Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 47

Acordei sentindo uma contração mais forte do que as que eu já vinha tendo. Sentei-me assutada e comecei a respirar ritmicamente. Eu tinha certeza de que não conseguiria mais dormir. Sequer conseguia ficar parada. Parecia que nenhuma posição era boa o suficiente, todas elas incomodavam. Eu queria sair dali, queria andar um pouco.

_ Jenni? - Connor foi acordado pelos meus movimentos. Ainda sonolento, pegou o relógio e checou que horas eram. Quatro horas da manhã. - Você tá sentindo dor?

_ Um pouco. Mas estou me sentindo meio incomodade sentada aqui. Eu quero andar um pouco.

_ Você conseguiu dormir por sete horas. É uma coisa boa, né? Foi bom ter descansado.

_ É. Me ajuda aqui.

Segui os conselhos do meu médico, tomando um longo e relaxante banho quente, vestindo uma roupa confortável, e preparando uma mochila com roupas limpas, roupas para a bebê, comida e um livro para que Connor não ficasse sem ter o que fazer. Como se fosse possível que ele conseguisse concentrar-se o suficiente para ler.

_ Você já tá arrumando isso? Acha que já está na hora de ir pro hospital?

_ Acho que é melhor sim. Antes que fique pior.

_ Tá bom. Eu vou ligar para o doutor John e dizer que já estamos a caminho.

_ E eu vou andar um pouco.

Minha barriga pesava tanto que eu mal conseguia andar. Mas era só uma questão de tempo até que tudo aquilo acabasse. Eu mal podia acreditar que finalmente conheceria minha filhinha. Minha Hailie. Fiquei imaginando se ela se pareceria com a criança dos meus sonhos. Se teria aqueles olhos hipnotizantes de Connor e aqueles lindos cabelos de ouro. Se a sua pele seria branca e macia, e se o seu abraço seria mesmo tão quentinho. Andei até o quarto dela e vi o berço montado, as paredes pintadas de cor-de-rosa, as caixas fechadas com dezenas de enfeites e brinquedos para enfeitar o lugar.

_ Eu queria mesmo que o quarto estivesse pronto quando ela chegasse. - pensei. E então tive uma idéia maluca. Hailie já havia esperado pot horas para nascer. As contrações ainda estavam suportáveis. Distavam cerca de quatro minutos uma da outra, o que significava que ainda não havia chegado no estágio de transição, onde que a dor seria quase insuportável. Eu ainda tinha algum tempo. - Connor...

_ Já liguei pro médico. Ele disse que está a caminho do hospital. Disse que é pra caminharmos e fazermos aqueles exercícios por cerca de quarenta minutos antes de irmos.

_ Eu meio que tenho uma idéia melhor.

_ Qual? - ele perguntou. Eu apenas olhei as caixas fechadas - Não. Nem pensar. Você não pode.

_ Eu quero que o quarto esteja pronto quanto ela nascer. Eu sei que ainda vai demorar um tempo. Eu aguento, Connor. Eu quero fazer isso. Por favor, me deixa fazer isso.

_ Não sei.

_ Quem vai sofrer todas as dores do parto?

_ Você.

_ Quem vai passar por todo o processo físico?

_ Você, Jenni.

_ Então, por favor, deixa eu fazer o que quiser. Só hoje. É importante pra mim ver o quartinho pronto antes de ir pro hospital. - pedi olhando nos olhos dele.

_ Você deve ter dado muito trabalho quando criança.

_ Obrigada. - eu sorri, beijando-lhe várias vezes.

Nós não levamos mais do que meia hora. A questão era que já sabíamos exatamente o que queríamos. O quarto já havia sido projetado por várias vezes. Cada detalhe, cada canto e cada encanto já tinham sido sonhados. Só nos restava colocar esse sonho em prática.

A sensação de ver o quarto pronto para a chegada da Hailie? De vitória. Era como um sonho realizado. Eu não via a hora de ver a minha garotinha deitada naquele berço, abraçando aqueles ursinhos, brincando com aquelas bonecas. Eu podia até imaginar. Era mágico e, ao mesmo tempo, real. E pensar que muitas pessoas duvidam que há magia na vida.

Connor foi pegar algumas coisas dele no nosso quarto e eu me sentei em uma cadeira de balanço que havia colocado perto do berço para que ficasse mais confortável para mim quando fosse fazer com que Hailie dormisse. Eu me balancei e tentei me manter o mais relaxada possível, quando uma contração um pouco mais forte veio.

