"Anos Irresponsaveis" cap 18

Capitulo 18

“ULTIMA SEMANA”

É, o tempo passou um bocadinho desde a aventura no casebre e algumas coisas infelizmente mudaram, ou melhor acabaram desde então. Bem, a Lara havia trocado telefone com aquela garota de cabelos rosa que dançou com a gente e ai então as duas começaram a sair e eu sobrei. Mas tudo bem, a vida é sofrida, mas não vou chorar.

E infelizmente a segunda semana de férias se passou sem nenhuma grande agitação, e de volta ao lar, com meu irmão, graças a deus ainda no meu tio, eu reuni o conselho para uma reunião de emergência.

- silencio pessoal.- pedi batendo palmas.- Rafael feche a geladeira. Mauricio abaixe esse som, não ouço minha própria voz. Aline feche as pernas. William largue essa bandeja. David deixe a foto do meu pai ai.

- O que você quer coisa feia?- perguntou Rafael fechando a geladeira.

- Eu tenho uma coisa importante a lembrar.- respondi.

- O que?

- Bem, nós estam...

- Ah, ta, já falou demais.- falou William aumentando de novo o radio.

- SILENCIO!!

Silencio.

- bem, como eu dizia.- continuei.- estamos na ultima semana de férias...

- malditas férias de quinze dias!-exclamou o David irritado.

- FÉRIAS...-repeti tentando voltar ao assunto.- e eu acho que...

- Ainda falando Anne?-perguntou Mauricio displicente.- E você não acha nada nessa joça.

- AH, CALE A BOCA SEU PALERMA, EU QUERO FALAR! E ESSA JOÇA É A MINHA CASA!!

- Ah, é.

- Bem, estamos na maldita quinze de meio de férias do ano final...

- QUE?!?!

- Ah, buldega! Vocês me confundem. Bem, estamos na ultima semana de férias...

- Isso.

- ... E temos que fazer algo para fecharmos com estilo.

- Era isso é?- perguntou David com pouco caso.

- FASCINANTE!-exclamou Mauricio sarcástico.

- Eu achei uma boa idéia.- falou Rafael para minha alegria.

- Rafael, quem se importa com você?- falou o Mauricio irritante.

- Eu não pedi para que você se importasse comigo, sua anta! –disse o Rafael irritado.

- AI PELO AMOR DE DEUS!- GRITEI IMPACIENTE.- A QUESTÃO É SIMPLES: ALGUEM AQUI DESEJA IR AO CINEMA ASSITIR AQUELE FILME “NOVA ERA”.

- O dos macacos?-perguntou Aline.

- NÃO! ESSE É “PLANETA DOS MACACOS”!

- Ah ta!

- Então, alguém?ham?ham?-perguntou Mauricio irônico.

- Eu quero.-respondeu Rafael.

- Eu também.-falou David.

- Eu tenho que ver se a chata da minha mãe deixa, e me da dinheiro para ir.-respondeu Aline irritada.

- Eu vou porque o que seria desse passeio sem mim?-falou Mauricio metido.

- A cale a boca mané! –Disse o Rafael, que já estava irritado com o Mauricio.

- Bem, então todo esse furdunço foi só pra perguntar quem quer ir ver um filme de macacos?-perguntou o William indignado.

- NÃO É DOS MACACOS!

Depois de muita bagunça e encher a mãe da Aline à beça para ela permitir que esta fosse ao cinema com nós, finalmente chegamos ao cinema. Barulhentos e bagunceiros, como sempre.

Fomos direto às pipocas.

- quantas?-perguntou a moça do balcão.

- Seis.-respondeu o David.

- Por que seis?-perguntou William indignado.

- Porque somos seis.-respondeu o David com um ar de “não é obvio?”

- E se eu quiser duas?- perguntou o William em tom de desafio.

- Você vem e pede outra, oxi!-respondeu o David.

- Não!- falou o William como se aquilo fosse uma saniçe.- por que só eu tenho que comprar outra, heim? Heim?heim?

