Brigadeiro a Flores - Cap. 42: Ursinho

"O quê?" Erva estava chocada e sentiu uma dor dentro de si.

"Ele vai se mudar, não sei..." Antes que Gabriela pudesse completar a frase, Erva saiu correndo pela universidade.

Eu nunca imaginei que ele pudesse ir embora. Por quê? Por que isso agora? Ele sempre esteve aqui. E por que dói saber disso? Ela avistou os F4 sem Benício na praça de Economia, foi até eles.

Bernardo viu Erva se aproximar e ficou apreensivo, ela parecia brava.

"Por que você não avisou que vai se mudar para Nova Iorque?" Erva disse brava para Bernardo. Os outros meninos ficaram surpresos também, não entendendo a atitude dela.

"E por que eu teria que te avisar?" Bernardo disse tentando demonstrar desinteresse.

"Por quê? Porque..." Erva não sabia o que responder. Ela ficou olhando para os lados, procurando palavras. "Você é idiota!"

"Como?"

"Falta pouco para se formar. Quem muda de faculdade assim? Do nada?"

"Isso, Erva! Nós já dissemos isso, mas ele é cabeça dura." Carlos disse.

"Fica quieto!" Bernardo disse olhando para o amigo.

"Não! Quer saber, acho que é melhor assim!" Erva disse, agora deixando a emoção tomar conta de si, os olhos cheios de água. Os meninos mais uma vez ficaram surpresos. "Se você quer ir embora e não ouvir ninguém, pois vá embora! A universidade será muito mais tranquila sem você aqui. Não fará nenhuma falta. Era tudo o que eu queria desde que entrei na John. Obrigada por realizar esse desejo! Seu idiota!" Ela se virou e saiu correndo dali, deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto. O que deu em mim? Por que está doendo tanto? Eu não quero que ele vá embora? Eu não quero!

"Ei!" Gustavo disse ao ver Erva sair do seu emprego na Brigadeiria. Eles haviam conversado pelo whats, e o rapaz se ofereceu para levá-la até a hamburgueria, já que ela iria sair da loja faltando pouco tempo para começar no outro local.

"Oi! Obrigada pela carona até a hamburgueria. Hoje foi um dia de muito movimento aqui na loja. Prometo que é só desta vez!"

"Pare com isso! Eu me ofereci e você aceitou. Está tudo bem."

"Não quero benefícios porque somos amigos".

"Não tem nenhum benefício, é só uma carona."

"Obri-". Ela parou de falar ao ver Bernardo se aproximando.

"É complicado te deixar sozinha, não é?" O cabelo enrolado disse ao chegar perto dos dois.

"O que você faz aqui?" Erva questionou.

"Eu fiquei ocupado na faculdade, pensei em passar aqui para me despedir, te levar para comer algo."

"Eu tenho que trabalhar."

"Com ele?" Bernardo olhou Gustavo dos pés a cabeça, que até então estava apenas observando, mas não se conteve ao ver o olhar do garoto.

"Algum problema de ela estar comigo, moleque?" Gustavo disse sério.

"Moleque?" Bernardo disse avançando. Erva se colocou no meio e pôs as mãos no peito de Bernardo, o empurrando para trás.

"Não, Bernardo, isso não te interessa".

"Não me interessa?" O cabelo enrolado parou e a olhou bravo. "Tudo me interessa."

"Não isso. É meu trabalho e só diz respeito a mim."

"Eu não te entendo. Você vai atrás de mim perguntando por que não avisei de me transferir e daí eu venho até você para me despedir e conversarmos, e você age assim?"

Erva sentia uma dor dentro de si, ela queria conversar, mas não sabia o quê.

"Erva, nós temos horário." Gustavo disse olhando sério para Bernardo..

"Eu sei." Ela respondeu ainda olhando Bernardo. "Eu preciso ir, você já tomou sua decisão. Como disse, não tem motivos para ter me avisado. Boa viagem!"

"Você não entende, não é? Quer saber, perdi meu tempo vindo até aqui. Não vou mais me despedir de você!"

"Ótimo! Vai logo embora e todos ficarão felizes!"

"É o que vou fazer!"

"Ok!"

"Ok!"

Erva se virou para o Gustavo e Bernardo seguiu na direção oposta. O coração dos dois batia forte. Os dois estavam nervosos. Os dois sentiram uma dor dentro de si. Mas nenhum deles se virou.

"Nossa, foi bem cansativo! Mas foi bom!"

