Correspondência Entre Dois Caipiras
Dois caipiras, gêmeos idênticos, José e João, foram criados num rincão, muito afastado da civilização, lá no meio do sertão. Quando já beiravam os 20 anos de idade, o José resolveu que iria viver uns tempos na cidade grande, para aprender algumas coisas que ele nem sabia existir, mas que existiam. E assim, a contra gosto do pai, da mãe e do irmão, ele partiu, levando pouco dinheiro, pouca roupa e nenhum medo.
O início foi muito difícil; arranjou uma pensão barata par amorar, conseguiu trabalho na própria, a troco da comida. Foi estudar à noite, para poder se comunicar melhor, após, conseguiu um emprego num posto de gasolina: as coisas começaram a melhorar, ainda que a saudade fosse muito grande.
José escreveu uma carta à família, onde contou sua saga na cidade. Junto com a carta, enviou uma caixa de fósforos. Ele sabia da dificuldade de acender fogo usando gravetos, folhas de árvore e paina; fazendo fagulhas com um pedaço de pedra-ferro e um pedaço de metal.
José explicou muito bem ao irmão como proceder para fazer fogo com os fósforos:
-Ocê pega a caxa de fórfe i abre a gavetinha, donde tá os palito, cum cabeça preta. Ocê tira um palito de fórfe da gavetinha e sigura ele cum a ôtra mão. Adispois, ocê esfrega a cabeça preta do palito na lixa preta da caxinha i anssim o palito acende um foguinho que ocê pode acendê us graveto e fôias de árve.
Depois de quase um mês, o José recebe resposta da carta do João:
-A mãe i o pai manda um abraço procê. I eu tamém. Mai, quanto ao fórfe, eis num funcionaro não. Tentei cum cada um deles e num cunsegui acendê nem ao menos um.
Imediatamente o João respondeu a carta do irmão:
-João, manda um abraço pro pai i pra mãe i mais um procê. Ieu num sei u qui aconteceu cos fórfe que mandei. Posso te agarantí qui ieu mêmo fiz u teste cum us fórfe que te mandei. Ieu acendi tudo eis, i num faiô nenhum!