- PORQUE SÓ VOCE ESTA QUERENDO OUTRA!- berrou o David arrancando os cabelos.

A moça do balcão nos olhava com ódio.

- Ei pessoal, vamos para com isso e pedir logo as pipocas.-pediu o Rafael olhando a cara dela.

- A CALE A BOCA SEU DENTUÇO ARROJADO!-berrou o William.

- É TEU PAI, SUA BALEIA TERRESTRE!-respondeu o Rafael.

- PAREM COM ISSO!- berrou o David.

- CALE-SE BICHA LOUCA! –Berrou o Rafael.

- BICHA LOUCA É AQUELA QUE TU CHAMA DE MAMA!

@#$@%$$¨&¨*&&(*¨%$%¨$#$@$#@$#@$%(*()*_)(+!!

- Ei pessoal!-gritou a moça do balcão para eles enquanto eu, Mauricio e a Aline fingíamos que não os conhecia.- vamos para com isso? Isso aqui é um espaço publico e vocês não podem se comportar assim. Tem mais pessoas aqui e vocês as estão incomodando. Lembram-se?

- Ah é, né? Nos esquecemos.

- Bem, e o que vai ser?

- Seis.

- Com manteiga?

- Sim.

- NÃO!-berrou o William de repente.

- Ah, não!-exclamou a mulher do balcão.

- Eu vou entrar nessa.- falei pro Mauricio e Aline.

- Eu também.- falou o Mauricio rindo.

- Manteiga engorda.- falou o William.

- Eu preciso engordar.-falei.

- Quem se importa com você Anne?-perguntou Mauricio contendo o riso.

- E quem chamou o pingo de gente na conversa?- perguntei.

- Eu chamei, por que ?- respondeu a Aline.- heim? Sua saracura.

- OLHA SÓ QUEM FALA.-gritei- A BOLA COR DE ROSA!

- Gente e a pipoca?- perguntou o Rafael entediado.

- CALE-SE PALERMA!

- QUEM TE CRIA, ANAO DE JARDIM!

- EU QUERO SEM MANTEIGA.

- EU QUERO COM MANTEIGA!

- VOCE JÁ ESTA GORDA COMO UMA PORCA!

- E VOCE MAGRA COMO UMA GALINHA.

- ISSO AQUI POR ACASO É ZOOLOGICO CARALHO?!

- NÃO FALA CARALHO NESSA PORRA MERDA!

- AH!

@!#!($#@%$&¨¨(“*&)*)*(*¨¨#$@%$¨&)!(@(*@*&()¨%¨##$%¨%ü&*&&(**_))+_+_)+()&*(¨& $%%$#$%).

Todos nos olhavam com cara de ódio e alguns soltavam pequenas queixas e impropérios. Ate que o próprio segurança resolveu entrar na dança.

- Dá pra vocês pararem com isso?!-esbravejou ele.-se vocês continuarem com essa baixaria eu vou colocar os seis para fora entenderam?!?

- SIM SENHOR. SENHOR!- respondemos fazendo continência.

Compramos as pipocas, todas com manteiga afinal, os ingresso do filme e entramos na sala.

- telesp informa:- disse o William com ar de riso.- local perfeito para tirar o laser do bolço.

- Você trouxe um laser?-perguntei com os olhos brilhando de emoção.

- Trouxe.-respondeu ele orgulhoso.- e ele tem a forma do batmam, ou seja, um morcegão.

- Ai que legal!

Nos sentamos nas ultimas poltronas, dali tínhamos uma vista melhor da tela.

- e ai, o que vamos fazer?- perguntou Rafael entusiasmado.

- Guerra de pipoca!- respondi num sussurro excitante.

- Atacar!-berrou o Mauricio apenas mexendo os lábios.

PÁ!PÁ!PÁ!PÁ!PÁ!

