Mais que a Minha Própria Vida - Capítulo 51

Nós resolvemos aproveitar o dia mais quente que o habitual para irmos ao clube. Os Marshall foram conosco e Hailie se divertiu bastante brincando na água com as outras crianças, enquanto Connor e Henry conversavam sobre negócios e Molly e eu nos deitamos em cadeiras de plástico para tomar um pouco de sol.

_ Olha só como eles estão todos sérios e concentrados. Que bobos! Simplesmente não conseguem curtir um dia lindo e ensolarado como esse. – Molly sorriu. Eu não entendia por que, mas havia algo nela de 'gostável'. Uma sensação de familiaridade que faz com que você queira estar por perto. E por quê eu não gostaria de estar? Ela era a única amiga que eu tinha em Edimburgo.

_ Bem, mais ou menos. O Connor não parece estar prestando muito atenção. Olha só como ele não para de se desviar de Henry para poder vigiar Hailie.

_ É verdade. – ela riu – Ele é uma gracinha. Vocês dois são uma gracinha. É bonito que garotos tão novos quanto vocês sejam tão dedicados á família.

_ Bem, ele e Hailie são tudo para mim. Tudo o que eu tenho. Então... – dei ombros – Nada mais importa. _ Vocês não pensam em se casar?

_ Casar, Molly? – eu ri – Que idéia!

_ Por quê não? Vocês se amam, tem uma filha juntos, uma casa e estabilidade financeira. O que mais falta?

_ Não falta. Justamente. Eu não ligo muito pra isso.

_ Claro que liga.

_ Claro que não. É só uma formalidade boba.

_ Ele estaria declarando oficialmente que quer ficar contigo para o resto da vida.

_ Ele não precisa me prometer algo assim. Só dele dar o seu melhor pra mim é o suficiente.

_ Eu sei, Jen. Mas é algo que vocês vão guardar para sempre. Pense o quão linda você ficaria de noiva...E a Hailie de daminha? – ela riu – Você não sonhava isso quando era pequena?

_ Bom...Quando eu era pequena eu não me permitia sonhar coisas muito grandes.

_ É, mas agora você pode. E você merece, querida. Não consegue imaginar? O Connor olhando nos seus olhos e te oferecendo uma caixinha com uma aliança...

_ Você vê filmes demais. - virei os olhos.

Senti algo tocar as minhas costas e, quando me virei, Hailie estava parada perto de mim juntamente com Sam e Lil.

_ A Louise destruiu o castelinho que a gente fez. – ela choramingou, fazendo um bico – Eu não quero mais brincar com ela.

_ Só porque o nosso castelo era muito mais bonito do que o dela. – disse Sam.

_ Claro que era muito mais bonito. Fui eu que ensinei a fazer. – retrucou Hailie.

_ Hailie...Me conte a verdade. Por que ela destruiu o castelo de vocês? – segurei firme o braço dela olhando fixamente em seus olhos.

_ Porque... – ela fitou o chão envergonhada – Eu disse que meu papai me ensinava a fazer castelos de areia legais enquanto o dela só fica lendo jornal e falando no celular.

_ Hailie, senta aqui no banco.

_ O quê? Por que?

_ Agora. – eu mandei. E ela se sentou. – Louise! – chamei – Vem aqui.

_ O quê? Eu não fiz nada. – Louise andou de fininho até mim, com os olhos no chão, escondendo lágrimas. _ Hailie. Peça desculpas.

_ Mas mamãe...

_ Agora!

_ Desculpa... – ela choramingou.

_ Agora Louise, peça desculpas á Hailie e aos seus irmãos por ter destruído os castelo deles.

_ Desculpa.

_ A gente não deve nunca tratar mal aos nossos amigos. Eles são as pessoas que sempre estarão lá pra você. – eu disse a elas – E, Hailie, você tem de ser grata pelas coisas que tem e apenas isso. Não é certo jogar na cara das pessoas as coisas boas que te acontecem. Coisas boas são passageiras.

_ Mas mamãe... – ela disse com voz dengosa, arrastando-se até o meu colo – O papai não é passageiro, é? _ Não, não é, querida.

_ E nem você,né mamãe?

_ Nem eu.

_ Quantos anos vocês vão viver?

_ Quinhentos anos. – eu sussurrei, beijando o alto de sua cabeça e apertando-a forte em meus braços. Ah, como eu queria que ela não crescesse nunca.

_ Quinhentos anos é muito tempo?

_ Sim, muito tempo.

_ Mais do que cinqüenta?

_ Sim,querida. Muito mais do que cinqüenta.

_ Então ta. – ela se acalmou, aninhando-se em meus braços. Era tão bom sentir seu corpo tão frágil e quentinho agarrado ao meu. Era tão bom ser a proteção de alguém.

_ Tia Jenny... – cutucou-me Louise – Onde você machucou? – ela apontou para a enorme cicatriz na minha perna. A cicatriz que era capaz de me fazer reviver o passado a cada vez que eu a olhava.

