ELE ME ODEIA - capítulo XIII

Eu estava tão ansiosa para fazer um lanche com Dante, que precisei tomar uns quatro copos de água com açucar.

- Respira fundo, ou você vai acabar tendo um troço!

Disse Paloma, na tentativa de acalmar-me.

- Nunca me senti tão feliz só por ir lanchar com alguém!

Exclamei e vi que Dante ia se aproximando, já para sair. Sorri para ele, tentando disfarçar minha empolgação, então ele parou em minha frente e falou:

- Desculpa, Iva, mas vou ter que resolver uma coisinha agora... Acho que o lanche vai ter que ficar para outro dia.

Meu semblante de repente mudou, de feliz para muito triste, mas mesmo assim, o falei:

- Tudo bem...

Ele me fitou pela última vez, talvez tenha percebido que por mais que eu tentasse esconder estava triste, e disse:

- Tchau...

- Tchau.

Ele se foi e levou consigo minha alegria. Vendo-me tão decepcionada, Paloma foi me consolar com sua amizade rica e disse:

- Que pena, você estava tão animada...

- Bom, só ele ter me convidado para um lanche já foi muito bom...

- E só ele ter cancelado o lanche foi muito mau.

- Paloma, você não está ajudando.

- Desculpa...

- Vou aproveitar para tentar falar com Júlia.

- Você ainda insiste nisso, Iva?

- Claro!

Peguei meu celular e disquei o número de Júlia, mas só chamava e ela não atendia, até dá caixa postal.

- Ela não vai querer te atender, desiste disso!

Disse Paloma, e eu falei:

- Você tem razão, ela nunca vai querer atender sabendo que sou eu. Vou ligar confidencial...

Tentei outra vez, mas com ligação privada e, após aguardar um pouco, Júlia atendeu o celular.

- Alô?

- Júlia?

Eu fiz uma voz grossa e Júlia perguntou:

- Ela mesma. Quem fala?

- É... Eu estudei na mesma faculdade que você e observava como você era inteligente e dedicada e...

- Gabriel Alcântara?

- É! Isso mesmo! Como você adivinhou?

Eu continua fingindo, com aquela voz estranha, enquanto Paloma abria um saquinho de batata palha e me olhava esquisito. Júlia disse do outro lado da linha:

- Como conseguiu meu número?

- É... Uma pessoa me passou, mas não posso dizer quem foi.

- Nem precisa... Foi o Isaque, não foi?

- É, foi esse mesmo!

- Hum, eu sabia. E o que você deseja de mim?

- Eu pensei: ela é tão linda, tão legal... Seria bom se jantássemos juntos.

- Está me convidando para jantar? (riso)

- Isso. Por favor, Júlia, nem que seja só pra gente falar de história.

- Humm... Está bem. E quando?

- Pode ser amanhã a noite?

- Amanhã? Bom... É, pode ser. E aonde?

- Pode ser no restaurante francês que acabaram de abrir no centro da cidade. Mas, eu não vou poder te buscar em casa, porque... O meu carro está com um pequeno probleminha...

- Tudo bem.

- Então nos encontramos lá. Às nove?

- Às oito.

- Ok... Às oito.

A ligação foi encerrada e eu comemorei.

- E aí, ela aceitou?

Me perguntou Paloma e respondi:

- Sim. Agora só preciso contar a Dante.

Cheguei em casa muito otimista, e ao abrir a porta meu tio me deu um baita de um susto e eu falei:

- Nossa, o senhor quase me mata do coração!

- Eu sabia que era você.

- Como?

- Ouvi o "toc toc" inconfundível dos seus sapatos.

Eu entrei e me lancei na comodidade do sofá, afim de relaxar meu corpo, tio Ricardo me ajudou a tirar os sapatos, eu não quis que ele ajudasse, mas deixei, até porque meus pés estavam doloridos e gritavam por socorro.

- Seu pai ligou.

- Meu pai? E o que ele disse?

- Que está com muita saudade e ganhando muito bem.

- É? (riso)

- Eu até pedi pra ele me encaixar em alguma coisa lá, mas ele não quer que você fique sozinha.