Voaram pipocas de um lado para o outro como verdadeiras granadas. Pegávamos punhados grandes e as jogávamos para qualquer lado, e elas caiam como uma chuva atingindo as cabeças das outras pessoas em cheio.

- EI!-berrou de repente um gordão que dava o décimo de todos nós juntos, mesmo com a Aline e o William.- QUEM É O PALHAÇO QUE ESTA JOGANDO PIPOCAS POR AI?!?!

Fingimos estar comendo nossas pipocas na mesma hora.

Ninguém se manifestou e logo, quero dizer, na mesma hora tivemos que parar nossa guerrinha porque alem do gordão um grupo de adultos intelectuais, para não dizer nerds tapados, haviam sentado na mesma fileira que nós e poderiam ver e nos caguetar. MERDA!

- malditos nerds!- exclamou o Mauricio baixinho.

Logo a sala se encheu e o filme começou. Primeiro exibiram os trailers, e quando o locutor finalmente foi falar o nome do filme: “NOV...”.

- O INIMIGO DO CRIME!!- berrou o William bem alto, abafando o nome do filme, quando o batmam abriu suas asas enormes bem no meio da tela.

Caímos na gargalhada.

- RSRSRSRSRSR!!!!

- KKKKKKKKK!!!!

- AI MUITO BOM!AHAHAH!!

- HAHAHAHAHAHAHA!!!!

Muitas cabeças se voltaram para nós irritadas, e um lanterninha até foi nos investigar, mas nada encontrou.

“que idéia brilhante essa do William,-pensei.- mudar de lugar, ir para uma dessas poltronas vazias, essas que são em dupla, ligar o laser e depois voltar pro lugar dele. Brilhante! Ele não chamou nenhuma atenção.”

O filme correu tranqüilamente, por volta e meia um...

- INIMIGO DO CRIME!

Aparecia nos fazendo cair na gargalhada. Sempre desconfiavam de nos, ate que na décima investigação concluíram de que o laser não estava com nós.

Ai depois de muita discussão o reino “sabe-deus-qual” resolveu entrar em guerra com o reino “não-sei- das-quantas” e ai o bicho pegou, literalmente: eles lutavam em cima de dragões.

“Lá vinham os soldados de ambos exércitos, galopando destemidos, com as armas na mão, prontos para atacar o inimigo. Lá vinham eles, - LIBERDADE!- gritou o general de um dos exércitos, e seus soldados repetiram o grito de guerra. – LIBERDADE! –LIBERDADE! ...”.

- LIBERDADEEEE!!!!!!-gritamos nos levantando bruscamente e jogando pipoca por todos os lados.

- Silencio!- berraram para nós.

- Qual é? Vocês não sentem a emoção?- perguntei indignada ao me sentar.

- Sentimos em silencio!- respondeu uma mulher zangada.

- É...

A guerra se seguiu e nos seguimos à guerra.

- ISSO! VAI, DÁ NA CARA DELE!

- É ISSO AI CARA! DÁ NELE!UHUHU!!!

- NÃO!ABAIXA, ABAIXA! AH, SEU OTARIO, EU FALEI PRA VOCE ABAIXAR!

- DÁ UMA DE DIREITA! DE DIREITA EU DISSE! NÃO! SEU PALERMA!

- ISSO! VAI,VAI,VAI, AH MUITO BEM! HÁ NÃO, ATAQUE TRASEIRO!

- EU PROTESTOTO! ISSO É UMA CALUNIA! É TRAIÇAO MANO! EU PROTESTO!

- AI CUIDADO!

- SILENCIO!

O lanterninha ameaçou nos por para fora muitas vezes, mas ele sempre caia no nosso truque de “vamos parar, nós prometemos seu lanterninha.”; mas ele se cansou dessa falsa desculpa e foi chamar o segurança. Nos mudamos de lugar rapidamente e quando ele voltou fingíamos ser garotos educados que prestavam atenção ao filme, quando na verdade riamos silenciosamente do lanterninha que nos procurava confuso.

