Neguinho da Favela

Era só mais um neguinho da favela

queria viver em paz um dia sair dela

escapar do preconceito, ter prestígio ter dinheiro

poder sair de casa sem precisar ter medo

essa é só mais uma história de um rapaz comum

que acontece todo dia na periferia

mais um inquerito prescrito é só mais um fato

perdido na DP sem ser apurado

Aos doze anos de idade ele já trabalhava

saia cedo de casa pra rodoviária

engrachar sapato, limpar pé de barão

pra ajudar no sustento de sua família meu irmão

seu pai um cachaceiro sem perspectiva de vida

gasta tudo que ganha no boteco da esquina

a droga mais pesada é legalizada

destrói lares, famílias e é facilmente encontrada

te vicia pode até te levar a morte

esquecido num leito de hospital

cirrose, última dose do álcool letal

só a morte te separa do vício fatal

Com quinze anos de idade parou seus estudos

chegava cansado do trampo e não via futuro

foi quando esperimentou seu primeiro bec

fumou, prensou, pirou

moleque como pode existir algo tão gostoso assim

certamente agora estou premeditando seu fim

Passou mais um ano e o neguinho falava

que ser bonzinho, honesto de nada adiantava

metia os ganhos sem dó no Gilberto Salomão

depois vinha tomar todas em São Sebastião

já conhecido no distrito assinou vários B. O's

chegados já te diziam que o crime não tinha dó

muitas passagens no caje, rebelião carcerária

torturas, maus tratos que a TV não mostrava

conseguiu sobreviver até os seus dezoito

é de maior moleque, cuidado com os homens, eu tô de olho

era fã numero um de Leonardo Pareja

que fez os homens de palhaço e se entregou de bandeija

pra depois ser morto numa rebelião

é fim trágico de um homem dentro da detenção

pobre homem que ne vida sofreu demais

pelo menos na morte será que encontrará paz?

Pergunta cretina mas que sempre se faz

procure a paz, ouça o conselho então

exemplo de malandragem não está na prisão

Ele se considerava o bandidão da quebrada

fumava, cheirava, roubava, não tinha medo de nada

é a lei do mais forte na favela e com certeza

o rival é a caça, e a caça põe a mesa

sem esperança de um dia a vida melhorar

se perguntava porque Deus não vinha te ajudar

pra dar conforto a sua mãe, mais uma sofredora

que passa o dia ralando cançada de lavar roupa

certamente inconsequente com ódio na mente

meteu um ferro na cinta com quinze balas no pente

foi resolver a parada do jeito que ele aprendeu

quem cuida da minha família e da minha mãe sou eu

o alvo já está traçado, posto de gasolina

três malucos no esquema esperando na esquina

opalão quatro portas vidro fumê seis bocas

calibre carregado, encapuçados de touca

corre, corre, rende o frentista dá o bote

amarra o gerente, pede o segredo do cofre

pega a grana põe no saco e sai no pinote

se der sorte fica vivo e escapa da morte

na correria vai em frente, pneu queima o chão

de longe ouço sirenes começa a perseguição

seis viaturas na cola fecha o cerco para o carro

mas ele não se entrega desce do opala e sai voado

escuto tiros, gritos, não pede rendição

é bala por bala, tiro por tiro sem negociação

naquele dia eu então presenciei seu fim

na mão da polícia eu ví morrer o neguim

tomou dois tiros no peito, fita amarela, isolamento

giz em volta do corpo, lençol, carona em rabecão

IML, corpo delito e ficha no dedão

vida de crimes, mais um malandro no caixão

refrão

Um dia vamos ter paz então vale a pena esperar

E de que vale o crime irmão? Se ele vem te matar

Esta letra foi retirada do site www.letrasdemusicas.com.br

tatiane gonçalves
Enviado por tatiane gonçalves em 19/11/2007
Código do texto: T743610