Diário de um Aluno
São Paulo dia 13 de Fevereiro de 2006
Sete e meia da manhã
Aqui estou mais um dia
Sob o olhar sanguinário da tia
Você não sabe como é olhar
A diretora no corredor pra lá e pra cá
Professora alemã ou de Israel?
Reprovou o Elton e o Gabriel
Na muralha da escola
Mais um folgado repetente na minha cola
Servindo o Estado uma inspetora boa
Passa fome e ainda ri a toa
O cdf sabe o que eu desejo sabe o que penso
Uma caneta 4 cores uma folha de extenso
Vários tentaram cabular, eu também quero
Mas na ultima prova minha nota foi zero
Será que minha mãe vai vir na reunião?
Será que ela assinou a convocação?
Manda um recado lá pro meu irmão
Se repetir de novo, ta ruim na minha mão
Ele ainda ta mal em Biologia?
Deixa quieto ele é fera em Geografia
Cabulei um dia a menos, faltei um dia a mais
Sei lá, tanto faz, as aulas são iguais
Sento no fundão e vejo as aulas passar
De vez em quando mato ela pra ela não me matar
Homem é homem, mulher é mulher
Mas gayzinho é diferente né
Toma soco toda hora ajoelha e beija os pés
É zoado até chorar na sala dez
Cada aluno, um motivo, uma historia
Advertências, expulsões na memória
Abandono, merenda fria, intervalo pouco tempo
Misture tudo isso e pronto
Veja se não é um sofrimento
Ratatatá preciso evitar
Que a professora faça minha mãe chorar
Minha palavra de honra é o que me salva
Pra estudar onde não têm cor fixa as calças
Tic tac ainda são oito e quarenta
O relógio na escola anda em câmera lenta
Ratatatá, mais o sinal vão tocar
Com aluno correndo pra merendar
Outros vão pra cantina pra gastar
Com raiva misturada com ódio
Ter que ficar na fila enorme do refeitório
Os boys olhando pra lá curiosos é lógico
Não, não é não, mas parece um zoológico
Minha nota não tem tanto valor
Quanto seu carro seu computador
Hoje ta difícil nenhuma aula vaga no dia
Hoje não tem treta nem Educação Física
Alguns alunos têm a mente mais fraca
Não suportam o tédio arrumam com outra sala
Graças a Deus e ao mês de Julho
Faltam só uns meses, horas e minutos
Tem uma sala lá em cima fechada
A biblioteca ninguém abre pra nada
Só cheiro de peido e buceta
Uma aluna se enforcou com a camiseta
Qual que foi? Quem sabe não conta
E é cigarro nos dedos de ponta a ponta
Nada deixa o estudante mais incapaz
Do que o desprezo e a vergonha dos seus pais
Ai moleque vem cá, me diz cê quer o que?
A diretora ta lá esperando você
Pega todos seus cadernos vai pra rua
Seu currículo de bagunça limpo a bunda
A vida da repetência é sem futuro
Ser semi-analfabeto jogado ai no mundo
Aluno que zoa tem moral na sala
Mas pra escola é só um numero mais nada
Já ouviu falar na Nair?
Que veio do inferno com moral um dia
No Quirino não, ela é só mais uma
Comendo rango azedo vomitando comida crua
Dois andares quase 2000 estudantes
Que custam pouco são passados adiante
Na ultima reunião meu pai veio ai
Escuto um monte, depois foi minha vez de ouvir
Ligou que um professor meu voltou
Com um Golf gti placa de Salvador
Pagando de ladrão ele xinga ele abusa
Com um apagador debaixo da blusa
Ai professor vem cá, sua humildade onde esta?
O senhor é pago e esta aqui é pra ensinar
Lembra daquele dia que o senhor tentou me humilhar?
Aquela diretora é puta, safada espera cliente na rua
Fica com os caras até com menor
Hoje ta doente com AIDS se não tiver pior
Esse papo me incomoda se eu to no pátio é foda
É o mundo roda ela pode voltar pra cá
Não, já – já terceiro ano ta ai
Quero passar não quero repetir
Se eu encontro essa mulher não tem pá nem pum
Vai ter transformar minha nota vermelha em azul
De manhã eu senti um cala-frio
Não era do vento, era meu estomago vazio
Acerto com a professora tem todo os anos
Tem outro nesse também, disso que to falando
Cabular a ultima aula todo aluno gosta
Conseguir isso de forma sigilosa
Se algum pilantra, denunciar alguém
Leva tapa na cara e não conta pra ninguém
Camisa na janela
A sala parece cela
Fodeu foi alem
Se pá vem alguém
A maioria se deixa envolver
Com uns 3 ou 4 que não tem nada a perder
Dois alunos respeitados passaram a discutir
Mas não imaginaram o que estaria por vir
Estudantes homicidas, inteligente aqui é escasso
Uma minoria na quinta serie ainda são primários
Era a brecha que a direção queria
Avisa a Verinha chegou o grande o dia
Depende do sim ou não de um só homem
Que quer ver os alunos sem merenda com fome
Ratatatá, canjica ou champanhe
Vou almoçar no refeitório
Que Deus me acompanhe
Pedrão aqui é eterno, aluno novo ingênuo
Quem suspende mais aluno ganha folga de premio
A educação é esquecida no Brasil
Fugiram da ultima aula ninguém viu
Escola apaga o que a diretoria de ensino não quis
Esconde o que o juizado do menor não diz
Ratatatá, um ventilador faz falta
Calor no corpo, no rosto até no nariz
O professor é meu pastor
Perdoe o que seu aluno fez
Faltou mais de 1 mês
Na prova tirou menos de três
Sem cola, sem gabarito, sem 1 real no bolso
Vai pegar as respostas na prova do outro garoto
Aluno na diretoria abaixar a cabeça e fica quieto
Maria Inês sorri no inferno
O rango do governo não é frio, é gelado
Não tem gosto nem molho é meio amargo
Ratatatá, skin red e sua gangue
Na hora da saída vão bater em mais um punk
Mas quem vai acreditar no Quirinão sem futuro?
Dia 13 de Fevereiro Diário de um Aluno