onde poderia me levar?

_ O que você achou?

_ É bem bonita. Seria legal pra passar as férias e tal.

_ Olha isso aqui. - ele puxou-me pelas mãos, fazendo-me subir numa escadinha onde havia uma armação da altura da casa, toda envolta por estacas de madeira proporcionalmente colocadas e bem polidas, e que permitia andar até a parte de trás da casa, que foi o que fizemos.

Havia uma piscina, não muito grande, mas bem bonita, toda iluminada por pequenas lâmpadas situadas em suas laterais. O dia começava a clarear e ia iluminando, aos poucos, aquelas árvores, flores e, por fim, a piscina. Me espreguicei longamente e olhei para Connor.

_ Bom dia. - eu sorri. E o beijei demoradamente, segurando forte sua camiseta. - Obrigada por ter me trazido aqui. É bem bonito. Só que agora eu preciso ir trabalhar.

_ Você não quer nem entrar? - ele me olhou decepcionado.

_ E vai dar tempo?

_ Só pra você dar uma olhadinha. Vai ser rápido. Não é muito grande.

_ Tá bom.

Eu não entendia o por quê dele insistir tanto para que a gente entrasse na casa daquela mulher. Mas ele era meio estranho ás vezes, então, se aquilo o deixaria feliz, não custava nada entrar.

Logo na entrada havia uma espaçosa sala. O chão era de uma madeira bem clara, e as paredes pintadas em tom de pêssego. Haviam dois sofás, e uma mesinha de centro em cima de um enorme e bonito tapete, além de uma televisão presa á parede em frente aos sofás. Havia também uma mesa de madeira para seis pessoas, com seis cadeiras almofadadas ao seu redor, além de um vaso de girassóis em seu centro.Havia uma bancada de madeira que separava a sala da cozinha. Na cozinha era tudo de madeira. As paredes, os armários, cada prateleira. Não era muito grande, mas era bonita.

Havia uma grande janela de vídeo, que subia até o segundo andar e permitia ver a parte de trás da casa - a já descrita piscina e o jardim em volta. Num dos cantos da sala começava uma escadaria que levava ao segundo e ao terceiro andar. Todos os cômodos tinham chão de madeira, aquela mulher gostava realmente de madeira. Eram todos pintados em cores quentes, sempre trazendo a sensação de conforto. Os corredores levavam a três quartos, um deles bem espaçoso e iluminado com uma cama de casal, prateleiras e um quadro barroco de ótimo gosto, os outros dois com uma cama de casal e pouca decoração. Um deles estava pintado de rosa e a janela de madeira toda decorada com temas infantis. Pensei que seria legal se eu pudesse fazer algo parecido na minha casa, para Hailie. Havia uma biblioteca, porém sem livro algum nas estantes, e sem decoração alguma nas duas mesas pequenas de madeira. Além disso havia um cômodo vazio e três banheiros todos feitos de ladrilhos brancos, sendo que um deles tinha banheira.

Depois de darmos uma volta por toda a casa, Connor segurou minha mão e me levou até o lado de fora da casa. Ficamos ambos observando-a em silêncio. Ele não parava de fitar o meu rosto, talvez esperando que eu dissesse alguma coisa. Então eu disse a primeira que me veio á cabeça.

_ É uma casa linda e bem confortável. A dona dela tem muita sorte.

_ Você gostou mesmo?

_ Gostei muito. Quem é aquela mulher?

_ A consultora de vendas.

_ Quê? - eu o olhei perplexa. Meu coração disparou e eu não conseguia raciocinar direito. Não poderia ser o que eu estava pensando. Não. De forma alguma.

_ Se eu te contar que eu nunca havia sentido uma felicidade tão grande como a que eu senti ontem, quando vimos a nossa filha pela primeira vez, você acreditaria?

_ Claro que sim. Eu senti a mesma coisa.

