De quem trás campo nos olhos

(Milonga)

Letra: Ivonir Leher Música: Luiz Felipe Cornel

Quem trás o campo nos olhos

E na alma os galpões

Trás braseiros p’ra os invernos

Aquerenciando tições

De estâncias que adormecem

Quando se apagam os fogões.

Guitarreadas noite à dentro

Brotam milongas de campo

Que se vão pelas coxilhas

No lombo dos pirilampos

E buscam sons pela noite

P’ra compor seu contracanto.

Repousam nos cavaletes

Mangos e arreios suados

Recaus que se tornam tronos

Em potros recém domados

E ginetes quebram queixos

P’ra andar bem estribados.

Quem trás o campo nos olhos

E uma alma gaviona

Trás p’ra os galpões que habitam

Pelegos, canha, cordeona

E uma cuia castelhana

Recostada na cambona.

Paisagens que envelhecem

Nos olhos de quem já teve

Léguas de campo por diante

E um mate p’ra sua sede

E emoldura sonhos gastos

Nos retratos da parede.

Talvez foi a sina andeja

De cavalgar redomões

Herança de pai p’ra filho

Perpetuando gerações

Que plantou campo nos olhos

E deu alma aos galpões.

* Participou da 9ª Estância da Canção Gaúcha, São Gabriel - 2001