Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 43

A semana que precisei esperar foi muito mais leve e fácil de levar. Eu me sentia numa felicidade tão grande que era como se pudesse flutuar a qualquer momento. Era tão difícil acreditar que eu iria morar com o homem pelo qual eu sempre fora fascinada, que ele estava aceitando a minha gravidez tão bem, que as coisas finalmente estavam começando a dar certo. Mesmo sendo difícil eu me permiti sonhar por aqueles dias.

As minhas amigas Rachel e Grace também ficaram radiantes com a notícia da casa nova. Mais Rachel do que Grace, já que enquanto uma tinha todo aquele ideal familiar, a outra prezava totalmente pela liberdade, achando sinceramente que eu ainda deveria considerar a adoção, afinal eu tinha somente dezoito anos e muito o que viver - o que era compreensível vindo dela, já que ela vivia mais intensamente do que nunca com a fama local que conseguiu depois de lançados os primeiros episódios da série onde ela era a personagem principal. Mas adoção ou qualquer outra opção que tirasse minha filha de mim estava fora de cogitação. Eu estava totalmente apaixonada por aquela garotinha e não havia nada mais que eu quisesse do que tê-la nos braços.

Grace, depois de passar horas contando sobre as festas para as quais era chamada, as entrevistas que dava e as pessoas que a reconheciam na rua devido ao sucesso instantâneo que a sua série adquirira, passou mais algum tempo formulando teorias do por quê de eu querer tanto aquela criança. Segundo ela, por eu ter perdido a todos aqueles que tinha como família, sentia uma extrema necessidade de constituir uma nova família da qual eu pudesse fazer parte, nem que para isso eu tivesse que abdicar de todo o meu futuro. Mas eu acabaria me arrependendo depois, quando percebesse todas as coisas que eu perdi, a faculdade, a festas que eu não iria, as amigas que eu não conheceria, os caras com quem eu não sairia.

_ Eu sei, Grace - eu disse-lhe - Eu entendo o que você diz e sei que vou perder um monte de coisas. Sei que vou ter que amadurecer de uma vez, sei que vai ser muito mais difícil que parece, sei que a qualquer momento Connor pode ter medo e querer fugir e daí vou ter de aguentar tudo sozinha. Mas situações extremas levam a medidas extremas. Eu já tomei minha decisão. Pode não ter sido a melhor, a mais sensata ou mais inteligente, mas foi o que pareceu certo pra mim. E eu acho que sou a melhor pessoa pra decidir com o que é certo pra mim, porque mais tarde, ainda que vocês me apoiem, eu é que vou ter de conviver com os meus fantasmas e arrependimentos.

_ Você pode evitar dezenas de pessoas de sofrerem. Você, a criança, o Connor, as pessoas á volta de vocês. Se você arrumar uma boa família pra adotá-la, ela seria muito mais feliz, teria toda uma estrutura familiar e você e Connor poderiam ter um namoro saudável pra idade de vocês. Isso que vocês tem não é saudável, Jenni. Desculpa, mas não é. Vocês são completos desconhecidos...E agora? Vão morar juntos? Você tá feliz e eu fico feliz por você. Mas tenta escutar aquela vozinha que grita lá no fundo da sua consciência. Você sabe que vai sofrer depois.

_ Eu amo minha filha. Não vou abandoná-la. Você sabe como é ser abandonada por sua família?

_ Seus pais não te abandonaram. Eles não tiveram escolha.

_ É, mas eu tenho.

Grace resolveu parar de discutir comigo antes que brigássemos, o que não seria nada bom considerando a enorme distância territorial em que estávamos. Eu sabia que o que ela dizia tinha lá sua parcela de razão. E era uma grande parcela. Mas eu não mudaria minhas escolhas. Era a minha decisão e pronto. Rachel tentando como sempre apartar as nossas brigas, convidou-me para passar o dia no shopping comprando roupas.

_ Afinal - disse ela - Você mesma disse que a maioria das suas roupas não entrem mais? Você precisa de umas roupas novas para ficar bonita para o seu namorado super sexy.

