Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 49

Mal começava a anoitecer quando Connor chegou. Pelo barulho de caminhonete e as vozes masculinas certamente ele havia sido trazido para casa por um dos homens que trabalhava com ele, Henry, do qual ele andava muito próximo ultimamente. Hailie ouviu o som da porta da frente sendo destrancada e correu até ele daquele jeito engraçado dela, tropeçando, apoiando-se pelas paredes.

_ Papai! - ela sorria assim que ele entrava, esticando seus braços ao máximo até que ele a pegasse no colo. Hailie era tão parecida comigo quando pequena nesse quesito admiração extrema e cega pela figura paterna. Ainda que Connor nunca houvesse sido muito bom em intimidade e demonstrações de afeto, os olhos dela nunca deixaram de brilhar cada vez que ele chegava em casa ou lhe dava alguma atenção a mais. E para aqueles que conheciam Connor, que conheciam de verdade, era mais do que um fato o quão apaixonado pela menina ele era. Não importava o quão durão ele fosse, não importava qual personalidade ele estivesse vivenciando no momento, toda a sua postura se desfazia quando ela sorria para ele ou mesmo quando pronunciava a simples palavra 'papai'.

_ Oi Jenni. - ele se aproximou de mim, beijando de leve meus lábios. - Adivinhe o que eu trouxe pro jantar?

_ Você trouxe comida pro jantar? Comida de verdade e não pizza?

_ Engraçadinha!

_ Qual é a comemoração?

_ Não exatamente uma comemoração. Pode ser que sejam boas notícias.

_ Como assim?

_ Bem, ainda é meio que um projeto. Então não posso falar muito sobre isso.

_ Me conta logo!

_ No jantar a gente conversa. - ele enrolou uma mecha do meu cabelo, se divertindo com minha curiosidade. - Vou colocar essa garotinha pra dormir. Ela parece exausta. - ele fitou Hailie, que quase adormecia em seus braços.

_ É, nós brincamos muito hoje. E ela dormiu pouco á noite também.

_ Só ela não. Vocês duas né. Você sempre dorme tarde.

_ Como se eu tivesse escolha.

_ Mas você tem. - ele suspirou - Enfim, você pode levar essas sacolas pra cozinha? Eu volto rápido.

_ Tá bom. Ela já mamou e já tomou banho também. É só fazê-la dormir. - eu disse, levando as compras para a cozinha.

Não demorou muito para que ele fizesse Hailie dormir e viesse até a mesa. Eu ainda estava animada, abrindo as pequenas caixas de isopor e bisbilhotando no que havia dentro. Comida japonesa, e de um dos restaurantes que eu mais gostava. Além disso ele havia comprado alguns doces e sucos que nós decididamente não conseguiríamos consumir somente naquele dia. É claro que eu fiquei animada. Connor ainda era aquele garoto que não sabia nada sobre culinária, rendendo-se sempre a pizzas e sanduiches pedidos por telefone, ás vezes uma macarronada ou ovos mechidos, e eu também não era lá uma grande cozinheira, de tal forma que já estava enjoando da minha própria comida. Peguei alguns pratos no armário enquanto ele colocava os talheres e sentei-me á mesa, quase que implorando com o olhar para que ele contasse qual era o motivo da 'comemoração noturna'. Eu não pude deixar de notar no quão estranho ele estava naquela noite. E não era o 'estranho' ao modo Connor, era de outro jeito. Ele parecia inquieto, muito mais pensativo e calado do que o habitual. E quando percebeu o tamanho da minha curiosidade, começou a conversar dezenas de assuntos triviais, um após o outro, na tentativa de que eu me esquecesse.

_ Ei, você deveria provar disso aqui. - ele estendeu-me um enorme cupcake de chocolate na minha frente. Dizem que é o melhor daqui de Londres.

_ Não, obrigada. Eu já estou meio cheia de tanta comida.

_ Sabe quem ia adorar? Hailie.

_ Você não sabe. Ela nunca comeu chocolate.

_ Acho que já tá passando da hora da gente começar a dar comida de verdade para ela.

_ Por quê? O pediatra falou que a melhor coisa é amamentar o máximo de tempo possível. É muito mais saudável pro bebê.

_ Você só pensa no que é saudável. Deixa a menina experimentar coisas novas.

_ Tá muito cedo.

_ Eu não acho.

_ Connor, eu sei que você não se importa com isso. Não adianta inventar uma briga totalmente sem pé nem cabeça comigo. Eu não vou esquecer. Eu quero saber que novo projeto é esse. Eu tenho o direito de saber sobre as coisas que vão influenciar a nossa vida.

_ É influenciar pra melhor.

_ Influenciar no que?

