Culto aos caídos

Cada rua que eu passo eu vejo faces

Seladas pelo medo.

Cada rosto, uma história.

Cada história, um segredo.

Sussurros indizíveis.

Inimigos invisíveis.

Contos absurdos

sobre fatos incabíveis.

É tão complexo, que a falta de léxico

faz toda a situação parecer sem nexo.

Se escondem de si mesmos.

Espíritos enfermos.

Por toda parte caem.

Só cegos pra não vermos.

Que eles choram.

Monstros os devoram.

Pedem por clemência.

Ajoelham, imploram.

Disfarçam com sorrisos,

se desfazem em choro.

Almas agonizantes

juntas, fazem coro.

A cada esquina que eu cruzo eu vejo faces

Da desesperança

Acomodados com a tempestade sem a bonança

O sorriso da criança, hoje corrompido

Pela perda da inocência, mais um sonho perdido.

Muito me entristece:

Explorados pela própria espécie

Esperam um milagre que não desce

Chorando de dor em cada prece.

Vivem um homem mecânico

Com a sorte de comer

Trabalham todo dia

E esperam pra morrer.

Clamam não ter esperanças

Que nada vai mudar

Mas dar o primeiro passo à luta

Ninguém quer se arriscar.

Nenhum grande marco simplesmente aconteceu.

Muita gente lutou e muita gente sofreu.

Foi tudo construído com sangue, suor e choro

E as almas dos guerreiros fazem coro.

Mas é tão fácil sentar e esperar a solução.

Tirar o peso da responsabilidade e lavar as mãos.

Mas quem, senão nós, vai levar?

Ninguém! Todos têm muito pra se preocupar.

Também. Mas quem nos dará a solução?

Quem vai por um fim nessa ilusão?

Se escondem no vale da sombra da morte.

Se deixam jogar a vida à própria sorte.

Eu não! Levanto, não desisto, sigo o meu caminho.

Determinação de um homem e o sonho de um menino.

Com força, fé e garra sigo o meu destino.

E as almas em coro, todas, cantam o hino.