Brigadeiro a Flores - Cap. 39: E dormiu…

Erva tentou seguir a vida dela no restante da semana na faculdade. Ela não viu Benício, pois ele tinha algumas provas e estágio obrigatório, mas se falaram pelo whats algumas vezes, sendo que Erva mais continuava o assunto, pois ele era mais de responder.

Bernardo e eu não falamos muito no whats, pois ele era mais de ligar e ficar me enchendo com coisas aleatórias, mas nossas poucas conversas tinham fluxo, com Benício é diferente, preciso ficar caçando assunto. Eu... espera, o que estou fazendo? Não posso comparar! Não posso nem pensar em Bernardo. Eu estou com Benício, era o que eu queria, eu gosto dele. Eu e Bernardo nunca tivemos nada, chega!

Para o encontro, Erva quem organizou tudo, apesar de Benício a ter convidado, ele disse que não tinha ideia de onde irem.

No domingo, Erva se encontrou com Benício na Paulista, ela sugeriu de irem na livraria, já que Benício gostava de livros. E poderiam fazer algo cultural nos museus ali perto, pois alguns eram gratuitos.

Benício demorou um pouco para chegar na livraria. Erva não se importou, mas não pôde deixar de pensar automaticamente em Bernardo, que a esperou por 4h. Logo se enraiveceu, pois havia pensado no menino em vários momentos durante a semana, mas não o tinha visto, e o objetivo era esquecê-lo, mas estava sendo difícil.

"Oi!"

"Oi! Está tudo bem?"

"Sim, eu não achava lugar para colocar o carro, o trânsito estava muito complicado."

"Entendi. Tudo bem."

"Certo! O que vamos fazer? Eu nunca tinha vindo aqui, apesar de já ter ouvido falar."

"Aah, é uma livraria. Ela é conhecida por ser muito bonita. Podemos andar, ver alguns livros, ou sentar na cafeteria e conversar."

"Huum eu preciso comprar uns livros de música. Geralmente, peço on-line. Será que eles terão aqui?"

"Vamos perguntar, eu te ajudo a procurar". Erva disse prestativa.

Eles foram para a seção de música, mas não encontraram os livros. Perguntaram a um assistente e não tinham. Erva então foi se sentar na cafeteria com Benício, apesar de falarem um pouco sobre livros, logo o assunto terminou e ficaram em silêncio.

Huuuum o que eu posso falar mais. Sei que somos amigos, conversamos no terraço, mas não é frequente. Geralmente ficamos em silêncio mesmo. Não é ruim, mas em um encontro.... Estou um pouco nervosa. Parece que com ele eu preciso pensar um pouco antes de dizer algo. Ele parece ser mais culto. Quer dizer, eu não quero dizer algo que ele me ache tosca. Não sei ser como a Sophie. Ai, por que está tão difícil? Huuum com o Bernardo eu não sinto esse nervosismo. Consigo ser mais espontânea. Mas eu não posso mais pensar nele... eu...

"Você está bem?" Benício perguntou.

"Aaah sim, é que..." Erva sentiu uma vontade de chorar. "Eu preciso ir ao banheiro". Ela saiu correndo da mesa e foi ao toilet. O que deu em mim? Por que fiquei com vontade de chorar ao pensar no Bernardo? Por que não está sendo incrível esse encontro? Era tudo o que queria desde que conheci o Benício. Eu sou tão idiota! Melhor ir ao banheiro e voltar para lá logo! Vou parar de comparar os dois. Vou me esforçar para ser eu mesma. Vou dizer o que penso e tocar de verdade esse encontro! O Benício é melhor! Ele é mais fofo e mais humilde, pé no chão!

Erva se sentou no vaso e começou a urinar. De repente a porta se abriu, Benício estava do outro lado e a viu na privada!

"AAAAAAAAH!!!"

Benício fechou a porta rapidamente, mas a vergonha já tinha sido passada.

"Não precisa mais chorar, está tudo bem". Benício disse tentando acalmar Erva.