_ Quando eu ouvi os batimentos cardíacos dela, vi os seus movimentos naquela tela, senti ela se mexer na sua barriga, parece que tudo ficou ainda mais real. Antes parecia que não estava acontecendo. Sabe quando você sonha, tem plena consciência que é um sonho e que pode acordar a qualquer hora? Pois é. Aconteceu tudo tão rápido, Jenni, num dia você vai embora morar em Liverpool, e eu tenho certeza que as chances de nunca mais nos vermos novamente são muito grandes, e um tempo depois você aparece e me dá a notícia de que está esperando um filho meu. Minha vida estava tão sem sentido e propósito, eu não tinha nada com que meu preocupar, nada a perder. E aí vocês duas aparecem. - ele colocou a mão em minha barriga - Tão frágeis. Nunca houve ninguém que precisasse de mim. E, de repente, eu sou a pessoa mais importante da vida de vocês duas. É como se você tivesse voltado pra dar um novo sentido á minha vida.

_ De verdade? - eu sorri.

_ Deixa eu continuar. Ontem, quando nós tivemos o primeiro grande contato com ela, tudo se tornou real... E eu comecei a pensar se conseguiria levar isso até o final, sabe? Cuidar de vocês duas. Ser um pai sem nunca ter tido um exemplo ideal de pai dedicado. Eu tenho deixado você tão sozinha. Eu percebo que é difícil. Percebi o jeito que você remexe na cama durante á noite, nas vezes em que dormimos juntos, percebi a forma que você geme de dor em alguns dias, percebi que seus sapatos te machucam, que você se sente meio deprimida ás vezes, que você se sente meio tonta e tem dificuldade de fazer coisas como subir escadas. Eu não tenho sido justo com você. A gravidez é tão difícil pra mulher e eu tenho te deixado abandonada á própria sorte. Eu me sinto horrível quando tenho que voltar pra casa mesmo com você me olhando com aquela carinha...Praticamente implorando para que eu fique.

_Pra mim só ter você por perto já é de grande ajuda. Eu posso lidar com essas coisas. Não é você mesmo que diz? Que eu sou a garota mais forte que você já conheceu?

_ Mas você não precisa lidar com tudo sozinha. - ele me puxou pela cintura - Quero que você vá morar comigo.

_ Eu não vou sair da casa do meu avô.

_ Imaginei que você fosse dizer isso. - ele sorriu - Por isso criei uma solução perfeita. Só não sei como você ainda não deduziu isso.

_ Qual?

_ Você não quer sair da sua casa para morar na minha. Você viveu um tempo na sua casa, acabou se afeiçoando e tem as lembranças do seu avô. Mas essas lembranças também te fazem mal, querida, é muito ruim ter de dormir contigo numa cama de solteiro. Eu fico com medo de derrubar você, de machucar a Hailie.

_ Mas quando ela nascer eu vou passar a dormir no quarto do meu avô. - defendi-me.

_ Você já tentou algumas vezes e acabou sofrendo mais ainda. Não precisa se torturar assim. Você pode sempre guardar seu avô dentro de você. Pode guardar as fotos. Eu sei como você se sente, também perdi um avô, mas você tem que seguir em frente.

_ Você também gosta da sua casa. Entende por que eu não quero largar a minha.

_ Entendo. - ele sorriu - E daí eu pensei, se nós não queremos ceder e abandonar as nossas casas, por que não podemos ter um lugar de nós dois? Um que nós dois gostemos, um que tenha espaço para a Hailie crescer. Daí eu peguei um dinheiro que havia juntado, coloquei o meu apartamento à venda e conheci muitos interessados, e saí á procura de um lugar que fosse parecido com você. Que eu tivesse certeza que você ia gostar.

_ Espera aí, Connor. Você está me dizendo que essa casa...Você me trouxe aqui pra...Você quer... - gaguejei, sem conseguir terminar qualquer frase.

