DO LADO OPOSTO

Sem intenção, talvez,

mas a verdade é que aconteceu.

Você e eu

já não podemos mais nos entender,

pois você só saber ver

o que lhe é de proveito.

Isto não é direito

pois nós dois temos obrigações

e as decisões

você acha que as deve tomar por mim

como se eu fosse assim

uma espécie de menino

e o meu destino

estivesse ao sabor dos verões...

Você parece uma nau que aderna

e não vai resistir esta tempestade.

Volte bem depressa pra sua caverna

e me deixe viver em liberdade

Sem intenção, talvez,

mas você encarnou o poder,

sem querer,

e agora não sabe mais o deixar.

Quer continuar

dando cartas marcadas na mesa,

esperteza,

e com isso não posso concordar,

vou mudar.

Agora, vou ficar do outro lado.

Engraçado,

você foi só promessas, enganos,

e os seus planos

certamente que irão fracassar...

Você parece uma nau que aderna

e não vai resistir esta tempestade.

Volte bem depressa pra sua caverna

e me deixe viver em liberdade

(Belém, março de 1969)