_ Já estamos quase lá, querida. - acariciei a minha barriga. Então senti vontade de cantar para ela. Talvez a tranquilizasse. Ela também devia estar morrendo de medo. O que é mais amedrontador? Nascer num mundo totalmente novo ou gerar uma vida?

Antes que a próxima contração viesse, Connor apareceu com a chave do carro e me levou até o hospital.

Como prometido, o Doutor John estava lá me esperando. Eu me senti muito mais segura com meu médico por perto. Fizeram com que Connor vestisse uma roupa parecida com a dos enfermeiros, isto é, se ele quisesse ficar na sala de parto. Eu não sabia muito bem se queria que ele ficasse ali. Claro que ele tinha todo o direito do mundo, por ser o pai. Mas a presença dele sempre me deixou muito nervosa. E eu não queria que ele me visse do jeito que eu ficaria quando estivesse tendo o parto. Não queria que ele ficasse se lembrando da cena cada vez que me visse nua. E, principalmente, eu não queria que ele ficasse traumatizado ao ver o meu sofrimento. Mas, para ele, não importava. Querendo eu ou não, ele não sairia dali.

A sala de parto era toda branca e bem espaçosa. Tinha uma televisão pequena, um sofá para duas pessoas e uma mesinha baixa com revistas. Meu médico nos avisou que aquilo ainda poderia demorar mais algum tempo. Talvez algumas horas. Que logo eu começaria a sentir as contrações mais intensas, então eu deveria me distrair da melhor forma possível, além de me movimentar sempre que tivesse vontade.

No começo foi bom. Connor estava carinhoso, conversava muito comigo e folheava revistas, lendo pra mim coisas que fossem interessantes. As contrações estavam suportáveis. Vinham de três em três minutos e eu já estava sentindo que conseguiria lidar com elas sem maiores problemas. Não via a hora de Hailie nascer e podermos voltar para a nossa casa, como uma família. Estava passando um filme bom na televisão e Connor resolveu ir até a lanchonete para comprar alguns doces para nós.

No momento em que ele pisou fora do quarto, começou a pior dor que eu já senti na minha vida. Não era a dor que eu imaginei sentir cada vez que o meu médico falava sobre as 'contrações mais intensas'. Não. Era pior. Estava longe de ser a junção de todas as dores de todas as contrações que eu tivera antes. Estava além disso. Não era igual a dor de se bater com o dedo mindinho num armário, quebrar a perna, ou tirar o ciso no consultório do dentista. Não é como qualquer dor aguda que a maioria das pessoas pensar ser. É inexplicável.

_ Connor! - eu gritei tão alto que, não só ele, mas três enfermeiras entraram no quarto.

_ Está tudo bem, senhorita Summers? - perguntou uma delas.

_ Não! Não está tudo bem. Eu por acaso pareço estar bem?

_ Eu vou chamar o seu médico.

A diferença dessa fase da gravidez para as anteriores é que, nessa, não há intervalos entre as contrações. Elas acontecem muito mais fortes e numa frequência frenética. O corpo da mulher imediatamente libera hormônios como a adrenalina que fazem-na sentir medo, dor, sono, tremedeira, tudo ao mesmo tempo, levando-na a crer que vai simplesmente surtar. E, pior do que tudo, leva aproximadamente quarenta minutos. Quarenta minutos de pura dor e agonia.

_ Doutor John! - eu gritei assim que ele chegou - Faça alguma coisa, por favor.

_ Querida, isso é um processo natural. Não há nada que eu possa fazer. Tente relaxar um pouco.

_ Não, isso não é normal, tem alguma coisa errada! Eu devo estar morrendo ou algo assim.

_ Não está, querida. - ele sorriu - A dor é absolutamente normal. Vai passar logo, você vai ver. Tente inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Eu vou buscar alguns instrumentos cirúrgicos e já volto. Connor, tente acalmá-la.

_ Certo. - Connor respondeu, demonstrando claramente o seu nervosismo. - Tem algo que eu possa fazer para que você se sinta melhor?

_ Sim! Eu sinto muita vontade de comer sushi da Feng Sushi.

_ Acho que eles servem isso num restaurante aqui na frente. - a enfermeira tentou ajudar.

_ Mas eu não quero de lá. Eu quero da Feng Sushi!

_ Isso, querida. - ela acariciou meus cabelos - extravasar vai fazer bem pra você. Extravase o quanto tiver vontade.

_ Argh! Por que é que você hoje estão todos tão irritantes? - eu gritei, como uma garotinha mimada. Não entendia por que é que estava tão brava. Eu sentia tanta dor que seria perfeitamente capaz de matar uma pessoa. Bem, talvez nem tanto. Mas algo do tipo.

