"Anos Irresponsaveis" cap. 16

Capitulo 16

“FERIAS E PNEUS”

- ah graças a deus as férias de meio de ano começam não sexta feira.- falei certo dia de junho.- eu não agüento mais este moquifu.

- Ah hanewy não fala assim, a escola não é tão ruim.- disse Lara que estava sentada ao meu lado e alisava minha mão.

- É Anne você não tem nada do que reclamar,- disse o Mauricio que observava o traseiro da Emanuela.

- É Mauricio, realmente não tenho do que reclamar, tirando o fato de que a quinze dias ou pouco mais fui afogada numa privada, todos ainda me zoam por isso e tive que pagar uma nota pra ajeitar meu cabelo novamente. Realmente não tenho do que reclamar.

- Ah, mas você esta ficando coma Lara tem quase um mês, coisa que nenhum garoto nunca conseguiu, já é um motivo pra não reclamar.

- É mas agora os caras aqui da sala querem me pegar por isso.- respondi sem na verdade me importa nenhum pouco.

- Ah nem adianta esses debs ficarem assim,-disse Lara jogando os cabelos pra trás.- eu nunca ia ficar com um deles, são uns godizilas. Mas o que vocês vão fazer agora nas férias, eu não tenho nada programado.

- Bem eu pretendo ir para a casa do meu grande tio.- respondi animada.

- Que tio?- perguntou Lara.

- O do racha?- perguntou Mauricio interessado.

- Racha?-perguntou Lara.

- Isso mesmo,- respondi cheia de orgulho.- o meu tio Nelson, que tirou um racha quando tinha seus quinze anos, no carro do pai dele, e o safado ganhou em primeiríssimo lugar. Ele estava planejando me ensinar a dirigir nestas férias.

- Puxa mona, mais que legal!- exclamou Lara me agarrando.- assim podemos dar lindos passeios a beira mar de carro né.

- E economizar o dinheiro do motel. Rss.- zombou o Mauricio fingindo apanhar algo no chão para ver embaixo da saia da Emanuela.

- Não tem graça Mauricio seu paspalho,- falei aborrecida.- e porque você não pede logo pra Manu levantar a saia ao invés de ficar se abaixando para espiar a calcinha dela.

A garota se virou rapidamente ao ouvir meu comentário.

- o que esta fazendo?- perguntou ela zangada pro Mauricio.

- Hãm-hãm, nada não. desculpe.- respondeu ele sem graça.- obrigado por isso Anne.

- Não a por onde meu nobre amigo.

- Mas e ai, o que você vai fazer? Acha mesmo que pode aprender a dirigir tão nova?

- Cara esta no meu sangue, meu tio adora carros eu adoro carros, e alem disso fizemos alguns testes e ele disse que eu vou me dar bem. Na verdade me dou o prazo de uma semana.

- Uuhh, ta bom.- zombou ele.

- E quais foram os testes?- perguntou Lara mais interessada.

- Bem, um foi para testar minha coordenação motora,-respondi cheia de mim.- vocês sabem, para essas coisas agente tem que ter uma boa coordenação, porque são muitas coisas para controlar de uma só vez: volante, freio, acelerador, marchar etc. Então ele me disse para bater na cabeça e esfregar a barriga ao mesmo tempo, se eu fosse bem por quinze minutos, sem me confundir e trocar tudo, então eu teria condições de dirigir.

- E você foi bem?- perguntou Lara.

- Por meia hora.- respondi como se estivesse no topo do monte Olímpio.

- E qual foi o outro teste?- perguntou Mauricio.

- Ver se eu conseguia levar o carro até a esquina, e eu consegui. Paguem!

- E onde é a casa do seu tio?- perguntou ele desconfiado.

- Três casas antes da esquina.- respondi displicente.

- Ai meu deus! Bem, mas já é alguma coisa.- disse ele.- mas se você aprender mesmo, o que vai fazer? Jogar play station?

- Hum hum, adivinha...?

Um brilho ambicioso e fanático perpasou os olhos do Mauricio e reparei que ele leu meus pensamentos quando um sorriso alienado brotou em seus lábios.

- mas onde? Como?- perguntou ele alucinado.

- O que? – perguntou Lara perdida.

- Eu acho que posso encontrar alguns dos lugares que meu tio sempre fala.- respondi sem nem ao menos ouvir a pergunta da paty.- mas sabe, conhecendo bem meu tio acho que ele seria capaz até de nos levar.

- Você acha?- perguntou ele, o brilho voltando aos olhos.

- Tenho quase certeza.

- O que?

- E qual é o carro?

- Omega 2.2.

- É bom.

- Sim, claro que é bom mane. Podemos nos dar muito bem.