_ Olha, Jenni...É apenas um...Um projeto fora da empresa que eu e Henry estamos organizando. Na verdade já tem mais umas pessoas envolvidas,e pode dar muito certo. Pode acabar melhorando e muito nossas vidas. Mas eu não quero dar esperanças demais a você. É só um projeto, não tem nada certo ainda.

_ E vocês pretendem deixar a empresa por causa de algo que sequer é certo?

_ Eu não sei. Talvez.

_ Você não pode fazer loucuras agora, Connor. Sabe disso,né? Já pensou como ficaria nossas vidas se você ficasse sem emprego nenhum?

_ Não muito pior do que está agora.

_ Não sabia que você era tão infeliz.

_ Eu não sou infeliz, Jenni. Eu amo nossa família, amo ser parte disso. Mas eu tenho minhas coisas, sabe? Eu quero terminar a faculdade, quero crescer numa empresa.

_ E onde está o garoto que renegava o legado de filhinho de papai rico por achar que existem coisas muito mais importantes do que o dinheiro ou ter um cargo super importante em uma super empresa?

_ Ele cresceu.

_ Que pena, porque ele era realmente admirável.

_ Eu não quero brigar com você, Jenni. Você sabe que ainda sou o mesmo. Eu não quero nada com meu pai, e muito menos com a empresa dele. Você sabe que eu não falo com ele desde que a Hailie nasceu.

_ Por que você quis.

_ Por que eu quis sim. Eu não quero ele perto da nossa filha. Agora tenta me entender quando eu quero dar uma vida melhor pra nós três. Você acha que eu gosto de querer comprar um monte de coisas legais para Hailie e não poder para não balançar o orçamento? Acha que gosto de ter de deixá-la passar toda a manhã numa creche e vê-la só a noite por que é o único horário que eu tenho tempo? Como acha que eu me sinto ao ver você sempre exausta, se matando para conciliar o emprego e a obrigação de ter de cuidar da Hailie praticamente sozinha?

_ Isso tudo vale á pena. Pra mim nada mais importa se eu posso ter vocês por perto. Você sabe minha história, sabe como eu me sinto. Família é a coisa mais importante

do mundo. O resto é o resto.

_ Só que eu quero mais. Eu quero poder passar mais tempo com vocês, quero viajar, ter dinheiro pra sair nos fins de semana, quero poder comprar as coisas que eu gosto, quero saber que quando a Hailie crescer nós vamos poder matriculá-la num bom colégio e dar a ela tudo o que ela precisar. Você não pensa nisso também? Ela não vai ser um bebê para sempre. Ela vai crescer.

_Claro que eu penso. Mas a gente dá um jeito. A gente sempre dá.

_ Veja isso como a minha forma de dar um jeito.

_ Arriscar tudo assim?

_ As chances de darem certo são boas.

_ Ainda assim.

_ Você não sente falta de sair e não se preocupar com mais nada? Há quanto tempo não saímos juntos, só nós dois? Há quanto tempo não fazemos algo que não esteja relacionado a trabalho ou aos médicos da Hailie?

_ Muito tempo. - eu mordi meu lábio inferior, revirando os meus olhos para a parede. Nós nunca saíamos juntos depois que Hailie nasceu. E nós não tínhamos muitos momentos românticos á sós. Claro que eu sentia falta de sair. Nem mesmo com Rachel eu saía tanto quanto gostaria. Mas minha menina ainda era muito pequena. Eu podia esperar por uns anos. Eu não me importava de não poder de sair sempre, afinal, as duas pessoas mais importantes do meu mundo já viviam sob o meu teto.

_ É só um projeto, Jenni. Não se preocupe. - ele se levantou da mesa, guardando os restos de comida e ajeitando os pratos na pia.

_ Eu confio em você. Sabe disso, não sabe? - eu sussurrei, colocando-me entre ele e um embrulho o qual ele esticara os braços para pegar.

_ Então continue confiando.

_ Eu amo você. Eu amo estar aqui. Eu só não quero que nada estrague isso.

_ Nada vai estragar. Você só precisa aprender a aceitar coisas novas. Desafios.

_ Eu nunca gostei de desafios. E olha que eu já tive o suficiente para uma vida toda.

_ Bem, talvez esse a surpreenda.

_ E não existe nenhuma forma de você cuidar desse novo negócio sem largar o emprego que você já tem? Ao menos até que ele se torne algo mais certo?

_ Nem se eu quisesse muito.

_ Não é tão difícil. O que o impede?

Connor coçou a cabeça antes de responder. Uma nuvem de mistério se formou sobre sua fronte e ele fitou a parede como forma de ignorar meus grandes e curiosos olhos.

_ O fato de que nós vamos ter de nos mudar para Edimburgo?

_ O quê? – bati a mão na mesa, não acreditando no que havia acabado de ouvir.

_ Como eu disse, você não aceita o novo.