_ Se você gostar ela é nossa. Se não gostar nós podemos procurar outra. Só não podemos demorar muito porque tenho que desocupar meu apartamento pro cara que comprou até semana que vem.

_ Você...Tá vendendo o seu apartamento que tanto ama...Por mim? Tá gastando seu dinheiro pra comprar essa casa linda...Pra mim? - eu perguntei. As lágrimas já caiam descontroladas. Era um choro de emoção e alegria ao mesmo tempo. Todas as coisas que ele disse, esse gesto tão lindo, só mostravam que ele realmente se importava comigo. Algo que eu nunca esperava, nem no meu mais duvidoso sonho.

_Não é uma casa grande, mas é confortável. Tem o quintal que você tanto queria pra Hailie brincar, tem um quarto só pra ela, um quarto grande e bonito pra gente com varanda e tudo. Uma piscina.

_ Meu Deus! - foi tudo o que consegui dizer, já que eu soluçava de tanto chorar. Coloquei a mão em frente a boca e olhei a casa, cada canto dela, cada detalhe. Eu nem acreditava que teria finalmente um lugar só meu. Que teria uma família de verdade. Do jeito que eu sempre quis.

_Não chora assim. - ele pediu, passando um dos braços pelo meu ombro. Então eu o abracei com toda força encharcando a sua camisa com minhas lágrimas.

_ Obrigada. É a coisa mais incrível que já fizeram por mim.

_ Você merece. A Hailie merece. Eu não prometi que você não estava sozinha nessa? Não está. Eu prometi ficar ao seu lado e aqui estou. Quero me esforçar para que dê certo. Quero me esforçar pra ver esse sorriso no seu rosto muitas vezes. Você já sofreu muito. Já chega. Você merece ser feliz agora.

Fiquei alguns minutos abraçada a ele, até que eu me acalmasse. Ele permaneceu em silêncio. Era bom sentir a respiração dele perto de mim, sentir seu queixo apoiado em minha cabeça,seus braços me envolvendo. Me acalmava. Me completava. Cada dia mais eu tinha certeza que ele era o cara certo. Que aquilo tinha de acontecer, nós tínhamos de ficar juntos. Quando finalmente o choro parou e eu me senti mais calma, me soltei do abraço e olhei em seus olhos.

_ E a minha casa?

_ Ela vai continuar sendo sua. Pode fazer o que quiser. Pode alugar, vender,ou deixar como está. Eu posso pagar sozinho por essa, eu consegui dinheiro o suficiente, você não precisa ajudar. - ele me olhou com ternura. Permaneci em silêncio por alguns instantes, pensando, e depois finalmente respondi.

_ Vou vendê-la.

_ É sério? Olha Jenni você não precisa fazer isso.

_ Eu quero fazer. Você estava certo. As lembranças daquela casa me fazem sofrer. Eu preciso seguir em frente.

_ Você é uma menina surpreendente, sabia? - ele sorriu.

_ Quando podemos vir?

_ Precisamos decidir que coisas vamos trazer para cá. Ela já está mobiliada com o fundamental: camas, mesas, sofás e alguns eletrodomésticos. Então nem precisamos trazer muito. Na maior parte serão itens pessoais mesmo. O caminhão de mudanças vai trazer tudo no fim de semana. Na sexta eu vou na sua casa te ajudar a encaixotar tudo o que você quiser trazer.

_ Eu ainda não estou acreditando. - eu sorri, passando os dedos pelos cabelos.

_ Até o fim de semana você terá acreditado?

_ Provavelmente não.

_ Bem, não precisa ter pressa. - ele brincou - Aliás. Precisa sim. Já está quase na hora do início do seu expediente. E eu já estou um pouco atrasado.

_ Desculpa, eu atrasei você.

_ Tá tudo bem. Eu avisei que iria me atrasar. Vamos, vou levar você.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 22/04/2015
Código do texto: T5216846
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.