"Você foi bem! Pegou as coisas rápido. Amanhã vai ser melhor ainda!" Disse Mauro.

"Obrigada!"

"Gustavo está lá fora, te esperando".

"Ele não foi embora?"

"Não, hoje fazemos o fechamento de algumas coisas. Ficamos trabalhando até agora a pouco."

"Ah, entendi."

"Ele disse para te avisar que está te esperando."

"Ok, obrigada!"

Erva arrumou suas coisas e foi se encontrar com Gustavo.

"Carona?"

"Eu posso ir de ônibus".

"São 01:30h, acho melhor eu te levar."

"Não sei."

"Aaah que isso, foi muito puxado hoje. Seu olhar é de cansaço. Só essa carona, vai? Você precisa de um descanso às vezes."

"Deixo isso para o meu eu do futuro." Erva disse e Gustavo sorriu. "Mas tudo bem. Só porque estou muito cansada e amanhã é outro dia puxado."

"Boa!"

Eles se dirigiram para o carro do rapaz e Erva digitou seu endereço novamente.

"Vou acabar salvando na memória".

"Não precisa. Não é sempre que você vai para lá".

"Ok, ok". Gustavo ainda sorriu. "Erva, posso te fazer uma pergunta?"

"Sim, apesar de já ter feito."

Eles sorriram. "Bom, aquele cara de hoje mais cedo, é o Bernardo Assumpção, não é?"

"Huuum você o conhece. Normal. Todo mundo conhece a família Assumpção."

"E vocês têm algo?"

"Não. Ele é só um idiota da faculdade."

"Entendi, é que ele falou em se despedir e vocês pareceram estar discutindo".

"Sim. Mas não temos nada. Nunca tivemos. É que ele está se mudando para Nova Iorque."

"Entendi. Faz sentido. A família dele tem muitos negócios por lá."

"Você parece conhecer bem."

"Ah, eles são importantes economicamente na sociedade, e também em segurança."

"Huuum entendi." Erva bocejou sem interesse nenhum na conversa.

"Mas enfim" Gustavo percebeu. "Eu queria te convidar para sair no domingo. Você está a fim?"

"Huuum pode ser." Erva disse sonolenta. Confirmando mais por sono do que por vontade.

"Perfeito! Amanhã eu não vou vir para cá, mas falo contigo no whats."

"Sim!" Ela disse já sem saber o que era, porque estava com muito sono. E cochilou. Acordando com Gustavo lhe dizendo que chegaram.

Sábado foi mais um dia puxado com a Brigadeiria e agora com o trabalho na hamburgueria. Erva tentou muito se manter ativa para não lembrar, mas em seus momentos de pausa, seus pensamentos iam direto para Bernardo e sua viagem para Nova Iorque. Será que ele já está lá? Ele iria hoje. Eu queria olhar para ele uma última vez. Dar uma abraço! Ela suspirou. Que idiota que sou! Eu não posso sentir nada por ele. Além da diferença social, ele é um idiota! Um grosso! Sempre se achando por aí. Prepotente. Não importa o quão fofo ou bom ele foi comigo, isso foram poucos casos. Não importa o que ele fez para se redimir. Não importa se eu pisei no coração dele beijando o melhor amigo dele. Não importa nada! Ele foi embora e eu preciso de dinheiro! Minha família! Meu futuro! Só isso que importa!!

Bernardo estava com seus amigos e sua irmã no aeroporto de Guarulhos.

"A Erva não vem?" Rebecca perguntou para Carlos.

"Não! Ela agiu estranho da última vez que a vimos. Parecia que queria que Bernardo ficasse, mas também que fosse embora. Não entendi bem."

"Ele só está fazendo isso por ela". Rebecca disse olhando com pena para o irmão que estava conversando com os outros F4.

"Nós sabemos. Ele nos chamou há alguns dias, junto com o Ben e disse que aceitava eles dois. Que estava enganado, que não podia deixar uma garota pobre o distrair do futuro dele."

"Esse garoto! Garota pobre, como se ele realmente ligasse para isso."

"Sim, nós percebemos que ele estava só dando uma desculpa".

"Ele é muito imaturo".

"Hey irmã! Vamos!" Bernardo falou se aproximando. "Já está na hora, temos que ir logo!"

"Nossa, você quer ir mesmo". Rebecca disse estranhando a prontidão e o irmão falando rápido.

Atrás dele, Fagundes e Benício cochichavam e davam risada.

