Jardim de Vó
No jardim da vovó tinha de tudo. Uma bela roseira que se curvava à janela, pé de boldo e erva cidreira. Tinha louva-a-deus, joaninhas e capim. Era pequeno, igual a dona Maria. Magrinha, cabelos longos, olhar sofrido. Quase não via a vó sorrir.
Vovó não podia comer doces mas adorava comprar aos netos. Levava na missa, na feira, na ferrovia. Dormíamos abraçadinhas todas as tardes e de fininho ela saia para preparar o lanche. Era quieta, quase não falava, mas olhos observadores e mãos calejadas. Adorava pentear seus longos cabelos lisos e fazer um coque. Quando ela partiu, perdi o meu jardim de abraço, e todos os dias ao abrir a janela, eu via a esperança em forma de borboleta pousar no meu braço.