_ Querida, não vai dar tempo de dirigir até esse restaurante. É muito longe.

_ Vire-se! Ou você quer que eu pense eu tudo? Eu não posso fazer tudo, não acha Connor?

_ Calma amor.

_ 'Calma amor' droga nenhuma! Você sabe que tudo isso é culpa sua. Você sabia muito mais de sexo sobre eu. Podia muito bem ter impedido que eu ficasse grávida.

_ Bem, você não é totalmente inocente nessa história. Foi você quem me enganou e me levou pra casa vazia da sua amiga. - ele sorriu.

_ Ah, claro! Como se você também não quisesse isso. Como se eu tivesse te obrigado.

_ Você não me obrigou. Mas não pode pôr a culpa em mim. Eu te apoiei nisso. Eu estou aqui.

_ É, mas não precisaria vir se não acontecesse dessa forma. Nós não precisaríamos estar aqui. Nós poderíamos ter um relacionamento normal. E poderíamos ir pra faculdade como todo mundo.

_ Eu gosto do relacionamento que a gente tem. E eu gosto da ideia de ter uma filha. Agora, já que isso incomoda tanto você... - Connor começou a dizer, completamente irritado. Eu não entendi aquele dia. Entendi somente um tempo depois. Eu cobrara demais dele. Aqueles últimos meses eu o havia feito viver no limiar da paciência, e continuava testando-o e cobrando. Mas não era por querer. Era a forma que eu agia quando estava com medo. De qualquer forma, foi bom que a última frase dele tivesse sido interrompida, antes que nossa briga ficasse séria.

_ Pra quê brigar por causa de comida, gente? Eu trouxe sanduiches. - disse Ethan, que sorria da porta de mãos dadas com Rachel.

_ Ah, graças a Deus, cara! Eu preciso respirar. - Connor suspirou,saindo o mais rápido possível daquela sala.

_ Eu não quero sanduiches. Que droga,é assim tão difícil comprar um sushi do lugar que eu quero? Eu preciso fazer tudo sozinha?

_ Eu posso comprar se você quiser. - Ethan sorriu meio sem graça.

_ Você! Fora! - eu disse, apontando para o Ethan. - Eu só quero a Rachel aqui.

_ Certo, certo. - ele levantou os dois braços, brincalhão. - Ainda quer que compre o sushi?

_ Claro que sim!

Bufei de irritação quando Ethan saiu do quarto e Rachel se aproximou de mim. Ela estava estava meio apreensiva, como se quisesse dizer alguma coisa mas temesse minha reação. Ficamos algum tempo nos encarando em silêncio, mas logo aquela dor insistente gritou sua presença, fazendo com que eu gemesse alto, agarrando o travesseiro do hospital com tamanha força que meus dedos ficaram vermelhos e doloridos.

_ Deve ser uma dor mesmo horrível... - ela murmurou tão baixinho que quase não ouvi. Talvez ela tivesse medo que eu ouvisse.

_ Acredite. Dói muito além da sua imaginação. - gemi.

_ Eu sinto muito, amiga. Eu queria poder fazer alguma coisa.

_ É. Eu também queria que houvesse algo que pudesse ser feito. Queria que me dessem um remédio pra dormir e só me acordassem quando a Hailie tivesse nascido.

_ Ah. - ela abafou um riso - Acho que nem a cesaria funciona assim.

_ Eu não estou vendo graça nenhuma nisso.

_ Sabe, você não precisa agir assim. Sentir dor não te dá o direito de tratar as pessoas dessa forma.

_ Eu não falei nada demais. - grunhi irritada.

_ Eu não estou falando de mim. - ela fitou a porta e uma onda de ressentimento tomou conta de mim. Eu havia sentido essas sensações muito frequentemente nos últimos meses. Havia tornado a convivência comigo insuportável. Eu queria me sentir brava por ouvir aquilo, mas ela estava certa. Eu estava sendo uma vadia.

_ Desculpa... Eu não queria agir assim. É involuntário. Dói muito. E eu estou cansada, estou sentindo dor, agonia, medo. É tão difícil lidar com isso. Não é como quando você está doente, que pode tomar um remédio e sentir alívio. Não tem jeito de sentir alívio. Não tem jeito de parar.

_ Eu imagino...