"Me desculpe, é que eu fiquei com muita vergonha."

"Não precisa se preocupar, só lembre-se de trancar a porta da próxima vez."

"Hum, é que eu estava pensando em outras coisas e acabei esquecendo".

"Eu entendo. Huuum... Erva, eu sei que nosso encontro não está sendo o ideal, mas eu nunca sai com uma garota antes não sei muito bem o que fazer." Benício se explicou e Erva o olhou surpresa. "Eu só saio com os meninos. Sempre fomos nós 4. Eu fiquei com garotas, mas nunca chamei uma para sair e nunca aceitei um convite. O máximo de encontro, se é que se pode chamar assim, que tive foi com a Sophie. Mas ela sempre foi muito próxima a mim, então, não sei o que poderia fazer para te agradar." Ele sorriu sem jeito.

"Ah, Benício..." Erva começou a dizer meio sem graça. Ela sabia que o encontro não estava bom, mas ouvir Benício dizer isso, a fazia se sentir mal também. Isso precisa mudar. "Olha..."

"Vamos para minha casa?" Ele sugeriu e Erva travou.

"Sua casa?"

"Sim, podemos ficar mais à vontade lá."

"Ah, entendi". Mais à vontade? Será que ele quer fazer algo?

"Vamos por aqui, o carro está em um estacionamento naquela rua." Ele seguiu e Erva foi atrás imaginando situações íntimas.

Na casa de Benício, Erva ficou um pouco impactada com o quanto ela era grande. Mais uma mansão no Alphaville. Nossa, todos os F4 são muito ricos. Minha casa cabe em uma sala deles e ainda sobra espaço.

"Meu quarto é aqui embaixo mesmo." Ele disse entrando por um dos corredores. Quando Erva entrou no quarto viu apenas uma cama e uma mesa com televisão.

"Nossa, você é bem minimalista." Ela disse surpresa, se lembrando do quarto de Bernardo que era todo equipado com vários móveis e decorações. Balançou a cabeça tentando esquecer.

"É que este é o meu segundo quarto, onde realmente gosto de ficar." Benício disse se sentando na cama. "Senta ai!"

"Aaaah..." Erva, nervosa, se sentou em um pedaço da cama, longe de Benício. "Huuum mas você tem outro quarto?"

"Sim". Benício disse tirando os sapatos. Erva ficou observando atentamente. "Lá em cima. Minha mãe organizou ele como quis. Mas eu não gosto de nada que não seja essencial. Então, peguei esse quarto para mim e só uso o outro quando ela está em casa, para não me encher."

"Entendi. Huuuum sua mãe não mora aqui?" Erva disse curiosa mas também para prolongar o assunto, já que Benício tinha tirado a blusa e ficado de camisa. Ele se deitou.

"Ela viaja muito por causa de congressos de medicina, palestras, lecionando. E meu pai cuida dos assuntos da companhia. Os vejo uma vez na semana, mais ou menos." Ele explicou. "Huum você quer deitar aqui?" Ele disse indicando o seu lado.

"Aaah, eu não sei."

"Não vou fazer nada. Estou cansado também. Passei a noite em claro por causa de uns projetos do estágio. Podemos só dormir".

"Aaah..." Erva respirou aliviada. Como sou idiota, ele é bonzinho demais! E eu já pensando bobeira. "Então tudo bem." Erva se deitou ao lado de Benício e ficou olhando para o teto, sem jeito. Será que devo olhar para ele ou falar algo? Que encontro estranho, quem diria que viria parar aqui. Eu tinha pensando em museus, um sorvete. Aiai. Melhor eu falar algo. "Bení..." Ela se virou para ele mas parou, o garoto estava com os olhos fechados, adormecido. Aaah, que fofo.

Erva esperou ele acordar para ir embora, mas ele não fez. 1:30h depois, ela falou com uma empregada para cobri-lo e foi embora. Ai, que louco. A gente nem fez nada. Nem se beijou. Nem seguramos nossas mãos. Na verdade, nem sei se foi mesmo um encontro. Estou acostumada com coisas de filmes e livros. Se bem que com o Bernardo também foi estranho. Às vezes acho que sonho demais!