- Puxa, tio, eu sinto muito...

- Tudo bem...

- Sério?

- Não! Ah, Iva, você me paga!

Tio Ricardo começou a me atacar com as almofadas e eu me defendia também! Depois de quebrarmos o abajú a guerra parou.

- Ops... Fizemos a maior bagunça.

Ele disse e, recuperando o fôlego, eu lhe perguntei:

- Tio, se o senhor fosse jantar com alguém, o que faria para tornar esse jantar perfeito?

- Depende de quem fosse esse alguém... Assim, se fosse a Luíza Brunet ou Juliana Paes...

- Digo, alguém a quem amasse demasiado.

- Bom, eu seria educado, romântico...

- Tipo... Puxar a cadeira para ela sentar e dizer coisas bonitas?

- Isso... Elogiá-la, fazê-la rir e rir com ela... O ambiente também é importante, uma mulher romântica e civilizada , por exemplo, vai gostar mais de um lugar calmo e com música clássica.

- Hummm... Interessante...

- Mas por que a senhorita está me perguntando isso? Por acaso está me preparando uma pretendente?

- Não, senhor...

- Senhor... Por que não me chama de você?

Aquela frase me era familiar... Mas, apenas sorri para ele e disse:

- Tudo bem, senhor, não vou chamar mais o senhor de senhor, senhor.

Eu corri para a escada e tio Ricardo me jogou uma almofada, a rir, e em seguida falou, à medida que eu subia os degraus:

- Vem jantar logo, já preparei o macarrão instantâneo! Hehe...

- Macarrão instantâneo, senhor?

- É!

- Obrigada, senhor, mas eu estou sem fome, senhor.

(risos).

- Iva!

O dia amanheceu e eu desci para tomar café às 5:30 da manhã, um café rápido, pois eu já tinha demorado no banho. Meu tio estava acabando de acordar e perguntou em bocejos:

- Já vai, senhorita?

- Já, senhor, estou atrasada, senhor.

Ele apanhou a almofada do sofá e eu peguei minha bolsa e corri para a porta e, antes de fechá-la, ainda perguntei:

- O senhor pode me buscar hoje, senhor?

Ele atirou a almofada contra a porta e respondeu com malícia:

- Posso.

Aquela foi mais uma sexta-feira de muito trabalho, era fundamental ter os ouvidos bem limpos e manter sempre o bom humor. Achei o término do trabalho o momento perfeito para falar com Dante de minhas idéias, apressando-me para não deixá-lo partir de repente. O alcancei de imediato na portaria e disse:

- Dante, eu posso ter uma conversa com você?

- Sim... Até porque, estou te devendo uma conversa. Aliás, podemos fazer aquele lanche...

Eu estava entusiasmada para medir a temperatura de Dante e saber se ele realmente estava em seu estado perfeito, mas, obviamente eu jamais faria tal tolice. Sendo assim, fomos numa lanchonete ali perto e após nos delicíarmos com batatas fritas, milk shake e todas essas coisas gostosas que fazem um mau danado à saúde, iniciei a conversa:

- Tenho uma notícia que acho que vai te deixar contente...

- Você foi demitida!

-...

- Brincadeira...

Eu sorri, apesar de não ter achado tanta graça naquilo. Continuei:

- Eu consegui falar com Júlia e ela aceitou jantar com você.

- Se-sério? Como?

- Na verdade, ela pensa que vai jantar com um amigo da faculdade... Eu mudei a voz.

- Espera... Amigo? E por que ela jantaria com um amigo da faculdade?

- Ora, qualquer pessoa janta com um amigo. Mas não se preocupe, este tal amigo é você e Júlia nem faz idéia!

- Humm...

- O que foi?

- Júlia aceitou facilmente jantar com "um amigo", sendo que eu supliquei o mesmo mil vezes e ela negou.

- Dante, deixe de bobagem, eu só inventei isso para vocês se encontrarem. Se eu tivesse dito que o jantar era com você ela nunca aceitaria.

- Puxa... Obrigado!

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 04/11/2015
Reeditado em 05/11/2015
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