Ilhéus chorou

Ilhéus chorou quando eu peguei

Estrada, coitada!

Feito mãe que vê seu filho faminto

Perdido, longe de casa.

O que era garoa

Virou tempestade

Um choro sentido

Sem a menor vaidade

Como se um pedaço

Fosse arrancado

Um coqueiro a menos

Pé de cacau que vem a baixo.

Ilhéus amanheceu descontente

Mar agitado e seus ventos violentamente

Já não havia folia

Por vezes faltava energia

Com as bênçãos do padroeiro

Malas prontas ao Rio de Janeiro.

Molhou seu asfalto

Do pranto pelo chão

Gotas na minha camisa

Flecha no coração.

Mergulhei entre as ondas antes de partir

Um grauxá saiu da toca e veio se despedir

Sereias possíveis com saudades

Acompanharão a mim em outros mares

Trens de pouso, asas de avião

Trarão a mim no próximo verão

Eu escuto do mar, salgada

A gota d’água no meu ouvido alojada

Eis eu aqui na ponte Rio Niterói

Saudade que mata, maltrate e dói.

Edilson Alencar
Enviado por Edilson Alencar em 22/12/2023
Código do texto: T7959701
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