Saudades da minha infância em Seropédica/RJ.

Advém-me neste momento, lembranças nostálgicas da época em que morei, com pai, mãe e meu dois irmãos mais velhos, Tadeu e Mauro, no Município de Seropédica/RJ... saudade da nossa infância nesse lugar... das amizades... das brincadeiras..etc.

Fomos para o Rio de Janeiro no final do ano de 1977... lembro que não queria voltar para Belém... Só que tivemos que voltar no meio do ano de 1981.... foram três anos e meio maravilhosos, período em que minha mãe fez mestrado na Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ)... Até hoje sinto saudades daquele lugar maravilhoso.... ao ver um vídeo numa das mídias sociais existentes sobre uma pessoa confeccionando uma pipa... apertou meu coração... quase tudo igual... o jeito de apoiar o bambu nas coxas.... a maneira de medir as talas, girando a armação, de frente e depois de costas... Que saudade daquela época!!!!! O bambu para fazer as talas era só pegar do quintal do Kiko (sua casa era na "rua de cima", mas o seu quintal, graaaande, era colado com o nosso e ia até a nossa rua, a "rua debaixo")... e de usar a tesoura de costura da minha mãe para cortar o saco e fazer o rabo (rabiola). Saudades da minha mãe na sua máquina de costura, consertando os nossos "fundilhos"... lembro de brincar com o seu dedal de costura e umas pecinhas de metal, que pareciam "pezinhos"... eita lembrança boa!!!!! Lembrei-me das jurubebas... planta arbustiva que pode atingir até dois metros de altura, com frutos do tamanho de um caroço de açaí, que a gente encontrava em qualquer lugar... nas beiradas das ruas, encostadas em muros e em terrenos baldios, onde esses pequenos frutos, nós utilizávamos nas atiradeiras (baladeiras), para caçar passarinhos, "calangos" e outros pequenos animais silvestres... há uma história incomum sobre essas jurubebas... Um certo dia, meu irmão Mauro, usando sua atiradeira, lançou uma jurubeba em direção a uma pipa de seda que estava no alto, no momento em que ela "dava um, de bico"... um rasante... ocasião em que, ao lançar uma jurubeba na direção daquela pipa, conseguiu atingir uma das três "talas" (varetas), de sua armação, quebrando-a... fazendo com que aquela pipa caísse, ocasião em que aproveitamos para "matar" toda a linha dela. Meu Deus! Que boa lembrança!!!!! Sinto saudade dos sítios e suas árvores carregadas de frutas, num caminho "por dentro" para a UFRRJ...  Saudades do pé de jamelão no meio do nosso quintal... e da goiabeira que ficava também no quintal, mas encostada no muro... da mangueira e do abacateiro no terreno baldio ao lado... de dentro do nosso quintal, subíamos na goiabeira e pelos galhos, passávamos para a mangueira do terreno baldio. Certa vez, andando pelo terreno baldio, pisei num saco de papel e dentro dele, uma garrafa quebrada... não adiantou estar de sandália, cortei a parte interna do meu pé... não dei muita importância e então infeccionou. Lembro-me de minha mãe esterelizando uma tesourinha e depois abrindo a ferida para retirar todo o pus... foi uma dor danada, mas tive que aguentar... dias depois já estava cicatrizando... aliás, cicatriz que ainda hoje é possível vê-la. Lembro-me do merthiolate e do pozinho branco, antiséptico, alem de gase e esparadrapo (branco) que ela sempre usava em nossas feridas.Saudade dos skates (bandeirantes) de madeira.... da cadeira de balanço que a gente tinha em casa... das raquetes de tênis de plástico, azul e vermelha e a bola também de plástico rijo, toda furada... de jogar tênis improvisado com elas no quintal... de jogar bolas de gude (petecas) com o meu amigo "Garrucha", meu vizinho do muro atrás... quando ele não tinha bolas de gude, ele ia no terreno baldio apanhar abacates... Depois ele trocava comigo por bolas de gude... Eu dava os abacates pra minha mãe fazer abacatada para nós (até hoje eu adooooooro!!!!)... Depois a gente jogava bolas de gude e eu ganhava tudo de volta.... kkkkkk.... e lá ia o "Garrucha" andar pelo terreno baldio atrás de mais abacates... kkkkkkk... saudades da mata virgem em frente a nossa casa... do meu amigo Betinho, que soltava pipa comigo e me protegia dos meninos maiores... da D. Zica, que morava em frente, com seu esposo baixinho, vascaíno "roxo", e as duas filhas deles... de uma vizinha que morava com a mãe, passando o terreno baldio e que tinha uma certa deficiência... sua casa era local de encontro para jogarmos "WAR"... Saudades do irmão do Elias (amigo do Mauro), que fazia os meus trabalhos de desenho em cartolina (perfeitos) e eu só tirava dez.