"Erva?" A bolsista virou para a direção de quem a chamou. Carlos estava caminhando com um cachorro ao seu lado.

"Aaah, Carlos? O que faz aqui?" Erva disse sem saber.

"Eu que pergunto isso. Eu moro por aqui, se esqueceu?" Ele disse sorrindo.

"Aaah, é verdade. Desculpe. Eu estava na casa do Benício".

"Aaah sim. Vocês estão mesmo juntos, então?"

"Aaah sim, quer dizer..." Erva não sabia muito bem o que responder.

"Bom, pelo menos todos estão felizes."

"Você está sendo irônico?" Erva disse se lembrando do que Bianca disse sobre ele e Fagundes irem até Bernardo e do que Benício falou sobre a expulsão.

"Não! De verdade. Eu só quero ver o bem dos meus amigos. Estou vindo da casa do Be, ele também parece bem. Estava tomando café com a Gabriela".

Erva arregalou os olhos surpresa. Seu coração deu um pulo e doeu. "Tomando café?"

"Sim, eu não entendi muito bem também, mas ele estava sorrindo com ela."

"Ah..."

"Desculpa estar te contando isso, mas vocês não estão mais juntos, não é? Talvez seja bom saber que eu não concordo mesmo com o que aconteceu na ilha, mas eu entendo também que o Be às vezes confundia algumas coisas. Enfim, eu só quero que todos fiquem bem."

"Está tudo bem, ele está feliz com a Gabriela. É só o que importa". Erva disse forçando um sorriso. Ela fingiu olhar no relógio. "Ah, eu preciso ir, meu ônibus passa daqui a pouco e o ponto é longe."

"Ok, nos vemos na John". Ele gritou, pois Erva já saiu correndo, deixando as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

Na virada da esquina, ela não viu um carro e ele passou bem próxima de si, a fazendo se desequilibrar e cair. "Droga!" Ela gritou.

"Quer ajuda?" Uma mulher com roupa de ginástica se aproximou correndo e lhe estendeu a mão.

"Ah, obrigada!" Erva aceitou e se levantou.

"Tem que olhar por on... minha nossa, você se machucou" A moça disse olhando para o joelho de Erva que sangrava.

"Ah, não foi nada. Eu só esfolei!" Ela disse tentando disfarçar o choro.

"Não, isso está horrível. E você ainda está chorando de dor. Não esconda!"

"Não, é que..."

"Vamos para minha casa, é aqui perto".

"Não precisa, eu vou pegar o ônibus, não poss..."

"Ônibus ainda? Nem pensar andar por aí com esse machucado exposto. Não tem desculpa. Vamos logo". A moça pegou o braço de Erva e colocou em seu pescoço, a obrigando a andar. Erva mancou. "Você mora muito longe daqui?"

"Não muito, umas duas horas e pouco mais ou menos".

"Nossa, é outra cidade. Vou pedir para o motorista te levar em casa também."

"Não precisa." Motorista? Minha nossa, ela deve ser uma rica da área. Se bem que eu já a vi, eu acho. Sei lá, ela não me é estranha.

"Precisa sim, como você vai pegar ônibus assim? E se batem em você e você cai e machuca outro joelho."

Que exagerada!

"Aiai, tem que olhar por onde anda, garota."

"Sim, eu fui errada."

"Mas aquele carro também estava correndo muito. Aqui não se pode correr assim." Ela disse e acenou a mão para dois caras de terno preto que estavam na frente de um portão. "Pronto, chegamos!"

Não pode ser... eu sei que lugar é esse!

"Ah, me chamo Rebecca Assumpção, e o seu nome é?"

Assumpção? A-ssump-ção? "E-e-erva" a bolsista gaguejou.

"Que nome lindo! Me ajudem a levá-la para dentro, ela se machucou na rua."

Ela é a irmã do Bernardo, agora eu lembro de onde a vi, do porta-retrato da casa dele.