Garrafas coloridas - Aconteceu em Araraquara

(Reminiscência)

Amanhã, 20 de dezembro, fará 40 anos que desembarquei na rodoviária da cidade de Araraquara – uma viagem de 270 quilômetros a partir da cidade de São Paulo, dentro de um ônibus Ciferal “Dinossauro” da Cometa. Entre junho de 1983 e março de 1984, visitei várias cidades do interior do estado de São Paulo. Confesso que eu já não agüentava mais fazer e desfazer malas. Agora estava ali para atualizar o cadastramento de pessoas envolvidas com um trabalho religioso que eu fazia. Naquele monumento só pensava em minha casa, queria estar com a minha mãe. Literalmente queria estar com a minha mãe. A propósito, quando o mundo estiver contra a você, volte para casa... E o "mundo" estava contra a mim, era o que eu sentia. Nenhum amor substitui o amor de uma mãe. Enfim, Araraquara é uma cidade muito bonita. Lembro-me de ruas largas, arborizadas, parques no centro da cidade. Lá tive uma experiência única, até hoje: uma tarde, viajando entre bairros, caiu uma chuva de granizo. Jamais havia visto aquilo e fiquei maravilhado. A fiação do ônibus elétrico que me conduzia começou a pipocar acima do veículo, fazendo-o parar abruptamente, e tivemos que descer. Não perdi a oportunidade de colher pedras de gelo, que aos poucos foram derretendo em minhas mãos. Pedras de gelo, caídas do céu, derretendo em minhas mãos... Para um nordestino, acostumado com trinta e tantos graus diariamente, aquilo foi a “Oitava Maravilha do Mundo”. Também foi em Araraquara onde vi o belíssimo filme “O Manto Sagrado” (The Robe/1953), de Henry Koster. No “cast” Richard Burton, Jeans Simmons; Richard Boon, entre outros. Soberba interpretação de Victor Mature. Naqueles dias conheci um jovem da cidade, que deveria ter entre 14 e 16 anos de idade. Não me lembro de sua carinha, lembro-me apenas que era bem simples e risonho. Gente de bom coração, que gosta de agradar, ele havia planejado presentear algumas pessoas naquele natal. Mas sem dinheiro, a saída foi juntar garrafas de vidro de água mineral, pintá-las e presentear quem ele gostava. Até hoje tenho a minha garrafa colorida. Um pouco desgastada, é bem verdade, mas está comigo desde aquela semana do natal de 1983 em Araraquara.

Chico Potengy
Enviado por Chico Potengy em 19/12/2023
Reeditado em 19/12/2023
Código do texto: T7957525
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