O filme passou rápido e quando chegou na ultima cena, que ia revelar se iria haver ou não um segundo filme...

- O INIMIGO DO CRIME!- berramos os seis, tapando a cena e abafando o som da fala.

Saímos correndo da sala antes que nos linchassem.

Depois do filme continuamos rodando pelo shopping, comemos uns lanches e estávamos sentados na grande fonte que havia quando o Rafael ficou branco.

- essa não!- exclamou ele.- será que eles sentem meu cheiro?

Olhamos para direção que ele olhava, lá vinha Paredão e mais uma renca de valentões, eles nos avistaram, Paredão falou alguma coisa e eles riram.

- ah droga! valentões!- exclamou o William.

- ai vamos nos mandar.- sugeriu Rafael com a voz tremula.

- Não, eles não vão fazer nada com agente aqui no shopping.-disse Aline.

- Você que pensa, nem que isso fosse uma igreja.

- Ai Rafael, valentão é igual a cachorro.-disse Mauricio.- só corre atrás de você se você correr dele.

- Eu até que estou correndo bem ultimamente.- disse o Rafael.- droga eles estão vindo!

Realmente, os valentões estavam vindo rapidamente na nossa direção. Todos engolimos em seco.

- olhem, o elevador!- exclamou o David.

Havia um elevador a poucos metros de nós, se fossemos rápidos talvez conseguíssemos.

- certo, quando eu contar três.- disse o Mauricio. Os valentões a poucos metros.- um...dois...TRÊS! VÃO!!!

Saímos correndo feitos doidos empurrando quem passava e foi certeiro: começamos a correr e os valentões correram atrás. O elevador estava parando no andar, eles estavam perto, as portas se abriram, ainda faltava um pouco, eles gritavam ameaças, um monte de gente entrou no elevador, estávamos quase lá e eles quase na gente, as porta estavam se fechando...

- SEGURA A PORTA! SEGURA A PORTA!- berramos.

Um homem impediu a porta de se fechar, derrapamos pra dentro, a porta se fechou, eles alcançaram.

- ufa!! – exclamamos, o suor escorrendo.- escapamos!

- Foi por pouco!

- Maltidos valentões!

A ultima semana passou chata e monótona, não fizemos nada de legal, na verdade nem nos vimos, ficamos em casa mofando, e para minha zica total, meu irmão voltou da casa do meu tio. E assim esperamos ate o retorno do segundo semestre que começou chato e irritante, com a Matakari já passando expressões de segundo grau. Que merda!

- Ei alguém prestou atenção na explicação?- perguntei quando ela saiu da sala.

- NÃO!- foi a resposta obtida.

Não tínhamos nada para fazer, ou conversar, na verdade ninguém tinha nada a dizer, a não ser a Aline, e por sinal era um assunto muito chato.

- Ei vocês nem acreditam o quanto minha mãe falou quando cheguei do cinema aquele dia, e só porque atrasamos uns minutos.

- Aline, atrasamos duas horas.- falou David monótono.

- Pouco tempo de qualquer jeito.- continuou Aline displicente.- mas ela agiu assim, vejam:-ela colocou a mão na cintura, amarrou a cara e fez uma imitação rabugenta da voz da mãe:- “isso são horas de chegar, mocinha? olhe-se só como você é, você me diz que eu nunca te deixo sair, e quando eu deixo, quando eu te dou um voto de confiança você o joga fora, chega depois do horário combinado.” Eu não fiz nada mãe.- falei. “isso mesmo, ultimamente você não faz mais nada Aline, não chega mais no horário que eu mando, não vai mais a igreja, não faz a suas tarefas, não faz mais nada. Você esta muito diferente Aline, muito diferente mesmo, o que aconteceu com você heim? Não é mais a menina que eu criei, não parece mais minha filha.” Não mãe,- respondi com a gota.- realmente não sou mais aquela menina tonta e mane que você criou, eu mudei mãe, eu mudei. Cansei de ficar na surdina, resolvi mostrar para as pessoas que eu existo e quem eu sou e estou muito bem assim. Você goste ou não. “você não pode fazer isso com você Aline, não pode fazer isso comigo e com a sua vida. Você realmente quer uma vida assim para você? Com essas companhias? Uma vida do mundo sem deus?” sim.- respondi displicente. “você sabe que tudo que o mundo da ele tira, não sabe?” sei. “e mesmo assim quer viver no mundo?” quero.