_ É verdade. - eu ri - Eu preciso mesmo de roupas novas.

Então, numa sexta feira após o meu expediente, fomos eu e Rachel ao shopping. Ela me fez prometer que eu me seguraria para não comprar nada para a Hailie, afinal ela pretendia dar uma festa, um 'chá-de-bebê', onde todos trariam presentes para decorar o quarto da minha filha. Ainda assim eu não pude evitar de comprar, escondida dela, um ursinho cor-de-rosa, que ficaria lindo no quarto da Hailie - que ainda nem começara a ser feito, mas que eu já imaginara centenas de vezes. Ela deixou passar porque menti que era pra mim, que eu gostava.

Passamos quase três horas perambulando por várias lojas. Tenho que confessar que, mesmo nunca tendo sido muito vaidosa, foi muito difícil pra mim ter de comprar roupas um número maior do que o usual. Parecia que toda blusa que eu colocava me deixava gorda e esquisita. Isso sem falar nas calças que a atendente trazia e não fechavam nem com muito esforço. Rachel passou todo o tempo fazendo piadinhas para descontrair, hábito que ela adquiriu do namorado dela. Mas no momento em que a atendente disse " Sinto muito, querida. Nenhuma roupa daqui vai cair bem em você. Os números maiores ficarão largos e os menores muito apertados. Nós não temos roupas pra meninas da sua idade que estejam...Nessa situação." eu tive que sair correndo da loja para não chorar.

E não foi só ela. Eu fora com uma blusa que marcava bastante a minha barriga - ah, como me arrependi disso - e muitas pessoas do shopping ficavam a me analisar de cima a baixo. Alguns cochichavam com os companheiros, me olhavam com pena ou superioridade, como se eu fosse muito idiota por estar grávida. Acredito que a minha cara de criança não ajudou muito. Rachel olhava feio para elas, mas só me senti melhor quando fomos numa lojinha e uma atendente muito simpática e da nossa idade me mostrou algumas batas e vestidos soltinhos bem bonitos, que disfarçavam a minha barriga e me davam mais conforto. Ela foi bem gentil, uma das poucas que me tratou como uma pessoa normal e não como uma adolescente irresponsável grávida, e eu quase a abracei por isso. Depois de me mostrar várias roupas, que ficariam muito bem em mim, ela sorriu e perguntou se eu já havia escolhido o nome.

_ O nome dela é Hailie - eu disse com orgulho.

_ Espero que vocês duas sejam muito felizes. Eu sempre quis ter uma filhinha. Como é estar grávida?

_ É maravilhoso. - sorri.

Depois de voltarmos para casa, Rachel me ajudou a encaixotar algumas coisas que faltavam. Eu não levaria muito, já que a casa já estava quase toda mobiliada e Connor levaria muitas coisas do apartamento dele. Embalei com carinho algumas fotos do meu avô e deixei o quarto dele como estava, sem modificar nada. De resto levei minhas roupas, fotos, enfeites e objetos pessoais dos quais gostava. Connor estava certo, eu me sentia como se um peso enorme estivesse saindo das minhas costas. Eu estava libertando toda a minha tristeza e saudade para recomeçar. E tinha certeza que os meus pais e meu avô ficariam muito felizes com isso.

Connor apareceu para me buscar no sábado de manhã. Eu colocara uma das roupas novas, fizera um penteado no meu cabelo e me maquiara. E o resultado veio. Ele sorriu e me olhou muitas vezes, sempre falando o quanto eu estava bonita. Não demorou muito para os carregadores chegarem e começarem a colocar as minhas coisas no caminhão de mudanças. Depois de pegarmos tudo, abrimos a casa nova para eles descarregarem. O chão já estava repleto de caixas de papelão e alguns móveis de Connor amontoados. Demoraria um pouco para arrumar tudo, eu sabia disso, mas eu não poderia estar mais feliz. Eu tinha uma casa minha de verdade.

Com tudo pronto, ficamos algum tempo tirando as coisas das caixas e colocando em seu devido lugar, até a hora do almoço. Connor perguntou para qual telefone eu queria ligar.

