Epopeia cotidiana

O som de tiro ecoa pela madrugada

Cortando o silêncio da noite calada

Invade sonhos, quartos, preces e recordações

Transforma as memórias em lamentações

Pinta os muros de vermelho e acorda os cães aos gritos

Fecha mais um ciclo e cria mais aflitos

Lágrimas que caem de olhos a fechar

Refletem a angústia de quem só pode esperar

E essa é a epopeia do cotidiano

Dos lares, das ruas, dos becos da cidade

Esse é o nosso tesouro, tão vazio e tão mundano

Um dia talvez possamos o ter

O Sol levanta e queima, acorda, explode

brilha, guia, guarda e torna a se por.

Com seus raios ilumina os passos e as faces

de medo, angústia, tristeza e dor.

Arranca o suor, seco como o sangue

De mais um miserável humano qualquer

Rápido como o vento, se esconde ao horizonte

Mas nunca deixa de brilhar

E escondido revela estrelas tão distantes

Que nunca poderemos alcançar

E essa é a epopeia do cotidiano

Dos lares, das ruas, dos becos da cidade

Esse é o nosso tesouro, tão vazio e tão mundano

Um dia talvez possamos o ter

Como as estrelas distantes

Somo apenas um brilho qualquer

De nossos sistemas inconstantes

Ainda continuamos de pé.