Descuido
Num quarto imundo de hotel,
escuto um disco arranhado.
Traduzo para o papel
as dores do meu coração arrasado.
Só quem já esteve no "inferno",
entende o que é estar no "céu":
é um julgamento moderno,
onde quem acusa é o réu.
No quarto onde ratos e baratas
convivem em harmonia,
vejo as velhas traças
roerem meus sonhos de alegria.
Num descuido,
retorno à despedida;
como num distúrbio,
penso na vida perdida.
Tomo um banho frio
pois quente foi meu coração...
hoje, ele está vazio
remoendo uma velha paixão.
Ouço meu coração -
viagem ao passado mais que perfeito;
água fria na cabeça, pés no chão,
realidade: amor com defeito.
Vou dormir numa cama dura,
embriagado de saudade;
imagens de uma vida escura:
ela está longe, em outra cidade...