_ Eu não quero me mudar de novo. Eu amo Londres, eu amo os amigos que tenho aqui. Amo nossa casa, amo meu trabalho, amo a creche que Hailie freqüenta. Eu cresci aqui. Não vou me mudar pra uma cidade escocesa idiota.

_ Você se mudou facilmente para Liverpool na faculdade. E Edimburgo fica no Reino Unido do mesmo jeito. Não tem nada a ver.

_ Na faculdade era diferente. Era só por um tempo. E eu ia voltar. Eu não vou sair daqui pra morar nessa cidade idiota. Nós temos uma casa aqui, uma vida aqui. Lá nós vamos viver onde? Debaixo da ponte?

_ Vamos dividir o segundo andar do apartamento que o Henry tem lá.

_ Ah,vá sonhando! – eu gritei, correndo irada pelas escadas antes de ouvir qualquer resposta que ele pudesse dar.

O que é que ele estava pensando? Trocar o certo pelo duvidoso como se sua vida fosse apenas um joguinho casual? Deixar de ter o dinheiro resultante de dois empregos, abandonar uma linda casa só nossa, tirar nossa filha da creche na qual ela estava tão adaptada para mudar para uma cidade estranha, com pessoas estranhas, – dado que Henry era só um colega de trabalho dele, ele não realmente o conhecia – confiando num projeto de trabalho que, se e caso desse certo, demoraria meses para dar algum retorno financeiro? E nós viveríamos de quê? Energia do sol? E, sim, eu não sabia lidar com mudanças. Ele estava absolutamente certo. A primeira grande mudança da minha vida foi com a morte dos meus pais, a segunda com a morte do meu avô, a terceira quando eu engravidei. Claro que fora a maior felicidade do mundo o fato da Hailie ter surgido em minha vida. Mas eu não simplesmente ignorar o fato de que nada daquilo fora fácil. Cada mudança acabou comigo, marcou-me por dentro e por fora tornando-me uma pessoa cada vez mais fria e desconfiada de tudo e todos. Não era fácil simplesmente me deixar levar. Fechar os olhos e pular. Eu gostava do estável, do certo, de ter o controle em minhas mãos. Eu gostava de saber que no dia seguinte eu poderia deixar a minha filha com pessoas nas quais eu confiava e teria um lugar para voltar depois de uma longa manhã de trabalho. Gostava de saber que teria dinheiro o suficiente para pagar todas as contas no fim do mês. Gostava de nunca privar Hailie das coisas que ela precisasse.

Aquilo sim seria uma loucura. Atirar para o alto sem nunca ter treinado pontaria. Connor sequer era formado em administração de empresas. O que é que ele estava pensando? Tirar toda a estrutura que tínhamos em razão de algo que sequer era certo? E se desse errado? O que nós faríamos? O que daríamos para nossa filha? Eu não estava pensando muito. Apenas joguei a mochila na cama e fui colocando o máximo de coisas importantes das quais eu me lembrava. Celular, documentos, roupas, dinheiro. E, em uma pequena mala cor-de-rosa, fraldas, brinquedos, mamadeiras e chupetas. Só depois de vestir um grande casaco por cima da minha roupa, ter colocado a mochila nas costas e a bolsa pendurada no ombro, peguei Hailie delicadamente, tomando cuidado para não acordá-la. Mas, como vocês já sabem, Hailie nunca teve o sono muito pesado.

_ História? – ela perguntou, a voz ainda rouca de sono, os olhos mal conseguindo lutar com a luz do quarto.

_ Não, querida, não é hora da história. A gente vai dar uma volta. Vai passar uns dias na casa da tia Rachel. O que você acha?

_ “Eitchel” – ela tentou dizer o nome de Rachel, batendo palminhas.

_ Que bom que gostou.

_ Papai? _ Papai não vai com a gente não. Ele precisa de um tempo de castigo pra pensar. – eu disse-lhe, tentando sorrir. Ela colocou as mãozinhas sobre a boca e riu bem alto.

_ Onde você acha que vai? – Connor apareceu na porta, indignado com a cena que

viu.

_ Pra longe de você.

_ O quê? Por quê?

_ Você só pensa em si mesmo. – cuspi as palavras em cima dele, mesmo sabendo que acabaria me sentindo mal depois. E saí pela porta.

_ Que merda Jenni! Pare de ser infantil! - ele gritou, mas eu o ignorei.

A noite estava escura e muito fria. Mas nada daquilo serviu para me impedir de atravessar aquela avenida e pegar o primeiro táxi disponível em direção á casa de Rachel. Ela abriu a porta e, naturalmente, não entendeu por que motivo louco eu estaria parada á porta da casa dela, com minha filha e uma mochila, àquela hora. Mas um segundo depois ela lançou-se sobre mim, abraçando-me e chorando copiosamente.

_ Eu não acredito que ele fez isso comigo. Como ele pôde? Ele prometeu que ficaríamos juntos pra sempre. Prometeu olhando nos meus olhos, Jenni.