_ Eu me machuquei num acidente quando eu era um pouco mais velha que Hailie e um pouco mais nova que você.

_ Um acidente como? _ Um acidente de carro.

_ Deve ter doído muito.

_ E doeu. Carros são muito perigosos. É por isso que eu e Molly sempre mandamos vocês usarem o cinto.

_ É mesmo. – retrucou Hailie – Cinto incomoda muito, mas eu uso mesmo assim porque eu não quero machucar.

No fim da tarde Hailie voltou de carro com os Marshall e Connor e eu fomos para casa nos arrumar. Ele não largava o telefone e aquilo estava me incomodando. Não era ciúmes do trabalho dele, mas algo como uma sensação estranha, uma sensação de que havia algo de errado acontecendo. Eu toquei no assunto e ele disse que eu não me preocupasse, que eram apenas alguns problemas no trabalho, mas nada muito sério. Daí só vinham na minha cabeça as imagens dele chegando em casa no fim da tarde, me cumprimentando grosseiramente e pedindo a Hailie que o deixasse em paz quando ela chorava pedindo colo. Eu odiava quando ele estava com problemas no trabalho. Me desagradava o jeito que ele agia quando acontecia. Mas, naquela noite, ele estava especialmente mais carinhoso. Depois me abraçar forte e me pedir para ficar bem bonita para sair com ele, eu relaxei um pouco. Talvez fosse só coisa minha cabeça.

Tanto a minha gravidez quanto os anos que se passaram contribuíram para que eu perdesse aquele corpo de menina e dezessete anos e ganhasse novas curvas. Eu adorava aquilo. Adorava como as roupas me caíam bem, adorava me olhar no espelho e me sentir sensual. O meu rosto havia ganhado traços mais marcantes, eu fizera as pazes com o meu cabelo, aprendendo a usá-lo de formas que me valorizassem bastante. Estar com Connor fazia muito bem para mim. Estar com um homem incrível fazia com que eu me sentisse incrível.

Depois de vestir aquele vestido preto bem leve e com um discreto decote que Connor havia me dado no nosso último aniversário de namoro e aprovar o quanto ele caía bem em mim, eu fiz uma maquiagem azul, que evidenciava os meus olhos, e prendi os meus cabelos em um coque diferente, deixando algumas mechas soltas, o que levava a um estilo clássico e bonito. Connor se arrumou rapidamente, colocando uma calça e blusa social e um suéter azul por cima, e me pegou pela mão para irmos para o carro.

Era um restaurante perto da nossa casa em Edimburgo e do qual eu gostava muito. Durante o dia ele era uma espécie de bar mais sofisticado, perfeito para uma tarde entre amigos, até mesmo para um lanche em família. Á noite ele se transformava num restaurante. Era um ambiente agradável. Havia um pequeno palco onde alguns homens de terno tocavam melodias planejadas ao violino, uma iluminação discreta e paredes de madeira trabalhada, o que tornava tudo bem aconchegante. Connor foi na frente e pediu á atendente que nos colocasse em uma mesa para dois em um lugar mais reservado. Ela nos levou até uma mesa de canto, meio escondida entre paredes e estantes com detalhes rústicos. Sobre ela havia um forro vermelho e um candelabro com pequenas velas de fogo falso. Os pratos, taças e talheres estavam cuidadosamente organizados. Nós geralmente freqüentávamos aquele lugar durante o dia, mas, nas poucas vezes em que fui á noite, fui aprendendo um pouco sobre a forma de usar os talhares. Um para a entrada, um diferente para o prato principal, outro para a sobremesa. Eu sabia o básico. Connor sabia tudo certo, é claro, com a família que ele tinha, mas ele não se importava que eu errasse as ordens. Eram só talheres afinal de contas.

_ Á propósito... – ele sorriu com o canto dos lábios - Você tá linda.

_ Você está querendo me seduzir, senhor Connor Garrel? – brinquei.

_ Bem, eu tenho de tentar de vez em quando...Sabe como é, pra não perder a prática.

_ Você não precisa de muito esforço pra me seduzir. – passei o polegar pelos seus lábios inferiores – Nunca precisou.

_ E então? – perguntou o garçom. Eu me assustei com sua presença repentina. De onde diabos ele havia surgido? – Já decidiram o que vão pedir?

_ Eu vou querer uma porção de Farfalle ao molho vermelho, por favor. – pedi pelo prato que eu mais estava familiarizada. Era macarrão em formato de ‘gravatinhas’, servido com carne moída e um delicioso molho vermelho.

_ Eu quero Fettucine à Carbonara de Camarões. – disse Connor, decidido. A única coisa que eu havia entendido era camarões. Mas o nome do prato era estranho demais para ser algo que eu pediria com tanta convicção.

No fim das contas o prato de Connor não passava de um tipo de macarrão chamado ‘fettuccine’ temperado com bacon, parmesão, azeite e creme de leite, e misturado com camarões grelhados. Muito bonito e dar dar água na boca, especialmente ao lado do meu pedido sem graça.

