"Anos Irresponsaveis" cap 15

Capitulo 15

“ENTRE TAPAS E BEIJOS”

Assim que ele me soltou corri para a casa da Lara, hoje ela ia me ouvir, a se ia. Tirei aqueles malditos sapatos e voei para a casa dela.

- Lara!- berrei ao chegar no portão. Ainda bem que a mãe e o pai dela trabalhavam, assim eu poderia acabar com ela na boa.- Lara!

- Ola.- ela apareceu na porta com aquele sorriso cor de rosa.- então já falou com o bofe? Como foi?

- Deixa-me entrar que eu te conto.-falei tentando, apesar dos berros, parecer calma e confiável.

- Claro.

Ela abriu o portão e nos sentamos civilizadamente no sofá.

- então, como foi com o bofe?- perguntou ela curiosa.- você pegou ele?

- Bofe mesmo Lara.- respondi com raiva.-AQUILO É UMA BICHONA!! ELE É GAY !!

- NÃO?! SÉRIO?! NÃO ACREDITO!!- ela ficou me olhando com a boca aberta e os olhos esbugalhados.

- SIM! ELE MESMO ME FALOU!!

- OH MY GOD!

- BOTA MUITO “OH MY GOD” NISSO LARA, E PEDE A PROTEÇAO DELE TAMBEM, PORQUE EU VOU TE MATAR!!!

- EU?! POR QUE?!?

- VOCE ME FEZ TIRAR AS CUTICULAS, ARRUMAR O CABELO, ficou bonito eu confesso, MAIS AQUELE CABELELEIRO GAY QUASE ARRANCOU A MINHA CABEÇA!!

- É O PREÇO DA BELEZA MONA!!

- MAS VOCE NÃO PRECISAVA TER EXAGERADO, NEM SABIAMOS SE ESSE ESQUEMA IA DAR CERTO. E OLHA SÓ: NÃO DEU!! E VOCE ME FEZ DEPILAR A VIRILIA COM CERA QUENTE!! EU TE MATOO!!!!

Eu me joguei em cima dela e comecei a esbofeteá-la, ela desatou a me dar chutes; rolamos para o chão, chutando, batendo e puxando o cabelo. Ela pegou meu cabelo e o puxou com toda a força, minha cabeça virou para trás, ou quase.

- AAAIIII!!!

Como autodefesa mordi o peito dela que era onde minha boca estava mais perto.

- AAAIIII!!!

Nessa hora o telefone tocou e paramos a briga, com o susto da campainha.

Eu levantei a cabeça, quase depenada e olhei para ela: ela chorava e segurava o peito. Me arrependi na hora.

- Lara, me desculpe foi mal, eu não queria, é que eu estava com raiva e você puxou o meu cabelo com muita força. Me desculpe... eu não queria... juro.

Ela me olhou bem nos olhos e respondeu:

- tudo bem, nós duas estamos erradas.

Estendi minha mão para puxa-la, mas ela pegou do jeito errado e acabou me derrubando encima dela, e foi ai que aconteceu: levantei a cabeça e dei de cara com aqueles olhos negros e profundos, nos olhamos por uns poucos minutos ate que a atração foi mais forte e...

- é melhor que ninguém saiba disso.- falou Lara enquanto colocávamos nossas roupas novamente.

- Também acho.- respondi, então a encarei nos olhos e perguntei.- você gostou?

Ela respondeu na voz mais doce, bonita e romântica que já a ouvi falar:

- foi a coisa mais maravilhosa do mundo e eu nunca vou me arrepender.

- Nem eu.

Nos beijamos novamente e eu fui embora.

- e ai Anne como foi com o cara?- perguntou a Regina no dia seguinte.

Olhei para ela com uma imensa e proposital cara de raiva, não queria que falassem dele.

- mal.- respondi.-muito mal.

- Por que?- quis saber ela aflita.

- Ele me revelou uma coisa quando eu disse que queria ficar com ele.

- Você disse? E o que ele revelou?- já havia uma imensa rodinha ao meu redor ouvindo a historia, na verdade a sala inteira, todos queriam saber como eu fui com o cara que desencadeou minha mudança.

- Ele disse que era...que era... que era...

- Que era o que? Responda homem!- ninguém mais se agüentava de curiosidade.

- Ela é...ele é... ELE É GAY!!

- Oooooooooohhhhhhh!!!!!!!!!

- Mas como você não notou?!?!-perguntou a Jéssica, uma menina bem legal.