_ Quem? O que aconteceu?

_ O Ethan aconteceu. Aquele cara que você me apresentou só pra ferrar com minha vida.

_ Hm...Desculpa?

_ Pior é que nem é sua culpa. Eu que o conheci no dia em que fomos á praia. Eu que caí feito uma patinha naquela lábia dele. Ah, Deus, eu preciso de uma pessoa pra culpar. O Connor então. Eu culpo o Connor por tê-lo trazido aquele dia no carro.

_ Nem me fale em Connor. – virei os olhos.

_ Mas é simples assim. Ele já teve tudo o que queria de mim. Agora é fácil jogar fora e procurar coisa melhor. Como se eu fosse lixo.

_ Rachel, você sabe que eu não faço a menor ideia do que você está falando, né? – eu tentei colocar um tom engraçado para que, ao menos ela parasse de chorar. Troquei Hailie de braço e descansei o outro.

_ Ah, amiga, me desculpa. Entra, por favor.

_ Eu tive uns probleminhas lá em casa. A gente pode ficar aqui por uns dias?

_ Claro que sim. Sempre pode. Você sabe onde é o quarto de visitas. Vou preparar um chocolate quente pra gente.

Depois de ter ajeitado as grades de cama reservas que Rachel havia me emprestado, e colocado Hailie para dormir, desci até a cozinha. Rachel tomava o seu chocolate quente encostada na parede e fitando a janela com um olhar melancólico. Andei até ela e acariciei os seus cabelos, exatamente igual ela fizera todas as vezes que eu tinha problemas e ligava pra ela chorando.

_ Vai me contar o que aconteceu?

_ Ele vai embora. Sem sequer olhar pro lado, sem sequer pensar em mim. Vai dizer ‘dane-se’ pro mundo e vai embora.

_ Tem certeza de que estamos falando do Ethan?

_ Sim. Do Ethan e daquela banda idiota dele. Eu não entendo, Jenni. Eu estive presente, eu fui a todos os ensaios, shows, gravações...E olha que eu nem gosto tanto daquele estilo de música. Pra quê? Pra nada. Pra não ser reconhecida.

_ Eu ainda não entendi. Eles fizeram um show e um produtor importante gostou muito. Daí ele ofereceu um contato a ele que os deixou vibrantes. Mas com uma condição. O contrato era para eles tocarem em Nova York.

_ Nova York? – eu disse, tentando esconder minha surpresa.

_ Sim, Nova York. Sei o que está pensando. ‘Que incrível, ele vai viver numa cidade super badalada, provavelmente a banda vai fazer todo aquele sucesso que sempre almejou’. É mesmo incrível. E eu estou feliz por ele. Eu gritei, pulei e o abracei de felicidade.

_ Sim, mas isso não significa que ele vai deixá-la, Rachel.

_ Meio que significa sim. NY fica do outro lado do mundo. Não é como se ele pudesse vir todo fim de semana. Raramente ele poderá vir. Só que isso não era problema. Nunca foi. Eu lhe disse que assinasse o contrato, que eu arrumaria minhas malas e iria com ele. Pra qualquer lugar que ele fosse.

_ Você teria coragem?

_ Claro que sim. Meu lar é ele. É estar junto dele. O resto é o resto.

_ Mas...é tão arriscado. E o seu sonho de ser médica?

_ Conseqüências, Jenni. Ao menos eu o teria por perto.

_ Mas o que é que está havendo então?

_ Ele não quer que eu vá com ele. Disse com todas as palavras ‘você não está nos planos’. Disse que não conseguiria me dar atenção o suficiente porque teria que se focar na banda. E que ainda não estava pronto pra morar junto comigo. Que não ia dar certo. Que ia estragar tudo aquilo que a gente tem. Enfim, ele não quer deixar que eu vá com ele. Ele vai simplesmente me abandonar aqui. Logo eu que fiz tudo por ele.

_ Ah, querida, eu sinto muito. – abracei-a forte, sentindo suas lágrimas molharem a manga do meu casaco.

_ E o pior é que eu sequer vou me despedir dele. Eu dei um tapa nele, amiga. Um forte e barulhento tapa. Os contornos da minha mão ficaram marcados no rosto dele. Eu nunca antes o machuquei daquela forma. Mas eu estava tão brava. Me senti tão traída.

_ Talvez ele estivesse certo. Talvez não seja a melhor coisa que você vá com ele. Como vai abandonar a faculdade assim, do nada? Como vocês vão se sustentar? Pois, afinal de contas, lá a banda dele ainda é praticamente desconhecida.

_ Não sei, Jenni. A gente dava um jeito de viver.

_ Viver de amor? Ninguém vive de amor. Tudo depende das dezenas de outros fatores que o envolvem.

