ELE ME ODEIA - capítulo XXVIII

[IVA]:

Eu estava pronta para sair, usava um vestido de babado de cor rosa claro e um casaco marrom. Deixei os cabelos soltos e pintei os lábios com um batom num tom vinho. Tio Ricardo me viu decendo as escadas e abordou-me, com suas interrogações.

- Aonde você vai?

- Bem... Vou a um encontro. Tchau.

Tentei correr para a porta, mas ele me segurou pelo braço e perguntou:

- Com quem vai se encontrar?

- Com... Paloma?

- Deixe de mentir, Iva, acabo de falar com ela por celular e ela me disse que estava muito cansada e já ia dormir.

- E o senhor acreditou? Que bobinho...

- Deixe de enrolar e diga logo, com quem vai se encontrar?

Revirei os olhos e soprei um ar de rendição, dizendo:

- Com Marcelo.

- Quem é Marcelo?

- Aquele cara que inventou a lâmpada.

- Sem bricadeira, Iva.

- É um amigo meu! Satisfeito?

- E por que você se encontraria com um amigo seu?

- Que pergunta mais idiota. Ora, quem nunca se encontrou com um amigo?

- Iva, se estiver mentindo pra mim, ou eu descobrir que esse amigo é aquele filhote de rato, eu...

- Dante? Ah, tio, claro que não é ele!

- Hum.

- E só para te provar que estou dizendo a verdade, Marcelo vem me pegar aqui.

Coincidentemente, a campainha tocou e fui abrir a porta, era Marcelo que havia chegado. Ele me cumprimentou com um beijo na bochecha e me entregou um maravilhoso buquê de violetas.

- Tio, esse é Marcelo.

Apresentei-o e Marcelo estendeu a mão para tio Ricardo.

- Ei, você também trabalha na empresa, não é?

- Sim. E você é o tio de Iva, também segurança da empresa.

- Correto.

Enquanto os dois conversavam, coloquei as flores num jarro com água e voltei para junto deles. Marcelo olhou para mim e perguntou:

- Então, vamos?

- Vamos.

Respondi, fitando com tensão meu tio, que não me parecia muito tranquilo.

- Não demorem!

Gritou tio Ricardo, ao passo que eu e Marcelo entrávamos no carro. Quando chegamos no restaurante, escolhemos uma mesa e nos sentamos, comemos e conversamos sobre um pouco de tudo, Tv, trabalho, resenhas... Até que, num momento, Marcelo cansou-se daquilo e quis partir logo para o que lhe convinha saber.

- Iva, você sabe por que te chamei aqui, não sabe?

Olhei-o com apreensão, porque sabia eu o que Marcelo queria dizer e assenti para ele, no que este completou:

- Nem tenho conseguido dormir direito, pensando em sua resposta. Acho que não tenho pensado em nada se não nisso.

- Também não é precisa tanto exagero (riso).

- Exagero, Iva? Eu anseio demais saber o que você vai me dizer! Queria poder saber o que se passa em sua mente.

- Com certeza um turbilhão de grilos numa só sintonia.

Falei, a brincar, e Marcelo se aproximou mais de mim, tocou com os dedos meu queixo, vidrando seus olhos nos meus. Após minutos de silêncio e observações, ele respirou fundo e então me perguntou:

- E então, qual é sua resposta?

Quantas vezes eu já não tinha imaginado e reimaginado esse momento em que essa pergunta era feita e meu coração ficava dormente? O que responder quando não se sabe a resposta correta? Haviam dois anjos em meus lados, o anjo do bem sussurrava em meu ouvido: "não, você não pode aceitar isso, sabes que estaria enganando não só a ele, mas também a você mesma! E que ele te seria tão somente um caminho de fulga, pois, teus olhos estão em Dante e o amor que sentes por ele não é folha varrida pelo vento, mas está cravado em teu coração. De que lhe adiantaria investir no que não lhe trás felicidade? E ao mesmo tempo, não conseguirias fazer feliz a Marcelo". Mas, o anjo do mal contradizia e ralhava em meu ouvido: "não seja boba, diga logo sim para ele! Assim Dante terá o que merece, você vai poder sapatear encima dele, mostrá-lo que pode ser feliz com outra pessoa e que ele já não passa de um inútil! Essa é a chance de dar o troco a Dante e assim como você se humilhou um dia pelo amor dele, este também se humilhará aos seus pés, mas já será tarde". Dividida entre o bem e o mal, fazendo Marcelo se exaustar em tanta espera e se morder de tamanha ansiedade, deixei que as palavras voassem de minha boca, que fossem as mais justas ou não, só deixei-as responder por mim. E, olhando nos olhos de Marcelo, foi que eu disse:

- Marcelo, eu... Não posso aceitar. Me desculpe, mas... Eu não posso.

Ele me encarou de forma tão intimidadora que já estava eu começando a crer que não fiz a melhor escolha. Entretanto, ele perguntou:

- É mesmo essa sua decisão?

No quando lhe respondi, timidamente:

- Sim.

Ficamos um instante sem dizer nada, somente ao som de conversas e risadas alheias e ao suar de um violino. Eu olhava para Marcelo, me sentindo mal e ao mesmo tempo aliviada, mas ele evitava olhar diretamente para mim, então passeava seus olhos no todo redor, em sigilo. Senti que aquele encontro havia acabado ali e eu só almejava chegar logo em casa e mergulhar o corpo na água fria... Ouvi finalmente a voz de Marcelo dizer:

- Bom, você teria que responder "sim" ou "não" e você disse "não"... Acho que não devo implicar.

- Então você não está chateado?

- Claro que estou. Entre o "sim" e o "não" é claro que eu preferia o "sim", mas era uma escolha sua, não dependia mais de mim. Mas, eu respeito sua escolha, só lamento ter sido assim.

- Desculpa...

Marcelo estava chateado, eu sentia que estava! Contudo, tudo já estava feito e só restava agora continuar levando a vida do modo que se tornou, fosse bom ou não para ambos, ou apenas para um de nós. E podia ser que eu nem tivesse feito a melhor escolha e mais pesado seria o meu fardo, mas, só o tempo diria.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 27/11/2015
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