Canturi Primeiro
                                  Alexandre Ribeiro

Prepare o seu coração
Pra escutá,
Que eu temperei meu gogó
Pra cantá!

Ai, ai!...

Sou o cantadô de verso
Mais funesto das estrada.
Até mesmo com o Tinhoso
Labutei, na encruzilhada!
Só a carranca do bicho
Deixou minha língua travada!
Apelei pra Jesus Cristo,
O Cão bateu em retirada!
E, até hoje, anda vagano,
Tal qual fosse alma penada!

Aliás, 

Um cantador da minha linha
Não carece ostentar valentia não.
Pois até difunto arripia,
Quando pia meu violão!
Até difunto arripia,
Quando pia meu violão!

É qui derna a mininice,
Qui eu vivo de vadiá,
Sapatiano nessas moda,
Dia e noite, sem pará!
E, enquanto houvé friguisia,
Na aba do meu chapéu,
Vou temperá minha viola,
Pra cumprir o meu papel.
Até sê chegada a hora,
Deste pobre tabaréu!

Aliás, 

Um cantadô da minha linha
Não carece ostentar valentia não.
Pois até difunto arripia,
Quando pia meu violão!
Até difunto arripia,
Quando pia meu violão!

Prepare o seu coração
Pra escutá,
Que eu temperei meu gogó
Pra cantá!

Ai, ai!...

E, pra acabá de vez
Cum essa conversa fiada,
Vô mostrá como se dêxa
Uma nação apaixonada:
Dô um supapo na viola,
Qui ela berra, grita e implora,
Santo Deus, Nossa Senhora,
Nas horas do violêro,
Mió que minha cantoria,
Só as palma de um brasilêro!

Aliás, 

Um cantador da minha linha
Não carece ostentar valentia não.
Pois até difunto arripia,
Quando pia meu violão!
Até difunto arripia,
Quando pia meu violão!

Prepare o seu coração
Pra escutá.
Que eu temperei meu gogó
Pra cantá!

Ai, ai!...

***

Farrapo de Um Cantador
Alexandre Ribeiro


Vô rasgá o verbo na lata,
Cantano, de cara, uns versos pru sinhô,
Qui mi vê riscá uns fiapo,
Farrapo de um cantadô,
Pois, das ventura qui hái no mundo,
Ser um vagabundo
É o que me restô.

Di primeiro, inda minino,
Custumava me queixá.
Das privações que o Divino,
De Poder Infindo,
Teimou em deixá.
Resmungando pelos canto,
Jurei, inté, pro Santo:
Um dia ainda ia aprumá!

Mi perdi na mocidade,
E, vindo pra cidade,
Quis me arranjá.
Prus óio de um donzela,
Ceguêra dos óios dela,
Preso por laços de amores,
Cunhici as dores
De um novo pesar!

Diz qui a dô insina a gemê...
Nun crêi nisso, qui é mintira!
Vivo cantano a sofrê
E, as dores, meus cantos expira!
Sô filho do sufrimento,
Turmenta, quem me criô,
Inda ando de mãos dadas
Pur essas istradas,
Com o tal de amargô!

Como si ainda fosse pôco,
Tô qui nem língua de sogra:
Sem tempo pra discansá.
Pruziano com o Patrão,
Migalhas de pão,
Pelo meu cantá. 

E o Sinhôzin vem mi dizê
Preu caçá sirviço,
Móde trabaiá!...
Como se a frô da cantiga
Brotasse na caatinga,
Sem ninguém plantá!...
Se nóis nun bota um frêi na gente,
Nun sei, minha gente,
Onde nóis vai pará!...

Vô lhe arranjando esses verso mudesto,
A vida merece o mió qui nóis tem!
Mais êsse ofiço é um mucado difiço,
O negóço num vai muito bem!

Vô lhe arranjando esses verso mudesto,
A vida merece o mió qui nóis tem!
Mais êsse ofiço é um mucado difiço,
O negóço num vai muito bem!
 


***

O Disco:



Valeu, Seu Ribeiro! Agradecido, pela valiosíssima contribuição!

Volte sempre! A casa é sua!

                          


Ouça as duas canções na Seção Áudios - Voz


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