A lenda do principe de fithmar - cap. 2

Revelações

-Que é que tu disseste?! Não brinques com a minha cabeça! O meu irmão morreu faz…

-38 Anos, precisamente hoje…

-Cala-te! – Disse Cassio levantando-se de novo. – Tu dizes mentiras! Quero-te fora da minha casa, já!!!

-Muito bem, e se eu te disser o nome Mariah, diz-te alguma coisa?

Cassio ficou muito branco e com uma expressão como se tivesse visto um fantasma. Depois começou a ganhar de novo a cor e lágrimas vieram-lhe aos olhos. Correu para Fithus e abraçou-o gritando alegremente “Meu irmão! Meu irmão..!” E novas lágrimas se formavam na sua face, umas atrás das outras. Cassandra, Kirke, Steven e Auriga ainda estavam atónitos a olhar para os dois abraçados.

-Como…O que é que se passou? Conta-me tudo! – Disse Cassio por entre soluços.

-Bom… - Começou Fithus. Contou-lhe a mesma história que tinha contado a Cassio e depois, virando-se para os outros disse sorrindo. – Já podiam ter dito que eram meus sobrinhos!

-Nós não sabíamos! – Disse Cassandra ainda meio assustada

-Pois…Quando tu morreste, quero dizer, quando desapareceste nós resolvemos não contar a ninguém na vila, sabes como isso ia criar suspeitas sobre a nossa família e rumores. Sabes como eram aqueles tempos. Então resolvemos dizer que tinhas ido viver para Thrinythor, em busca de trabalho e uma vida melhor. A princípio ficaram desconfiados, mas acabaram por acreditar. O pai ficou desiludido contigo, julgava que tinhas fugido, por ele não te deixar casar com a Silshif antes dos 25 anos e de teres estabilidade. Acabou por se acordar que não se diria nada aos próximos Clocks e o segredo ficou entre os daquela geração. A nossa irmã, Willie, teve este lindo rapaz. – Disse ele levantando-se e pondo a mão por cima dos ombros de Steven. Depois dirigiu-se a Auriga e Cassandra e prosseguiu. – Estes, são meus filhos, assim como outros 4, Michelle, Monic, Lepus e Lupus.

-Criaste uns lindos filhos, fortes de estrutura e personalidade, assim como a nossa irmã. E a tua filha tem um encanto jovial e maroto que nos prende, a bondade e inocência espelham-se nos seus rostos. Devias orgulhar-te Cass. A amiga deles que não se sinta ignorada, porque é uma rapariga muito bonita e elegante, com uma suavidade no seu rosto angelical.

Cassio sorriu. Mas Fithus continuou:

-E casaste com uma bela mulher, tem ar de ser trabalhadora e afável. O cheiro que inunda esta casa é de puro amor. Orgulho-me de ti irmão. Tens a vida que qualquer um desejaria. Uma mulher bonita e boa mãe e dona de casa, uma quinta invejável e bem cuidada, uma casa acolhedora e estás rodeado de crianças bonitas e afáveis. Fui um tolo por não ter feito o mesmo que tu. Não me ter criado num trabalhador honesto.

-Não fales assim Fith…Tu és tão honesto como qualquer um de nós. E ambos sabemos que sempre trabalhaste para alcançar os teus sonhos.

-A nossa irmã? Gostava de a ver. Presumo que se terá transformado numa linda mulher.

-Ela…Ela faleceu….

Nesse momento uma dor trespassou o coração de Steven como um frio punhal. Chorou interiormente, lembrando-se mais uma vez daquela noite. Baixou a cabeça para não verem que ficara afectado. O mesmo se parecia passar com Fithus. Pareceu cambalear e deixou-se cair para uma cadeira, afundando a cara nas mãos.

-Desculpa… -Disse Cassio. Perante esta reacção do irmão Fithus pareceu ficar surpreendido e ergueu a cara das mãos. Tinha os olhos vermelhos que nem sangue em comparação à cor pálida que a sua cara ganhara. Respirou profundamente e disse lentamente:

-Ora essa Cass, tu não tens culpa. Vamos…Vamos esquecer isso por agora, depois falamos. Sabes, há muito que não como uma boa refeição…

-Claro, claro! Anna, podias aquecer a sopa?