- Eu não sei, -respondi a beira do choro novamente.- eu só reparei depois: ele tinha uma voz muito suspeita, mas eu achei que era normal, e ele também estava sempre dizendo “obrigada”, mas eu nem havia reparado, e ele sabia aquele ditado da miss simpatia: “as pessoas gostam de quem gosta de si mesmo” e ele ainda é estilista.

- Ah, fala sério Anne,- falou o Danilo com um pequeno toque de “você é uma burra”, na voz.- qualquer um teria notado que um cara desses é gay.

- Mas eu estava apaixonada droga!- eu chorava.- ai que raiva! Bichas estúpidas! Eu nunca mais vou me apaixonar, vou virar lésbica!

Quando eu falei isso a Lara começou a ter um pequeno tique nervoso.

- o que foi Lara?-perguntou a Eduarda vendo o aperreio da amiga.

- Não é nada.-respondeu Lara agoniada me lançando um olhar estranho e se sentando.

- Ah, Anne,- falou a Rafaela voltando ao assunto. - esquece isso, pode acontecer com qualquer um, vai pra outra ok?

- Ok, eu já me esqueci disso e nem importo mais, ate que foi engraçado.- disse secando as lagrimas.

- Oh, bota engraçado nisso.- falou o Danilo caindo na gargalhada com os outros meninos.

As aulas passaram, e por mais que as horas passassem a agonia da Lara não passava, ela estava quieta e parecia refletir, mas tinha uma cara de agonia e torcia os dedos.

- o que foi Lara ?- não se cansavam de perguntar as patys a ela.

- Não é nada gente, sério.- não se cansava de responder Lara .

Na altura que o intervalo se aproximava até os professores já se preocupavam com a Lara.

- você esta bem Lara?-perguntou a professora Matakari tentando dar uma de boazinha.- esta sentindo alguma dor? Pode falar.

- Não professora, não tenho nenhuma dor.-respondia Lara a beira do choro.

- O que será que ela tem?- perguntou-se o Mauricio.

- Eu não tenho certeza, mas desconfio.- respondi.- é minha vez de falar com ela.

Levantei-me pedi licença à Rafaela que sentava na frente da Lara e me sentei para falar com ela:

- você esta grilada por causa de ontem?- perguntei tentando impedir os outros e a professora de ouvir.

Ela me olhou nos olhos, respirou fundo e com uma lagrima respondeu:

- é...

- por que?- perguntei sem entender o motivo de tanta agonia, não era pra tanto.

- Eu estou com medo.-respondeu ela chorando como uma louca agora.

- De que?- perguntei sem conseguir entender.- de alguém descobrir? Se for isso não se preocupe, eu juro por deus que nunca vou contar, nem para o meu diário.

- Não é nem alguém descobrir Anne.- falou Lara novamente agoniada.- o problema é que eu gostei, gostei muito, e agora estou com medo de ficar querendo mais e com medo ser lésbica. Você já pensou no que meus pais iriam dizer se a filha deles vira-se lésbica? E a minha igreja? A minha vida ia acabar Anne! Eu não sei o que eu faço, me ajude por favor!

- Não se preocupe Lara,- eu estava pensando no que fazer para acalma-la.- bem, em primeiro lugar você poderia parar e pensar, você só tem quinze anos, ninguém consegue saber se vai ser gay ou lésbica com quinze anos, talvez seja só uma fase por causa do acontecimento. Mas se você achar que realmente não da para segurar os desejos, bem, faça como os meninos: compre revistas e veja as mulheres nuas.- Ela me olhou com os olhos arregalados.- ou então entre na net, você tem computador né?

Ela pareceu um pouco abismada com a idéia no começo, mas depois avaliou bem e disse com um sorriso de quem tem uma idéia indevida:

- é, até que não é má idéia, mas e meus pais? E se minha mãe ou meu pai me pegarem no flagra?

- Bem, primeiro você para e pensa bem, depois faz o lance das fotos e dependendo da sua conclusão converse com a sua mãe, mas com a sua mãe, ela vai te entender melhor do que seu pai, ele te daria uma surra no primeiro momento; as mães são mais compreensíveis. E se prepare, porque no primeiro momento ela vai ficar chocada, mas depois ela vai te entender.

- Você já falou sobre isso com a sua mãe?- perguntou ela interessada, sem chorar agora.

- Na verdade não, - respondi sincera.- eu já tomei a minha decisão.

- E qual é?

