Abismo Da Escuridão página 05

Não queria que isso fosse verdade. Eu todo cauteloso para não ser pego em uma dessas brincadeiras de mau gosto, e no final nada valeu a pena. Mas não era o fim. Eu ainda podia me safar dessa na conversa, o que não era o meu forte.

_ Desculpe, mas eu prefiro ir do jeito que estou. _ disse ao jovem que estava ao meu lado. Devia ter uns 18 ou 19 anos. Era um quase-careca de olhos verdes. Provavelmente um veterano do tipo repetente.

Eu tentei apertar o meu passo, mas senti uma força que me impedia de andar mais rápido. Era o cara que apertou o meu ombro, não querendo que eu me livrasse dele.

_ Peraí, parceiro! Não precisa ter pressa. Deixo eu te explicar o que é isso? Você pode ver isso como uma brincadeira de mau gosto, mas é apenas uma forma de se enturmar com o ambiente da escola, principalmente com as pessoas daqui. É só uma brincadeirazinha que não vai influenciar em nada você. _ Eu olhei para ele enquanto falava. Chegava a me irritar a forma como ele falava e o que ele falava. Tudo uma brincadeira? É um completo imbecil. Por isso é que são repetentes. Esses tipos de pessoas são irrelevantes. Só servem para causar problemas num mundo já cheio de problemas.

_ Tem pessoas que não gostam dessa brincadeirazinha.

_ E você é uma delas?

_ Sim.

_ Tudo bem. Eu não sou um cara muito chato neste tipo de coisa. Se você não gosta, tá beleza. Não vou forçar você a fazer isso se não quiser, tá me entendendo. Só uma nota de um real e te libero.

Essa última frase me enfureceu.

_ Uma nota de um real? _ perguntei, abaixando a cabeça com minha raiva brotando dentro de mim.

_ É só um pedágio pra se livrar do trote. Não vai te fazer falta. _ Mais uma vez, a última frase me atingiu profundamente.

_ Vai a merda seu rico filho da mãe! _ disse num tom de ódio. Não sou uma pessoa de xingar os outros, mas dessa vez tive que abrir uma exceção. Acham que eu nado em grana como eles, para tratar dinheiro de uma forma tão desprezível. Eu estava com apenas o dinheiro da passagem de volta na mochila. E não tinha nada para comer durante o intervalo das aulas. Teria que sobreviver apenas com o meu café da manhã que não foi nada completo. Um copo de café com leite para sobreviver 8 horas fora de casa.

_ Qual é a tua mané? Eu por acaso te xinguei? _ perguntou o filho da mãe que não estava nada calmo agora. Mas eu fiquei calado. _ Responde, porra!

_ Não. _ respondi, já amedrontado pela situação tomar aquele rumo. Meu objetivo era sair ileso da tentativa de trote, mas parece que acabei de diminuir as chances disso acontecer.

_ Agora não tem jeito. Tu vai ter que levar o trote. _ disse ele indo pra cima de mim. Eu me afastei alguns passos enquanto ele andava na minha direção. Minha única saída era correr.

Eu me virei pronto para correr pelo corredor inteiro, mas nem dei meu primeiro passo e parei ao ver mais cinco figuras andando na minha direção. Estavam me cercando.

_ Vai pra onde, aspira? _ disse o do meio. Um barrigudo cheio de piercings. Um na sobrancelha direita, outro no nariz, outro na língua e vários brincos na orelha. Era um pior que o outro.

_Bora passar um trote nesse filho da mãe. _ disse o que estava atrás de mim. Eles então me pegaram e me levantaram. Eu tentei me soltar, mas eram muitos me segurando.

_ Parem! Me soltem! Me soltem! _ gritei desesperadamente. Mas com certeza, nenhum deles iria me atender.

_ Vamo levar esse doente pra fora. Bora pintar ele até ele gritar que nem uma bicha. _ falou o gordo.

Na próxima pagina: Não adiantava fugir, nem gritar. Eles não iriam parar. Eu estava levando um trote.