Anna levantou-se, pôs uma panela ao lume de deitou para ela a sopa que estava guardada num frasco. Depois tirou pão de um saco e cortou-o às fatias. Pousou o cesto com o pão na mesa e dirigiu-se a uma prateleira de onde tirou talheres e um prato. Depois deu uma mexidela na sopa e foi buscar um copo de barro e o vinho e posou-os na mesa. Tirou um prato de sopa dum armário e verteu para ele a refeição quente que estava dentro da panela.

-Aaah… é bom ter alguém com quem conversar, um prato quente e um ambiente acolhedor após tanto tempo.

Fithus mergulhou o pão na sopa e levou-o à boca. Surpreendeu-se com a sua leveza e suavidade, a maneira como estava tão fresco e macio. Desde há uns tempos que só comia comida fria e dura ou comida conservada e estufada, e o sabor do pão fresco era divinal. Apressou-se a mergulhar outro pedaço de pão na sopa e voltou a saborear aquele manjar dos deuses. Rápidamente devorou a sopa e o pão, e bebeu o vinho, tão fluido e saboroso, sem humidade e robustez como estava acostumado a saborear. Quando acabou sentia-se satisfeito e de barriga cheia, duma maneira que há muito não se sentia. Após a sua refeição foram-se todos sentar junto da lareira, nos confortáveis sofás debaixo das suaves mantas. Cassio ofereceu-lhe uma cigarrilha e ele tomou de bom grado, acendendo-a e inundando logo o ar com o aroma a caramelo. Sentiu-se tão bem, tão confortável que os seus olhos iam-se fechando, tornando-se cada vez mais pesados, como há muito não acontecia. Estava acostumado a ter dificuldades a adormecer na sua cama fria e desconfortável.

Steven via os olhos de Fithus fecharem-se e olhou à volta vendo que também os outros tinham reparado. Cassio pediu a Anna para preparar o quarto vazio no rés-do-chão, ao lado do de Steven. Steven olhou para o velho relógio de cuco e viu que também já era tarde, cerca de meia-noite e meia, aquela brincadeira levara mais tempo do que parecera. Levantou-se preguiçoso e foi à cozinha pôr um pouco de leite a aquecer para ir para a cama. Pouco depois viu Kirke entrar atrás dele.

-Eu vou andando para casa, não tinha reparado que era tão tarde. – Disse ela. A sua voz soava suave e hipnotizante, e os seus olhos amendoados brilhavam sob a fraca luz das velas, dando-lhe um ar feérico. Steven desviou o olhar para a panela com o leite, tentando conter-se. Aclarou a voz, tentando esconder os seus sentimentos e disse lentamente:

-Não dormias cá?

-Pois, mas está a ficar tarde e depois disto não me sinto bem, acho que estou a mais.

A sua voz era tão envolvente e sedutora que Steven não resistiu em olhá-la nos olhos. Não conseguia desprender-se. De repente parecia que nada mais existia no mundo, parecia que tudo em torno dela ficara desfocado. Começou a avançar lentamente e pegou-lhe na mão carinhosamente. Depois encostou a boca ao seu ouvido e sussurrou “Fica…”. Olhou-a nos olhos, as suas caras estavam a poucos centímetros, conseguia ver nitidamente cada sarda na sua cara, contar cada cabelo na sua cabeça, sentir o seu cheiro. Num impulso beijou-a ardentemente…

-A… Desculpem interromper não é… Mas é que estão na cozinha e, é o acesso mais fácil. – Ouviu, Steven, por entre risos. Reconheceu as vozes como sendo de Monic e Michelle. Soltou-se rapidamente envergonhado, atirando-se para o outro canto da cozinha. Ao ver duas figuras femininas paradas na porta a rirem-se sentiu um calor enorme vir-lhe à cara e corou furiosamente. Kirke escondeu um sorriso, também estava um pouco envergonhada.

-Até manhã meninas, Steven… - Disse ela saindo.