- Eu sou do sexo “curioso”, pelo menos por enquanto, não sei futuramente.- respondi avaliando todos as minhas aventuras.- mas se você se decidir por ser lésbica, saiba que em primeiro lugar eu sempre vou te dar apoio, e segundo: ninguém tem nada a ver com a sua opção, é como eu já disse e já ouvi muitas vezes: devemos ser do jeito que somos felizes, sem nos importar com comentários, criticas ou reprovações e até mesmo com preconceitos. Cada um vive sua vida da maneira que achar melhor, que achar que vai ser feliz, e ser feliz quer dizer olhar apenas as coisas boas da vida e ignorar as coisas más. Por isso antes de você já ficar ai morrendo de medo das reprovações, pense que você não é a única e nem será a ultima e que acima de tudo você tem que pensar na sua felicidade. Ok?

- Ok, pode deixar eu vou seguir os seus conselhos.- disse ela secando as lagrimas.

O sinal tocou anunciando o intervalo.

- pessoal,- falou a professora.- eu vou deixar vocês saírem sozinhos porque eu tenho que ir voando para uma reunião. ok?

- ok, professora.

- Muito bem, se comportem.

Voltando ao assunto.

- E eu vou fazer o teste das fotos, rsrs.- falou Lara decidida e recuperada.- mas agora você poderia ah...me ...dar um ...ah...você sabe...

- claro.

Aproximei-me dela e beijei mais uma vez, com muito gosto, aqueles maravilhosos lábios grossos da minha paty maravilhosa.

- uhuhuhuh!!!!!-gritou a sala quando nos viram.

- LARA, EU NÃO ACREDITO!!!-berrou a Eduarda quando nos viu.

A Regina ficou de boca aberta e a Rafaela caiu na gargalhada.

Descemos para o intervalo, pegamos nossos lanches e fomos para nossa mesa, eu reparei que a Lara fofocava alegremente com as outras patys, provavelmente contando toda a história.

- ah não!- exclamou o Rafael e jogou a própria colher embaixo da mesa e mergulhou para apanha-la.

Nesse momento Paredão passou perto da nossa mesa com os outros valentões, nos olhou e riu.

- ai menina esqueleto,- falou ele pra mim.- pichaim maneiro, do que é feito? Miojo?

- Não é feito do...

- Psiiu!

Eu ia responder o idiota mas Rafael me deu um cutucão por baixo da mesa.

Quando os valentões sentaram-se, bem longe da gente, ele saiu de baixo da mesa.

- o que a com você Rafael?- perguntou William.

- É, por que não me deixou responder aquele otário?- perguntei.

- Por que se você responde ele, eu apanho.- respondeu Rafael tremendo ao abrir a caixinha de suco.

- Eles estão te incomodando?- perguntou o David.

- Às vezes, quando estou indo pra casa.- falou Rafael derramando suco no sanduíche.- (maldição!) Eles ficam fazendo piadinhas e às vezes me intimam, dizem que se eu não fazer as lições deles vão me socar até afundarem meu nariz.

- E você esta fazendo as lições deles?- perguntou William incrédulo.

- É isso ou perder o nariz.- disse Rafael entre vergonha, nervosismo e medo.

- Então é por isso que você esta sempre ocupado toda vez que eu te chamo para ir jogar vídeo game!- exclamou o William.

- E isso explica o dez que o Paredão levou em química.- disse o David.- ele foi um dos dois caras que acertaram tudo, o primeiro foi você Rafael.

- Eu sei.

- Ei cara você não vai fazer nada?- perguntou o Mauricio.

- Fazer o que Mauricio?- perguntou Rafael, e de repente pareceu que ele ia chorar.- olha só o tamanho daqueles caras, eu não dou nem o braço deles. Não sei brigar, não sei correr, ou eu faço o que eles dizem ou apanho.

- Ai cara eu vou te ajudar nisso.- falou William decidido.- esses caras não vão mais te incomodar, você vai ver.

- É isso ai parceiro, estamos com você nessa.- disse o Mauricio.

- É isso ai!

Pouco antes de voltar para a sala fui ao banheiro com a Aline, estávamos nos olhando no espelho quando uma carona loira apareceu no reflexo atrás de nós.

- o que a avestruz e a baleia estão olhando no espelho?- perguntou Monique Scarpa, e suas leais galinhas deram risadas.

Virei-me de costas e dei de cara com aqueles olhos perversos. A cara dela ainda estava com leves arranhões.