Ai ela sentou no sofá apertando o peito e me mandou sair de frente dela.”

- Sabe, eu não gosto dela,- continuou Aline.- ela esta sempre me enchendo, me dizendo que eu não posso viver a minha vida do jeito que eu quero, que eu vou me dar mal. Eu não a suporto!

- já acabou?- perguntou Rafael monótono.

- Já.- respondeu ela mal humorada.

- Ah, que bom!-exclamamos em uníssono.

As primeiras semanas do segundo semestre se arrastaram lentas e chatas, estava tudo um completo tédio, tanto na rua quanto na escola, não saímos, não bagunçamos, porque na segunda semana de aula fomos ameaçados de suspensão pela diretora em pessoa; resumo: uma MERDA!

Mas por incrível que pareça a coisas sempre pioram.

Estava eu voltando do banheiro no meio da aula de biologia, o banheiro havia sido uma desculpa pra não ter que ficar ouvindo a droga da teoria de Lamarck, seja la quem tenha sido esse; em todo caso, eu estava passando pelo corredor dos armários que estava absolutamente vazio e é incrível como tudo parece acontecer de propósito, porque meu cardaço desamarrou, eu me abaixei para amarrar e de repente alguém deu um chute nas minhas costas.

- ahh!!

- Oi espantalho!

Mais uma vez Monique Scarpa pisava nas minhas costas com aqueles malditos sapatos.

- sai fora sua vagabunda!- berrei.- eu vou gritar até alguém vir e te pegar no flagra!

- A é? Bem, então tenho que providenciar para que isso não aconteça.- disse Monique naquele tom maldoso.

E mais uma vez alguém segurou meus braços para trás e Monique puxou meus cabelos até minha cabeça ir pra trás.

- ããrr!! Você vai me pagar sua loira de farmácia! Aguada!!

PÃM!!

Monique bateu minha cabeça na porta do armário à frente, um filete de sangue escorreu.

- é cem por cento original, espantalho.- sussurrou ela no meu ouvido.

Jack abriu a porta do armário, estava vazio, exceto por umas teias de aranha.

- agora você vai ficar na solitária pensando nisso, sua tribufu!

E com outro empurrão elas me jogaram dentro do armário, minha cabeça bateu de novo e outro filete escorreu.

- aaaaaaaaahhhhhhhhhhh, malditaaaaaaaaassssssss!!!!

Comecei a espancar o armário com toda minha força, se um dia eu chorei de raiva foi aquele, cada lágrima que caia aumentava à vontade de socar a cara de Monique Scarpa. Os chutes e socos na porta do armário expressavam cada batida do meu coração, cada xingo engolido á cada piada, os tapas que não dei á

cada provocação, a vingança que não tive em todas as vezes que Monique e a torcida aprontaram comigo. Era simplesmente o que eu sentia.

A porta do armário se abriu.

Uma professora desconhecida e uma penca de alunos estavam parados do lado de fora, olhavam para mim pasmos, uma garota levou a mão a boca.

- ah...querida, você esta...?- começou a professora.

- Estou!- respondi bruscamente e sai correndo, secando as lágrimas que terminavam de cair.- então...vamos a guerra!

Corri para o banheiro novamente, lavei meu rosto que estava todo borrado e fui procurar a faxineira da escola, tia Lurdes, que sempre foi muito bacana.

- olá tia Lurdes, - cumprimentei.- será que a senhora poderia me arranjar um pouco de cândida ou desinfetante? É que estávamos usando tinta na aula de artes e manchamos as mesas, agora vamos limpar.

