Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 46

Connor andava de um lado para o outro com o telefone no ouvido. Eu não queria deixá-lo nervoso, mas aquilo fugia do meu controle. Eu também estava morrendo de medo. E era eu quem sentiria toda a dor, afinal de contas. Só estava começando. Eu sabia que ficaria muito pior.

_ Aqui é Connor Garrel. O Doutor John está aí? É, é meio que urgente sim. Minha namorada está entrando em trabalho de parto. Sim, ela é paciente dele. Tá bom. - ele olhou para mim - Vão ver se ele pode atender.

_ Eu acho bom que atenda.

_ Doutor John? Aqui é Connor Garrel. Sim. A Jennifer disse estar tendo contrações. Ela acha que tá entrando em trabalho de parto.

_ Eu não "acho" que estou entrando em trabalho de parto, Connor. Me dá esse telefone aqui. - eu disse, tentando tomar o telefone das mãos dele. Mas ele apenas virou-se de costas e se afastou alguns passos.

_ Ele mandou perguntar com quantos centímetros de dilatação você tá.

_ Eu sei lá, Connor.

_ Ela não sabe. Tá, vou perguntar. - ele disse, virando-se para mim novamente - de quanto em quanto tempo você tá tendo contrações?

_ Eu só tive a primeira...Eu acho.

_ Começou agora. Ela sabe, mas... Sim, ela tá nervosa. Fazê-la se acalmar? Isso é mais difícil do que você acha.

_ Larga de ser grosso! - eu gritei com ele, tentando tomar-lhe novamente o telefone - Me dá isso aqui.

_ Ele quer falar com você. - ele soltou o telefone de vez. Eu o peguei ríspidamente e andei até a cozinha. - Oi Doutor John. Eu quero ir pro hospital. Eu já posso ir pro hospital? O senhor vai estar lá? Eu não vou dar conta de fazer o parto se não for com o senhor. Sabe disso, não sabe?

_ Jennifer, querida... - ele começou a dizer com uma voz tão serena que me dava nos nervos - Como você está se sentindo?

_ Nervosa, dolorida e apavorada é o suficiente?

_ Querida, se acalme.

_ Não! Eu não quero me acalmar. Você não tá entendendo? Eu estou tendo um bebê. Como quer que eu fique calma?

_ Você foi em todos os cursos sobre o processo antes-durante-pós parto, não foi?

_ Sim, mas...

_ E quais foram os três passos que eles ensinaram?

_ Não lembro. - menti, enrolando nervosamente uma mecha do meu cabelo.

_ Lembra sim! Repita comigo: Relaxar...

_ Relaxar.

_ Respirar...

_ Respirar.

_ E repousar.

_ Eu não quero repousar. Eu quero ir pro hospital, Doutor John. Por favor. - eu choraminguei.

_ Jennifer, eu não estou dizendo que você não pode ir pro hospital. Você pode ir quando quiser. Eu estou apenas dizendo que você tem a opção de ficar um tempo em casa, de descansar, relaxar e se preparar para o que ainda está por vir. Você fez todo o treinamento, simulou todo o processo. Vai ficar tudo bem, querida. Lembra do que disseram sobre o tempo de duração. Um parto normal dura aproximadamente doze horas. Você ainda tem muito tempo para se preparar. Tente comer alguma coisa, tome um banho quente, durma um pouco, prepare calmamente a bolsa que você vai levar e, só então, vá ao hospital. E eu vou estar lá esperando por você.

_ E se eu quiser ir agora?

_ Você tornará o processo muito mais estressante do que precisa realmente ser. Fique um pouco com o seu namorado, tente descansar. Ficar estressada só vai piorar as coisas. E não tenha medo. Você tá em ótimas mãos.

_ E se tiver algum problema? E se não der tempo de ir ao hospital? E se...se...

_ Querida, dê o telefone ao seu namorado por favor. - Ele pediu educadamente. Eu não queria que escondessem nada de mim. Por isso apenas ativei o viva-voz.

_ Connor, é o seguinte: você vai ter de dar um jeito de acalmar a Jennifer. Ela acabou de entrar em trabalho de parto e vir imediatamente ao hospital só vai deixá-la mais nervosa. Converse com ela, seja paciente e atencioso. Incentive-a a tomar banhos quentes, faça nela aquelas massagens que você aprendeu nas aulas em que foram. Vai ajudar com a dor das contrações. Tente fazer com que ela durma um pouco. A intensidade das contrações só vai aumentar e ela vai ficar cada vez mais cansada. Então é essencial que ela descanse o máximo enquanto puder.

