Insensato

O frio. Talvez aquela fosse uma característica sua, aparentar felicidade em seus olhos, fazendo seu sorriso alcançar as pessoas e suas ações agradarem a todos, excerto a si mesmo. Mesmo os pesadelos haviam o deixado, e as vagas lembranças que possuia lhe remetiam a um passado distante, cuja a passagem do tempo era lenta e impiedosa, acelerando nos poucos momentos de felicidade; Aproximava-se aos poucos, e só ao fazer-se passar por um outro alguém conseguiu sentir o que precisava. Livrar-se dos pensamentos e concertrar-se apenas nela. Ela era o suficiente, e nada, até então, parecia soar tão certo quanto essa idéia. Seus pedidos eram ordens, cumpridas as pressas, servidas com detalhes e banhadas ao puro suor de seu servo.

Havia classificado sua princesa como primeiro amor. Ainda que negasse seus desejos a todos e mantive-se seus sentimentos dentro de sua cabeça, em longas histórias de amor cujo o único final feliz se dava em sonhos. Ainda assim, julgava-na como a única. Suas noites, e dias, eram voltados para a dona de seus pensamentos. E fora assim por anos até que pouco a pouco os pedaços de sua infantil farsa fossem se quebrando a cada aproximação desconhecida. Até estarem mais separados que jamais estiveram antes. E só então, com a distância, que aos poucos, a duros passos, a importância dela fora sendo menor, e pouco a pouco substituida por outras companhias. Até então, seus sentimentos pareciam que perdurariam eternidade, e a felicidade e paz que obtinha por meios sórdidos, agora parecia inalcançável de outra forma.

As noites eram palcos para sua encenação subconsciente, onde ela, sua princesa, num papel pequeno, trajava elegantes roupas, que ela própria jamais usaria. Enquanto ele media os gestos, ações e idéias, pra que tudo se mantivesse naquela troca de carícias fictícia. Eterna fantasia. Ambos os príncipes não passavam de meros coadjuvantes. Não lembravasse de tudo de outra forma, afinal, ele sempre fora o servo subjulgado. Cujos verbos se mantinham em silêncio e as mãos eram usadas para carinhos suaves em vez de revoltas provocadas por destratos. Também lembrou-se que desde que a conhecera, suas noites eram voltadas para estes fins, suavizar e acalentar.

Quando as conversas se tornaram raras, os sentimentos foram se transformando, sendo domados por uma nova princesa, cuja personalidade era semelhante, mas seus carinhos eram quentes e o acalmavam. Agora ele era também o protagonista de sua estória de amor. Até que a nova princesa o abandonou de volta a sua amarga realidade. Agora sem princesas, sem amores, sem carícias, apenas vagas aparições repentinas que os levavam a mesma encenação a qual ele bordava em duras linhas durante as noites em que rolava na cama. Não demorou muito para uma nova realidade.

O príncipe fora deixado de lado, juntamente com a farsa das princesas, que mesmo assim ainda lhe roubavam a cena em meio a um espetáculo novo. Sua atenção era voltada para seu futuro, mas ainda tinha breves momentos de fraqueza que usava para trazer de volta o que um dia lhe trouxera felicidade. Seus dias traziam uma euforia que pouco-a-pouco afastavam: palco, princesa e príncipe, de seu pensamento. A felicidade parecia possível de ser vivida sem a farsa do encantado. Era apenas ele, o garoto cujas roupas comuns e corte de cabelo desajeitado, sorriso aberto e personalidade forte afastavam as pessoas, e as que ficavam, aos poucos se acostumavam.

No fim de sua estória de amor, farsa de realeza, tudo que lhe sobrara fora a dura realidade. E está parecia ainda mais desagradável diante da solidão. Seu passado destruia sua possibilidade de futuro, suas lágrimas cobriam seus olhos e a princesa que idealizava em seus sonhos jamais se mostrara diante de seus olhos. Num último ato de esperança e loucura, sacrificou a última coisa que lhe sobrava de seu mundo de contos de fada: sua inocência.

Leonard M
Enviado por Leonard M em 01/03/2008
Código do texto: T881843