- Ah claro querida,- respondeu a boa velhinha dando pausa na varrição do pátio.- mas você não acha melhor usar sabão?

- Não, eu quero cândida ou desinfetante.- falei bruscamente, mas sem notar.

- Certo então, um momento.

Ela foi à sala onde guardavam os produtos de limpeza e voltou com um garrafão de cândida.

- só não desperdicem porque usamos isso quando lavamos alguma coisa.- pediu ela.

- Não se preocupe, só vamos usar um pouco.- menti pegando o garrafão com as mãos tremendo de excitação.

Depois que peguei o garrafão corri para o vestiário feminino, na quadra, para onde eu sabia que a torcida iria depois da aula.

Fui até os armários que tinham os nomes de “Monique, Laís, Jack, Melissa e Débora”; dei um chute na porta de cada um para que eles se abrissem e vi o que queria ver: os uniformes sexys, provocantes e sensuais que elas usavam estavam nos armários, e com muito prazer e nervosismo derrabei litros de cândida em cada armário, os fechei novamente e voltei correndo para entregar o garrafão quase vazio a tia Lurdes, que se admirou com a velocidade do “serviço”.

Naquele dia não vi mais as garotas da torcida, mas ouvi comentários de que elas estavam furiosas tentando descobrir quem havia sabotado os uniformes, e também ouvi comentários de que uma garota foi encontrada a beira do pânico dentro de um armário no mesmo dia e fiquei com medo de que alguém ligasse uma coisa à outra. Mas como sempre, ninguém nunca vê o que esta embaixo do próprio nariz.

Por enquanto....

Mas agosto começou e com ele o velho campeonato de basquete, que acontecia todos os anos, mas isso não nos animou muito, detestávamos esportes e ficar na quadra treinando se sabíamos que éramos perfeitos desastres e que não íamos pertencer a time nenhum, era a coisa mais chata do mundo.

- andem vocês ai, mais rápido, vocês não podem correr assim se estiverem no time!- berrou o professor de educação física, Fernando.

Mas não demos bola a ele, primeiro porque sabíamos que não entraríamos para os times e segundo não íamos no matar correndo rápido em torno do campo de futebol se sabíamos que não ia adiantar de nada.

- ai palermas, porque vocês não correm com essas cabeças grandes, talvez seja mais rápido!- gritou paredão passando rapidamente por nós.

Um outro valentão veio atrás e de repente ele passou uma rasteira no Rafael, que caiu de cara no chão e cortou a boca.

- ai otário, você ta louco seu retardado?!- berrou o Mauricio para o garoto.

- Mauricio, não!- gemeu Rafael se erguendo.

O carinha e todos os outros valentões voltaram.

- como que é magrelo?- perguntou o brutamontes empurrando Mauricio, que não desanimou.

- Isso ai que você ouviu seu imbecil.- falou Mauricio tentando empurrar o valentão também, mas sem sucesso.- encosta não meu amigo de novo que eu acabo com sua raça.

- Mauricio!

- Demoro então seu nóai! Vamo vê se o baseado te da tanta força quanto da coragem, palerma!

Com uma força surpreendente o Mauricio empurrou o valentão que cambaleou pra trás.

- Aaaah! Não!

O carinha levantou um punho enorme e antes que alguém podesse interferir um soco atingiu o nariz do Mauricio que caiu pra trás, foi uma cena confusa, gente entrando no meio dos dois para que o valentão não batesse mais no Mauricio. A Aline gritando o professor, o Rafael levantando o Mauricio e tentando impedi-lo de ir pra cima do valentão, o William e o David gritando com os outros e começando mais briga e de repente estava todo mundo na diretoria e o Mauricio com o nariz cheio de algodão. O Rafael em nenhum outro estado a não ser o de choque.

Mas tudo no final das contas parecia ter terminado bem: os valentões foram suspensos, o nariz do Mauricio não estava quebrado e não íamos participar de nenhum time de basquete (novidade), mas ainda sim, para o Rafael não estava bom.