- Se dar bem no que?

- Mas e se você bater? Ou capotar?

- Bater? Capotar?

- Ora isso não vai acontecer, eu sou uma corredora de nascença, esta no sangue.

- Mas Ayrton Senna bateu.

- Mauricio, eu não sou Ayrton Senna. E ele não prestou atenção na curva e o carro dele não era bom.

- Era um Ferrari.

- Já ouvi falar de outros melhores.

- E o johny, da musica dezesseis?

- Não sei, mas estou começando a pensar que você quer me convencer de que vou bater. E alem disso johny só existia na musica do legião urbana, eu acho; e o carro dele era um opala.

- Hum...bem vou confiar no seu taco.

- A finalmente.

- Alguém pode me explicar o que esta acontecendo?

- Então esta bem, vamos me dar um prazo de uma semana, ai então vamos tirar...

- Um grande PEGA!!

Sexta-feira chegou rápida e bela, um sol de inverno brilhava fresco e gostoso juntamente com uma leve brisa e ...

- uma semana!- gritou Aline alarmada.- vamos ficar uma semana parados em casa mofando?

- Aline, você ficou louca?!- berrou Rafael chacoalhando Aline pelos ombros e fingindo esbofeteá-la no rosto.- nós vamos participar de um racha, você entende? Uma racha de verdade, carros maneiros, gente maneira e acima de tudo MENINAS GOSTOSAS!!! E você esta preocupada se vamos ficar UMA semana dentro de casa?!?! VOCE PERDEUO JUIZO?!?!

- Ai esta bem, esta bem!!- reclamou Aline.- mas como vai ser isso exatamente?

- Bem, estamos me dando um prazo de uma semana ou pouco mais.- respondi.- então, quando eu finalmente tiver aprendido eu ligo para vocês para combinar tudo e meu tio vem buscar vocês.

- Ah, seu tio? Assim como vamos correr?- perguntou Aline.

- Bem, eu já falei com meu tio,- falei baixinho para que os outros não ouvissem.- e eu vou tentar aprender em uma semana...

- E se você não conseguir?-perguntou Aline agourenta.

- Vamos quando eu aprender.- respondi irritada. - como eu dizia, se eu aprender nessa semana eu venho buscá-los com o carro aqui na sexta anoite, talvez o meu tio também venha...

- Ah, mas ai como vamos correr?- perguntou Aline irritando a todos.

Respirei fundo e respondi.

- O meu tio tem quarenta anos e nenhuma responsabilidade quando se trata de carros, e ele talvez, repito, talvez vá com agente, mais vai nos deixar correr na boa.

- Ah ta!

- Muito bem então, sexta anoite, ás sete melhor dizendo. Mais eu ligo para confirmar.

- Ok, boa sorte.- falou Rafael entusiasmado apertando minha mão.- e ande logo...estrupício!

- salve salve grade homem!!- falei ao ver meu tio de um metro e noventa e pouco, cabelo preto com alguns fios brancos e o velho cigarro na mão.

- E ai pequena grande corredora.- disse ele me abraçando (apertando meu pescoço com os braços para ser mais precisa).- esta pronta pra mostrar que tem meu sangue?

- Não sei, pra que eu vou querer fazer um teste de dna? Eu sei que você não é meu pai.- respondi sarcástica.

- Haha, muito engraçado. Mas aqui o teste não vai ser na agulha, vai ser no volante.- disse ele num tom de quem esta desafiando.

- Então demorou quarentão, trás o carro que o resultado do exame sai hoje mesmo.- falei durona.

- Bem que eu queria, mas agora nós vamos assistir à novela e tomar coca-cola.- disse ele entrando.

Sinceramente, nunca vi um homem para gostar de novela como ele nem um capitalista pra beber tanta coca-cola como ele. Mas vamos nessa né, fazer o que?

Naquele dia não fizemos mais nada, meu tio estava com uma imensa preguiça que quase imediatamente passou pra mim, e a única que parecia disposta a fazer alguma coisa era minha tia Augusta.

- ora vamos lá, levante-se desse sofá você dois,- dizia ela animada.- façam alguma coisa. Ei Nelson vai buscar umas pizzas pra gente.

- Pra que eu vou buscar se um garoto pode vir entregar por apenas dois reais?- disse meu tio colocando o pé na mesa de centro e abrindo uma lata de cerveja (mais uma).

- Você aproveita e da uma volta com a Anne,- insistiu minha tia.- pra ela também tirar esse traseiro do sofá. Vai de carro.

Opa, agora ficou bom!

- é tio vamos lá!- chamei dando um salto.- vamos esticar essas canelas enormes.

- Ahh, esta bem. Mas você dirige.- concordou ele se levantando com esforço.