Nossa casa era ponto de encontro das brincadeiras... pião, skate, bola de gude, fura-fura, andar pelos muros, apanhar frutas nas árvores, origami, pique-esconde, jogos de tabuleiro, confecção de pipas e pára-quedas artesanais, soltar pipas, soltar "jerecos" (curicas), jogar tênis improvisado no quintal, subir nas árvores, passar de uma árvore para outra por seus galhos... a gente corria, se machucava, se feria, apanhava da mãe... e "tava" tudo certo!!!!! eita!!!! Tô sentindo saudade até das correrias para fugir das "chineladas" de nossa mãe... kkkk.

Certa vez, finalzinho de tarde, início de noite, inventamos de brincar de saltar por uma corda, no quintal do Kiko... quem conseguisse saltar, continuava e a corda ia subindo... no final sobrou o meu irmão Mauro e outra pessoa que não me recordo. O Mauro resolve saltar de costas e aí, caiu de mal jeito e quebrou um dos braços. Minha mãe só fez chegar em casa e sair em seguida para socorrer meu irmão. Momentos depois, ele chega em casa "grogue" com o braço engessado.

Lembrando-me agora que, numa certa noite nos reunimos no quintal do Kiko para brincar de pique-esconde. Um chegou a se esconder subindo no bambuzal que ficava no final do quintal... começou a ventar e a balançar, sendo que tudo mundo tava vendo ele... só ele achava que tava escondido ali...foi o primeiro a ser encontrado... ah? Outra coisa???.... a pessoa escolhida para procurar os demais era chamada de "mãe"... lembro-me bem da frase.... QUEM VAI SER A MÃE... QUEM VAI SER A MÃE????... Bom, todo mundo já havia sido encontrado pela "mãe"... só faltava eu !!!! Agora vejam???... eu estava agachado e encostado na convergência dos muros, no final do quintal (dentro do quintal mesmo, só que no escuro)... a "mãe" chegou a ficar a menos de um metro de mim e não me via... quando a mãe foi para o outro lado do quintal eu corri... detalhe??? Existia uma lata que, quem conseguisse chutar estaria salvo na próxima rodada, sendo que, se o último chutasse a lata, todos estariam salvos e a mãe, seria a mãe de novo, entenderam???? ....kkkkkk... então, como eu dizia, quando a mãe foi para o outro lado do sítio, eu corri em direção da lata, sendo que antes que eu conseguisse chutar a lata e salvar todo mundo... meu irmão Mauro que estava próximo da lata, chutou antes que chegasse nela, garantindo logo a salvação dele e de todos os demais encontrados pela mãe... kkkkkkkkk.... que recordação gostosa!!!... eram brincadeiras sadias numa época que não existia video-game e fomos super felizes.... éramos obedientes e respeitávamos pai e mãe, e quando desobedecíamos horários para voltar pra casa, a chinelada "comia no couro da gente".... kkkkkk... e "tava" tudo certo!!!!!!

E quando chegava o Carnaval????? Meu Deus!!! eu tinha verdadeiro pavor dos "Clóvis" os famigerados "bate bola"... No período carnavalesco, uma tradição suburbana do Estado do Rio de Janeiro acontecia... homens e até mulheres usando fantasias de palhaços aterrorizantes, utilizavam a imagem ameaçadora e o barulho que as bolas faziam ao bater no chão para assustar as pessoas, especialmente as crianças, constituindo, portanto, num medo de infância comum. As bolas, presas em varas improvisadas, eram bexigas de porco infladas e colocadas ao sol para ganhar resistência... depois pintadas com sal grosso, provocando ardência e vermelhidão ao baterem nas suas "vítimas". Utilizavam máscaras, capas e roupas coloridas com vidros espelhados, pequenos sinos, lantejoulas e outros adereços carnavalescos. Os Clóvis, com certeza, fazem parte da minha infância... Sei que hoje é arriscado ir por lá  por conta da insegurança... mas ainda sim... eu queria muito voltar àquela rua, mesmo totalmente diferente hoje em dia... mas ainda sim... queria só mais uma vez, voltar lá... e relembrar uma parte maravilhosa da minha infância, na Seropédica, no Estado do Rio de Janeiro.