_ Você não vai cozinhar pra mim?

_ Você sabe que eu não sei cozinhar. - ele deu um meio sorriso. - Mas eu tenho estes dedos mágicos que podem pedir qualquer coisa que você quiser.

_ Talvez os seus dedos mágicos possam conhecer a mágica que o Google e o YouTube podem oferecer nesse quesito culinário. Sério, eles ensinam a fazer qualquer coisa. É impressionante.

_ Ahn, ok. - ele disse meio desconcertado, pesquisando algo em seu celular.

_ Estou brincando, amor. Podemos pedir uma pizza.

_ Agora você desafiou meu ego. Pode ir tomar banho que vou tentar fazer algo. Eu disse tentar. E você vai comer e fingir que está maravilhoso.

_ Combinado. - eu ri, subindo as escadas.

Uma hora depois estávamos sentados á mesa, em meio a dezenas de caixas e coisas empilhadas, comendo o primeiro macarrão ao molho branco de Connor. Era o único prato passível de ser feito, segundo ele, já que havia comprado apenas o básico no supermercado. Mas juro que ficou uma delícia.

Após comermos e passarmos mais algumas horas arrumando outras partes da casa, Connor quis tomar um banho de piscina. Eu sorri sem graça. Sabia que ele estava também entusiasmado com a novidade, ele nunca antes morara com uma garota, nunca antes fora pai, nunca antes cuidara de alguém como estava a cuidar de mim. Ele queria que eu me sentisse confortável com tudo aquilo, queria que eu me divertisse, que ficasse feliz. Eu nunca gostei muito de nadar, mas só para ver aquela sorriso no rosto dele, eu me peguei no banheiro da casa nova experimentando todos os biquínis que eu tinha.

_ Eu fico horrível eu todos! - eu disse furiosa, jogando todos no chão.

_ Tenho certeza que não. - sua voz doce e sensual ecoou do outro lado da porta do banheiro.

_ Connor? - assustei-me, colocando a mão no peito - Você não sabe que é falta de educação ficar escutando do outro lado da porta?

_ Foi sem querer. - ele disse, e eu tinha certeza que ele estava com um sorriso divertido no rosto.

_ Sei. - eu disse brava.

_ Eu posso ver?

_ Não!

_ É só um biquíni, Jenni.

_ Eu fico horrível em todos. A parte de cima fica pequena em mim. E eu estou gorda.

_ Você não precisa usar biquíni...

_ O quê? Você tá brincando, né? Acha mesmo que eu vou nadar assim?

_ Eu gosto de você assim. - ele riu.

_ Eu estou gorda.

_ Você não tá gorda, você tá gravida.

_ Gravidez deixa as pessoas gordas.

_ Jennifer...Isso é a maior bobagem. Me deixa entrar.

_ Não! Me deixa em paz.

_ Jenni...Pra mim você não tá gorda. Você tá linda. Isso na sua barriga é nossa filha. O que é que tem de feio nisso? - ele sussurrou, me fazendo sorrir.

_ Nada... Eu acho.

_ Isso mesmo. Não tem nada de feio. - ele disse, mas sua voz estava mais alta. Olhei para o lado e ele estava parado na porta do banheiro, que estava aberta.

_ Eu falei pra você não entrar. - eu gritei, puxando uma toalha branca de cima da pia e enrolando-a em mim.

_ Como você espera que eu fique parado do lado de fora sabendo que tem uma mulher linda e nua no meu banheiro? - ele sussurrou no meu ouvido, arrepiando todos os pêlos do meu corpo. Eu não disse mais nenhuma palavra quando ele soltou a toalha para que caísse no chão. Não relutei quando ele me abraçou, me colocou sentada na bancada do banheiro e muito menos quando sua boca tocou a minha com urgência, seus dentes morderam minha nuca, suas braços me abraçaram com força. Eu só suspirava...E sorria. Junto com ele.

_ Pra mim você continua linda. É só isso que importa...tá? - ele sussurrou, antes de entrelaçar nossos corpos e me fazer sair do mundo.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 22/04/2015
Código do texto: T5216865
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