- Uhu, pode deixar!- falei mais empolgada do que nunca.

- Nelson, não se atreva a fazer isso!- ralhou minha tia imediatamente.- Anne não encoste naquele volante esta ouvindo, isso é perigoso.

- Eu sei tia, era só brincadeira não se preocupe.- falei tentando me passar por inocente.

- Ótimo, agora vão logo.

Entramos no bom e velho Omega e uma onda excitação subiu pelo meu corpo me enchendo de um calor animador.

- e ai?- perguntei significativa quando entramos no carro.

Ele me olhou, olhou para os lados e para minha tia que acabava de fechar a porta.

- se segura.- disse ele contendo um sorriso.

Coloquei o cinto e vuallá!

Ele disparou avenida abaixo.

60.

90.

100.

120.

150.

- uhuhuhu!!!

- É isso ai moleque! É assim que se corre.

Fizemos uma curva a cento e cinqüenta. As janelas estavam abertas e um vento fortíssimo puxava minha boca e meus cabelos para trás. Eu me segurava nas bordas do banco e me dobrava de rir.

Fizemos outra curva mas ai ele diminuiu.

60.

- ah, por que?- lamentei.

- tem um posto de policia ali,- respondeu ele displicente, sem na verdade se preocupar com a coisa.-pra mim já chega de contas.

- Beleza.

Estacionamos em frente à pizzaria.

Quando entramos por algum motivo todos olharam para mim.

- por que estão olhando para mim?-perguntei a ele enquanto apanhávamos as cocas.

Ele olhou para mim rápida e desinteressadamente.

- seu cabelo.- respondeu ele.

- O que tem?- perguntei passando a mão no cabelo.

- Esta parecendo um ninho de passarinho.

- Ah, merda foi o vento, eu deixei a janela aberta. Vou ter que passar o ativador de cachos depois.

- Não esquenta.

Compramos três pizzas: mussarela, frango e portuguesa.

Passamos pelo posto policial na boa, mas quando refizemos a curva ...

60.

90.

100.

150.

- é isso aiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!uhuhuhuhu!!!!!

estacionamos em frente “nossa” casa.

- cara eu adoro isso!- gritei tirando o sinto.- imagina só, se aqui você já foi rápido então imagina em um racha.

- Num racha agente não corre Anne, agente voa.- falou ele orgulhoso.

- Puxa, eu adoraria correr!- falei sonhadora e tentando fazer parecer que isso era meu grande sonho.

Ele me olhou.

- então vamos.- disse meu tio sério.

- Ham?- (só pra ter certeza se ouvi certo.)

- Vamos correr.- disse ele começando a se animar.

- Sério?- eu mal podia creditar no que ouvia, tão fácil assim?

- Você vai aprender a dirigir nessa semana,- havia um brilho ambicioso nos olhos dele.- não ganhei meu troféu se você não aprender a dirigir essa semana, e no sábado anoite você vai correr.

- UHUHUHHU!!!!!!!!! EU NÃO CREDITO! PUXA, VAI SER INCRIVEL! Mais será que eu ganho?

De repente, apesar da resposta que eu dei ao Mauricio, essa duvida me assombrou: e se eu não ganhasse? Ia ser um mico, depois de ter me gabado a beça não ia ficar bem, e também tem o meu tio, ele com certeza ia ficar muito decepcionado.

- é claro que você ganha.- disse ele com um ar de “ou então você vai ver”.- mas se não ganhar,- continuou ele meio que desanimando.- fazer o que né? A vida é assim, agente ganha e perde. Mas não vai ter problema, vai ser a sua primeira tentativa e não vai ter problema se você não ganhar.

- É você tem razão.- concordei sem animo.

Comemos as pizzas e assistimos ao filme velozes e furiosos, só para aquecer pro dia seguinte.

- esta vendo esse carro,- falava meu tio a cada carro que aparecia, ou seja todos, e me falava uma teoria sobre cada um.

- Ok.- respondia eu a cada teoria e dica.

O dia seguinte amanheceu claro e limpo com uma leve brisa de outono e eu estava pronta para cair na estrada.

- agora preste atenção,- disse ele muito sério, e me olhou com aquele olhar obcecado que só ele sabia fazer.- chave, marcha, freio e acelerador. Não tem segredo. Vem!

Passei para o banco do motorista, com as mãos tremulas e sem acreditar que estava fazendo aquilo, me preparei para ligar o carro, girei a chave e ...

- PARE!!- gritou meu tio me fazendo quase bater a cara no vidro.

- O que foi? Cadê? Onde?- perguntei assustada.

- Coloque o cinto de segurança, ora.- falou ele me indicando o cinto.

