“Eu Ninho”
Que coisa é essa de “Eu Ninho”?
Por que ninguém me vem explicar?
A terra seca nenhum passarinho,
Lágrima vermelha e eu
Sempre a enxergar...
“Apois” é grande a dor duma partida
-Esperem Deus vai ajudar!
As minha cria foi pra “Sam Parlo”
Eles não é os primeiros a nos deixar
“Inté” Sivirino, “inté’ Nivardo”!
Que a sorte venha os acompanhar!
Que triste dor dum pau-de-arara.
O que é que eles vão encontrar por lá?
Selva estranha feita de concreto
E o ar: mal dá pra respirar...
E os perigos que tem na estrada:
Assaltos, buracos, freio pode fartar
-Mas sei que Deus protege eles!
E a primeira carta quando é que vai chegar?
Mas que coisa é essa de “Eu Ninho”?
Por que ninguém vem me explicar?
“Bença manhinha”, “bença painho”.
Já começamos a trabaiá...
Daqui a um mês mando um trocadinho,
Daqui a um ano vorto pra lhes buscar!
Aqui tem um monte de passarinho,
E Gente que não para de chegar...
Cadê a Arzira, Cadê Zezinho?
Nivardo manda perguntar!
Não chora mãe, aqui não é difici
Vou pra escola, vou estudar
Sardade é grande, pior é a fome!
E o “Eu Ninho”, painho vou lhe explicar!
Que triste sena é dum pau-de-arara!
Mas é que a seca num dá pra guentar
Aqui tem água sempre de fartura
É pena que ninguém saiba usar...
Se chover pouco o povo reclama:
Barriga cheia não tem o que falar!
Inté mainha, “inté” painho!
Mas é complicado esse “Eu Ninho”
Carlos Atelson 03/09/2003