ELE ME ODEIA - capítulo VI

No dia seguinte, assim que eu ia entrando na empresa, Dante ia chegando de táxi e foi abordado por Marcelo.

- Dante? O que aconteceu com o seu carro?

- Um pequenino acidente.

Respondeu-lhe Dante, mirando de longe para mim, no que baixei o rosto e esperei que os dois entrassem primeiro na empresa. Entrando em seguida, respirei fundo e fui direto falar com Dante, ele estava organizando sua mesinha. Mostrei para ele o dinheiro que meu tio me emprestara e falei:

- Aqui está.

Dante olhou estranhamente para o dinheiro e perguntou:

- Que é isto?

- O dinheiro para reparar os danos do carro.

Ele me fitou e franziu o cenho, mas nunca se deixava por sentido com algum bom ato meu, então disse-me:

- Eu te pedi algum dinheiro? Não quero isso.

- Toma. Eu amassei o seu carro e só estou fazendo meu dever de pagar com o prejuízo.

Dante pegou o dinheiro de minha mão e devolveu-me uma nota de cem, disse:

- Isso aqui basta. E não vou te agradecer, porque... Como você disse, era um dever seu.

Cada vez mais eu me admirava com a maneira que Dante tinha sempre uma "boa" resposta para me dar e como sempre acabava sendo o mais justo na história. Era genuíno. Durante o trabalho, percebi algo que estava me deixando meio que encomodada... Marcelo não parava de olhar para mim de sua cabine e eu sorria, só para disfarçar meu espanto. No final da tarde, antes que eu deixasse a empresa, Marcelo caminhou de mansinho até mim e encostando-se em minha cabine, disse:

- Oi...

- Oi, Marcelo.

Falei, educamente, enquanto guardava meus objetos na bolsa. Ele então perguntou:

- Já vai sair?

- Sim. Tenho a impressão de que se eu ouvir mais um toque de telefone vou pirar.

- Espera, fica mais um pouco, eu queria ter uma conversa com você.

- Mas, agora?

Perguntei, olhando a hora no celular, no que Marcelo disse:

- É rapidinho.

- Bom... Está bem. O que quer me dizer?

- Iva, sei que você é um pouco tímida e tudo mais... Mas quero que se sinta à vontade aqui comigo e que seja sincera. Não precisa ter medo.

Eu não compreendia o que ele me dizia e tampouco sabia o que lhe dizer. Ele então continuou:

- Me diz a verdade, linda, você está mesmo gostando de mim?

- O quê? Marcelo, eu... Nem sei o que te dizer...

- Só diga se gosta ou não.

- Marcelo, eu gosto de você...

- Ai, meu Deus...

- Mas como amigo.

- Amigo?

- Sim.

- Iva, pare de mentir! Diga a verdade de uma vez!

- Por que acha que estou mentindo?

Marcelo passou a mão nos cabelos e soprou um ar de fúria, disse:

- Porque aquele filho da mãe do Dante me disse que você estava afim de mim!

- O quê? Ele disse isso?

- Disse. Me desculpa, Iva, se eu soubesse que isso era mais uma das brincadeiras de Dante, eu... Perdão, não quis te assustar.

- Não, tudo bem... Eu sei porque Dante fez isso.

Ele caminhou até a porta da empresa, indignado, mas voltou até mim e perguntou:

- Então... Você não está mesmo gostando de mim, não é?

- Não!

- Ok... Dante, eu te mato!

Eu já sabia que era a raiva de Dante que o fazia tomar tais atitudes contra mim e nem por isso senti raiva dele, pois ainda me julgava merecedora de todo seu ódio. Em casa, encontrei meu pai arrumando suas malas, porquanto já partiria na manhã do dia seguinte.

- É uma lástima que não possa ficar mais tempo aqui com a gente.

Falei para ele. Ele virou-se para mim e disse:

- É sim, mas o tempo passa tão rápido que quando menos você perceber já estarei por aqui outra vez.

- Humm...

- E como foi o trabalho?

- O quê? Fala mais alto, não entendi! Barulhento.

- Ha! Ha! Ha! Imagino.

- E o tio Ricardo?

- Lembra que ele disse que estava quase conseguindo um emprego? Pois é, ligaram chamando ele. Acho que já está tudo certo.

- Que bom...

Me aproximei de meu pai e lhe dei um abraço, falei para ele:

- Vou sentir tanta a sua falta...

- Eu também, filhota.

- Por isso, não deixe de mandar notícias!

- Sim, comandanta!!

Ouvimos a porta da sala bater e meu pai falou:

- Acho que é seu tio...

Em seguida, ouvimos meu tio Ricardo gritar:

- Eu consegui! Iiiha! Ô de casa? Tem alguém aí? Venham cumprimentar o novo guarda-costas!

Na manhã daquela sexta-feira, meu tio saiu para seu primeiro dia de trabalho defendendo uma celebridade e eu e meu pai pegamos o táxi, meu pai rumo ao aeroporto e eu à empresa. A despedida foi emocionante e cruciante. Na empresa, eu conversava com Paloma...

- Meu pai voltou hoje para Nova York. Sinto que as coisas só estão indo de mau a pior.

- Você não acha isso tudo muito estranho?

- Como assim?

- Ah, antes tudo ia bem, seus avós estavam fortes, seu avô parecia melhorar e, de repente, chega seu tio e tudo começa a acontecer.

- O que você está querendo dizer com isso, Paloma?

- Eu? Nada... Só acho muita coincidência.

De repente, ouvimos uma discussão vinda do banheiro da empresa. Paloma olhou para mim e falou:

- O que é isso?

- Parece que estão brigando.

Paloma encostou o ouvido na porta e me chamou mais para perto, contudo, eu optei por ficar afastada, entretanto, dava-se para escutar bem o que Dante e Marcelo discutiam.

- Por que você inventou aquilo sobre Iva?

Dizia Marcelo e Dante rebateu:

- E o que foi que eu inventei?

- Disse que ela estava gostando de mim!

- E ela não estava?

Dante deu uma pequena risada e Marcelo retrucou:

- Você me fez passar a maior vergonha, cara!

- Relaxa... Foi só uma brincadeira.

- Olha pra minha cara, irmão, eu pareço tá afim de brincar? Fiz o maior papel de otário na frente da Iva e ainda tive que me desculpar pelas suas gracinhas.

- Estava louquinho pra que ela se jogasse nos seus braços, não é?

- Seria melhor do que passar uma vergonha daquelas.

- Eu te aconselhei a agarrar ela e dá logo um beijo...

- Você ficou maluco? Eu jamais faria isso!

- Unhum, sei...

Paloma desgrudou o ouvido da porta e veio ter comigo.

- Eu não entendi, Iva.

- Vem, eu vou te explicar.

Então expliquei tudo a Paloma e ela me falou:

- E você vai deixar só por isso? Iva, o Dante está brincando com você! Será que não percebe?

Parei por um momento e fiquei a pensar... E será que valeria a pena eu me manifestar contra Dante? Primeiro porque ele não me dava ouvidos e segundo porque isso só poderia gerar mais ódio. Achei melhor ficar na minha e esquecer aquela bobagem. Alguns minutos depois, os dois sairam rindo do banheiro e quando me viram ficaram quietos. Marcelo sentiu-se intimidado, já Dante, demonstrava um certo sarcasmo em sua expressão, mas, em momento algum reagi. 5x0 para Dante.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 25/10/2015
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