_ Eu conseguiria se quisesse.

_ Quer um conselho? Despeça-se dele. Não importa o quão brava você está, faça isso por você mesma. Você não faz ideia de qual a próxima vez em que você o verá. Não faça nada de que se arrependa depois.

_ E depois? O que eu faço? – ela perguntou. E eu dei o conselho que fazia parte de mim desde que eu aprendi a me defender.

_ Depois você sobrevive. Mesmo que sinta que tudo dentro de você está morto, você sobrevive. Mesmo que não acredite no futuro, mesmo que sinta como se o seu coração estivesse oco. É a única coisa que você pode fazer. Seguir em frente. Faz a dor ir embora mais rápido.

_ Eu queria conseguir ser forte igual a você.

_ Eu ainda estou tão longe disso.

_ Não, não está. Você superou tragédias que definitivamente me matariam por dentro. Você praticamente nasceu de novo. Está amadurecendo e se tornando uma mulher maravilhosa. Você é a pessoa mais forte que eu já conheci.

_ Obrigada, minha querida.

_ É a sua vez. Me conte o que aconteceu entre você e Connor. Depois a gente pode pegar o sorvete que está no meu congelador, devorá-lo e chorar todas as nossas lágrimas.

_ Seria ótimo. – sorri.

Então eu contei sobre toda aquela sua ideia louca. Contei sobre meus receios e todos os motivos que me levavam a achar que ele estava sendo um idiota. Ele não podia ser tão inconsequente. Ele tinha uma filha que dependia total e inteiramente dele. O que é que estava pensando? Quando foi que aquele garoto de coração enorme se transformara num homem ambicioso que agia tão inconsequentemente?

_ Puxa vida, que situação...

– Rachel coçou a cabeça.

_ Nem me fale.

_ E o que você vai fazer?

_ Eu não sei ainda. O que você faria?

_ Eu acho que arriscaria e iria com ele. Mas você não pode me pedir opinião. Eu nunca tive uma filha. Nunca tive alguém que dependesse inteiramente de mim.

_ Eu dependo inteiramente de você – sorri, deitando a cabeça em seu ombro. Tão familiar. Tão fraternal.

_ Até parece. – ela riu.

_ Sabe, eu realmente amo o Connor. Mas talvez toda aquela excitação de quando estávamos apaixonados esteja passando. Talvez ele esteja procurando se interessar por outras coisas para bloquear a mente dele, para evitar de pensar que ele não se interessa mais por mim.

_ Todo mundo sabe que ele é louco por você, Jenni. Só que é...Do jeito dele.

_ Ás vezes ele não parece mais o meu Connor. Me corta o coração quando aquela nuvem de mistério toma conta dele e eu não consigo sequer fazer ideia do que é que ele está pensando.

_ Ele sempre foi assim. E você sempre amou isso.

_ Talvez eu esteja me cansando disso. – fitei o teto – Talvez eu queira passar o resto da minha vida com alguém que eu conheça de verdade. E ás vezes eu acho que eu não o conheço.

_ Mas se vocês se separarem...Como vai ser? Você vai ficar com a Hailie?

_ Claro que eu vou ficar com a Hailie. Que pergunta idiota!

_ Se você quiser, eu conheço um advogado que pode conseguir uma pensão dele. Sabe, pra você não ter de lidar com tudo sozinha. Ele pode até não ter dinheiro, mas a família dele tem. Você não precisa passar aperto com a Hailie.

_ Eu não quero o dinheiro dele. Não quero passar nem perto do dinheiro da família dele. Tudo que eu quero é o Connor. Aquele Connor que faz com que eu me sinta segura.

_ Desculpa por falar nisso assim.

_ Acho que é meio que um pacote duplo. Ou você se acostuma com os dois lados dele ou você não leva.

_ Ou você aprende a amar as duas partes.

_ Eu amo as duas partes dele. Amo ele por completo desde...Desde sempre. É que agora é diferente.

_ Será mesmo? Digo, precisa ser? Vocês ainda são as mesmas pessoas. Tirando o tempo que passou, os acontecimentos e os problemas, você ainda é a Jennifer e ele ainda é o Connor, aquele cara que te deixava sem ar só de passar ao seu lado do corredor.

_ E era tudo tão simples, né? – sorri.

A campainha tocou uma vez. Alto e estridente, porém breve. Como se a pessoa quisesse falar com alguém em especial mas temesse acordar aos outros membros da casa. Ambas demos um pulo no sofá. Rachel olhou no relógio que marcava duas e meia da madrugada e depois fitou a porta, silenciosa.

_ Que tipo de pessoa toca a campainha da casa dos outros a essa hora?

_ Bêbados? Assaltantes? Estupradores? - sorri.

_ Eu estou falando sério. Que medo. Eu é que não vou abrir.

_ Você não ta esperando ninguém?