Então aí veio o que Steven mais temia, as duas começaram a bombardeá-lo com perguntas e risinhos, Steven saiu o mais depressa que pôde indo despedir-se das pessoas que estavam na sala e enfiando-se rapidamente no quarto. Enfiou-se na cama e adormeceu quase instintivamente, pensando ainda no beijo.

Amanheceu um dia cinzento e frio. Steven acordou muito tarde, apenas quando Anna o veio acordar. Levantou-se preguiçoso, ainda com o pijama, pois estava com demasiado sono e hoje era dia de descanso. Ao entrar na cozinha e ver todos, incluindo Fithus e Kirke, corou um pouco, pois já não se lembrava. Trocou um olhar com Kirke mas logo o desviou sentindo-se corar ainda mais. Monic e Michelle ao aperceberem-se deste pormenor começaram a rir baixinho e logo Joel as inundou de perguntas.

-Que é que se passa? Porque é que se estão a rir?

-Nada Jojo, nada. – E logo desatavam a rir. Steven ficou meio aborrecido com a situação, especialmente porque Joel não parava de fazer perguntas. Kirke estava cabisbaixa, tentando evitar olhá-lo.

-Então, o que vão fazer hoje? – Perguntou Cassandra a Cassio

-Eu e Fithus vamos buscar o resto das coisas na cave e depois vou-lhe mostrar os nossos campos. Depois o mais provável é ficarmos por aqui a por a conversa em dia. Hoje estão todos dispensados das vossas tarefas.

-Ah e por falar nisso já estamos atrasados! – Disse Lupus.

-Pois é, vamos ter com a Angie e Mantor. ‘Té logo! – E dito isto saíram pela porta da cozinha apressadamente.

-E eu também tenho que ir. - Disse Michelle – Monic, vens?

-Vou, vou.

Anna começou a levantar os pratos e Steven foi vestir-se num instante enquanto os outros esperavam por ele. Vestiu apressadamente uma camisola fina branca e outra azul grossa por cima, pôs as calças mais esfarrapadas que tinha e calçou as velhas botas. Depois dirigiu-se à sala.

-Estou pronto! – Disse alegremente entrando. Depois viu que só lá estava Kirke e corou um bocado, sentindo um pulo no seu estômago.

-O… O Joel e a Cass foram buscar odres à cozinha…

-Ah… - Respondeu Steven sentando-se. Mas mal se encostou no sofá lembrou-se de uma coisa que o podia tirar daquela situação embaraçosa. -Eu vou ajudá-los!

-Ah…Sim, sim eu também.

Dirigiram-se à porta ao mesmo tempo e esbarraram sem querer. Steven desviou-se e ela enfiou muito rapidamente para o corredor, andando muito depressa. Steven sorriu para sim mesmo e entrou no escuro corredor.

-Então como é que vão as coisas? – Perguntou ele entrando na cozinha.

-Já estamos prontos. Vamos então ajudar o pai e o Fithus? – Perguntou Cass.

-Vamos. – Responderam Steven e Auriga ao mesmo tempo.

Montaram os cavalos e cavalgaram com Fithus e Cassio em direcção à vila. Entraram no túnel e dirigiram-se ao quarto de Fithus. Quando já estava quase tudo de essencial e importante para Fithus posto na carroça Steven queimou a camisola numa vela. Apressou-se a despi-la e atirou-a para o chão, apagando as chamas com o pé. Foi então que Fithus olhou para as suas costas e surpreso avançou para Steven, incrédulo.

-Onde é que fizeste esta cicatriz? – Perguntou ele tocando numa velha cicatriz que Steven tinha nas costas.

-Ah isso, foi no incêndio em que os meus pais morreram… Chegaram uns homens encarapuçados e pregaram fogo àquilo. Ao saírem viram-me e tentaram esquartejar-me as costas, só que o meu pai meteu-se no meio e só conseguiram fazer isso… Foi esquisito porque ficou a parecer um F, mas penso que seja apenas coincidência.

-Isto não é nenhuma coincidência rapaz… Tu…Tu és o príncipe de Fithmar…

enthilza
Enviado por enthilza em 30/12/2005
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