- ahh, eu não acredito! Eu to ferrado! Eu to ferrado!- lamuriava ele de um lado para o outro.

- Ei Rafael qual é?- perguntou Mauricio sem entender.- já esta resolvido parceiro, eles estão suspensos, não vão mais te encher por uns bons dias.

- Não! não! vocês não entendem, eles vão se vingar de mim.- disse Rafael sentando-se e tremendo muito.- não importa o que aconteça, quem paga o pato sou sempre eu! eles vão me pegar na rua, vão me socar! Eu nunca mais vou andar, eles vão quebrar minhas pernas!

- Ei cara relaxa!- berrou o William chacoalhando ele pelos ombros.- eles não são loucos de fazer isso com você, podem ir presos por isso, eles sabem. E eles não vão te pegar na rua, eu vou estar com você onde você estiver.

- E eu também!- disse Mauricio tirando os algodoes do nariz.- esses panacas vão provar do próprio veneno, você vai ver.

Rafael deu um suspiro tão profundo que por um momento até pareceu o ultimo, mas em fim ele se acalmou.

- valeu pessoal, eu não sei o que seria de mim sem vocês.

- Qual é cara, amigos de verdade fazem isso.- falou o William e o Rafa sorriu.

- Mas mudando de calça pra calcinha,- disse Aline.- Mauricio, o que aquele idiota quis dizer com aquele papo de baseado? Eu não saquei.

- É Mauricio, nós também não entendemos.- disse o David.

Olhamos todos para a cara do Mauricio, que de repente pareceu desconcertado e sem jeito, então ele chacoalhou a cabeça e forçou um sorriso.

- qual é gente, é besteira de valentão. Vão dar bola agora é?- disse ele.

- É, bem, é que ele disse de um jeito.- falou Aline.

- Pronto! Era o que me faltava, meus amigos darem mais bola pra palavra de um valentão do que pra minha!- exclamou Mauricio ficando nervoso.

- Ei cara não precisa se irritar,- disse eu.- só estamos...

- Ai, quer saber?- interrompeu ele.- até amanha, fui!

E jogando a mochila nas costas ele se mandou. (trocamos olhares suspeitos)

Alguns dias se passaram e nada aconteceu: ninguém apanhou, o Mauricio se acalmou e não tocamos mais no assunto, os valentões ainda estavam suspensos, a torcida ainda procurava seu sabotador e o campeonato de basquete começou

Mas ainda bem que só tínhamos que assistir aos jogos da nossa sala, que não passou do terceiro jogo e depois a final. Já era um consolo.

Mas a final chegou mais rápido do que imaginamos, porque um tal time de caras novos estavam arrebentando todos os outros, e assim exatamente no dia 31 de agosto rumamos resmungões para a quadra, curvados sobre os próprios braços, por causa do vento forte. A quadra já estava cheia e os melhores lugares, no topo da arquibancada já estavam cheios, por isso nos sentamos na primeira fileira, onde tínhamos mais chances de levar uma bolada na cara. Mas tudo bem.

- espero que esses caras sejam realmente bons.- resmunguei me encolhendo entre a Aline e o Mauricio.- para me tirarem da sala quentinha, é bom que eles sejam.

- ah, lá vem eles!- gritou Mauricio no meio da balbúria apontando para a saída do vestiário.

Eu achava que era a mais alta da classe, mas não chegava nem aos pés daqueles caras: eles deviam ter entre 1,80 a 1,85, todos muito altos e musculosos para quem estava no colegial, usando uniforme vermelho, sorrindo para a torcida, sem contar que eram todos bonitões.

- uau! Esse com certeza vai ser o jogo do ano!- exclamou Aline olhando com cara de safada para os jogadores.

- Ai fala sério Aline!- suspirou Mauricio virando os olhos.-mas é uma pena que a torcida esteja com esse uniforme estranho. Rsrs

As garotas da torcida usavam calças legs pretas com shortinhos jeans e regatas vermelhas, com certeza não estavam nem um pouco atraentes e nem fazendo o sucesso de sempre.