_ Eu não. Você está?

_ Eu nem moro aqui.

_ Pode ser o Connor.

_ Sem a menor chance. Eu não disse pra ele onde iria.

A campainha soou mais uma vez e tanto eu quanto Rachel estremecemos. Ela fez menção de dizer algo, mas preferiu por ficar calada. A maçaneta girou uma vez, sem sucesso. Então o toque estridente foi substituído por batidas sutis na madeira.

_ Olha aqui, eu vou chamar a policia, ta legal? – gritou Rachel, agarrando em meus braços.

_ Rachel, sou eu. O Connor. É só que... A Jenni ta aí?

_ Diga que não. – cochichei. Ela me fitou de cara feia.

_ A filha de vocês também ta aqui. Eu não vou mentir pra ele. Ele deve estar morto de preocupação.

_ Eu não to nem aí.

_ Hmmm...Ela não quer falar com você, Connor.

_ Oh Deus! Eu fiquei tão preocupado. Ela e Hailie andando sozinhas pela cidade á noite.

_ Elas estão bem. Não se preocupe.

_ Não fale como se ela não estivesse aí do seu lado. Eu sei que está.

_ Vá embora. – gritei, tentando disfarçar o choro que começava a se formar. E eu nem sabia bem por que é que estava chorando. Mas eu fazia uma ideia. Medo. Aquele sentimento que vem quando você menos espera e é capaz de devastar todo o seu mundo. Eu queria que ele fosse embora mas, ao mesmo tempo, eu morreria se ele fosse embora.

_ Não faz isso. – ele sussurrou e encostou-se a porta. – Ao menos me ouça. Me deixe falar com você. Eu não tenho ao menos esse direito?

_ O que é que há pra falar?

_ Jennifer...Por favor...Abre a porta.

Rachel me olhou se cara feia mais uma vez e depois olhou pra porta. Aquilo me irritou profundamente. Eu tinha o direito de não querer vê-lo.

_ Você ta sendo infantil.

_ Não, eu não estou.

_ Vocês são praticamente casados, Jenni.

_ Eu não quero falar com ele.

_ Você quer falar com ele. Só que você é extremamente cabeça dura.

_ E extremamente medrosa. Eu só posso ir embora, Rachel. É só o que eu sei fazer. Ir embora – eu murmurei, mas já era tarde. Ela destrancara a porta e girou a maçaneta sem nem se importar com o gemido de protesto que eu dei.

Connor correu os olhos pela sala até que me viu. Ele andou meio receoso até onde eu o observava em pé e de braços cruzados. Ele sorriu e tentou pegar minhas mãos, mas eu as puxei.

_ Topa ir num lugar comigo? Só pra conversar. Depois, se você ainda quiser ficar longe de mim, eu deixo você aqui de volta.

_ Ta tarde e a Hailie já está dormindo.

_ A Rachel cuida dela pra gente, não cuida Rachel?

_ Claro que sim. – ela disse educadamente e fingiu não ver a cara feia que eu fiz pra ela.

Connor dirigiu em silêncio até a nossa praia preferida e me olhou depois de desligar o motor. O que é que ele estava pensando? Que me levar ao meu lugar favorito ia me fazer dar o braço a torcer? Que eu ia agir como se nada daquilo fosse loucura e simplesmente ceder á decisão que ele tomara sem sequer me consultar?

_ Eu achei que a gente podia andar um pouco. – ele abriu a porta do carro pra mim.

_ Que seja. – dei ombros, descendo e andando á frente dele.

_ A gente tem boas lembranças desse lugar, né? – ele sorriu.

_ É. Mas agora você o estragou.

_ Por quê?

_ Porque você me trouxe aqui hoje. Então essa praia vai passar a simbolizar o começo e o fim.

_ Eu sei que você está brava.

_ Brava? Você ta sendo gentil. Eu me sinto irada. Decepcionada. Traída.

_ Não é como se eu já estivesse planejando tudo pra me mudar pra Edimburgo. É claro que sua opinião conta.

_ Sei que você já mexeu os seus pauzinhos em relação a isso. Eu conheço você. Quero dizer...Eu achei que conhecia.

_ Bem, eu planejei...Algumas coisas. Sem nem ter falado contigo. Você tem toda a razão de estar brava. Mas tenta me entender. Isso é por vocês também.

_ É loucura. Você sequer pensou na gente. Ta pensando só em si mesmo. Nós temos toda uma estrutura por aqui. Isso não é um joguinho, Connor. Sabe, eu estou ficando cansada dessas suas duas personalidades. Não quero estar com um cara que me ame completamente em um dia e vá embora no outro. Não quero ter todo o meu chão arrancado de mim novamente.

_ Duas personalidades? – ele disfarçou um sorriso.