- Fala sério, esse berro só pra isso? E assim não te graça.- argumentei.

- É mais vai ter menos graça ainda se eu perder a novela das oito só porque você voou pelo pára-brisa do carro.- respondeu ele sem parecer se importar muito com a coisa.

- Ah, esta bem, cinto.

Coloquei o cinto e tornei a ligar o carro, dei a marcha e pisei no acelerador e ...

- ai!

O carro deu um tranco para frente, que realmente, se não fosse o cinto eu teria voado pelo pára-brisa.

Pisei de novo e um novo tranco.

- calma, olhe só,- disse meu tio.- você esta tirando o pé, não faça isso, fique com o pé nele firmemente, não tire, e não aperte o freio com tanta força, caso contrario não vamos andar.

- Certo. Vamos nessa!

Com pouca força coloquei um pé no freio e com o outro pisei firmemente no acelerador e o carro disparou rápido pela rua.

- Uhu, é isso ai menina isso mesmo!!- disse meu tio dando gargalhadas.- passe a segunda agora.

Com uns trancos e barrancos levei o carro até o fim da rua a 60 por hora e antes de fazer a curva, com uma certa dificuldade, passei a terceira e subi a grande rua a 120 por hora.

- é isso ai Anne, ta mandando muito bem!- disse meu tio.

- Eu sei que sou demais! Uhuhu!!

E com uma felicidade a flor da pele levei o carro até a pizzaria e de volta para casa, sem muitas dificuldades.

Quando paramos enfrente a casa, saltei do carro dando pulos de alegria.

- haha! Puxa eu não acredito, foi demais! E não é tão difícil quanto pensei, foi mole! Uhu! Foi demais!!

- Eu disse que seria fácil criança, esta no sangue, afinal, você é sobrinha do seu tio aqui!- disse meu tio feliz me abraçando.

- Certo tio mas e agora?- perguntei depois que ele me soltou.

- Agora o que menina? – perguntou ele como se não houvesse mais nada para se preocupar.

- O que eu faço?- perguntei confusa também.

- Primeiro você vai treinar, para parar de dar esses trancos,- respondeu ele.- se fosse uma mulher grávida no meu lugar o moleque já saia voando. Mas quem sabe depois agente não sai pra brincar.

- Como assim?- perguntei me fingindo de inocente.

- Você sabe, tirar um peguinha, ver como vai o velho Omega, ta ligada né?- respondeu ele mais parecendo um adolescente danado.

- Uuhh, entendi. Então vamos treinar a fio, que sexta feira eu quero estar correndo por essas longas estradas da vida.

Passamos a semana treinando e sexta feira eu realmente estava muito boa no volante, não atarracava mais, e sim deslizava pelo asfalto, desviando de um poste ou outro.

- ai quanta emoção!- exclamou tio Nelson ao descer do carro no ultimo treino na quinta-feira.- nunca fiz nada tão perfeito!

Por que toda vez que alguém me ensina ou me ajuda em algo que da certo eles acham que eu e o ato somos criações deles? Onde entra meus pais nessa historia de criação? E não fui eu quem ficou bonita, porque eu sou bonita? E não fui eu quem aprendeu a dirigir brilhantemente na velocidade da luz? Então?

- ta, e quando agente vai “ir”?- perguntei significativa.

- Ham... deixe-me pensar,- responde ele coçando o queixo.- bem, já que você “aprendeu” tão rápido, então acho que podemos ir na sexta anoite.

- Uhuh! Legal!- pulei de alegria.-vai ser aonde? Posso chamar uns amigos?

- Claro, chame-os. Sexta ás sete saímos daqui.

- Legal! Esta tudo saindo como o planejado.- pensei feliz da vida.

- alo, Mauricio?

- Ham, quem é você? O que você quer? Fale logo.

- Nossa, quanto amor.

- Esta passando a novela das oito, não quero perde. Já aprendeu a dirigir?

- Então besta quadrada, é sobre isso que eu ia falar: sim já aprendi, sexta as seis passamos ai.

- Ás seis? É muito cedo. Que espécie de pega é esse que começa ás seis?

- Em primeiro lugar espero que na sua casa não tenha outra linha, senão estamos perdidos, e em segundo, vamos sair daqui as seis sua anta, não vai começar as seis, mais o lugar é longe, e como vamos passar ai primeiro vamos chegar lá unas nove entendeu?

- A ta!

- Dãr! Avise os outros. Tchau.

- Tchau.

- E não se atrase.

- Eu tenho cara de quem se atrasa? Isso não foi uma pergunta valida.

- Senhor, daí-me paciência!

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 28/03/2008
Reeditado em 06/04/2009
Código do texto: T921167