- Haha, olhem só quem são os adversários!- disse a Aline apontando para o outro vestiário de onde saia um timinho de garotos magricelos, eram grandes, mas tinham cara de idiotas e eram todos secos.- eles não duram um segundo contra esses fortões.

- Não mesmo.- concordou Mauricio.- e você Aline será que agüentaria? Rsrs.

- Não sei, mas adoraria fazer o teste.- respondeu a outra.

O professor Fernando iria apitar o jogo, então ele foi até o meio da quadra e ordenou que os jogadores apertassem as mãos. Os caras grandes poderiam arrancar as mãos dos magrelos e guardarem no bolço.

Mas então ele jogou a bola para o alto e a partida começou.

E que começo. Os jogadores se espalharam pela quadra e no momento que a bola começou a descer um cara de uniforme vermelho, pele cor de chocolate, trancinhas afro (ele se parecia com o jogador nenê) de provavelmente um metro e oitenta e braços fortes deu um super pulo no meio de todos e um tapa tão forte na bola que ela foi parar quase do outro lado da quadra.

- uau! Você viu esse cara Aline?- perguntei admirada.- que tapa!

- Que corpo!- disse Aline olhando para o jogador que agora corria pela quadra.- ele é um gato. Super gostoso. E você sabe o que dizem dos negros né Anne?

- O que? Que eles envelhecem menos?- perguntei mais preocupada em olhar o cara do que discutir o que diziam sobre os negros.

- Ora Anne, não se lembra? Dizem que eles têm um “dote” incrível, se é que você me entende.- disse Aline me dando uma cotovelada.

- Sim eu entendi, não precisa me descustelar. Quantas chances têm dele me ouvir no meio dessa bagunça?

- Não sei, por quê? Ele esta perto e...

- VAI GOSTOSÃO!!! EU ADORO CHOCOLATE HEIM!!

Mas antes que eu podesse olhar para o outro lado ele olhou bem na minha direção e senti uma coisa estranha, misturada com vergonha e surpresa quando os olhos dele encontraram os meus, e por um momento ele ficou parado no meio da quadrada olhando pra mim, e eu olhei no fundo dos olhos de mel dele, e senti uma coisa que nunca tinha sentido antes, uma espécie de calafrio no pé da barriga e uma onda de calor no peito, e todo o mundo pareceu ter parado e a única coisa existente era o encontro dos nossos olhares.

Mas ai alguém gritou “se meche filho da p...” e deram uma bolada na cabeça dele e o jogo voltou a correr.

Olhei para a cara da Aline para ver se ela dizia alguma coisa, mas ela e o Mauricio se rachavam de rir da cena.

Durante todo o resto do jogo trocamos olhares rápidos e a cada olhar eu sentia uma excitação maior e uma empolgação que eu não sabia de onde vinha.

Mas o jogo acabou e o time dos fortões ganhou é claro, massacrando os magrelos por 92 a 70 e quando todos saiam da quadra eu pensei em correr até o bombosão e fingir estar interessada em um autografo, mas acho que não fui à única a ter a idéia, porque no momento que eles estavam saindo da quadra uma chuva de garotas caiu sobre eles, inclusive a Rafaela, da sala.

Depois que fomos pra sala fiquei pensando se encontraria o bombosão de novo na saída, mas infelizmente isso não aconteceu e passou-se muito tempo até um conseguir vê-lo a distancia na hora da saída, saindo com um bando de amigos.

Mas não houve um só dia em que eu não tenha pensado nele e me lembrado daqueles olhos e sempre que o fazia me sentia estranhamente feliz e calorosa e mal podia esperar para poder encontra-lo e trocar nem que fosse um “oi”.

Mas isso não aconteceu o todo mês de setembro passou quase deprimente.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 07/04/2008
Reeditado em 06/04/2009
Código do texto: T935843