_ Ah, que droga, eu deveria deixar você fazer os meus pedidos. – resmunguei, mexendo em meu pedido, que naquele momento já parecia muito sem graça, com um talher. Connor sorriu e trocou nossos pratos, dando uma grande garfada no meu pedido.

_ Ah, eu adoro camarão ao molho vermelho. – ele disse.

_ Você não precisava fazer isso.

_ Mas eu me arrependi do meu pedido, sério.

_ Você mente muuuito mal. – brinquei.

_ É o seu aniversário, querida. Hoje você pode ter qualquer coisa que quiser. E aproveita, viu? Porque é só hoje.

_ Qualquer coisa?

_ Qualquer coisa.

_ E se depois daqui a gente fosse ao ‘The Source Below’? – falei, referindo-me a um famoso bar de karokê da cidade, um ambiente grande, agitado, com um palco onde qualquer um dos visitantes poderia subir e cantar a sua música favorita. É claro que eu nunca, jamais, teria coragem de subir a não ser que eu tomasse antes algumas taças de vinho. Mas devia ser bem divertido assistir aos outros.

_ Você quer ir pra lá? – ele levantou as sobrancelhas – Eu estava pensando em algo mais...Calmo.

_ Tipo onde?

_ Tipo caminhar na praça principal, tomar sorvete e conversar.

_ Ah!

_ Mas é seu aniversário, você pode fazer qualquer coisa que quiser. Mas... – ele disse, em voz de mistério.

_ Mas o quê?

_ Eu acho que você deveria poupar sua energia para outras coisas. – ele me olhou de forma sexy.

_ Outras coisas? - levantei a sobrancelha.

_ É. Talvez eu tenha planejado te levar em outro lugar depois da praça.

_ Que lugar? Ah...! – percebi finalmente das intenções dele, o que fez com que eu corasse e, devido à claridade desnecessária da minha pele, isso fosse altamente perceptível. Ele sorriu e tocou meu rosto com a ponta dos dedos.

_ Você está corando.

_ É.

_ Eu acho lindo quando você fica com vergonha.

_ Maldoso... – eu murmurei, tentando desviar os olhos dos dele. Mas ele segurou o meu queixo e puxou o meu rosto para perto do dele.

_ Se você preferir a gente pode ir ao karaokê.

_ E desde quando eu trocaria estar sozinha com você por um karaokê idiota?

_ Bem, talvez você já tenha enjoado de mim. Afinal nós já somos praticamente...

_ Casados?

_ Bem...é. – ele sorriu sem graça.

_ Não, nunca.

_ Nunca o quê? Nunca enjoaria de mim ou nunca se casaria comigo?

_ Seu bobo! – eu sussurrei – Nunca enjoaria de você. Você sabe bem. Eu te amo.

_ Então quer dizer que você se casaria comigo? – ele disse num tom divertido.

_ Eu...Bem...Hm...Não penso muito nisso. Gosto das coisas como estão. – engasguei. Isso só fez com que ele se divertisse mais.

Então ele enfiou a mão por debaixo do suéter e pegou uma caixinha preta. Meu coração disparou e eu não sabia se eu ficava feliz, ou envergonhada, se saía correndo ou se pedia para ele guardar aquilo imediatamente. Não podia ser...Mas o que mais seria? Pensei em todas as frases de protesto que eu poderia dizer. ‘Eu não sei se estou pronta pra me casar’. ‘A gente não tem dinheiro pra ficar fazendo essas maluquices’. ‘Você não precisa desse tipo de coisa pra provar que me ama’. Mas minha boca se abria e não saía palavra alguma.

_ Eu amo você também. Aliás o que eu sinto acha que até passa disso. Eu nunca me senti tão bem por estar com alguém quanto eu me sinto quando estou com você. Nunca tive alguém que me aceitasse tão completamente, sem me criticar ou colocar uma lupa sobre os meus defeitos. Acho que você não percebe isso, mas você faz com que eu me sinta muito maior do que eu realmente sou. Você me vê como uma pessoa e eu sou outra muito menos incrível. Eu gosto de como você me vê. Eu gosto da sua admiração e apoio em relação a tudo. Eu só queria dizer que...Obrigado.

_ Você merece a forma como eu vejo você. Você é tudo isso.

_ De qualquer forma... Eu quero só o melhor pra você. Você sabe disso, não é? Tudo o que eu faço é pensando no melhor. Pra você e pra Hailie, é claro.

_ Sei... – respondi, estranhando o jeito dele falar.

_ Então é por isso que... – ele começou a dizer, estendendo a delicada caixinha preta sob a mesa, quando o seu celular tocou estridentemente. Ambos demos um pulo, e ficamos nos encarando sem dizer nada. – Eu...Eu preciso atender. Tudo bem?

_ Claro. – dei ombros, sem saber bem se eu deveria ficar muito irritada ou apenas indignada.

Melissa J
Enviado por Melissa J em 18/05/2015
Código do texto: T5246573
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.