- olá espantalho.- falou ela num tom ameaçador.- espero que você já tenha aprendido a respirar embaixo d’água, porque hoje vamos brincar.

Dei um passo pra trás, um mau pressentimento e uma velha sensação subindo pela garganta.

- do que você esta falando? Eu disse para me deixar em paz.

- Você acha mesmo que eu ia te deixar em paz depois daquilo que você fez?- perguntou ela se aproximando lentamente de mim.- você vai me pagar caro, vira lata.

- Anne...- começou Aline pegando minha mão.- vamos.

- Cale boca sua gorda horrorosa!- gritou Monique para Aline, de repente as outras garotas saíram o banheiro e só ficamos eu, Aline e a torcida.- fique quieta que pegaremos leve com você.

- Ela não tem nada a ver com isso, deixe ela em paz.- pedi sentindo um forte desespero. Meu coração dava pulos e eu suava.

- Não mesmo espantalho, se esta fuçando lixo também é vira lata.

- Ããrr!! SUA VACA!!

E sem me dar conta voei pra cima dela novamente, mas dessa vez ela foi mais rápida e me derrubou de cara no chão.

- sabe espantalho, hoje estou de bom humor.- disse ela pisando nas minhas costas com o sapato de salto e puxando meus braços pra trás.

- Aahh!

- ...e por isso, vou te dar o prazer de reviver uma velha sensação. Claro que não será tão boa quanto da primeira vez, havia muito mais espaço e o modo como aconteceu foi muito mais divertido, mas eu vou fazer de tudo para que hoje também seja inesquecível!

E com a ajuda de duas comparsas Monique me levantou segurando meus braços para trás com força, enquanto Jack agarrava meus cabelos. (as outras duas prenderam Aline contra a parede).

Por um momento eu até torci pra levar uma surra, ia ser muito melhor do que o que elas pretendiam, porém elas me enfiaram dentro de um box... Laís levantou a tampa do vaso sanitário... Monique me deu um forte puxão de cabelo que fez minha cabeça ir pra trás.

- vamos ver se seus pulmões ficaram mais fortes.- debochou ela.

- E se esse permanente barato foi bem feito né?- zombou Jack e as três deram risada.

- Boa viagem espantalho!

E antes que eu podesse fazer algo Jack e Monique empurrarão minha cabeça para dentro do vaso e Laís deu descarga.

Minha cabeça bateu com força na porcelana, tinha cortado com certeza, o baque me deixou tonta, entrava água na minha boca, nos meus ouvidos e no meu nariz. Meu nariz ardia com a água, à água estava ficando vermelha, eu não via nada, minha cabeça latejava, eu não conseguia respirar, estava engasgando com a água, faltava ar... alguém chutou minhas costas, apertavam minha cabeça com mais força dentro do vaso, a descarga não parava, minhas pernas haviam virado geléia, eu abanava as mãos freneticamente, alguém gritava lá fora, era uma voz conhecida, mas eu não me lembrava de quem. Eu engolia aquela água nojenta em rios, me engasgava, embolava, meu nariz estava a ponto de cair, a água cada vez mais vermelha, cadê o ar?? De repente meu corpo amoleceu, senti vontade de vomitar, mas era impossível, meus olhos ficaram escuros e eu não senti mais nada.

Sabem, naquele momento, enquanto minha cabeça rodava dentro da privada, enquanto eu engolia aquela água nojenta e meu nariz sangrava e meu permanente ia pro brejo, eu cheguei a uma conclusão: nesse mundo não importa o quanto você é pacifico, o quanto você tenta fazer as pazes e evitar a violência, não importa o quanto você tente deixar os conflitos de lado e viver sua vida de boa, sempre haverá um filho da puta que fará você colocar todos esses conceitos de lado e partir pra guerra.

E foi isso que eu fiz naquele dia, quando eu acordei no hospital, minha mãe chorando de um lado e a Aline com o olho roxo do outro, naquele dia em que eu tive que tomar doses e mais doses de remédio contra vermes e vi meu cabelo virar uma total porcaria, eu declarei guerra. Sim eu declarei guerra á Monique Scarpa e as garotas da torcida, porque não importa o que aconteça... ninguém destrói meu permanente assim! Quer dizer, ninguém me afoga na privada e soca minha amiga e sai ileso, a partir daquele momento meu lema era: “olho por olho, dente por dente, amiga por amiga e cabelo por cabelo”.

Ela que me aguarda-se!

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 19/03/2008
Reeditado em 06/04/2009
Código do texto: T908407