RAP DO ABANDONADO

Sou um ser humano

que não teve muita sorte

sempre convivi com a violência ,

andando lado a lado , com a morte.

Quando eu nasci , eu fui abandonado.

rejeitado pela minha progenitora , minha mãe.

em um hospital infectado...

naquela suja UTI.

Meu pai , eu nunca vi.

nem sei como é a cara desse tal sujeito.

mas , com toda a certeza , não era um homem bom,

um ser humano de respeito...

um verdadeiro cidadão , ao invés de ser o meu herói.

tornou-se o meu vilão.

Nunca tive carinho , amor familiar.

ao invés de rosas e flores , me deram só espinhos...

para a minha carne machucar, sangrei e ainda sangro.

sangro , por nessa vida não ter sorte.

excluído dessa sociedade podre , que só visa a minha morte.

Eu não conheço o aconchego...

de um lar , pai , mãe , um irmão.

todos me rejeitaram , trataram-me como um cão.

Sou filho da rua...

abraçado pela marginalidade

os meus irmãos , são do crime ,

e essa é , a minha mais pura verdade.

Nunca tive alguém...

para poder me apoiar , como um cidadão.

a minha escola foi a rua , e o crime ,

a minha única opção.

Não me deram a chance de estudar e de ser doutor,

muito menos , de ser honesto , ou trabalhador.

e o maior exemplo são os nossos governantes...

prefeitos , governadores , presidentes.

que roubam sem pena a gente , se apossando do erário do povo.

mais isso é antigo , não tem nada de novo.

Homens que não honram a grande votação

a enorme confiança dada pelo povo...

possuidores , do maior cargo , ocupado por um cidadão.

estou falando do presidente , o maior cargo do país , nação.

dois sofreram impeachment , dois presos na cadeia , por roubar a nação.

que vergonha , todos envolvidos em atos de corrupção.

Hoje eu sou um cidadão , semi analfabeto...

muito mal sei ler e escrever , e esse é o papo , o meu papo é reto.

sigo o meu destino , sem rumo e sem direção.

tropeçando pela vida , que não me dar opção.

Sempre fui órfão , devido ao abandono.

desprezado pela família , pela sociedade e pelo estado.

mas , pelo desengano e pela marginalidade , logo eu fui adotado.

traficar , roubar , cheirar , fumar , isso tudo eu aprendi.

professores para isso existem de montão...

espalhados nas comunidades , morros e favelas.

Matar , eu ainda não sei não ,

mas, com toda a certeza ,

será a minha próxima lição...

pois essa é a lei do crime , matar ou morrer.

não existe uma outra opção.

Sempre odiado , por essa sociedade vil , e sem consciência.

eu sou um pária , que essa pátria nada amada , um dia pariu.

meu lar é qualquer beco , barraco ou viela.

por essa cidade suja , morro , favela.

Nunca morei no asfalto ,

e desde que nasci , habito na favela.

pelos becos sujos feito rato de esgoto ,

abandonado pelas fedidas vielas...

tentando sobreviver , em meio as várias sequelas.

que carrego nessa minha condição desumana.

família eu nunca tive...

tendo como mãe , a tal da violência.

como irmãos , o crime , e como pai , a marginalidade.

e como inimigo , essa podre e cruel sociedade.

que me olha indiferente , como , se eu não fosse ninguém.

muito menos gente.

Afinal , eu sou apenas mais um , órfão.

menor abandonado desse imenso Brasil...

que essa "pátria amada" , infelizmente um dia pariu.

25/02/19.

H.S.SILVA

HELIOS TAN
Enviado por HELIOS TAN em 01/04/2019
Reeditado em 28/09/2021
Código do texto: T6612845
Classificação de conteúdo: seguro