_ Não, você não imagina. De qualquer forma, se algum dia na sua vida você pensar em engravidar, não venha pedir conselhos a mim. Eu descreverei para você cada segundo de dor disso que eu estou vivendo. Eu vou deixar você traumatizada. Só me conte quando você estiver grávida...E já for tarde demais. Que daí eu posso te contar que não há nada que você possa fazer pra que seja menos pior!

_ Você sabe que vai rir disso depois, não sabe?

_ Duvido muito.

_ Você é forte, Jennifer. Sei que vai conseguir.

_ Eu não tenho tanta certeza disso. - gemi, sentindo a enorme onda de dor que começava nas costas e seguia insuportável pela extensão da minha barriga. - Ah meu Deus! - me virei de lado, colocando a cara no travesseiro para abafar o grito de desespero que saiu da minha boca. - Chama o Connor, Rachel. Chama ele rápido!

_ Tá bom. Espera.

Eu tentava imaginar o que poderia estar acontecendo com o meu corpo para que aquela dor fosse tão insuportável. Só vinha á minha mente costelas quebradas e pele rasgando. Mas isso não poderia acontecer realmente...poderia? Eu sequer tinha coragem de olhar para o meu corpo. Imaginava uma imagem destruída e torturada de mim mesma. Imaginava o médico me examinando e dizendo ao Connor que eu não sobreviveria. Não importava mais. Desde que eles salvassem a Hailie.

Ouvi passos familiares no corredor. Eram os passos do meu Connor, um pouco mais apressados do que o normal. Geralmente isso me acalmaria, mas não foi o suficiente dessa vez. Não foi nada que me impedisse de agarrar mais uma vez aquele travesseiro e gritar o mais alto que eu conseguia.

_ Jennifer! - ele correu até mim com uma expressão assustada. - O que foi?

_ Connor... - gemi. Suas mãos acariciaram a minha face e ele puxou uma cadeira de forma a ficar mais próximo a mim. - Me ajude... - eu implorei com o olhar, enquanto lágrimas escorriam pela minha face. - Me ajude...

_ Eu...Eu... - ele hesitou - Ah, querida...Eu queria tanto poder amenizar essa dor. - ele segurou forte a minha mão.

_ Desculpa, eu não vou aguentar. Você cuida da Hailie pra mim? Promete cuidar dela?

_ Creio que vocês dois vão cuidar muito bem dela. Juntos. - disse uma voz rouca na direção da porta.

_ Doutor John, eu...

_ Você não vai morrer,Jennifer. Você vai aguentar e logo vai acabar. Você já conseguiu até aqui, querida. Está no finalzinho do processo

_ Não é possível que é assim com todo mundo. Que cada mulher que escolhe parto normal tem de passar por essa tortura.

_ É assim. Mas a tolerância para dor é relativo, querida. Alguns passam por todo o processo sorrindo, acredite. E o que acontece no corpo destas mulheres em especial é exatamente a mesma coisa que está acontecendo com o seu.

_ Não é possível. Eu não posso ser tão fracote.

_ Você não é. Tá sendo muito forte para uma menina de dezoito anos.

_ Eu só queria que acabasse logo. - gemi.

_ Vamos examinar você. - ele se aproximou e me examinou o mais delicadamente possível. - Eu bem que estava certo quando disse que você estava quase lá. - ele sorriu - Tente ficar o mais relaxada possível, certo? Quando você sentir uma pequena pressão e se sentir como se seu corpo a mandasse fazer força, faça isso. Sem pressa. Leve o tempo que quiser. Tem algo que eu possa trazer para você?

_ Na verdade...

_ Já sei. - sorriu Connor - Sushi da 'Feng Sushi'. Não se preocupe. Ethan foi buscar e já deve estar voltando.

_ Na verdade eu mudei de ideia. Agora eu quero chocolate de morango.

_ Hm, isso é mais fácil de conseguir - sorriu o doutor, olhando para uma das enfermeiras como se a estivesse mandando comprar o chocolate para mim.

De repente, uma onda de paz tomou conta de mim. Eu senti a minha filha como nunca havia sentido antes. Sentia a presença dela, o amor dela, podia até imaginar o seu rosto como se ela estivesse bem ao meu lado. Era como se tudo aquilo, a gravidez complicada, os problemas, a dor insuportável, fossem elementos triviais diante daquele elemento maior: Hailie estava ali, ela existia, e gritava a sua presença a cada movimento brusco, a cada vez que ela deixava bem claro o quanto queria sair de dentro de mim para estar diante dos meus olhos. Aquilo era real. Eu podia sentí-la nascendo, e me senti uma vitoriosa por ter aguentado até ali.