_ Por um momento você me dá total segurança. Eu sei quem você é, sei que é ao seu lado que quero estar. Mas daí você começa a ficar estranho, sua expressão muda, e eu já não sei mais o que você sente.

_ Não fazia idéia de que você me via assim.

_ Eu já vi meu mundo cair por duas vezes. Eu não agüento mais uma. Meu coração ainda está fraco pra ser quebrado novamente. – eu disse, lamentando por minha voz falhar nas últimas palavras. Eu não entendia por que é que estava tão sensível. Por que é que uma discussão boba com Connor me causava uma dor tão lancinante? Era como se cada parte de mim fosse morrendo aos poucos.

_ Jennifer... – ele se aproximou.

_ Vai embora, ta? – eu gritei, correndo em direção á orla da praia. Eu não queria que ele me visse chorar. Não queria me entregar por vencida. Agora Hailie era a pessoa mais importante da minha vida. Eu jamais aprovaria qualquer decisão que a prejudicasse.

Eu só me lembro de ter me sentado na orla da praia, perto o suficiente para que a água tocasse os meus pés, e me encolhido completamente, abraçando forte as minhas pernas, enfiando o rosto entre meus joelhos na tentativa de esconder as lágrimas que já caiam sem receio algum.

_ Eu não sei o que fazer. Não sei o que sentir. – sussurrei – Eu não quero que ele vá embora. Então, da forma mais natural do mundo, Connor sentou-se ao meu lado e puxou meu rosto pra perto do dele. Eu não conseguia parar de chorar. Não conseguia sequer fitar os seus olhos que eu tanto amava.

_ Você não entende? – ele sussurrou – Eu nunca vou deixar você. Você é minha vida.

_ Eu não sei se eu acredito em você. – tentei fazer voz de zangada. Como se fosse possível. Ele limpou minhas lágrimas com os dedos, me beijou na testa, e continuou a segurar o meu rosto perto do dele com uma delicadeza de quem segura algo quebrável.

_ E por quê não haveria de acreditar? Você é tudo o que eu tenho. Você e a Hailie. São as duas coisas que mais importam no mundo pra mim. Eu nunca amei tanto e tanto quis proteger uma pessoa quando eu amo e quero proteger você. Eu odeio te fazer sofrer. Odeio que você me veja como uma pessoa fria. Mas, veja, eu não tive o melhor exemplo do mundo sobre como demonstrar sentimentos. Meu pai sempre foi muito duro comigo e instruiu que eu também fosse. Sei que você pensa que minha vida foi muito fácil, Jenni, mas ela não foi. Não é normal uma pessoa ficar tanto tempo sem se comunicar com a família. Você não faz ideia das coisas que eu vi e ouvi. Daí de repente me aparece você. Ah, eu me lembro perfeitamente daquela garotinha de quinze anos me seguindo pelos corredores do colégio, jurando que estava sendo discreta o suficiente. Do jeito que seus olhos brilhavam quando você me olhava pela fresta do seu armário. De como você sempre dava um jeito de sentar ao meu lado na aula de educação física.

_ Eu nunca achei que você me notaria.

_ Claro que eu te notei. Qualquer cara notaria você. Você sempre foi uma menina linda. Sempre teve algo de encantador que eu nunca soube explicar. Mas o que é que eu poderia fazer? Eu sabia que não era a pessoa certa pra você. Você era uma menina cheia de expectativas e eu a decepcionaria. Merecia coisa muito melhor. Um cara da sua idade, por exemplo. Um cara capaz de suprir tudo o que você precisava. Um cara como o Erick.

_ Mas o Erick apareceu muito depois disso. E eu nunca consegui me sentir completa quando estava com ele. De certa forma, eu buscava você o tempo inteiro.

_ É. Mas daí a sua amiga maluca te empurrou sobre mim naquele baile. E você estava tão linda que eu me esqueci totalmente daquela decisão de ficar longe de você. Eu queria provar, queria saber como era ser completamente admirado por alguém, queria ver se eu era capaz de me envolver de verdade.

_ Daí surgiu a viagem.

_ É. E eu fugi de você como um completo covarde. Mas você sempre me assustou. Eu me apaixonei por você e não sabia o que fazer com esse sentimento.

_ Sei como é. – sussurrei.

_ Mas quando eu voltei. Nossa... Você tinha se tornado uma mulher e tanto. E todo aquele tempo que pareceu me afastar de você foi totalmente inútil quando eu comecei a acompanhar de perto todas as suas conquistas. Eu só pensava no quão incrível você era e no quanto eu a queria para mim.

_ Então por que você não impediu que eu fosse embora pra Liverpool? Tem noção do quanto aquilo doeu?

_ Era o seu sonho, querida. Quem era eu pra me jogar em frente aos seus sonhos e exigir que ficasse comigo? O que é que eu poderia lhe oferecer de tão mais incrível?

