A PORTEIRA DE OURO FINO

Faz muito tempo seu moço, eu morava em ouro fino.
Perto daquela porteira onde morreu um menino.
Foi num dia ensolarado de repente escureceu
Com o estouro da boiada e a poeira que deu.
Quando a poeira baixou, um corpo apareceu
Caído naquela estrada em frente do rancho meu.
Quando eu vi que era um menino, o meu corpo estremeceu.
Naquele dia seu moço, foi que o meu filho morreu.


Naquela mesma porteira muita boiada passou,
Só não passou a tristeza que no meu peito ficou.
Larguei de ser boiadeiro, passava o tempo a cismar.
Lembrando daquele dia, vendo a boiada estourar.
A minha mulher coitada de tristeza enlouqueceu.
Abraçava a cruz na estrada, chamando de filho meu.
Na solidão de um hospício a pobre adoeceu.
Hoje mora lá no céu juntinho do filho seu.


Esta história seu moço o tempo não apagou.
Já não existe boiada e a porteira se acabou.
Hoje eu vivo pela estrada carregando a minha dor.
Tristeza levo no peito pra qualquer lugar que eu for.
Aquela cruz na estrada o tempo já destroçou,
Mas a lembrança do filho no pensamento ficou.
Do meu rancho abandonado nenhuma coisa restou,
Assim como aquele rancho a minha vida acabou.