_ Tá bom. Obrigado Doutor John.

Eu havia ido a cada um dos treinamentos. Assistira as aulas com a maior atenção possível, fizera anotações, lera livros e estudara até ter certeza de que sabia tudo sobre partos. Mas quando está acontecendo de verdade é totalmente diferente. Toda a minha força e coragem pareceram ir embora e eu me sentia apenas uma menininha assustada. Eu teria um bebê dali a algumas horas. Eu teria um bebê com apenas dezoito anos. Mais uma contração começou e trouxe com ela uma onda de medos e preocupações. E se doesse tanto que eu não desse conta? E se houvesse alguma complicação? E se não desse tempo de chegar até o hospital? E se minha filha corresse risco de vida? E se eu corresse risco de vida? E se eu não conseguisse segurar direito minha filha no colo? E se eu fosse uma péssima mãe?

_ Jennifer... - Connor aproximou-se, pegando uma das minhas mãos. Mas eu afastei as minhas mãos e andei até a sala.

_ Já sei, já sei. Eu estou presa aqui em casa até que não esteja mais aguentando de dor. Daí, quando eu gritar que não vou conseguir, você vai me levar ao hospital. Mas aí já não vai adiantar coisa nenhuma, pois vai doer do mesmo jeito. Por que diabos eu fui decidir ter parto normal?

_ Você sabe o por quê da decisão, querida. Você assistiu as palestras e enumerou para mim cada um dos motivos. Você só queria o melhor para a Hailie.

_ Eu continuo querendo o melhor pra ela. É só que...Eu estou com tanto medo. Eu só queria que a minha mãe e meu pai estivessem aqui. - eu comecei a chorar, deixando que ele finalmente me abraçasse.

_ Você não precisa ficar aqui. Se o que quer é ir pro hospital nós podemos ir.

_ Eu não sei o que eu quero.

_ O que os seus pais fariam? Digo, se estivessem aqui.

_ Meu pai me abraçaria e prometeria que ficaria tudo bem. Que não deixaria nada de mal acontecer comigo. Que não iria embora, ficaria ali o tempo todo. Minha mãe faria carinho nos meus cabelos, cantaria para que eu me acalmasse, seguraria forte a minha mão e não soltaria por nada. E cada vez que eu a olhasse e dissesse que estou com medo, ela diria 'eu te amo'. Isso aconteceu mesmo, sabe? Foi uma vez que eu quebrei a perna caindo de bicicleta. Eu tive que ir pro hospital e fiquei com muito medo. Eu acho que eles fariam exatamente igual se estivessem aqui agora.

_ Vai ficar tudo bem, querida. - ele afagou os meus cabelos - Eu nunca deixaria nada de mal acontecer a você. Eu prometo não ir embora, ficarei ao seu lado o tempo todo

_ Eu estou com medo.

_ Eu te amo.

_ Obrigada. - eu beijei os seus lábios e ele sorriu para mim quando eu limpei as minhas lágrimas com o dorso das mãos.

_ Vamos subir para o quarto e tentar dormir um pouco?

_ Tá bom.

Eu queria ficar calma. Tentava mentalmente me forçar a isso. 'Você precisa ficar calma. Agir dessa forma só vai piorar as coisas.' Outra contração veio. Elas estavam vindo num período de dez em dez minutos. Procurei dizer a mim mesma que elas estavam leves. E realmente estavam. Apenas incomodável. Mas o meu medo fazia tudo parecer muito pior do que realmente era.

Lembrei-me de respirar de um jeito que havia aprendido no curso. Funciona mesmo. Era uma deliciosa sensação de alívio. Connor não parava de me olhar com uma expressão preocupada. Era como se eles esperasse que a qualquer minuto eu tivesse outro ataque de nervos. Eu o assustava. Era bom saber disso. É bom saber quando as pessoas se importam.

Depois de passar quase uma hora remexendo na cama, o sono começou a vir. Aproximei-me então de Connor de forma a me aconchegar nos seus braços. Ele me envolveu e começou a cantar baixinho no meu ouvido. Exatamente como minha mãe faria.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 06/05/2015
Código do texto: T5233286
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