"Tchau, meninos". Rebecca disse pegando sua mala e indo atrás de Bernardo, que deu um tchau rápido para Carlos e já estava indo na frente.

"O que houve? Ele estava todo calmo e do nada já quis ir." Carlos disse aproximando da dupla, após os irmão se afastarem.

"Ben deu plot twist nessa história toda".

"Como assim?"

"Eu só contei o que ele precisava saber". Benício disse sorrindo de forma maléfica.

Carlos olhou sem entender.

"Esse garoto aqui não nos contou, mas ele e Erva 'terminaram' há uns dias".

"Vocês não estão juntos?"

"Não. A gente nem tinha começado algo de verdade. Só saímos uma vez e percebemos que nos gostamos mais como amigos do que como namorados".

"Caraca!"

"Eu ainda gosto da Sophie e ela... bom, ela gosta do Be." Benício disse enquanto andavam para a saída.

"Não acredito! Então, aquela atitude dela..."

"Estava estranho, não estava?" Fagundes disse. "Ela parecia querer que ele ficasse, mas também disse que não queria!"

"Talvez ela também não saiba bem o que sente por ele." Benício disse.

"Pode ser." Carlos falou pensativo. "Mas o que você disse exatamente para ele?"

"Que eu e a Erva não temos nada e nunca tivemos, e que eu acho que ela sente algo por ele."

Carlos abriu a boca, Fagundes riu.

"Agora estou quite com ele". Benicio concluiu e os meninos se olharam.

"Você não quer dizer que..."

"Ele abriu mão da Erva porque ainda tinha remorso do meu ursinho que rasgou."

"Isso é verdade, ele falou comigo isso depois que nos vimos aquele dia e ele te readmitiu no grupo".

"Eu sei que é bobo! Mas Bernardo é muito irritante às vezes. E é difícil a gente fazer ele pagar pelo que faz de errado".

"Sim, isso é verdade".

"Eu achei que podia mesmo gostar de Erva, mas como disse, percebi que ela é mais amiga para mim. Mas aproveitei que concordamos com isso e resolvi segurar a notícia por um tempo, e fazer Bernardo sofrer".

"Ainda bem que somos amigos, não é?" Fagundes sorriu.

"Não é isso. É que, Bernardo nunca pediu desculpas. Eu era criança, aquele ursinho era o que me deixava calmo. E aí ele resolveu que queria para ele, quando eu disse não, ele rasgou meu ursinho".

"Acho que é mais significativa essa situação em si do que a ação mesmo."

"Sim. Bernardo sempre faz o que quer e não se importa com as consequências. Dei o troco. Não sabia que ele iria embora do país, iria deixar ele sem saber por um bom tempo, mas ele teve essa atitude".

"Ele vai voltar. Tenho certeza!"

"Eu também! Eu já achava que em uma semana ele estaria de voltar, agora com essa notícia do Ben, não dou nem 3 dias!" Fagundes arriscou.

"Concordo!"

Os meninos riram, conheciam muito bem o amigo que tinham.

Bernardo por impulso quis sair logo do Brasil, mas só foi pisar em Nova Iorque e já quis voltar, mas sua irmã o deteve. "Não quero ficar aqui!"

"Para de ser criança! Agora você já pediu transferência, os nossos pais já sabem que veio para cá, agora vai ter que ficar!"

"Diz que foi engano, que eu não vim. A universidade pode cancelar a transferência, é só..."

"Não, Bernardo! Já chega! Não vou fazer suas vontades!" Rebecca gritou com o caçula e o deixou no quarto.

À tarde, o cabelo enrolado foi andar pelas ruas nova-iorquinas porque estava irritado no quarto. O que será que ela está fazendo? Maldito, Ben! Ele quis se vingar, tenho certeza! Nunca deve ter me perdoado por causa do ursinho! Boa jogada! Bernardo pensava enquanto caminhava. Bem-feito, Bernardo, sempre se colocando como o grande. Em algum momento eu iria cair nas minhas próprias ações. Coitado do Ben, eu deveria ter pedido desculpas. Eu era muito idiota! E agora... e agora estou longe da mulher que amo por causa de uma atitude infantil. Eu vou falar com ele assim que voltar para o Brasil. Vou me descul... Bernardo parou de pensar ao ver uma revista na banca de jornal, na capa estava uma pessoa algemada, mas o que chamou atenção do garoto, foi o rosto mais ao fundo, que se ele não fosse tão detalhista assim, não teria o distinguido. Esse cara? Não pode ser, ele é o cara que estava com a Erva?