_ Você – eu pensei. Mas eu estava emocionada demais para falar. Ele me notava. Ele sempre me notara. De repente, tudo pareceu tão mais simples. De repente, eu não precisava mais de uma cidade fixa, de um emprego ruim, de uma casa. Ele era meu lar. Eu estaria bem onde ele estivesse.

_ Eu me mantive ocupado pelo maior tempo possível para evitar pensar tanto em você. Comecei até a me envolver no trabalho do meu pai, só porque eu sabia que ele seria exigente e aquilo tomaria todas as minhas energias. Mas daí você voltou. E a Hailie entrou na minha vida. E, olha, eu não sei que tipo de lembrança você guarda da sua gravidez, mas só eu sei como adorei cada segundo daquilo. Eu tinha duas pessoas que precisavam de mim. Tinha uma família só minha. E quando estava com você eu me sentia em casa muito mais do que senti durante toda a minha infância e adolescência em que vivi com meus pais. Quando eu vi nossa filha pela primeira vez eu prometi pra mim mesmo que dedicaria toda a minha vida e proteger vocês e mostrar-lhes somente a felicidade. Sei que ás vezes falho nisso, mas nunca foi intencional. Eu amo você, Jennifer. E, acredite em mim, quando olho pra você eu ainda vejo aquela garotinha. Quando você me toca eu me sinto o cara mais sortudo do mundo. Eu não largaria isso por nada desse mundo.

_ Me desculpa... – eu o abracei forte. Já nem me lembrava mais de disfarçar as lágrimas. – Eu amo você. Eu morreria se tivesse que ficar longe. É como se você fizesse parte de mim. Consegue se imaginar sem uma parte de si mesmo?

_ Sei que você me acha egoísta sobre toda essa situação de hoje. A empresa nova, mudar de cidade... Mas eu juro que isso é só por vocês. Eu não agüento mais viver assim, tendo que trabalhar feito louco e ainda assim ficando cheio de dívidas. Querendo dar o melhor pra você e para a Hailie, mas tendo que me contentar com o básico. Eu não sou louco, Jennifer. Nós temos investidores, temos uma base. Eu tenho um contrato onde receberei uma indenização no caso da empresa fechar. Henry tem uma casa enorme. Não vai ser incômodo nenhum que fiquemos lá nos primeiros meses. Eles têm quartos sobrando e tem filhos de idades próximas a da Hailie. Ela vai ter com quem brincar. Vai ter quem cuide dela. Você vai poder cuidar melhor de si mesma. Confie em mim, Jennifer. Eu não estou atirando para o alto. Eu só quero o melhor pra gente. Mas quero que saiba que não vou a lugar nenhum sem você e nossa filha. Se você quiser ficar, a gente fica, a gente se vira. Só me mudo pra Edimburgo se vocês forem junto. Eu sequer vou vender a casa logo de cara. Vou alugá-la pra um casal de velhinhos muito gentis que conheci essa semana. Se nada der certo a gente volta. Você não tem nada a temer. Eu jamais colocaria você numa situação ruim. Confia em mim. – ele disse sinceramente, sem desviar os olhos dos meus nem uma vez sequer. Então apertou forte as minhas mãos, com aqueles olhos de quem pede por algo.

_ Eu confio em você. – eu cedi, por fim – Eu sei que você pode cuidar da gente. E hoje eu meio que percebi uma coisa. Rachel até me ajudou com isso.

_ O que você percebeu?

_ Não importa onde estivermos. Podemos ir até o fim do mundo, que seja. Meu lar é e sempre será com você e Hailie. Se vocês estiverem comigo, sempre estará tudo bem. O resto é o resto.

_ Quando eu acho que você não pode mais me surpreender... – ele sorriu, puxando as minhas pernas por cima das dele e beijando os meus lábios com uma felicidade bem aparente – Eu amo você, minha garotinha.

_ Eu também amo você, garoto misterioso.

_ Garoto misterioso? – ele ergueu sua sobrancelha com uma expressão divertida.

_ É como eu e minhas amigas o chamávamos.

_ Mais essa agora. – ele sorriu.

_ Obrigada por ter me notado no colégio.

_ Obrigada por ter esbarrado em mim no baile. E...hm...por me obrigar a transar com você. Senão a Hailie não existiria, né?

_ Ei, eu não... – comecei a dizer, mas ele caiu na gargalhada e me empurrou no chão de areia. Olhamos envolta e a praia estava tão deserta que normalmente eu sentiria medo por estar lá naquele horário. Mas não importava. Eu estava com ele. Ele se aproximou de mim e me olhou com aqueles olhos de derreter qualquer uma. Sua boca tocou a minha, sua pele tocou a minha e, vocês sabem, naturalmente tudo envolta sumiu. Estávamos só eu ele. Como nos velhos tempos.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 08/05/2015
Código do texto: T5235531
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