Nenhum esforço muito exagerado era preciso, aquele minúsculo ser que até aquele momento fazia parte de mim, movimentava-se muito determinada para fora do meu corpo. E não havia nada estranho naquilo. Era tão natural e tão bonito que me fez querer chorar. Mas não de dor dessa vez. Não de medo. De alegria.

De certa forma parecia um sonho. Eu não me sentia como se estivesse naquele hospital. Não me sentia rodeada de pessoas. Era como se somente houvesse eu e minha filha ali. Os sons do ambiente eram abafados, como se aquilo estivesse acontecendo em outra sala, não daquela.

Eu mal podia escutá-los. "Posso ver a cabeça" o médico dizia "Continue fazendo força, Jennifer, você está indo muito bem". Eu não precisava das recomendações dele. Eu sabia exatamente o que fazer. Eu sentia aquilo como se já tivesse vivido por várias e várias vezes.

Então eu ouvi um baque. Um estalo nos meus ouvidos, antes de ser jogada abruptamente de volta á realidade. Haviam dezenas de sons ensurdecedores. Instrumentos de metal, água escorrendo, pessoas falando, risadas, choro, murmúrios. Tentei abrir os olhos, que me lembrava de tê-los fechado, mas fui cegada por uma luz forte a intensa. Pisquei com força e meu corpo todo se contorceu, enquanto eu tentava me habituar novamente áquele ambiente hostil.

Aos poucos comecei a ouvir sons conhecidos. Ver rostos conhecidos. Connor olhava para mim numa mescla de amor e orgulho imensos. Rachel e Ethan se agarravam á porta, um sorrindo e a outra limpando as lágrimas que teimavam em escorrer por seu rosto. O doutor John sorria de forma pacífica, olhando para algo que ele tinha nos braços. Não, não era 'algo'. Era a coisa mais importante do mundo para mim. Era a minha filha.

Era difícil acreditar que aquela criaturinha tão indefesa era minha. Fazia parte de mim. Minha filha. Minha Hailie. Minha visão foi ficando embaçada em razão das lágrimas que escorriam mas ainda assim eu não queria deixar de olhar para ela.

_ Posso segurar? - minha voz saiu entrecortada por soluços.

_ Claro. - sorriu o médico, antes de me entregar delicademente a criança - Ela é sua.

Era tão pequena, tão frágil e indefesa, que era como se cada parte do corpo dela gritasse por proteção, por um amor, que eu daria de muito bom grado. Sua pele estava muito vermelha, e ela chorava assustada enquanto os seus olhos, tão puros e inocentes, observavam o mundo á volta dela. Um mundo novo. Um lugar que ela nunca havia visto. Hailie chorava muito antes de ser entregue a mim. Durou por um tempo, até que os olhos dela encontrassem os meus. Aquilo a acalmou, ela se sentiu protegida, o seu pequeno corpinho vermelho se espichou em meus braços e ela se calou por um instantes. Eu não pude deixar de sorrir. Era tinha os olhos do pai. Aqueles dois círculos negros, brilhantes, curiosos, pelos quais eu me apaixonava a cada segundo. Eu não me senti muito mais surpresa quando percebi os seus finos cabelos de ouro, exatamente do tom dos meus. Eu sabia que era ela. A garotinha dos sonhos. Não haviam mais dúvidas. Hailie sempre se comunicou comigo, sempre tivéramos uma ligação especial.

_ Posso segurar? - Connor perguntou, acariciando os bracinhos de Hailie enquanto sorria emocionado.

_ Hailie, esse é o papai. - eu sussurrei, antes de entregá-la a ele.

Diferentemente do que eu esperava, Hailie não estranhou os novos braços que a envolviam, não chorou e não demonstrou nenhum tipo de aversão. Apenas o observou calada, com uma expressão séria demais para um bebê. Aqueles dois pares de olhos misteriosos de ônix observando-se. E ninguém saberia decifrar exatamente os pensamentos daqueles dois. Definitivamente eles eram pai e filha.

_ Oi Hailie. - ele sorriu, finalmente. E depois virou-se para mim. - Ela é linda. Se parece com você.

_ Ela é a sua cara também. - eu ri. - E o jeito? Igualzinho.

_ Eu nunca imaginei que eu pudesse amar tanto alguém que acabei de conhecer. - ele murmurou.

_ Ah, eu sei exatamente como é - pensei. Eu o amara desde a primeira vez que o vi. Já aquela garotinha...Ah, eu já a amava antes mesmo de tomar conhecimento de sua existência.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 06/05/2015
Código do texto: T5233303
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